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Textos_Religiosos-->PRECONCEITOS ESPÍRITAS -- 01/03/2005 - 13:23 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER












PRECONCEITOS ESPÍRITAS






GRUPO DOS ARREMESSOS JUVENIS













Edição da CASA DO MÉDIUM

Rua Cinco de Julho, 1184
Indaiatuba — SP



ÍNDICE


Nota introdutória ........................................... 3
1. A atmosfera etérea .......................................... 3
2. O âmago dos seres espirituais ............................... 4
3. A nova fisionomia ........................................... 5
4. Imagem e semelhança ......................................... 6
5. A morte aparente ............................................ 7
6. O crime e o castigo ......................................... 8
7. O contato mediúnico ......................................... 10
8. A volitação ................................................. 11
9. Das revelações do etéreo .................................... 12
10. Como reconhecer a verdade ................................... 13
11. Da oratória e da pregação ................................... 15
12. Examinando a consciência .................................... 16
13. Parábola .................................................... 17
14. Vertentes de fé ............................................. 18
15. O singular e o plural ....................................... 19
16. A vontade mediúnica ......................................... 20
17. As palavras que não passam .................................. 21
18. Dúvida construtiva .......................................... 22
19. Imponderabilidade no etéreo ................................. 24
20. Sem atropelo ................................................ 25
21. Otimismo reservado .......................................... 26
22. O cataclismo ................................................ 27
23. O que vai permanecer misterioso ............................. 28
24. Do invólucro carnal ......................................... 29
25. Um raio de sol .............................................. 31
26. Patologia cármica ........................................... 32
27. A intercessão de Jesus ...................................... 33
28. Quanto ao auxílio solicitado ................................ 34
29. Moralidade superior ......................................... 35
30. Perto da morte .............................................. 37
31. O aplauso do benfeitor ...................................... 38
32. As bênçãos de Deus .......................................... 39
33. Renitência ou teimosia ...................................... 40
34. Revertendo o quadro ......................................... 41
35. Culminando o trabalho ....................................... 43
36. As moradas do Senhor ........................................ 44
37. As notícias do etéreo ....................................... 45
38. Os casos curiosos ........................................... 46
39. Benditos os trabalhadores da seara espírita! ................ 47
40. Palavras derradeiras ........................................ 48








NOTA INTRODUTÓRIA





Ansiávamos por vir ditar os nossos textos. Queríamos, novatos nesta Escolinha de Evangelização, provar do prazer de transformar o manancial de idéias que nos inspiram os mentores, desde que nos enfronhamos nos estudos evangélicos à luz dos ditames das leis que se operam nesta esfera. Na preparação dos rascunhos e na apreciação crítica que exercemos sob a direção dos professores, fomos inteirando-nos de que havia excessivo otimismo quanto a transmitir noções novas. Cada vez mais nos convencemos de que os mortais se encontram muito bem municiados de mensagens do mais alto teor moral, com incursões sagradas pelos meandros da natureza humana, sob o ponto de vista das realizações cármicas.
Estudando os próprios compêndios das turmas que precederam este Grupo dos Arremessos Juvenis, concluímos que, até pelo médium que nos serve, passaram entidades mais afeitas ao pensamento abstrato e ao manuseio do instrumental mediúnico.
Nosso principal mentor, o Professor João, rigoroso cultor da verdade, mesmo na simples enunciação deste apanhado para a introdução da obra (segundo o ponto de vista do mestre, obra é termo demasiado pretensioso, conservado apenas para a parentética), obrigou-nos a reescrever diversas vezes cada mensagem, fazendo-nos observar o quanto são medíocres relativamente aos ensinos que somos capazes de assimilar.
Quer dizer que não estamos preparados para o sadio contato com as mentes encarnadas? Simplesmente, significa que nos falta erudição, para tornar proveitosos os textos, lúcidos, agradáveis, elegantes, capazes de despertar o interesse da maior parte dos leitores. Enfim, estamos fadados a nos constituir em mais uma equipe de enérgicos mensageiros, cujo trabalho irá cair no esquecimento, tão logo seja passado aos humanos.
Leia-nos, prezado amigo, como se estivesse compartilhando destas ânsias de desenvolvimento evolucionista, fato que nos levará a acreditar que, futuramente, teremos outros parceiros bem dispostos ao aprendizado das matrizes de comportamento da Boa Nova.
Em suma, nossos arremessos haverão de ter o condão do entusiasmo e da boa vontade, virtudes que, se passadas ao leitor, nos trarão acréscimos de satisfação e de empenho.








1

A ATMOSFERA ETÉREA






Não nos passaram despercebidas as muitas referências das obras mediúnicas sobre a existência de ar na camada que envolve os espíritos, ar que recebeu de Kardec a denominação genérica de fluido. Muitas personagens desses livros respiram ofegantes, sugam em largos haustos o ar revigorador, outros recebem no rosto a suave e perfumada brisa dos bosques, onde vicejam arbustos e árvores frondosas.
Resta saber se se trata de analogia, comparação, ou se, verdadeiramente, existe o ambiente atmosférico, o que implica em conformação corpórea do perispírito muitíssimo assemelhada à dos corpos densos dos mortais. Sendo assim, o perispírito deve apresentar todo o aparelho respiratório. As plantas exerceriam o papel de revivescimento, oxigenando o ar, sem o que adviria a morte…
— Morte?! Como morte? Espírito morre? Algo não está bem explicado. Não serviria a natureza para amenizar as vibrações deletérias provenientes das zonas onde, infelizmente, jazem os irmãos enquanto muito imperfeitos, desejosos, portanto, de praticar o mal contra tudo e contra todos, mais especialmente em relação aos que lograram ascender à camada de maior quietude e paz?
A atmosfera, na Terra, conduz as vibrações e ondas de todo tipo, facultando aos seres humanos a possibilidade de ouvir os sons e de emiti-los, codificando, pela linguagem oral, as mensagens de seu interesse levar ao conhecimento dos companheiros. Estaríamos, nós da Espiritualidade, sujeitos ao mesmo sistema, quando muitos desenvolveram a tese de que a comunicação se faz de intelecto para intelecto?
Eis nova perquirição louvável, se realizada de maneira respeitosa referentemente aos autores das obras psicografadas. Seria de todo saudável que as dúvidas se colocassem no plano da impossibilidade de descrição dos fenômenos puramente etéreos. À medida que a desconfiança reja as colocações suspeitosas, a partir do princípio de que o médium falsificou as noções meio extravagantes dos mensageiros ou de que inventou mesmo, embusteiro proposital, para o efeito de engrandecer-se perante os pares, haverão de desandar as pesquisas sérias, aquelas que põem o saber em destaque, dando prioridade ao conhecimento, tendo em vista que os avanços desde já conseguidos podem vir a ser úteis para depois do trespasse pelo portal da morte.
Que pensa o amigo leitor, pego de surpresa por tão desusada colocação? Irá pesquisar os autores, a partir das informações recolhidas pelo Codificador e por ele analisadas exaustivamente? Irá examinar os amigos que ditaram obras recentemente, utilizando linguagem atual? Irá dedicar um pouquinho de tempo para a reflexão ou preferirá eximir-se de trabalho de tão remota aplicação? Estará atento para futuras enunciações do pessoal deste Grupo dos Arremessos Juvenis, atento para a decifração do que possa significar o nome que nos atribuímos?
A verdade é que estamos estimulando o pensamento filosófico aplicado à realidade dos eventos que se relatam de passagem nos compêndios assinalados, para melhor perquirição dos dados e elementos sub-repticiamente fruídos em desatenção, pelo prazer intenso das leituras, prazer que evoca a satisfação mais natural dos espíritos, quando descobrem a importância do conhecer científico superior. Pensem nos grandes homens efetuando suas experiências e concluindo pela verdade das teses propugnadas. Eis a maior alegria que sentimos no âmago de nossos seres, sem tirar nem pôr.
Como última provocação, deixamos a pergunta:
— Que vem a ser o âmago dos seres espirituais?








2

O ÂMAGO DOS SERES ESPIRITUAIS





Os materialistas admitem um só princípio essencial, por isso não aceitam a existência da alma, a qual, para eles, seria um duplo energético. Quando chegam a aceitar a hipótese de outros mecanismos dimensionais, colocam o óbice da não-interpenetrabilidade, porquanto tão-só dentro dos parâmetros vibratórios conhecidos é que têm a capacidade de perceber pelos sentidos. A inteligência queda, dessa forma, como o atributo supremo do ser humano, tal como nos animais se sobrepõem os instintos.
Quando o indivíduo reage contra a idéia do desaparecimento da personalidade como realização vital única, ou seja, quando estabelece que a morte haverá de somente libertar o que animava a matéria bruta, o que Kardec denominou de fluido vital e que se conhece, desde tempos imemoriais, em diferentes culturas, como alma, se sente na obrigação de fixar as diretrizes teóricas nesse duplo vórtice, porque constata que o corpo perece e se desfaz, reintegrando-se na Natureza.
Na anterior dissertação, referimo-nos à camada fluida em que permanecem os espíritos como tais, dentro da qual se obrigam a utilizar-se dos recursos à mão para poderem estabelecer contato entre si, forçados por outra categoria dimensional igualmente organizada, segundo leis próprias. Daqui a necessidade da utilização de espécie de escafandro, como no caso em que o homem submerge na água, saindo, portanto, do seu meio ambiente natural. A esse corpo foi dado, no Espiritismo, o nome de perispírito, ou seja, uma vestimenta que dá proteção para a sutil constituição da centelha (vamos chamar assim), fulcro da criatura, conforme saiu das mãos do Criador.
A compreensão do que seja essa forma ou esse conteúdo original, seguindo o rastro do conhece-te a ti mesmo da moral filosófica, irá determinar, em definitivo, que o ser ou espírito (falece-nos a ciência) poderá ser honorificado com a integração no Reino do Senhor.
Se intentarmos definir o âmago dos seres espirituais do ponto de vista em que nos situamos, criaturas que ansiamos por ascender a esferas superiores, deveremos limitar a proposição ao aspecto da simples consciência, porque estamos na terrível fase da catarse dos males praticados contra o próximo, o que significa dizer, contra os dispositivos perenes das leis de Deus, as quais nos asseguram, com força evangélica, que só será purificado quem instituir como norma de procedimento o bem com a justiça, por amor ao Pai e aos semelhantes.
Quando Jesus nos diz, lá no fundo do nosso ser, que deveremos agir em consonância com as ações que esperamos dos outros e que deveremos amar como ele mesmo nos ama, estamos sendo fustigados pelo pensamento inerente às criaturas imperfeitas.
Muitos se deixam impregnar pela noção superior do perdão, entretanto, a assimilação integral dessa idéia só se dará quando formos capazes de sentir em consonância com a razão que discerniu a verdade, por força dos dispositivos lógicos estruturados na mente humana, o que vale dizer: no cérebro, como órgão material, e na alma, como elemento espiritual.
— Não seria muito mais fácil o progresso sem os percalços da vida sobre a face da Terra? Não seriam eliminadas as ilusões do concreto, que remetem o pensamento para o descaminho do fruir e do perder? Não haveria maior entusiasmo, pelo fato do otimismo preponderante de quem basta observar ao derredor para saber que não irá morrer?
Estamos abrindo caminho para as considerações a respeito de como os espíritos, ou seja, os desencarnados, se encontram existindo no etéreo e quais as lembranças que se fixaram em sua mente perispirítica.








3

A NOVA FISIONOMIA





Quando a pessoa morre, traz consigo a idéia de quem seja. Difícil de acontecer mesmo é a rememoração imediata da anterior figura, aquela que portava antes da última imersão corpórea na Terra. Difícil mas não impossível, razão pela qual estamos incentivando as reflexões em torno destes temas. Quem sabe estimulemos algumas personalidades a se desligarem da influência tão preponderante das recentes impressões sensórias, para adquirirem, desde logo, independência fluídica. Nesse caso, o nível de adiantamento da criatura haverá de ser muito próximo dos seres evangelizados.
O mais comum, entretanto, é chegar o sujeito alheio ao novo meio ambiente, carregando consigo as imagens da peregrinação densa da carne. Nesse instante, passa a realizar todos os movimentos segundo o vezo terrestre, de forma que todos os órgãos de que dispunha se orientam para a criação exterior do perispírito. Mesmo quando se sente ferido, vai perceber que lhe escorre sangue, como se existisse a seiva nas veias. Se abrir o abdômen, vai encontrar o intestino e demais aparato orgânico de quando encarnado.
— Quer dizer que os espíritas estudiosos, aqueles que lerem todo o Kardec e que discutirem com os correligionários os pontos específicos da revelação do ambiente formado pelo fluido espiritual, chegarão ao etéreo como se nada tivessem assimilado, tão fortes são as estruturas existenciais da derradeira peregrinação terrestre? Ou podem contar com o supra citado nível de adiantamento para se ajeitarem à dimensão existencial a que regressam?
Evidentemente, só o fato de lerem e de aceitarem as informações do tipo destas não será suficiente para pretenderem alhear-se da influência mental preponderante na carne. Haverá a necessidade do proceder normatizado pelas leis cósmicas fixadas evangelicamente por Jesus, ainda que não tenham tido nenhum contato com os ensinos do Novo Testamento. Se não fosse assim, como é que seres abnegados poderiam aspirar à denominada salvação?
O principal está assente no comportamento em relação ao Pai e aos semelhantes, sempre. Os textos deste teor vão servir para a reflexão a respeito do que seja o mais adequado para cada um. A decisão pertence aos mortais preocupados em serem cada vez melhores, cada vez mais afeitos às virtudes.
Se o amigo chegar a esta região e mantiver rigorosamente os mesmos padrões vibratórios terrenos, agindo e se vendo igualzinho ao que era no momento da morte, apesar de ter muito meditado a respeito destes assuntos, não é de desesperar, porquanto o seu desenvolvimento irá depender de como enfrentar a situação. Pessoas existem que imergem nas Trevas e de lá saem somente para novas encarnações, cada uma delas específica para o resgate ou a sublimação de diferentes aspectos da personalidade, nesses casos de baixo desempenho moral.
Quanto aos que souberam pautar o procedimento pelas regras estabelecidas socialmente nas civilizações hodiernas, respeitando o direito alheio, sem vícios de grande monta, sem ofensas nem transgressões quanto à Natureza, sem tremendas acusações de injustiça, pela suspeita odiosa de que Deus não lhes tenha propiciado as mesmas regalias dos melhor dotados espiritualmente, esses irão gozar da proteção dos muitos seres que conhecem os meios de encaminhamento pelas trilhas da dimensão em que estão adentrando.








