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cronicas-->Tábua de passar -- 30/07/2003 - 23:19 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Outro dia me apresentaram um problema realmente grave. A tábua de passar roupa quebrou-se assim sem mais nem menos. Mais ou menos como se quebram os fêmures de vovozinhas, sem maiores razões, nem avisos. Não, ao que tudo indica não se tratou de nenhuma revolução surda das tábuas, nem das moças que passam roupas. Aliás, bravas moças, estas que se desvelam em acertar frisos e colarinhos, lençóis e toalhas de mesas, fronhas e camisolas, ao gosto de madames e doutores, não raro impiedosos com dobras mal feitas, exigentes com gavetas trocadas.

Uma análise mais acurada exigiria conhecimentos profundos da ciência dos materiais, posto que a peça quebrada deixara apenas uma pequena ponta. Difícil dizer se era uma peça de ferro e, portanto, passível de solda, ou da chamada matéria plástica, passível talvez de cola.

Confesso, avesso que sou aos chamados consertos caseiros, mantive uma distància prudente do problema, antes que achassem que a mim cabia a solução. Nestes casos não se deve ficar muito por perto, sob pena de lhe atribuírem a responsabilidade pela solução. Nem pensar, este é um problema por demais complexo para minhas habilidades e gosto por consertos caseiros. Pior ainda ao constatar que a literatura sobre tábuas de passar roupa é unànime em afirmar que elas não se consertam com o poder do pensamento, exceção feita às tábuas destinadas à roupa de bispos. Como se diz, fiquei na minha, observando os acontecimentos, enquanto consumia as camisas já passadas, cuja reposição corria sério risco. Ou bem alguém dava solução à questão da tábua ou viveríamos em um mundo amarrotado.

Tirando as minhas camisas sociais, não me pareceu nada muito sério. O mundo já anda tão conturbado que uma cueca ou camiseta sem passar não deve ser algo de muito grave. Mesmo uma bermuda ou vestido esporte pode muito bem passar uma impressão de descuido programado, como se diz, fazendo um tipo. Já com as camisas sociais isto não é possível. Imagine os olhares, o falatório. Que dirão? Pode custar uma reputação.

E o problema social? Que seria da moça que passa a roupa? Talvez acionasse a casa invocando lucros cessantes, talvez saísse em passeata pela rua exigindo melhores condições de trabalho. Neste caso, o que diriam os vizinhos? Que na minha casa a tábua de passar roupa passou da validade, que ela não é das modernas, é destas antigas, frágeis, sem ligação à internet? Como farei quando passar para minha caminhada habitual e as crianças apontarem para mim? E se rirem? Todo um mundo de indagações em apenas um segundo, incluindo uma retrospectiva completa da vida, do nascimento aos dias de hoje. Os acertos, os erros - mais os erros - tudo o que sucedeu, passado a limpo em segundos.

Mantive a calma e a distància. Algo haveria de acontecer antes que eu usasse todas as camisas e tivesse que tomar alguma atitude, se não drástica, ao menos objetiva. Nestas situações limite, deve-se manter a calma.

Felizmente, o tempo resolve tudo. Em algum momento que não sei precisar, como que por encanto ou obra do marido da moça que passa a roupa, a tábua foi consertada.

Ainda bem. Foi por pouco.

Escrito em 30.07.2003
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