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Contos-->Flamboyants -- 24/06/2004 - 20:59 (Luciene Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Flamboyants

Para toda a vida poderiam ter sido o olhar sub-reptício, o riso ousado, o toque dos dedos nos dedos, o beijo de relance, mais que ultra-flash-relâmpago-rápido. O medo de ser descoberto. O segredo com gosto de segredo de estado. E a forma das arvores. Inebriadas. Romantismo às raias.
O que é ruim não deve ser eterno. Mas, o que é bom.

Bilhetes escritos, nomes e corações pintados. Musicas preferidas. Roupas especiais. Lembranças. Papel de bombom. E uma flor especial por lembrar algo que dizia mais do que pretendia. Me-dá-um-beijo-que-te-digo. Na verdade, Flamboyant. Flamboyant para aqueles que já sabiam onde vai dar o amor.Para os que já haviam perdido as ilusões, os sonhos, as crenças. Para os simples apenas me-dá-um-beijo-que-te-digo. Diz o quê?

Diz que...você sabe...eu gosto de você. E também quero me casar com você.
Um risinho de quem provoca por querer mais ouvir. Ou apenas continuar nesse namoro tonto, inebriante, como as arvores. Só isso? Que mais você quer saber? Ah, não sei...você me diz...essas coisas...
Palavras entrecortadas. Sussurros. Nada significam. Nada dizem. Mas dizem de nós. De quem somos. Do capricho na voz. Da maneira simplista, delicada, emotiva. E é isso que namoramos. Essa pureza. Esse estado de ser anjo. O nosso santo no outro. O santo do outro em nós.
Às vezes ocorre uma sandice. Coisas da urbanidade. Coisas da modernidade, melhor dizendo.
Ah, Valéria. Moça linda toda vida. E Joaquim, o moço. Na flor da virilidade. Namoro de escola. Com direito a ciúmes das colegas e a inveja dos meninos. Ou vice-versa? Ele era o verso. Ela, a rima. Os dois, um par bonito de fazer os desiludidos voltarem a crer no amor.
- Você se lembra daqueles cabelos, Anita?
- Os dela? Quem há de se esquecer?
- Negros que nem pêlo de graúna. Uma pele alva. Um riso gentil.
- De uma delicadeza que não se acha em qualquer canto.
- Foi ali por aqueles lados. Quando aquele pinheiral ainda tinha vida.
- E foi ali que foram plantar a morte.
- Semente triste, mulher...semente triste.
- É, marido.
Quando os olhos se voltam para o pinheiral que hoje não mais mora ali, toda a alma se lembra. E se estremece. Como copado de arvore. De saudade. De um pouco de dor.
A impressão é que havia flamboyants caindo do céu rosa. A tarde tinha acabado de ir dormir. A escuridão estava começando a abraçar o dia.
Os dois vinham da escola onde juntos estudavam. Olhos de riso, coração entupido de felicidade.
Mãos dadas foram separadas pela ordem brusca dos bandidos. Susto. Olhos abertos. Medo.
Levaram o casal para o pinheiral. Ali mesmo fizeram o trabalho.
Difícil segurar o soluço que se mostra agora.
- não pára, meu velho, não pára. Segue adiante. Faz muitas vezes que você começou essa história e não vai até o final. Continua.

Fizeram ali a barbárie. Fizeram sexo com o corpo da moça, retalharam o corpo dela, estrangularam a pobre. E a deixaram ali.
E com o moço fizeram a mesma coisa. Bateram, feriram, xingaram, bateram mais ainda, xingaram mais. E atiraram em sua cabeça.
Eram em três. E quando foram embora, o pinheiral ficou silencioso. Como se chorasse. A lua foi banhando as coisas da mata. E os corpos ficaram ali descansando. Como se cansados da barbárie da qual foram vitimas.
No dia seguinte encontraram os corpos. Enterraram.
O pai da moça enlouqueceu. A mãe se suicidou.
Os pais de Joaquim se mudaram para muito longe.
E a escola fala disso até hoje.
Para os citadinos, esse foi mais um caso.

Vieram outras moças e outros moços vieram. Alguns, historias tristes tiveram. Mas os olhos de Valeria ficaram nos meus. E o jeito garboso de Joaquim. Pareciam ter tanta chance. Parecia que poderiam fazer tanto. Que o amor iria durar a vida inteira neles. Como o de Piero e Solange, um casal de amigos meus. Vivem juntos até hoje.
Eu era um rapazote. E poderia ter sido comigo e com Anita. Mas foi com Valeria e Joaquim, a quem eu conhecia só de passagem. E eu queria muito que eles fossem felizes. Talvez porque me identificasse com eles, talvez porque vivi o que viveram, talvez porque entendia o romantismo das tardes ante as brincadeiras dos flamboyants.

Valeria ainda abriu os olhos. E encontrou os de Joaquim no ultimo instante da vida. E em seu coração de menina-moça escutou Joaquim dizendo qual é o nome dessa flor. E ela não conseguiu responder que era me-dá-um-beijo-que-te-digo. Os olhos dos dois se fecharam antes. Mas suas almas deram-se as mãos e foram-se dali para jardins mais distantes.
É assim que gosto de pensar que aconteceu depois que o pinheiral ficou sozinho.

LLima
(para Valeria e Joaquim)
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