4

IMAGEM E SEMELHANÇA





Dissemos que mantêm os espíritos a fisionomia da derradeira romagem terrena. Hão de surgir diversas questões pertinentes, justificadíssimas, como as que se refiram às pessoas com deficiências acentuadas, às crianças de idade tenra, aos velhos provectos, com dificuldades de locomoção, de visão, entrevados, e aos demais seres atingidos por desgraças muito fortes: queimados, mutilados et alii.
Inicialmente, devemos dizer que as impressões corpóreas persistem após a desencarnação por maior ou menor tempo, segundo o grau de desenvolvimento moral da pessoa. Raciocinando de maneira extremada, podemos dizer que os suicidas que atearam fogo às vestes carnais vão ficar com a sensação de dor até que compreendam o ato de rebeldia contra as leis cármicas. Crianças mortas enquanto embriões ou fetos não regressam ao etéreo com esse aspecto exterior. Conforme tenham sido antes, vestem a indumentária perispirítica e se tornam compatíveis vibratoriamente com quem se relacionavam há pouquíssimo tempo atrás. Crianças maiorzinhas podem adotar a lembrança da curta peregrinação terrestre ou reaver o conjunto fisionômico anterior, dependendo do progresso que a frustrada encarnação possa ter representado. Crianças maiores, vamos dizer a partir dos sete anos, quando se encontram definitivamente incorporadas no aparato carnal, são recebidas como tais e encaminhadas aos setores adequados ao desenvolvimento moral de cada uma, evidentemente ganhando pontos evolutivos, conforme o nível de purgação existencial.
Tudo a que acima nos referimos tem como vetor de compreensão o ponto em que se encontra o espírito na linha evolutiva. Quem é experiente não pode regressar mentalmente defasado. Muitos pais gostariam de receber notícias de filhos em idade escolar, por exemplo, como se permanecessem estacionados naquele quadrante existencial. São tantos os ignorantes que são obrigados os que cuidam da influência benéfica sobre a mente deles a oferecer respostas próximas às que se acostumaram, quando, muitas vezes, o espírito já reassumiu a desenvoltura intelectual de sua natureza. Tudo o que se faz visa ao progresso dos assistidos, mais ainda quando são os encarnados muito queridos e aos quais não gostaríamos de causar desgosto. É falso? Sim. É hipócrita? Não. Se nos interrogam a respeito, descrevemos a situação real.
No que compete aos socorristas dos acidentados, o índice de recuperação imediata é alto, tendo em vista que o sofrimento é o melhor padrão cármico de restauração dos processos da vontade de melhoria firmados durante o tempo em que se deu o encaminhamento para a encarnação. Não há quem venha à Terra, voluntária e conscientemente, sem receber as informações do valor dessa oportunidade, momento em que juram proceder em harmonia com as diretrizes estabelecidas para o aperfeiçoamento espiritual. Se sofrem dores atrozes, recordam-se tragicamente das tratativas, merecendo o conforto de serem resgatados o mais depressa possível.
Outro sério problema diz respeito à cor da pele. Terão os espíritos, pelo que afirmamos, mantidos os traços raciais ou poderão optar pela integração no ambiente em que se virem imersos?
Sempre o critério da resposta há de respeitar o padrão vibratório. As diferentes espécies humanas subsistem no pensamento dos indivíduos, conforme se tenham deixado impregnar pela estrutura corporal, instituindo padrões de procedimento orientados socialmente. Em países como o Brasil, encontram-se muitos que desejam alterar de negra para branca a cor da pele, desde logo. Na África, os nativos sequer pensam em modificar qualquer aspecto do período vital. Mas temos de informar que são obviamente preocupações menores, de espíritos muito pouco evoluídos. Quem se integra à atmosfera etérea é capaz de viajar por diferentes construções perispiríticas, segundo a necessidade de apresentação ao grupo a que vai prestar socorro. Espíritos de luz que vêm palestrar na colônia assumem a aparência mais condizente com os ideais dos ouvintes. Nem seriam reconhecidos se chegassem com o invólucro fluídico mais sutil da sua atual região.
Finalmente, apenas uma rápida observação sobre o complexo problema da estrutura sexual. Homens e mulheres permanecem como viveram? Homens que passaram por encarnações na condição de mulheres podem optar pela última forma? Os homossexuais transformistas, aqueles que desejaram mudar de sexo na carne, adquirem o direito de decisão sobre a própria imagem?
Vamos mudar o ponto de vista de exame para a questão. Deus penalizaria os filhos que desempenharam a contento o papel humano? Não, evidentemente. Então, enquanto não ascenderem aos páramos em que a mente se desprende dos vínculos terrenos, vão, segundo o padrão vibratório do grupo de espíritos a que estiverem associados, manter a semelhança mais condizente com os valores em curso.
Sabemos que o tópico precisa ser melhor explanado. Voltaremos, pois, a tratar de outros aspectos correlatos.








5

A MORTE APARENTE





Fugindo um pouco das preocupações dos encarnados, vamos referir-nos a sério problema cuja origem se situa no excessivo apego à vida material. Trata-se da imaginação subordinada aos princípios da ressurreição, quando as pessoas desejam volver à Terra, no final dos tempos, recuperando o paraíso perdido, utilizando-se do mesmo corpo que se deteriorou, inevitavelmente, pela decomposição natural dos elementos.
Devem ser responsabilizadas as religiões que estimulam essa fé cega, sem raciocínio, de que Deus oferece seus domínios aos que cumprem determinadas prescrições morais ou, simplesmente, eclesiásticas, acatando a palavra dogmática do pregador como irrefutável verdade? Sem dúvida, no decorrer dos eventos históricos, foram fixando-se diretrizes para a manutenção da vassalagem de culto, para que as igrejas florescessem ou, ao menos, não se vissem desamparadas de recursos para sua subsistência.
Entretanto, o desenvolvimento social caminha com as próprias pernas, quando acontecimentos tornam prementes as decisões seculares, como as questões relativas às pestes e às guerras, por exemplo. Se as explicações puramente teológicas não satisfazem as pessoas que se sentem ameaçadas ao verem os entes queridos sendo dizimados, os sacerdotes são colocados dentro dos templos e mosteiros, para que os leigos estudiosos dos fenômenos físicos possam oferecer os meios de superação das situações trágicas.
Não está em nosso roteiro a apreciação histórica dos desenvolvimentos humanos no campo da Política ou da Saúde. Por isso, limitamo-nos a constatar que, para a evolução da Humanidade, muitas vezes é necessário restringir os domínios das religiões e, mais propriamente, do sacerdócio.
Os que não percebem o prejuízo causado pelos preceitos tradicionais vão ficar impregnados do ideário da beatitude, segundo a carismática pregação dos que se asseguram como legítimos representantes de Deus ou de Jesus sobre a face da Terra. Falamos das religiões cristãs mas encontram-se muitas criaturas igualmente imersas nas falácias teológicas de inúmeras seitas, pelo mundo todo.
Pois bem, quando desencarnam os fiéis desses cultos, exigem dos espíritos protetores o cumprimento das promessas efetuadas pelos sacerdotes, sendo muito freqüente que se disponham a aguardar o final dos tempos, impondo-se período de profundo sono, como se a morte devesse constituir a natural reação do organismo perispirítico, até que as trombetas do Juízo Final venham despertá-los.
Ora, no plano etéreo, existem colônias dos mais diferentes matizes religiosos, conforme os indivíduos se reúnam em grupos de mesmo padrão vibratório. Para nós, que elaboramos o conhecimento à luz de sucessivas e depuradoras reencarnações, com a finalidade do aprimoramento espiritual, até que se tenha condição de passar para o círculo existencial seguinte, onde o grau de felicidade é incompatível com o progresso atual, o problema da morte aparente não se põe como trabalho a ser realizado com os irmãos em transe. Cabe-nos o alerta para a situação, porque muitos podem emigrar das hostes espíritas para casas de atendimento espiritual menos propensas à meditação sobre os pontos de fé, menos exigentes quanto ao cumprimento das diretrizes evangélicas, satisfazendo-se com os aspectos materiais do bem-estar individual e familiar.
Não chegarão à espiritualidade com tais problemas todos os que se predispuserem a encontrar, pelo trabalho, pelo estudo, pela leitura, pela discussão, pela aplicação dos princípios do amor e do perdão, o caminho da verdade, deixando-se imantar tão-somente pela irresistível pregação cristã, sem os vezos do egoísmo reivindicativo.
Estão fadados os irmãos dos movimentos religiosos comprometidos com os dogmas sempre ao mesmo destino? A resposta não pode ser taxativa. Tudo depende das ações de benemerência que tenham praticado e do nível moral com que se tenham havido na aceitação dos rigores da sorte, porque imersos na carne, ou seja, nesse mundo de expiação e de dor.








6

O CRIME E O CASTIGO





Tendem os encarnados a suspeitar de que, no etéreo, os fatos desencadeiem reações absolutamente coerentes, como se a cada causa correspondesse efeito de igual extensão. O mecanismo estaria vinculado a uma lei indefectível: pão, pão; queijo, queijo! Entretanto, o dia-a-dia atribulado das pessoas leva-as a concluir que são incapazes de dominar todos os fenômenos psíquicos, da mesma forma que se habituaram a não compreender todos os físicos.
Quando param para pensar a respeito de como serão os contatos com o povo de além-túmulo, não atinam com sua responsabilidade, da mesma forma que exercem o poder pela força, quando se atiram às conquistas materiais, sem a devida análise dos rombos que provocam na vida de outras pessoas.
— Qualquer atividade, a partir da observação anterior, vai exigir de nós ampla consciência dos atos, a ponto de nos imobilizarmos inteiramente, se quisermos compreender a repercussão de tudo o que fazemos. Não haverá tremendo exagero nas conseqüências relativas àquela responsabilidade?
De fato, exigir de cada um que tome cuidados especiais com tudo poderá representar a coação, inclusive, do ato de respirar, tantos são os danos para a sociedade desse obrigatório movimento orgânico para a sobrevivência. Se estão achando que exorbitamos, prendam vinte pessoas num cubículo de cinco metros cúbicos, sem ventilação, e cronometrem o tempo que levarão para se sufocarem. Pessoas doentes espalham micróbios através da tosse. Os que fumam empesteiam o ar, prejudicando os pulmões próprios e dos outros.
O que citamos no parágrafo anterior é do conhecimento comum de todos os que se deram ao trabalho de pensar a respeito. Não é verdade? Então, é esse conhecimento que será cobrado, sempre que, à revelia dele, os seres agirem em detrimento dos semelhantes.
— Não será melhor permanecer ignorante, nesse caso, para que a gente não se sinta massacrado pela necessidade de ponderar a respeito de cada pequenina atitude?
Pois está aí o cerne da questão. As pessoas preferem não saber para poderem prosseguir exercendo o acima referido direito da força, o que redunda, quase sempre, na exposição aos critérios diferençados do etéreo, quando já não podem argumentar como na vida terrena. Fazem-no, sim, enquanto freqüentam os meios mais grosseiros do Umbral. Mas não se pode dizer que sejam seres evoluídos. Conhecem esse tipo de felicidade e se satisfazem em permanecer envoltos na capa da ignorância, mas isso não é eterno. Um dia, são obrigados a reconhecer que certos acontecimentos desagradáveis estão sendo provocados por sua maneira de ser, como no caso das contaminações atmosféricas oriundas da queima dos combustíveis, quando se vêem iniludivelmente ameaçados ou já prejudicados. Só aí se compenetram de estarem espezinhando o próximo.
A presente orientação visa a favorecer a meditação, no sentido da percepção dos valores materiais, porque, na vida sobre a Terra, é o que vem em primeiro lugar. No entanto, não custa observar que a personalidade se forma em função das diretrizes sociais inseridas na mente, o que nem sempre condiz com as normas basilares da conduta cristã.
É fácil de concluir que este desenvolvimento é extremamente simples, pelos padrões dos raciocínios estruturados pelos civilizados formados no ambiente capitalista, onde o consumo impera sobre as deliberações morais. A complexidade da vida moderna é a desculpa acima aludida. Pessoas verdadeiramente não impregnadas pela ambição inerente aos que se deixam embalar pela necessidade de conquistar recursos para além dos mínimos que a sobrevivência prevê tornam-se cada vez mais raras.
Eis caracterizado o ponto contraditório dentro da pregação espírita, uma vez que nada é verdadeiramente simples na apreensão da verdade universal. O progresso espiritual se dará quando os indivíduos dominarem a complexidade dos conhecimentos, o que lemos em todas as obras sérias da doutrina, desde a codificação kardequiana.
Acontece que a sabedoria fluirá com naturalidade quando se absorverem as normas evangélicas e ficarem esquecidas as agitações psíquicas formuladas a partir dos atributos sociais sugeridos pela conquista dos bens materiais.
Onde o crime? Na valorização extraordinária do gozo sensório. Onde o castigo? Na manutenção desse prisma filosófico, por força de se não compreender nenhum outro meio de existir, mesmo após o desenlace vital. É mecânico? Não poderia ser diferente, porque nada se alcança sem trabalho, sem esforço, sem interesse, sem vontade, sem dedicação, sem discernimento, sem estudo. Que fazer? Responda-nos, leitor ou leitora, se não é verdade que existe, em seu íntimo, a intuição de que está agindo ou não com responsabilidade.








