Eu não sei qual a razão
De certos acontecidos
Fatos extraordinários
No mundo têm ocorridos
Nem a ciência explica
A tamanha vida rica
Nesta terra de perdidos.
Os homens evoluídos
Algum dia se dão conta
Que a mulher tem o papel
Na sociedade já pronta
Mercê de sua beleza
Para até virar a mesa
Contestando ela apronta.
Quando em cavalo monta
A mulher é um perigo
Não pensa sequer no bruto
Só lembra do macho amigo
O seu príncipe encantado
Marido ou namorado
Que lhe dá amor e abrigo.
Por tudo ou nada eu digo
Que a mulher tem coração
O homem traz na cabeça
Seu raciocínio e razão
Que lhe causam só tormento
Forçando-o a ser violento
E assim morrer de ilusão.
No tempo da escravidão
Romance também havia
Conto aqui um caso triste
Do jeito que eu li um dia:
É a trilha duma paixão
Em que a filha do patrão
Por um escravo nutria.
Com beleza e simpatia
Tinha carinho e amor
Pelo peão capataz
Com seu olhar sedutor
Domando éguas e burros
Enquanto ouvia sussurros
Da andorinha e do condor.
Ele ofertou-lhe uma flor
Lá no alto do espigão
Numa manhã de calor
Cavalgando um alazão
Não escondeu seu desejo
Pediu a Rosinha um beijo
Declarando-lhe a paixão.
Rosinha na indecisão
Disse a Catimbau porém:
- Muito embora eu o ame
Eu gostaria também
Que o beijo da emoção
Fosse em festa de São João
Que em pouco tempo vem.
Catimbau ficou refém
E concordou com Rosinha
Domando cavalos xucros
Toda tarde ele vinha
Montado num potro branco
E achegando-se ao barranco
Pulava como convinha.
Cupido sempre adivinha
E torce pelo casal
Passaram-se cinco meses
Pulando o Carnaval
Veio a festa da família
Fogos quentão e quadrilha
Muita gente no quintal.
Fogueira e figueiral
Balões nos céus e rojões
O moço e a donzela
Atavam seus corações
Catimbau com seu olhar
Via Rosinha dançar
Com seus amigos peões.
No auge das emoções
Catimbau bebeu uma pinga
E no salão adentrou-se
Demonstrando muita ginga
Dançou com uma mulata
Como dizendo à ingrata
Cedo ou mais tarde se vinga.
Para não deixar restinga
Pai de Rosa discursou
Tanto que o sanfoneiro
A bela valsa parou
E o velho disse: - Dou Rosa,
Filha querida e dengosa
Ao peão que a conquistou.
O coronel desafiou
Peão que tivesse raça
Numa laçada certeira
Prendesse o Boi Fumaça
Trazendo o touro amuado
Na porta do seu sobrado
Para ganhar sua graça.
Os peões todos em massa
Esconderam-se de medo
Inclusive Catimbau
Ocultou o seu segredo
E se refugiou num canto
Pedindo pra todo santo
Livrá-lo daquele enredo.
O povo apontou o dedo
E gritou em arruaça:
- Apareça o Catimbau
Pra laçar o Boi Fumaça
Pois se ele dá no couro
Lace agora o forte touro
E o arraste até a praça.
Rosinha meio sem graça
Pediu para seu amado:
- Atenda o pedido meu
Quero este boi laçado
Catinbau disse: - Eu laço
O boi e quero o abraço
Com o beijo combinado.
Catimbau encorajado
Pelo sinal positivo
Achinchou o burro preto
O seu amigo cativo
Que foi logo pinoteando
Num trotear relinchando
Como a dizer: - Estou vivo.
Botando o pé no estrivo
Catimbau disse a Rosinha
Eu vou laçar esse touro
Conforme a sorte minha
Mas aquele beijo seu
Que você me prometeu
Quero de minha rainha.
Com a destreza que tinha
Catimbau jogou o laço
Que foi certeiro nos cornos
Como que dando um abraço
Nos chifres do boi valente
Que pulou e um acidente
Acarretou num fracasso.
É com tristeza que traço
Os meus versos em jogral
Pois no pulo que o boi deu
Teve a festa seu final
Laço em nó no seu pescoço
Decepado o belo moço
Caiu morto no curral.
Chorando seu grande mal
Sinhazinha lamentava
A sorte que pôs um fim
Ao amor que começava
Com o peito estraçalhado
A cabeça do amado
Em seu colo segurava.
Sendo forte e muito brava
Rosinha se levantou
Exibindo a cabeça
Daquele que tanto amou
Disse a ele com desejo:
- Primeiro e último beijo
Com carinho eu lhe dou.
Sou poeta e me vou
Após contar-lhes a estória
Do amor que não tem fim
E nem sempre encontra glória
Mas entre burros e bois
O testemunho dos dois
Vamos guardar na memória.
BENEDITO GENEROSO DA COSTA
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