7

O CONTATO MEDIÚNICO






Tema por demais ambicioso para as minúsculas posses intelectuais do Grupo dos Arremessos Juvenis, vamos circunscrever as informações ao que têm de mais honesto os médiuns, ou seja, a boa vontade de auxiliar os desencarnados em apuros ou desejosos, como nós, de transmitir mensagens de alerta e de apoio filosófico ou doutrinal.
Quando se apresta para o contato com as hostes espirituais a serviço do bem, por amor do Cristo, deve o mediador sentir alegria e confiança nos sentimentos dos que estão imantados ao ato da comunicação. A experiência deve ser a mãe das atividades, de forma que o mortal não deve iludir-se quanto à necessidade dos sofredores ou à qualidade dos textos orais ou escritos. Se desconfiar de que esteja em mãos estranhas, deve entregar-se, como recomenda Kardec, à prece, essa panacéia para os males espirituais.
Ler O Livro dos Médiuns e O Livro dos Espíritos é tarefa obrigatória para quantos aspirem a servir o plano etéreo, como, para nós, é imprescindível a recomendação da leitura, o que se encontra em todos os compêndios ditados pelos alunos da Escolinha de Evangelização.
A partir daí, concebe-se a dificuldade que temos de vir tratar do mesmo assunto. Ainda assim, atrevemo-nos, principalmente no sentido de reiterar o ponto de vista espírita, qual seja, o de que o Espiritismo deve assimilar os conhecimentos básicos kardequianos, se quiser progredir no exame da fenomenologia, juntando aspectos técnicos novos que acrescerão pontos importantes aos conhecimentos.
Por outro lado, apesar de estarmos operando o sistema psicográfico, nem todas as funções exercidas são de domínio nosso. Há muitas caixas-pretas neste trabalho, porque estamos recebendo auxílio dos mentores da casa, aprendizes que somos e denunciamos, para que não se espere demasiado da turma. Neste aspecto, aproveitamos a oportunidade para aprender muito mais do que para levar aos leitores apanhados conceituais inéditos, para o que pedimos, desde sempre, a sua compreensão e o seu perdão.
— Como se atrevem os irmãozinhos mensageiros a formular pensamentos restritivos das ações humanas, se confessam não apresentar aparato moral evangelizado, segundo as premissas dos espíritos de luz?
Do mesmo modo que apresentamos a crítica ao próprio desempenho, visando à melhoria do comportamento pelas leis universais, com o fito de demonstrar que a modéstia deve acompanhar, pari passu, todas as reflexões, inclusive aquelas instigadas diretamente pelas instruções dos mentores.
Seria o companheiro capaz de apanhar ditado semelhante a este, em condições de isolamento ou em mesa de centro espírita, por inspiração ou incorporação de espíritos desejosos de demonstrar a qualidade das posses de virtudes, sem titubeio de monta, sem infeliz suspeita de obsessão, sem a vanglória inútil do trabalho de nível superior, sem o desejo insubsistente de realizar o melhor desempenho para a divulgação pública do que se passou, um dia, no íntimo de sua consciência, de sua mente e de seu coração?
No caso deste grupo, o médium está a oferecer-se para a fixação psicográfica, intuindo que temos precisão de auxílio humano, para o desenvolvimento curricular a que nos submetemos, conforme amplamente os mestres têm vindo informar. Claro está que deseja muito realizar algo que possa transferir para o conhecimento dos familiares e do público em geral. Entretanto, põe-se junto ao teclado, assinalando todos os pensamentos que lhe brotam, para apenas posteriormente exercer a crítica de valor, caso contrário inibiria a própria imantação, desfazendo o contato mediúnico, por força de ele mesmo ocupar segmentos do cérebro importantes para a nossa atuação.
Por outro lado, se se deixar envolver demasiadamente pelo teor do texto, poderá querer justificar os próprios conhecimentos, intrometendo-se na mensagem, ajudando com exemplos ou abonando com citações. Médiuns menos cultos haverão de interferir, imiscuindo nas idéias dos espíritos as próprias explorações no campo em pauta, favorecendo o desvio das intenções e acabando por desenvolverem textos paralelos, quando não eminentemente opostos.
Tais intromissões degeneram o mediunismo, a ponto de as pessoas passarem a discursar sempre sobre o mesmo assunto, repetindo-se ad nauseam, pela lembrança do sucesso das passagens categorizadas como mais perfeitas, mais adequadas, mais proveitosas.
Nesta altura, cabe advertir para determinadas posturas programáticas, de sorte que muitos espíritos têm como tarefa dissertar sobre o mesmo tema, o que não deve ser levado à conta do médium, como, de resto, este mesmo desenvolvimento, cujo teor se encontra em inúmeras composições passadas aos mortais através desta pena.
Como saber que não se trata da mesma entidade? Pelo estilo, pela estrutura particular da peça ou geral da obra, pela definição das personalidades, segundo o conjunto das informações obtidas, pelas configurações lingüísticas diferençadas, pelo aprofundamento temático conforme aos ditames doutrinários do Espiritismo.
Em suma, cabe à pessoa definir-se quanto ao que espera alcançar através do contato com os irmãos da Espiritualidade, orientando-se pelas normas superiores das lições do Mestre Jesus. Também neste mister, necessário se torna o estudo, a meditação, a discussão com os pares, a submissão aos mestres, o bom senso, o equilíbrio, a força de vontade e, acima de tudo, o desejo de ser útil, sem a contrapartida da proteção condicionada, no toma-lá-dá-cá a que estejam habituados.








8

A VOLITAÇÃO





Muitos consideram o meio em que se situam os espíritos favorável ao deslocamento aéreo pelo poder do pensamento, como se nos fosse permitido abolir as leis do magnetismo e da gravitação.
O parágrafo inicial contém vários disparates para o pensamento que considera este plano quintessenciado, como se não fosse possível que os corpos fluídicos estivessem sujeitos a análogos princípios que regem a densidade material do planeta. Evidentemente, ao se cotejar o poder de atração dos diferentes corpos celestes, podemos concluir que a massa que compõe o aparato carnal dos seres vivos haverá de ser relativa ao volume ou ao peso específico do logradouro cósmico em que se abriga. Sabemos que, em solo lunar, as pessoas tendem a não controlar a força muscular, de forma que um passo, na Terra, lá representa salto bastante elevado. Em Júpiter, cujo tamanho é muitíssimas vezes superior ao da Terra, a mesma pessoa talvez não conseguisse deslocar-se.
Ora, é lógico que se raciocine que, sendo o ambiente espiritual formado de princípios fluídicos, se torne muitíssimo mais fácil aquele mesmo salto que se alcança na Lua. Assim seria, se o corpo perispirítico não se constituísse dos mesmos elementos da composição do ambiente, portanto, sujeito aos mesmos princípios e diretrizes hauridos da constituição própria da natureza que ali vige.
Para sermos claros, devemos dizer que os espíritos necessitam, para se deslocar em viagem, de veículos tracionados por animais ou por energia extraída dos componentes formadores da matéria daqui, o que é perfeitamente compreensível, se quisermos estabelecer padrão de equilíbrio existencial.
O contrário, ou seja, a possibilidade de cada um se mover a bel-prazer iria estabelecer o caos, surgindo os seres onde melhor lhes apetecesse o desejo.
— Mas lemos, em diversos escritos mediúnicos, que os espíritos recebem de longe pedidos de socorro, a que atendem, muitas vezes, de imediato, deslocando-se apenas com o poder do pensamento. Como entender esse tipo de informação, se estão a nos dizer que o deslocamento dos corpos está sujeito a tração mecânica de empréstimo?
Não desejamos criar polêmica. Quando dizemos que haveria o caos, isso seria no caso de que todos os seres estivessem misturados, independentemente do grau evolutivo na escala do aperfeiçoamento evangélico. É verdade que existe a volitação, mas para criaturas de superior discernimento moral, aquelas que se encontram prestes a galgar mais um degrau rumo ao reino do Senhor.
Não é justo desconfiar de que os seres que, durante a vida, se destinaram ao mal, arruinando as esperanças dos que os protegiam, malbaratando a oportunidade de crescimento por não realizarem nenhum trabalho em prol dos semelhantes, odiando ao invés de amar, estejam mergulhados em regiões de coerção física, considerado o grau de compatibilidade ambiental? Se não fosse assim, onde ficaria a ordem estabelecida por Deus para o equilíbrio universal?
Sabemos que muitos acham que tudo podem, à vista de tudo fazerem em encarnação de poderio sobre a vontade alheia, escorados nas estruturas da sociedade que os salvaguarda, a partir mesmo da impossibilidade da aplicação daquela lei do pão-pão-queijo-queijo, a que anteriormente fizemos menção. Ainda que interesse houvesse em manter todas as pessoas sob o tacão da autoridade constituída, muitos haveriam de encontrar brechas para o exercício da maldade, o que vale dizer, do aproveitamento dos recursos materiais em detrimento dos compatrícios. Daqueles a maioria situa-se nos postos de comando, de forma que restringem a liberdade alheia e desenvolvem o pensamento de liberalidade para as próprias ações.
Pois bem, é essa a herança que trazem para o etéreo. Se pudessem volitar à vontade, iriam exercer a mesma pressão em campo energético para o qual não existe a facilidade encontradiça no planeta.
Pensem nisso!








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DAS REVELAÇÕES DO ETÉREO





Não são poucas as obras que trazem conhecimentos específicos da dimensão espiritual. Não seria objeto de nossa pregação, por assim dizer, vir acrescentar noções mais precisas a respeito dos temas que mais atiçam a curiosidade dos encarnados. No entanto, é de todo conveniente suspeitar de que nem tudo o que se disse nesse sentido deve ser levado à conta da mais rigorosa e científica informação.
Desarmados lingüisticamente, os mensageiros se vêem na necessidade de assimilar conhecimentos terrenos atuais, adiantados, portanto, em relação ao tempo em que viveram, para buscarem analogias nas semelhanças disponíveis às suas inteligências e às dos leitores.
Se recomendarmos a leitura de textos modernos (modernos é termo aplicado a muitas obras publicadas neste século), deveremos resguardar a postura de total aceitação dos dizeres, como se fossem a tradução da realidade etérea. Muitos contribuem com peças valiosas, na incessante busca de subsidiar os conceitos espíritas divulgados pelo Codificador, para tornar verossimilhante a condição das entidades em contato mediúnico. Contudo, a intenção maior é a de propor à inteligência e à sensibilidade das pessoas que a salvação para o Senhor se encontra no discurso sagrado do Novo Testamento, não só pela pregação direta do Cristo, como por todos os atos de seu amor e desprendimento dos bens materiais.
Nesta tarde de carnaval, não quisemos faltar ao trabalho maravilhoso que nos dá a oportunidade de discorrer sobre temas oportuníssimos, considerando que muita gente despreza a moralidade com a desculpa de que o que se praticar nestes dias de diversão sensória haverá de ser resgatado mais tarde, com o subseqüente sacrifício da contenção habitual propugnada pela sociedade.
Nenhum raciocínio poderá ser mais falacioso, porquanto implica no conhecimento do mal, do vício, do desleixo, da facilitação dos crimes contra o que as pessoas têm de mais valioso, ou seja, a vida pelo intelecto e pelo sentimento. Em todo caso, se, na última hora, houver arrependimento sincero, rejeição das práticas de menosprezo ao vigor físico ou ao desempenho moral dos semelhantes, na indução de que tudo tenha estado sempre bem diante dos olhos do Senhor, haveremos de reconhecer que a nossa palavra poderá oferecer o melhor padrão para o daqui-para-a-frente.
Se não houvesse esperança de melhoria, de evolução, de despojamento dos critérios menos saudáveis, não estaríamos, evidentemente, pondo nossa manguinha de fora e manifestando-nos a respeito destes temas de superior interesse para o progresso das pessoas.
Como haverá de ser o próximo carnaval? Responda-nos você, prezadíssimo amigo, que o nosso estará em orarmos pela abertura da mentalidade dos companheiros encarnados, para que não se sintam apegados demasiadamente aos confortos que haurem na vida material.
Hoje, estamos voltados para os que possuem dinheiro e saúde suficientes para o desperdício. No entanto, não nos esquecemos de tantos que se encontram encarcerados na dor, no desespero, na agonia, sem reais perspectivas de reverter o quadro das dificuldades, tendo em vista terem ultrapassado os limites da natureza corpórea. A estes, resta-nos oferecer a esperança de tratamento em casas especializadas no etéreo, o que alcançarão se admitirem que estão verdadeiramente presos a passado, conhecido ou não, de desleixos, de revoltas, de incompreensões, de tiranias e demais atitudes contrárias à submissão às eternas leis de Deus.
— Vocês não estão correndo o risco de parecerem demasiado igrejeiros, carolas, beatos, santarrões, como se tivessem vivido na Terra na condição de sacerdotes frustrados em seus limites naturais e inoperantes diante dos fiéis a quem deveriam encaminhar e que se perderam, como os que são agora acusados?
Corremos o risco, sim, porém, afirmamos, se em nós quiserem acreditar, que nossa alma se pejou dos pecados, ou melhor, dos deslizes, das maluquices, dos estipêndios da ingratidão pelo sacrifício dos seres que nos conduziram à peregrinação carnal. Curtimos longo tempo a intemperança que ora censuramos e, com muita fé em que superaríamos a condição da profunda inferioridade, oferecemo-nos ao trabalho de ajuda aos socorristas. A dor que fomos obrigados a entender, em meio a abalos e tribulações morais de terrível sofrimento, é que nos alertou para o despertar de quantos ousem caminhar conosco pelas páginas que ditamos.
Dá para compreender a preocupação com o teor dos textos sob nossa responsabilidade?







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COMO RECONHECER A VERDADE





Problema dos maiores entre os encarnados dedicados ao mister da filosofia é a compreensão dos limites intelectuais da força do pensamento, pela restrição natural dos eventos na matéria. Quanto mais imersos na densidade dos fluidos relativos à natureza em que existem em estado corpóreo, mais se distanciam da possibilidade de exploração do espaço e do tempo espirituais.
Chegar-se ao ápice de entender que a matéria se constitui de corpúsculos tão pequenos que mais não são do que vibrações energéticas cuja contextura os físicos são incapazes de determinar com rigor; chegar-se ao ápice de admitir que as estruturas atômicas e subatômicas resultam somente do poder de observação do pesquisador, sem a competente apreensão da realidade ao nível das menores partículas, é abrir campo de referência para a presunção de que existam outros meios de exercer o Criador seu poder.
— Onde a falta de correlação entre as conclusões dos físicos e as dos filósofos? Não vemos como podem uns prescindir dos outros, pois é necessário que o conhecimento se fundamente nas ciências exatas, aquelas capazes de deslindar os mistérios da natureza. Deduzirem os filósofos a existência de outras dimensões essenciais pela inferência de que os físicos não conseguem examinar com proficiência a intimidade da matéria, não será cair nas ilações imaginosas de quem constrói a teoria segundo ponto de vista particular?
A tendência do grupo é a de aceitar esse tipo de raciocínio de quem vive tempos de descrença, pela prevalência quase absoluta dos valores do sucesso social, o que implica em bem-estar, em sacrifício inconsciente dos meios intuitivos, empregados apenas em função do que possa vir a ser comprovado em situação de pesquisa laboratorial.
Entretanto, à vista do geral da humanidade entregue a preocupações menos grandiosas, no que concerne à descoberta da origem da existência, ainda mais profundas que a da simples organização vital, atrevemo-nos a intervir nas teses do materialismo puro, para afirmar a nossa existência enquanto espíritos, forçando que a teoria ganhe novos rumos pela revelação, porque aguardar que os encarnados todos venham a deduzir a respeito das diferentes essências pelos círculos do transcendental, a partir dos dados científicos, será o mesmo que estancar todo raciocínio fundamentado nos elementos que a fantasia humana costuma apelidar de quiméricos. Não participarmos da vida na Terra pelo mediunismo será, simplesmente, dar aos encarnados a oportunidade de desvincularem-se de todo compromisso com a realidade espiritual que, em última análise, é a que verdadeiramente importa. Daqui a necessidade da fé, com todo tratamento metódico fundamentado nos princípios científicos mais rigorosos, para se abrir espaço para mensagens como estas.
Preocupar-nos-á que muitos, simplesmente, desconfiem da honestidade do mediador? Absolutamente, não. Cremos ter utilizado os meios lingüísticos mais apropriados para nos fazermos entender, apesar das dificuldades inerentes a quem não se dedicou com proficiência aos estudos, como seria desejável pela importância temática. Ao menos, contudo, damos ao texto a complexidade imanente ao desenvolvimento intelectual dos que levantam dúvidas.
Em último caso, contrariando o espírito que tem norteado as apreciações, que se alertem os leitores para não serem surpreendidos pelas experiências dolorosas de quem descobre, depois de morto, que bem poderia ter dado ouvidos a quem nada tem para lucrar com o fato de trazer simples informações.
Para nós, seria muito mais agradável que fustigássemos moralmente os crimes, recomendando a leitura dos Evangelhos, dando relevância à pregação de Jesus. No entanto, preferimos enfrentar o duro silogismo dos críticos, pela exposição do inconsistente ou do improvável, quanto seja necessário para firmarmos o princípio do coerente e do subjetivo.
Para encerrar, é preciso incitar o pensamento positivo dos leitores, no sentido de despertá-los para o fato de que, mesmo no etéreo, neste plano em que nos situamos, também é impossível investigar a natureza íntima da dimensão universal, porque seria desvendar segredos da Divindade, para o que não temos suficiente desenvoltura. Muito haveremos de nos aplicar aos estudos, de nos dedicar à absorção das verdades morais, antes que mereçamos levantar a fímbria do mistério.
Também nós temos de compreender os limites de nossa competência.








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DA ORATÓRIA E DA PREGAÇÃO





Tendem os espíritos a transmitir textos de análise dos procedimentos humanos como resultantes das más disposições do caráter, orientando-se pelos pecados tradicionais: ira, gula, sexo, usura etc. São os homens menos rigorosos quanto aos excessos, disfarçando os atos que levam à dependência física ou psíquica, com o manto da arte, da ciência ou dos usos e costumes.
Quem não admite que as pessoas fiquem iradas, quando, visivelmente, foram lesadas em algo precioso, como a perda de propriedades ou, mais ainda, de entes queridos? A própria sociedade castiga aqueles a quem chama bandidos, criminosos, prendendo-os em infectas celas, havendo quem parta para a amputação de partes do corpo ou para a execução capital. Do mesmo modo, a gula se transmuda em arte culinária, o sexo, em arte cênica, enquanto a usura ganha a proteção das ciências econômicas e financeiras.
Pois bem, quando uma turma como a nossa não vem para aspergir água benta, no perdão irrefletido a todos os que dizem arrepender-se, nem vem clamar contra a voluntariedade desastrosa para o progresso individual e coletivo, se acha em palpos-de-aranha para exprimir-se de maneira isenta de envolvimento sentimental.
Vemos que os encarnados estão desperdiçando a sacratíssima oportunidade de melhorar o desempenho moral e de aperfeiçoar os conhecimentos doutrinários, mas conformamo-nos em tão-só alertar para os prejuízos prováveis, quando tudo o que se faz redunda na clara demonstração de ausência de amor ao próximo, base do pensamento cristão.
Explicamos, ainda, que se encontram, no etéreo, grupos de socorristas preparados para o atendimento das graves lesões perispíriticas, desde que o assistido se deixe embalar por alguma fé na justiça divina e muita esperança de superação da terrível defecção existencial. Quem não tiver praticado a caridade, haverá de confiar em que a receberá de entes mais afeitos ao discurso ou à pregação de Jesus.
— Alguma vez o Mestre Nazareno apostrofou pecados e pecadores, segundo o narrado bíblico?
Constantemente. Nem será preciso citar trechos exemplificativos. Chegou mesmo a açoitar os vendilhões do templo. Mas o fundamento de sua exposição moral repousa sobre histórias muito vivas, as chamadas parábolas, inimitáveis por quantos, aprendizes, se dispõem a escrever sobre os mesmos temas.
Resta-nos o que vimos tentando, ou seja, a adaptação ao pensamento moderno dos dispositivos doutrinários do chamado espiritismo de resultados, qual seja, aquele que dispõe para os de boa vontade quais os meios possíveis de progresso espiritual.
Jesus possuía a autoridade da excelsitude. Kardec apresentava os vezos científicos do lente universitário. Chico Xavier, a mansuetude do iluminado, peregrino do mediunato universal.
E nós? E nós? A modéstia fragmentária das declarações alusivas à fragilidade do intelecto, ao acanhamento dos sentimentos, às restrições do saber pelo reconhecimento de que estamos aprendendo sob orientação de mestres experientes, estes, sim, em condições de pregar contra a incúria dos seres imersos nos vícios e na loucura da negação da eternidade do Senhor, de sua bondade, de seu amor e demais atributos que soem desprezar, porque estimam o bem-estar transitório.
Não queremos anunciar que a hora é esta para se compenetrarem os amigos de que podem melhorar o padrão do proceder. Mas esperamos que o texto que se encerra não signifique nada, perante a grandiosidade das conquistas alcançadas. E que nos perdoem o atrevimento da sugestão de que as exortações do Cristo sejam válidas para este mundo de alta tecnologia. E o sentimento irônico nada sutil.








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EXAMINANDO A CONSCIÊNCIA





A partir deste preciso instante, vamos considerar todas as atitudes como passíveis de aperfeiçoamento, no sentido da aplicação do bem e do amor pleiteados pelo Cristo, como ainda no da compreensão dos mecanismos íntimos das ações e reações dos interlocutores.
Eivados de preconceitos, não costumamos refletir a respeito de como deveríamos proceder para aproximarmo-nos das pessoas, oferecendo lenitivo às dores e sofrimentos, preocupados, antes de mais nada, em executar o serviço sem riscos de monta, na presunção de que o Pai haverá de glorificar quem se contiver dentro dos padrões morais vigentes, para o respaldo da virtude.
Não estamos conformes aos sacrifícios dos pontos de vista, julgando improcedentes todas as razões que não se pautem pela cartilha a que nos habituamos. Se estivéssemos perante Jesus, em suas manifestações de desagrado pela conduta farisaica ou publicana, talvez nos aliássemos aos que sofriam a verberação, porque nos pareceria que estavam conduzindo-se pelas normas da época.
Mutatis mutandis, o mesmo se passa quando nos apresentamos a Kardec, para a leitura das obras da Codificação Espírita. Quase sempre refutamos imensa série de proposições, à vista dos fundamentos culturais sobre que erigimos a personalidade. Somente após inúmeras leituras e discussões, principiamos a entender os princípios mais importantes, como o da reencarnação e da interligação constante entre os planos material e espiritual.
Quem se considera espírita de carteirinha deve lembrar-se das dificuldades de aceitação das manifestações das entidades através dos médiuns, pela desconfiança tida como natural de mistificadores. Não poucos de nós abusamos do exame contínuo da atuação dos amigos junto às mesas de trabalho evangélico, para a descoberta de seus fios condutores.
Quanto aos doutrinadores, sempre apontamos os defeitos que se revelam no dia-a-dia do relacionamento, para sua caracterização como não preparados para o mister.
No que respeita aos espíritos sofredores, quantas vezes lhes inquirimos os nomes, as profissões, os locais, as datas, para a configuração da verossimilhança, para crermos que estamos ouvindo-lhes a manifestação de dor e de frustração! Se se trata dos bons espíritos orientadores da casa ou dos tarefeiros do socorrismo, queremos que sejam puros na temática e na linguagem, acreditando que falam diretamente apenas quando capazes de reproduzir os dizeres exatos de Jesus ou de Kardec. Caso haja qualquer titubeio, atribuímos a exposição ou ao médium ou a entidade zombeteira desejosa de nos iludir.
Não queremos ir mais longe na avaliação dos primórdios da imersão doutrinária. É objetivo nosso, simplesmente, alertar para o fato de que carregamos conosco a nossa história, e é ela que dimensiona as reações atuais, para o despertar de nova fé, de nova esperança, de nova caridade, princípios que preconizamos renováveis a cada momento, para o acréscimo das demais virtudes, sem o que deslizaríamos pelo tempo como quem se deixa empolgar pela inércia.
Teremos ido excessivamente longe nas observações? Teremos insuflado na alma dos leitores a vontade de examinar com mais detença as causas que determinam suas atividades? Conseguimos imprimir ao texto suficiente luz, para o discernimento propugnado? Ultrapassamos os limites que circunscrevem a tacanhez da personalidade, para a formação de novo critério de apreciação de quem somos e do por que somos?
O questionário, não se iludam, pode ser enriquecido sobremodo pela experiência de cada qual. Por isso, não temos a pretensão de esgotar o assunto nem de julgarmos a comunicação sequer medíocre. Em todo caso, era o que podíamos oferecer de imediato. A partir da crítica a que submeteremos a peça, com certeza poderemos aperfeiçoá-la. Muito mais difícil é o ir largando pela estrada os desmazelos, para a aquisição dos bens morais em falta.
E neste barco navegamos todos!...







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PARÁBOLA





Imaginamos que alguém pudesse encontrar-se, de repente, dentro de loja de produtos de cerâmica, vidro e cristal. Por imprudência, deixa tombar e partir-se rara peça, de valor inestimável, algo como um vaso da Dinastia Ming.
É natural que, à vista da importância do desastre, se desconjunte emocionalmente, tendo em vista a preciosidade do artefato e a impossibilidade de arcar com o prejuízo.
Qual haverá de ser o primeiro movimento psíquico desse indivíduo?
Com certeza, irá providenciar para que sua responsabilidade se minimize, buscando as desculpas mais plausíveis para o ato falho, inculpando outras pessoas por terem exposto tão caro objeto ao perigo de se quebrar. No mínimo, haverá de pedir perdão pelo estabanado gesto, quando não era difícil de observar que algo do gênero viesse a ocorrer.
Ponha-se o amigo na situação descrita.

— Qual iria ser a sua primeira reação? Responda de pronto.
— Eu não me veria nessa situação, porque jamais entraria numa loja de produtos tão caros.
— Não seria a resposta mais adequada, porque nós o colocamos lá e o fizemos despedaçar a peça.
— Então, eu pediria ao patrão que me dissesse o que fazer para ressarci-lo do prejuízo.
— A resposta não se coaduna com a proposição do grupo. Não é fato que dissemos que você não teria como cobrir o valor do vaso?
— Vocês disseram que a pessoa iria incriminar a outrem por desleixo, por imprevidência, por não haverem resguardado a obra, para a eventualidade do encontrão. Eu poderia fazer o mesmo?
— É de sua natureza agir dessa maneira?
— Devo pedir perdão?
— Que pensa você a respeito dessa atitude? Julga que seria bem recebido pelo prejudicado?
— Julgo que, se a pessoa for íntegra, irá compreender que derrubei o vaso em gesto imprudente, com certeza, mas absolutamente sem consciência de que o faria, pelo fato de que não prestei atenção aos movimentos...
— Desculpe interromper. Mas estará o amigo tentando transferir a responsabilidade do malfeito à impropriedade de percepção do outro? Quer dizer que, se a pessoa não for íntegra e não lhe compreender as razões, você deixará tudo como está, transformando o sujeito em desafeto?
— Creio que vocês estejam querendo deixar-me sem saída, como na história do amigo da onça.
— Pois nós suspeitamos que a lembrança do gracejo tenha vindo apenas para fugir do problema.
— Façamos o seguinte: ofereçam vocês a solução.
— Qual solução? A nossa, a sua ou de outra pessoa qualquer, segundo o nível de desenvolvimento moral de cada um?
— Quer dizer que devo enfrentar o problema com meus próprios recursos?
— Foi exatamente isso que propusemos.
— Penso que o desastre me fará eterno devedor e, se não me bastarem os recursos de uma vida, deverei aguardar a cobrança para depois da morte, quando poderei oferecer a oportunidade de resgate na encarnação seguinte.
— Pois temos uma resposta que você poderia ter dado, se os seus conhecimentos espíritas fossem mais avançados.
— Ou seja...
— Há meios de se garantir a pessoa contra desfalques dessa importância, ou seja: fazendo um bom seguro contra acidentes...
— E vocês disseram que o engraçadinho era eu...
— É verdade. O fato de ter quebrado o vaso é mero artifício para o raciocínio moral. Estamos em pleno desenvolvimento de simples parábola, isto é, de historia em que as pessoas são colocadas idealisticamente à prova. O seu conhecimento da doutrina fez com que aventasse a hipótese de transferir o débito para situação mais cômoda. Entretanto, se estivesse resguardado contra a imprudência natural dos encarnados ignorantes, iria estar prevenido com apólice de amor, de perdão, de desejo de acertar, de verdadeira vontade de tornar as pessoas cúmplices na bondade, na caridade, na fé, na esperança... Que valor poderá ter o vaso que venha a ser maior que a amizade possível de realizar-se entre os seres? Trabalhar pelo outro? Nem pensar, se o sentimento estiver eivado de ódio, de contido desejo de superar a condição em que se viu inferiorizado moralmente. Ninguém vai ao mundo para oferecer prejuízos materiais ou morais aos semelhantes. Mas, uma vez internados na carne, a subjetiva recordação se faz pela vibração que sentem envolvê-los pelas intrigas e demais meios de os indivíduos se detestarem. Que achou você desta proposição?
— Complicada demais para ser levada a efeito numa única encarnação.
— Não era a resposta que desejávamos ouvir, mas é a que melhor se coaduna com sua personalidade. Esperamos que para algo tenha servido a leitura. Fique na paz do Senhor!
— E que Jesus nos abençoe e proteja, porque, sob seu manto de misericórdia, lograremos conhecer o melhor caminho para o Reino!
— Assim seja!







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VERTENTES DE FÉ





Não seremos os primeiros a vir declarar a necessidade da fé para a preservação da alma em condições ideais para o socorro, após o decesso. Inútil pelejar contra o sentimento, intentando alcançar o objetivo maior de tornar a fé absolutamente racional. Nem Kardec queria exatamente isso.
Hemos notado que muitos se enganam na exegese doutrinal dos postulados do Codificador, intentando transformar o sentimento em puro raciocínio. Por certo, a emoção de se acreditar capaz de usufruir as benesses dos benfeitores espirituais deve ser respeitada, pelo que entendemos que há um momento de compreensão intelectual e outro de puro desfrute sentimental.
A imagem tradicional da ave que voa com as duas asas, representando uma o coração e outra, o cérebro, pode muito bem ser substituída pelas pás que elevam o helicóptero, todas representando a fé, a um só tempo sentimento e raciocínio.
Parece que estamos oferecendo resistência ao pensamento kardequiano. Nada mais injusto. Apenas estamos tornando mais moderna a teoria, afirmando que não é provável que o mestre lionês se deixasse embalar pela ilusão de que a capacidade intelectual dos encarnados abrangesse os universos filosóficos, morais, doutrinais e científicos, no Espiritismo nascente.
Não é verdade que afirma ele o princípio da evolução? Nesse caso, havemos de conjeturar que não julgasse ninguém, nem a si mesmo, perfeitamente apto a ascender aos páramos da glória do Senhor; não sem antes volver inúmeras vezes à carne, neste e em outros mundos mais adiantados.
Sendo assim, é plausível concluir que devamos imergir profundamente nos sentimentos, sob o amparo da razão, mas decididos a acreditar em que não nos empolgarão os conhecimentos últimos necessários para o progresso definitivo. Nada haverá de ser mais gratificante do que a alegria da percepção de que estamos certos em nos emocionarmos pela assistência contínua que merecemos dos amigos mais evoluídos, dos preceptores, dos mentores, dos anjos guardiães e demais entidades da espiritualidade superior.
Quando estamos no plano da vida material, tendemos a suspeitar de que tudo na existência se fez no intuito de nos proporcionar prazer ou dor, sem o intermédio do crescimento das sensações puramente morais, quer no sentido da compreensão racional, quer no da apreensão emotiva. Ora, para efetivo quintessenciar do prazer, é justo consideremo-nos um pouco mais adiantados do que os que desejam unicamente o progresso material, como a conquista do conforto, da riqueza, do poder, da fama, da glória, do heroísmo reconhecido, ainda que no âmbito familiar ou, o que é muitíssimo mais sério, dentro do coração compenetrado de que todos os valores da vida estão sob controle da vontade.
A sombra da dúvida põe muita gente de sobreaviso quanto à impropriedade dos conhecimentos e oferece subsídios para a rejeição dos adendos doutrinários oferecidos pelas diferentes teses ainda não incorporadas à filosofia espírita. Kardec mesmo solicita dos fiéis seguidores da doutrina que submetam as novas tendências ao escrutínio da razão, impedindo que caiam nas armadilhas dos espíritos adversos, maldosos ou imperfeitos, sempre desejosos de iludir os encarnados, para que não avancem na senda evolutiva, porque se sentem alijados do poder a que acima aludimos.
Nem nós queremos outra coisa, pois seríamos contraditados imediatamente pelos irmãos mais doutos. Nem iríamos obter a oportunidade da divulgação de nossas opiniões. Entretanto, reafirmamos que, sem estudo metódico, disciplinado, sem trabalho empenhado, sincero, vamos permanecer rastejando nas encarnações improfícuas.
Que seja este modesto trabalho a baliza que vai demarcar o processo de envolvimento dos leitores no ideário superior dos espíritos que nos assistem das esferas mais evoluídas! Pretensiosamente modesto...








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O SINGULAR E O PLURAL





— Deus é singular ou é plural?
— Curiosa questão! Como havemos de saber?
— Estamos lendo na Bíblia que Deus falou com Adão, com Abraão, com Jeremias e Isaías. Teria o Pai dito coisas diferentes a uns e outros?
— Pergunto eu se Deus teria falado, verdadeiramente, com os homens.
— Não vamos colocar em dúvida os textos sagrados, por favor. Aceitemos que Deus o tenha feito. A pergunta é: precisaria? Que informações passou a Moisés, por exemplo, que os códigos dos antigos povos já não consignassem bem antes da legislação hebraica?
— Sempre haveremos de ter muita dificuldade em avaliar as fontes que forneceram a Moisés...
— Muito bem. A história bíblica nos demonstra que Moisés viveu entre os egípcios. Certo? A civilização egípcia havia produzido, por exemplo, as pirâmides, mantendo o culto aos mortos por extenso corpo eclesiástico, muito bem preparado nas diversas artes divinatórias, conforme antigo costume descrito no episódio dos sonhos do faraó interpretados por José. Não seria plausível admitir que o legislador hebreu tenha haurido os conhecimentos dos fundamentos legais diretamente dos sacerdotes egípcios?
— Mas, na Bíblia, não se afirma que recebeu as Tábuas da Lei, o Decálogo, das mãos do Senhor?
— Quem redigiu o texto bíblico? Quem testemunhou o ato revelador? Não poderia, a ser verdade que do etéreo proveio a essência do corpo jurídico do povo nômade em vias de fixação, ter ocorrido apenas um ato mediúnico, com os preclaros benfeitores dos transmigrados oferecendo a estrutura moral sobre que se criaria a legislação judaica?
— Está tudo muito bem definido, do ponto de vista das possibilidades. Concordo. Mas que têm de ver tais conjeturas exegéticas com a proposição inicial, qual seja, se Deus é singular ou plural?
— Pois aí é que se encontra o núcleo da perquirição teológica. Deus não pode ser plural, porque não é mais que um. Inteligência suprema, não tem necessidade de manifestar-se, de guiar, de conduzir, de esclarecer, de revelar, de apostrofar, de vingar, de proteger e demais atos insertos nas perorações das Escrituras. Deus sempre haverá de ser o Criador Perfeito, ou seja, a causa primária de todas as coisas, de forma que compôs as criaturas, segundo a observação original do Gênese, pela sua imagem e semelhança. Impregnadas as criaturas do Espírito Eterno, seguirão pelo espaço e pelo tempo, transitando enquanto progridem pelo Universo, absorvendo, a pouco e pouco, as virtudes que as irão aproximando do Foco Energético Absoluto, até se integrarem no Reino de Deus.
— Não estariam esses pensamentos em oposição aos ensinos de Jesus e à doutrina dos espíritos codificada por Kardec?
— Pode ocorrer que sim. Mas que importância terá, segundo o princípio evolutivo que reúne todos os seres em torno da mesa evangélica? Não é dar muita importância ao acessório, quando o essencial é o aprimoramento das virtudes, para a composição do ser angelical? Teria o caríssimo leitor algo a acrescentar?
— Bem que Jesus pediu ao Pai que nos perdoasse, consignando taxativo que não sabemos o que fazemos, quando crucificamos o Ideal do Amor no madeiro ignominioso do Orgulho.
— Muito bem dito, bom amigo! Permita-nos encerrar o texto com sua sábia observação.








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A VONTADE MEDIÚNICA





De início, devemos caracterizar o mediunismo como obra dos seres humanos, sob influência direta dos espíritos, não importando a categoria em que estejam imersos uns e outros. Sendo assim, há os que se preparam para o mister, enquanto outros, simplesmente, ignoram que estão transmitindo ou que estão recebendo mensagens.
Diferentemente do que ocorre conosco, que exageramos até nas precauções de moralidade para não ofendermos os princípios espíritas nem as orientações dos mentores do Grupo dos Arremessos Juvenis, muitos irmãos desencarnados buscam desorientar, muito mais do que encaminhar para as melhores soluções espirituais, os pupilos desavisados, imprevidentes e ignorantes.
Quanto aos médiuns cônscios da tarefa espiritual que desempenham, no diuturno auxílio aos necessitados de amparo e esclarecimento, não se cansam de estudar as obras pertinentes à melhoria da qualidade da atuação. Nem sempre recebem apoio dos familiares, mas sempre alcançam assistência dos confrades espíritas envolvidos com a preparação dos mediadores, porque sabem estes que devem facilitar o intercâmbio entre os planos existenciais.
Quanto de sacrifício improfícuo testemunhamos, quando companheiros nossos não percebem que as comunicações carecem de objetividade e de real fraternidade, iludindo mais do que norteando o procedimento evangelizado. De igual modo, procedem muitos encarnados, desconhecendo que as atividades redundam em pouquíssimo proveito para os assistidos dos benfeitores espirituais, porque imersos no desejo de privar da companhia de espíritos superiores, aqueles que lhes provocaram a ambição de se valorizarem, como os tarefeiros que serviram ao Codificador.
Estamos levantando inúmeras ocorrências no âmbito do desejo de partilhar da vida etérea, mas não pretendemos enumerar exaustivamente as tendências pessoais, que se multiplicam quase ao infinito, porquanto, também aqui, cada cabeça, cada sentença. No entanto, apontamos os fatos mentais mais importantes, as reações psíquicas mais comuns, os aspectos sentimentais mais pungentes, tendo em vista que muitos se dedicam com afã, sem o resultado correlato à vontade demonstrada.
Perder-se-ão tais intuitos de excelência no desempenho? Evidentemente, serão canalizados, em tempo oportuno, para o aprendizado mais consentâneo com os prismas individuais, conforme o grau de desenvolvimento de cada um. O que desejaríamos assinalar, como condição essencial para que a vontade mediúnica signifique progresso, é a necessidade de que se deixem de lado as impropriedades morais originadas no ciúme, na inveja, no orgulho, na vaidade, na ganância, na irresponsabilidade, em suma, de quem se espoja no egoísmo ou na egolatria, para utilizarmos terminologia mais carregada de conotações religiosas, ou seja, como quem concentra as consignações de culto na própria personalidade.
Levantamos, no presente texto, algumas preocupações corriqueiras dentro do grupo, porque nos julgamos apaniguados por oportunidade de especialização de tom eminentemente científico, quando muitos companheiros igualmente desejosos de se imiscuírem no processo de relacionamento com os mortais se deixam embalar pelas ondas vibratórias que percebem favoráveis, sem o domínio da melhor técnica de magnetização ou de fluidificação. Aí, sobrecarregam os médiuns e os administradores das mesas evangélicas, permitindo a pouco saudável mescla dos desejos perniciosos, durante as sessões de socorro individual ou de esclarecimento coletivo.
Rogamos ao Pai que os leitores consigam deslindar os verdadeiros sentimentos que nos têm conduzido para as manifestações, ultrapassando a barreira da linguagem pseudoliterária que adotamos porque suspeitamos que os temas se deixam interpenetrar de conhecimentos complexos para a pouca experiência dos mensageiros. Ao menos, reconheça-se que estamos com positiva vontade de auxiliar mediunicamente os encarnados e uns poucos desencarnados que costumam introduzir-se no ambiente para observar os trabalhos, evidentemente, sob a condição da seriedade e do respeito.
Eis que bastaria apenas o dístico seriedade-respeito para a definição do melhor fundamento para a vontade mediúnica.







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AS PALAVRAS QUE NÃO PASSAM





É certo que está na lembrança de quantos conhecem o texto bíblico a passagem em que o Cristo compara a obra material com a palavra com que revela o acesso ao Reino do Senhor, afirmando, peremptório, que Jerusalém passará mas as palavras dele não.
Costumamos referir-nos aos nossos escritos para pontuar um momento histórico, no sentido de podermos comparar as idéias, mais tarde, com a finalidade de descobrir o quanto evoluímos. Talvez tenhamos, inclusive, incentivado os humanos para que se resguardem dos atuais desvios, caracterizando-se mental e sentimentalmente, para futuro exame e necessária crítica.
Evidentemente, muito difícil será conceber que não tenhamos entrado em contato anterior com o Novo Testamento, quer na infância da presente encarnação, quer nos interregnos entre encarnações, quer em vidas passadas. E que lembrança trazemos dessas leituras e das conseqüentes alterações do proceder causadas por elas?
Imaginemo-nos daqui a três mil anos perante esta página. Que surpresas nos advirão à mente e ao coração? Se nos equiparmos de conhecimentos mais avançados, iremos ridicularizar as pequeníssimas preocupações de agora, como rimos dos pensamentos de quando tínhamos três ou quatro anos de idade. Há quem se espante com as idéias dos doze e dos quatorze. Pessoas provetas podem repudiar os sentimentos de quando tinham sessenta, argumentando que pouco sabiam a respeito da existência.
O dinamismo do aprendizado é, no mínimo, animador. Por que, então, teve Jesus necessidade de assegurar que suas palavras não passariam? Será que, para seu espírito superior, não via a mesma perspectiva que percebemos em relação a nós? Teria a presciência de estar dizendo verdades universais, eternas, absolutas?
Com certeza, sim, como são intocáveis os pensamentos axiomáticos, aqueles sobre os quais repousa o conhecimento científico, como os cálculos matemáticos, por exemplo. No âmbito da moralidade, não poderemos imaginar nada maior do que a integração dos homens pelo amor, nem sua evolução, sem o reconhecimento de que Deus é criador e pai.
Consignar para o Mestre Nazareno a condição do passageiro, do fugidio, do transitório, do relativo, em sua pregação evangélica, poderá até ocorrer, mas em esferas cuja superior existência não somos capazes sequer de conjeturar.
Se, como pensamos, Jesus não é a segunda pessoa da santíssima trindade, não é deus, portanto, haveremos de suspeitar de que o sublime pastor de almas, o salvador da humanidade, não tenha atingido a excelsitude possível para as criaturas. Mas isso não temos o direito de questionar, porque as nossas palavras passarão.
— Seremos capazes de dizer palavras de sentido absoluto?
Plenamente, quando formos sinceros em compungidas solicitações pelo próximo, imersas em fé e esperança, com o propósito da caridade; quando depositarmos integralmente nas mãos de Deus o destino das almas, oferecendo-nos ao sacrifício em prol dos irmãos, conforme nos pleiteou o Amigo Sempiterno; quando estamparmos o desejo de realizar, sempre e cada vez mais, a vontade do Pai; quando, com modéstia e reverência, repetirmos a prece que nos ensinou.
Isso tudo vai proporcionar-nos muito conforto durante a aludida leitura daqui a três mil anos, caso sejamos capazes de reconhecer que cumprimos os preceitos agora na tela da mente e na superfície do coração.








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DÚVIDA CONSTRUTIVA





— Se duvidarmos de Kardec, de seus dizeres a respeito da influência dos espíritos na composição de sua obra, estaremos incidindo em grave ofensa aos princípios doutrinários? Sentir-se-á o Codificador magoado ou diminuído? Teremos de purgar o pecado, insuflando tremendo sentimento de culpa na consciência?
São perquirições dessa espécie que, muitas vezes, coagem os estudiosos da filosofia e da moral espírita a se restringirem às afirmações mais gerais, desejosos, sobretudo, de entender as palavras, antes de investir na compreensão da natureza existencial, segundo o nortear das leis cósmicas ou universais.
Dizendo bem claramente, muitos confrades das hostes do movimento kardecista se sentem angustiados, porque enfrentam dilemas para o avançar teórico, em função dos delineamentos científicos que afloram na inteligência humana. Esquecem-se, inteiramente, de que o mais importante é a ação beligerante contra os vícios, as injustiças, a maldade, os crimes, mantendo-se em prudente meio-termo, que justificam pela necessidade da evolução de todos, decorrendo daí que não pretendem interferir nas conclusões que possam promover dúvida.
Se todos os princípios científicos fossem tratados com igual deferência, muito provavelmente temeriam os estudiosos ofender os teóricos, os precursores, os inovadores, os descobridores e demais vanguardeiros, que sempre os haverá em todos os setores do conhecimento.
Se a dúvida visasse ao desconjuntamento psíquico, para implantação de novo sistema de idéias, no intuito de se configurar outro prisma para a revelação espírita, anulando-se o apanhado das diretrizes fundamentais, por interesses subalternos de quem deseja prioritariamente atrair as pessoas e seu poder financeiro ou econômico, para se beneficiarem materialmente, deveremos todos nós advertir para a falcatrua, para a mesquinhez, para a cizânia, como ocorre atualmente em relação à multiplicação das seitas ditas protestantes e mesmo das tendências dentro da Igreja Católica, com o clero desejoso de se firmarem novos cultos, para a pregação moral voltada para a felicidade fundamentada nos haveres, no conforto, nas regalias do bem-estar corporal. Nessa direção, hão as pessoas de criar conjunto de preceitos logicamente amalgamados, para o efeito do envolvimento dos cidadãos acostumados a se aproveitar do trabalho alheio para a conquista de benefícios pessoais.
Há quem prometa um quinhão do território do reino de Deus, com direito de eterna fruição dos bens materiais, que caracterizam como o supra-sumo da excelência terrena, sob o argumento vituperioso de que haverá o ressurgimento dos corpos, ao final dos tempos, elevando à quintessência o proveito que se pode extrair do sensório.
Não queremos afirmar que o mesmo se passa dentro do movimento kardecista, mas está bem perto disso, quando os palestrantes e oradores prometem as colônias de assistência aos que se comportam segundo os padrões estabelecidos por Jesus, sem a contrapartida da imersão na verdade, pelo sacrifício dos estudos e pela dedicação ao trabalho, tudo realizado sem medo de serem arremessados às profundezas do Umbral, que mais não passa, nesse caso, de um inferno provisório, ou melhor, um báratro com alguma esperança.
Estimamos que os companheiros leitores estimulem a dúvida em relação a nós outros, imaginando-nos perversos, obsessores, demoníacos, inconseqüentes e irresponsáveis. Mas gostaríamos também que firmassem o princípio da dúvida como sagrado para a consecução integral dos desígnios do Pai, quando nos pede que sejamos coerentes com o desejo de que nos façam o melhor, para que nos sintamos em débito para com a humanidade, como deveremos reconhecer que a existência teve origem em ato criador de Deus.
Se a dúvida for construtiva, não será egoística, não será orgulhosa, não importará em vaidade, os três carros-chefes da nefasta presunção de que estaremos sempre aptos a freqüentar os páramos celestiais, se rezarmos pelo catecismo kardecista, sem a correlata necessidade de nos havermos com o real progresso que a condição de encarnados deveria revelar-nos à consciência.
Verniz, túmulo caiado, fantasmagoria de atitudes pseudomoralizantes — vamos abandonar o pressuposto de que estamos em condições de tudo saber, para adquirir a sábia atitude de desprendimento das diretrizes imantadas exteriormente, buscando favorecer que o coração se desapegue dos prejuízos improváveis do sentimento de culpa. Ousemos um pouco mais, para abrir a mente para informações mais completas, segundo as palavras de Jesus, quando nos prometeu outro Consolador, que viria para completar-lhe os ensinamentos.
Terá sido o Espiritismo esse Consolador, pela orientação do Espírito de Verdade? Kardec nos afirma que sim. Terá dito tudo? Kardec nos diz que não. Onde encontrar o roteiro seqüencial dos postulados teóricos, desde as obras do Codificador? No estudo honesto e desbravador levado a cabo por inúmeros mensageiros, cujos resultados estão impressos na literatura espírita dos últimos cento e quarenta anos.
— Mas são muitas as informações... e díspares!...
Por isso, enfatizamos que seja intimorato o companheiro desejoso de progredir, oferecendo aos benfeitores pessoais a lucidez da vontade guiada pelos mesmos princípios metodológicos de Kardec, os quais se encontram definidos nos diferentes volumes por ele legados à humanidade.
Valemo-nos do ponto de vista dos encarnados, mas devemos ressaltar que, para o plano espiritual, definimos roteiros distintos, porque o contato com a realidade nesta esfera se dá segundo sua natureza específica.







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IMPONDERABILIDADE NO ETÉREO





Fruto de muitas divagações imaginosas, os terrestres costumam situar-se no plano da espiritualidade, seja qual for a denominação dada às plagas em que se põem após a morte, como região de profundidade inconcebível, sem horizontes, com atmosfera recheada de neblina, onde os seres aparecem flutuantes, com roupas alvinitentes, esvoaçando as fímbrias das túnicas, dança de graça e beleza compatíveis com os bailados clássicos, de onde retiram a imagem.
Nós não tivemos oportunidade de perlustrar tais trechos da eternidade espacial, mas piamente acreditamos que possam existir regiões de tanta perfeição, no sentido de não mostrarem qualquer obstáculo à mais tranqüila e completa felicidade.
Consultados os mentores da Escolinha de Evangelização, esclareceram-nos que essas idéias correspondem ao oposto do sentido de atração que exerce a matéria por meio da força gravitacional. Expuseram a teoria de que, presentemente, os humanos não poderiam ter tais pensamentos, uma vez que são capazes de flutuar sem a ocorrência da gravidade, ocasião em que os corpos se vêem em situação bastante anômala, oferecendo distúrbios musculares de monta, porque a higidez do organismo muito tem de ver com o trabalho mecânico dos movimentos a que se obrigam.
Nos oceanos, mares e rios, os peixes desenvolvem musculatura rija, apesar de as condições de vida serem mais amenas, no sentido de que parecem volitar, esvoaçando as fímbrias das nadadeiras.
Deixamos a conclusão por conta dos amigos leitores. Não lhes parece que, ao serem retirados da água, os peixes ficam sobremodo expostos a condições bem adversas e prejudiciais à saúde? Não se daria o mesmo, se julgássemos provável que os espíritos desencarnados se encontrassem airados, interpenetrados de fluidos energéticos de natureza quintessenciada, sem treinamento para adaptação a outros meios?
Quando nos afirmamos imersos em atmosfera consentânea com a natureza espiritual, queremos referir-nos ao fato de que a rigidez do ambiente corresponde, mutatis mutandis, à mesma contextura da realidade corpórea no universo tangível dos mortais. O progresso nos arremeterá para esferas mais depuradas quanto aos obstáculos contundentes, porque a dor amainará e o sofrimento existirá como condição apenas moral. Em nenhum momento, entretanto, somos levados a suspeitar de que estaremos pairando no ar, sem compromissos em relação aos deveres evangélicos, porque, cada vez mais, nos obriga o fato de considerarmos os semelhantes irmãos em Deus, ou seja, criaturas que merecem ajudar-nos ou serem por nós ajudadas, perspectiva do amor que se amplia para as regiões do necessário e não mais do acessório, como costuma parecer aos encarnados.
“Se vocês quiserem estar comigo no Reino do Pai, vendam o que tiverem e doem aos pobres. Depois me sigam.”
Não foi essa a pregação do Messias? Induz-se que havia a possibilidade de o rico deixar de executar o mandamento do amor, para afastar-se da salvação por mais uma temporada. Pois esse sujeito, vamos imaginá-lo em encarnação subseqüente, cônscio da verdade das expressões do Cristo, vendendo e doando os pertences. É o que está a ponto de suceder com quantos compreendem a pregação do amai-vos uns aos outros como eu vos amei.
Na fase seguinte da evolução espiritual, ouvir a recomendação do desfazimento das riquezas deverá provocar arrepios, como se a pessoa reconhecesse o despreparo para o enfrentamento das lutas da bondade, da misericórdia, do perdão, da boa vontade, do sacrifício, em suma, pelo adiantamento do próximo. Será natural, portanto, que sinta o converso aos prismas morais do Senhor que deverá volver ao plano dos assistidos, na condição de benfeitor, para comprovar que merece estar entre os eleitos.
— Onde ficará a idéia da imponderabilidade da matéria espiritual (sem contradição)?
Arquivada num cantinho obscuro da memória, para a recordação dos momentos meramente históricos com finalidades didáticas, assim que se sentir estimulado para o relato aos mais novos, aos desprovidos dos benefícios da alta moralidade, aos aprendizes e aos discípulos, durante as aulas, em colônias como a nossa.







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SEM ATROPELO





A constância com que nos apresentamos para o trabalho faz imaginar que tenhamos pressa ou açodamento para terminar o período das comunicações. Nada mais errôneo, se se considerar que não dominamos sequer o veículo mediúnico, tantas são as interferências que precisamos obstar durante o desenvolvimento das missões. Claro está que os textos resultantes expressam a vontade do grupo, nem poderia ser de outra maneira, tão diversificadas são as mensagens, sem prévia informação do roteiro, sem que o médium possa ver atendidas de pronto as solicitações que julga pertinentes.
O leitor que se acostumou ao trabalho junto às casas do movimento espírita saberá discernir que estamos efetuando assertiva de profundo valor para a credibilidade das opiniões, tendo em vista a conceituação imprescindível da categoria dos espíritos manifestantes. Não foi outra a recomendação de Kardec, para que os filiados à doutrina não se vissem engodados, obsidiados ou mal dirigidos nas reflexões a respeito dos pontos filosóficos e morais. É preciso, antes de mais nada, saber se os espíritos são de Deus, e isso é definitivo.
Se atropelássemos o mediador, oferecendo-lhe impulsos por demais rápidos, acima de sua capacidade de assimilação das vibrações dos fluidos energizados espiritualmente, não alcançaria traduzir com apuro, com fidelidade nem com confiança, os pensamentos que frutificaram em nós após anos de estudo e de meditação.
Também se veria em palpos-de-aranha o leitor, que estranharia sobremodo a complexidade das expressões e construções lingüísticas, a par de léxico eivado de imperfeições, quando tudo pode ser dito de maneira simples, mesmo quando se configuram temas de extrema dificuldade até para os mensageiros, que jazem absortos, muitas vezes, na fruição dos prazeres excelsos dos conhecimentos, e se esquecem de que os encarnados necessitam de outros parâmetros para o entendimento da verdade, mormente em se tratando de teses não totalmente discutidas pelo próprio Codificador.
Quanto a nós do Grupo dos Arremessos Juvenis, está visto que não pretendemos avançar no campo das explicações supernas, aprendizes que somos das diretrizes emanadas dos conceitos da prevalência da caridade para a salvação, conforme estipulado no dístico kardequiano.
Se muitos, hodiernamente, se vêem incitados para além dos princípios científicos que embasaram as conclusões do Codificador, tão longe estão indo os conhecimentos terrenos no campo das descobertas materiais, nós nos limitamos a oferecer a contrapartida dos elementos colhidos mui parcimoniosamente na experiência incipiente que desenvolvemos. Daqui estarmos a cavaleiro para não afetarmos emocionalmente os leitores, entre os quais o médium.
Além das informações às quais estamos delimitados, iremos transmitir alguns conhecimentos específicos, para o que solicitamos a paciência de todos. Mas o faremos sem precipitação, do modo mais favorável à compreensão dos mortais, sempre envidando esforços para não sermos simplesmente repetitivos em relação ao que se encontra assinalado na literatura espírita.
Por outro lado, não é intenção do grupo demover ninguém da postura kardequiana, como hemos afirmado alhures, embora sintamos necessidade de, aqui e ali, pleitearmos que se alijem das teses do Mestre algumas incoerências provenientes da menor desenvoltura científica do século XIX, quando vigiam preconceitos relativos à superioridade de umas raças sobre outras, apenas para citar gritante exemplificação.
Pelos dados fornecidos por espíritos de luz em obras de superior moralidade, encontramos, em todos os povos, pessoas igualmente aptas à compreensão doutrinária, por mais argutos possam ser os raciocínios e por mais proficientes os sentimentos. Voltar à carne com coloração de pele diferente, em país longínquo em relação ao anterior, não haverá de significar jamais retrogradação espiritual, nem castigo, nem prova. No máximo, haverá de se adequar a pessoa a novos horizontes culturais, para assimilação de perspectivas não ainda integradas ao intelecto ou à sensibilidade.
Quem se sentir atropelado por nossas palavras, haverá de refletir com muita ponderação e perspicácia para a descoberta de onde se encontra a flacidez da mensagem ou a inoperância teórica dos conhecimentos fixados em sua própria mentalidade.








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OTIMISMO RESERVADO





Acompanhamos a leitura de A Gênese, de Kardec, efetuada pelo irmão médium, durante a preparação intelecto-emocional para o trabalho. Observamos que, no século XIX, tinham os europeus a esperança de que atingiriam níveis civilizadores de grande magnitude, como se estivesse bem próxima a época das grandes transformações que guindariam a humanidade a patamares evolutivos próximos da angelitude.
As crises eram vistas como inerentes ao processo de melhoria das pessoas e dos povos, de forma que, após a Revolução Francesa e das lutas subseqüentes, se dava como certo que os benefícios oriundos do sofrimento favoreceriam o desenvolvimento espiritual, por meio do espiritismo codificado por Kardec.
Claro está que se reconheciam todos os aspectos metafísicos da doutrina como existentes nas culturas das diferentes nações, como é o caso típico da mediunidade, amplamente comprovada pelo grande pedagogo através da história da humanidade. Contudo, dado que a ciência ganhava foros de cidadania relativamente às crenças religiosas, acusadas de retrógradas, porque favoreciam as crendices em oposição ao raciocinar lógico dos homens de pesquisa, sob o amparo das comprovações de laboratório, via-se o progresso dos conhecimentos espirituais de igual modo acelerado, almejando-se que, até o final da centúria, o mundo pudesse unir-se fraternalmente, em torno dos ideais cristãos revitalizados pelas comunicações etéreas.
De lá para cá, hemos visto inúmeros acontecimentos que podemos categorizar como revoluções ou convulsões sociais, políticas, econômicas, humanas, enfim, como guerras, extermínios, expurgos, hecatombes, genocídios e todos os horrores das carnificinas como nunca antes se viram nos países então considerados os exemplos maiores da civilização, onde as artes, a filosofia, a ciência, a religião predominavam para a fixação dos estados juridicamente organizados, aparentemente segundo os princípios do cristianismo.
Temos a obrigação de nos apresentar para as dissertações de caráter moral, eivadas, portanto, de fé, de esperança, de caridade, de boa vontade, de verdade, de amor, de compaixão, de luz, em suma, para efetivar os ditames do movimento espírita fundamentado na obra kardecista. Mas não podemos manter o mesmo diapasão, aguardando, para dentro de muito pouco tempo, que as pessoas e os povos se harmonizem pelos princípios emanados dos círculos superiores que produziram as respostas aos questionários do Codificador. A própria ciência informa que a natureza não dá saltos, portanto, não havemos de esperar que a humanidade, de um dia para o outro, desperte para o espírito cristão, adotando as diretrizes do amor e do perdão, incondicionalmente.
Cada pessoa de per si pode e deve buscar a salvação através da caridade, conditio sine qua non para o perfazimento integral dos objetivos maiores dos guardiães de cada um e dos povos em geral. Mas pedir a nós, medíocres comunicadores, que nos abstenhamos de criticar a euforia como precipitação baseada nos avanços individuais haverá de ser muito, mesmo porque estamos imersos nas explicações supernas dos orientadores da Escolinha de Evangelização e não encontramos meios de nos sobrepor ao enxame das vibrações de mau caráter que promana do orbe terrestre.
É bem verdade que o mundo material se integra ao espiritual, que as ondas de transformação de um se chocam, positiva ou negativamente, contra o outro, que os anseios de melhoria dos dirigentes cósmicos são chuvas fluídicas de muito amor, a iluminar a mentalidade dos homens de boa vontade, mas, como no texto bíblico, a estes é que se destina a paz, pois são os que erguem hosanas para a glória de Deus nas alturas.







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O CATACLISMO





Tememos estar derivando para reflexões desastrosas, relativamente à opinião dos mais ferrenhos defensores do kardecismo original. Muitos pregam a volta às fontes em que bebeu Kardec, como outros desejam restabelecer os princípios do cristianismo das primevas eras.
O cataclismo advirá por força das necessidades humanas, do mesmo modo que a Terra, na condição de corpo celeste, terá fim um dia, porque impregnada da natureza universal, que determina, como na conta dos dois mais dois, que todas as formações materiais se sujeitem às leis da destruição, da decomposição, do arranjo e do rearranjo molecular ou atômico.
Desejar, portanto, que o globo terrestre sirva de agasalho permanente para os espíritos evoluídos é desconsiderar que o Criador possui muitas moradas para as criaturas. O aperfeiçoamento é visível quando olhamos para as formas corpóreas, desde a criação da primeira partícula viva. Mas esse evoluir material não é eterno, havendo degenerescência, mutação, adequação, sem que, no entanto, se firam os elementos constituintes dos tecidos que abrigam os fluidos vitais.
Na cinematografia, é possível configurar máquinas com características humanas, porque a imaginação se excita no sentido de possibilitar que as criaturas possam tornar-se, por sua vez, criadoras, como se faz com as invenções que favorecem o bem-estar e facilitam a consecução dos trabalhos. Mas não terá ninguém, jamais, a capacidade de influenciar os orientadores cósmicos a insuflarem um único elemento vital em composição sujeita à vontade prepotente dos terráqueos ignorantes da suprema vontade de Deus, como se pretende com os cyborgs, metade homem, metade máquina.
Contudo, não podemos podar as expectativas de se criarem em laboratório peças anatômicas compatíveis com o organismo das pessoas, para a cura ou a prevenção de moléstias, o que se vê, por exemplo, nas próteses ortopédicas ou em mecanismos elétricos do tipo dos marcapassos. O que não queremos é estimular a idéia de que o progresso material se dê indefinidamente, o que redundaria na esperança bíblica de que, após soarem as trombetas do juízo final, serão apartados os maus dos bons, merecendo estes permanecer na Terra, para usufruírem as regalias do paraíso que, por agora, julgam perdido.
Estaremos contaminando a mente dos leitores com a perspectiva de que a evolução corpórea terminará um dia, perdendo o homem os atributos conquistados em milênios de desenvolvimentos físicos? Impregna-se esse raciocínio unicamente de constatações materiais e a nós não cabe antecipar conclusões para as quais os cientistas encarnados estão perfeitamente aptos. Fiquem com eles as assertivas cabíveis nesse campo da especulação pragmática. Aos do etéreo, a superior condição de influenciar para tornar factíveis as idéias de aperfeiçoamento no setor moral, respondendo os homens, perante as forças transcendentes à estratificação densa da carne, pela aplicação das leis do amor e quejandas, no respeito que se deve ao Pai por ter tornado todas as criaturas perfectíveis espiritualmente.
Nesse sentido, vamos refletir bastante a respeito do que podemos fazer para atenuar os efeitos desastrosos das atividades voltadas apenas para o conforto material, o que inclui os crimes, os vícios e a conseqüente inutilidade da imersão no aparato carnal.
Se nos dedicarmos ao entendimento da lei de causa e efeito, por exemplo, estaremos avançando bastante para a compreensão dos deveres cármicos que carregamos na qualidade de filhos de Deus. Qual haverá de ser a causa dos cataclismos? Caracterize-se a tragédia e ter-se-á, no fundo de cada coração, a vibração caótica que a originou, porque não existe ninguém encarnado que aqui não esteja por força das deficiências inerentes à sua formação espiritual, mesmo quando (Deus nos perdoe a ousadia da palavra!) venha em missão regeneradora das ações individuais dos circunstantes ou coletivas das organizações nacionais, raciais ou planetárias.
Estamos dando vazão à dura necessidade de circunscrevermos os textos ao âmbito das preocupações que nos afetam. Para isso é que vimos, uma vez que tememos pela antecipação dos cataclismos planetários por força da inoperância da vontade dos melhores diante da terrível assolação mental dos que vilipendiam a obra do Senhor. Obramos em interesse próprio, não tenham dúvidas, porque aspiramos volver à Terra para purgarmos os defeitos e nos assegurarmos do progresso possível neste orbe.
Urgem as medidas de restrição do poder destruidor das pessoas, para que não venham elas mesmas a lamentar as oportunidades que se perdem, como perdido foi o paraíso adâmico.








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O QUE VAI PERMANECER MISTERIOSO





Gostariam os encarnados de notícias mais completas a respeito dos eventos posteriores à desencarnação. Quando lhes dizemos que deveriam recordar-se da passagem pelo etéreo, põem-se de sobreaviso para possíveis despistes dos mensageiros, suspeitosos de que ou não estamos aptos para o conhecimento e, portanto, impossibilitados de elucidar sobre o que nos argúem, ou surrupiando as informações, porque demasiado cruas para o desenvolvimento moral dos consulentes. Se dizemos que o mistério está sendo ocultado por ordens superiores, muitas vezes promanadas de prebostes de Jesus, para equilíbrio e harmonia das teses doutrinárias, fazem questão de imaginar que somos entidades atrasadas, afastando-se com medo de contaminação por obsessão.
No parágrafo acima, estão expostos os anseios e respectivas ilações por parte dos encarnados. Mas a verdade é que cada uma das reações pode ser verdadeira, dependendo do que se interrogou e do intento mais ou menos puro de quem consulta. O que temos de afirmar é que, se o interesse se despertou por razões ocasionais, inconfessáveis, maliciosas, mesmo quem tenha o dom da sabedoria (com certeza, por isso mesmo) irá desvencilhar-se da responsabilidade de remeter o humano pelas sendas que abriu sem pensar.
Imaginemos que se queira saber a respeito de parente muito querido, pai, mãe, filho, cônjuge, irmão. Claro está que as perguntas que se esperam são as de como se encontra quem partiu e sobre o que se pode fazer para melhorar-lhe a condição existencial.
Ora, tal interrogatório, vindo de alguém de fé espírita, com estudos aprofundados nas obras de Kardec, com conhecimentos doutrinários bem fundamentados, trabalhador na seara de assistência aos menos providos material ou espiritualmente, irá receber tratamento até brusco por parte do benemérito guardião, porque incide, de certo modo, na negação dos princípios catalogados em sua mente, como se lhe fraquejasse o coração. Receberia séria raspança, porque deveria saber que a misericórdia divina está a presidir os trabalhos socorristas em favor do desencarnado.
Quando se trata de pessoa adventícia nos meios espíritas, impelida por razões oriundas da comoção sofrida, os benfeitores irão buscar o lenitivo que melhor lhe satisfaça as necessidades cármicas, para firmar-lhe na mente e no coração a perspectiva de que os protetores etéreos estão em seus postos de assistência, oferecendo aos falecidos os desvelados cuidados que merecem, quando não envidam esforços para que os próprios se apresentem para a comunicação reconfortante.
Havemos de ter atenção, pois, nos sentimentos com que nos aproximamos da mesa evangélica, sem descabidas ou redundantes perquirições, sem a presunção de que os conhecimentos alcançados irão escudar-nos de exames mais acurados da realidade espiritual. Se temos de ter cuidados muito especiais relativamente aos entes que se apresentam nas reuniões mediúnicas, também é imprescindível que nos vigiemos, porque podemos estar incidindo em falhas conceituais, morais ou, o que é pior, condicionantes de ações deletérias para as quais estamos simplesmente buscando egrégias desculpas, segundo o grau de autoridade do espírito consultado.
Evidentemente, sempre há de restar algo sem explicação, conquanto se empenhe o companheiro do etéreo em satisfazer a vontade não capciosa dos amigos integrados no movimento espírita por sua operosidade e por seu enfronhado sentido da verdade. É que tais questões pairam acima da capacidade de absorção da realidade espiritual, no círculo em que existem todos os seres envolvidos pela atmosfera terrestre. Sendo assim, é de todo compreensível que se deixe para momento oportuno o desvelamento dos fenômenos ou das leis em pauta, ou seja, para quando estivermos necessitados dele para progredir.
Não foi essa a resposta de Jesus? Não foi essa a observação de Kardec? Não queiramos antecipar etapas evolutivas, quando estamos muito próximos da mais crassa ignorância. Fique a advertência geral, para que não se frustrem expectativas nem se sintam lesados os que, com lisura, agem em prol do estabelecimento das virtudes evangélicas nas almas dos companheiros.
Sempre que buscarmos a verdade, precisaremos examinar detidamente os pressupostos emotivos ou intelectuais que nos encaminham para a investigação. Não deveremos assustar-nos, se encontrarmos em nós mesmos a causa da ausência de respostas objetivas, sabendo, de antemão, que todas as informações colhidas trarão o selo da pertinência.








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DO INVÓLUCRO CARNAL





Sentimo-nos contrafeitos com o nosso corpo físico? Somos demasiado magros, gordos, altos, baixos, estúpidos, inteligentes? Há quem goste de ser magro. Possivelmente, o fato de serem gordas não afeta a muitas pessoas. Jogadores de certos esportes se dão por muito satisfeitos por serem altos. Algumas mulheres se satisfazem baixinhas. Muitos sequer percebem o quanto de inteligência lhes falta para a mediocridade. Bem pouca gente ficaria triste por se verem na condição de responder com maior facilidade aos problemas do dia-a-dia.
— Então, por que existem pessoas insatisfeitas com o aparato físico?
A resposta poderá estar no espírito: as condições corpóreas atuais se encontram defasadas em relação aos desejos incrustados nas mentes, quando a necessidade de contenção de impulsos voluntariosos determina que o uso desta ou daquela qualidade se veja vedado.
Dificilmente, as pessoas comuns, aquelas que não se dão à pesquisa dos processos intelectuais e sentimentais como provocados por sutis predisposições inconscientes, justamente os atos reflexos da personalidade como conjunto de fatores orientados na direção das realizações tidas como habituais, haverão de atinar com os fios condutores invisíveis do procedimento, menos ainda de atribuí-los a possíveis aprendizagens cármicas de outras existências, na carne ou no etéreo.
Claro está que a psicanálise, a psicologia e a psiquiatria muito têm para dizer em relação ao conjunto das causas históricas da presente encarnação. Nem estamos desejando que a primeira conclusão se atribua a fatos tidos como sobrenaturais. É lógico que o exame dos eventos pessoais haverá de descobrir razões bem definidas para o padrão das atividades. Entretanto, se ultrapassarmos as lindes da problemática sócio ou psicopatológica, poderemos inferir o de que o indivíduo necessita para superar as dificuldades que geraram os problemas evidenciados na pesquisa padronizada pelos moldes científicos humanos.
Neste ponto, temos de advertir para a ganância das descobertas insólitas, quais sejam, as que decorrem da presunção do conhecimento das vidas anteriores, por meio hipnótico ou sob a influência magnetizadora dos que têm a faculdade mediúnica desenvolvida. Não há de ser saudável desejar conhecer o passado na carne, por impulsos da curiosidade, o que poderá representar a superexcitação fantasiosa das mentes impressionáveis ou a obsessiva presença de desencarnados ávidos por perpetrarem atos maldosos.
De qualquer modo, prudência é de lei em qualquer circunstância, até mesmo quando o tratamento de defecções psíquicas for orientado por experimentados cientistas voltados para o estudo do cérebro e das reações não condizentes com o que se denomina de senso comum. Para fortalecer a nossa postura de certo descrédito quanto à precisão das ilações dos mais eficazes psicanalistas, bastará que se dê rápida visão retrospectiva nas publicações especializadas, cada uma debatendo o que julga falho na anterior, sem se firmar nenhuma como diretriz universal.
— Haveremos, junto à densidade material, de encontrar-nos um dia com resposta definitiva para cada deficiência mental ou de comportamento?
Em sendo os seres perfectíveis, como historicamente hemos visto, a ciência tende a se aproximar das explicações universais para os processos delimitados, isto é, categorizados como ações sob domínio das técnicas desenvolvidas. Por outro lado, também nos depararemos com procedimentos não descritos até então, de sorte que, em se incrementando o grau de evolução, também seremos surpreendidos por novas defecções, como, de resto, acontece com os eventos puramente físicos, como as infestações viróticas ou bacteriológicas, para as quais é preciso desenvolver técnicas inéditas de tratamento.
Assim, é justo depreender que os homens continuarão nascendo com as perturbações inerentes ao seu modo de agir conforme o aprendizado anterior, o que redundará em insatisfações notórias relativamente ao aparato físico que lhes é proporcionado em cada nova aventura terrena.
Não há como não entender o desencadear dos traumas como não vinculado ao mérito ou demérito das obras de cada um. Aqui também, como em todos os tópicos anteriores, não há fugir da pregação evangélica como a que melhor desenvolve o sistema imunológico contra as infestações dos vícios que necessitam expurgados.








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UM RAIO DE SOL





Temos tido oportunidade de azucrinar a paciência do leitor pela irreverente maneira de falarmos das pessoas, dos espíritos e das instituições, ocasiões que enveredamos fundo nas críticas e desconfianças das conclusões provisórias de quem tem o intelecto em princípios de formação, nós, os encarnados e todos aqueles que privam conosco nesta e demais colônias implantadas nas esferas umbráticas. Se asseguramos que existem verdades superiores, ao mesmo tempo, insinuamos a idéia ou a sensação de que tais conhecimentos avançados não se produzirão nas mentes, até que subamos para os círculos seguintes, na caminhada ascensional que todos empreendemos.
A presente confissão pode parecer demasiado presunçosa, porque pressupõe que tenhamos opiniões definitivas a respeito da possibilidade de aprendizado neste escaninho do universo.
Então, devemos asseverar que nutrimos a esperança de caminhar com serenidade e segurança, obtendo, a pouco e pouco, o conhecimento das noções fundamentais das leis, integrando-o à personalidade, em movimento pendular de completa coincidência com os ditames evangélicos, assenhoreando-nos dos valores cármicos santificados pela palavra de Jesus e esclarecidos pela filosofia dos mentores da espiritualidade, conforme se pode ler e usufruir a partir dos textos publicados por Kardec.
— Teremos de volver ao orbe terrestre outras vezes, para realizarmos projetos de vida em que se desenvolverão aspectos particulares da sensibilidade e da inteligência?
Com certeza, porque tal é o destino dos seres que perambulam imersos nesta atmosfera de profunda ignorância e de terrível flagelação.
— Quanto tempo perdurará a condição do reencarnar?
Dependerá dos acréscimos de virtudes que formos capazes de absorver e de transformar em hábito, sem a natural reflexão a que estamos levando o leitor ao lhe solicitar que estude, que medite, que raciocine, que favoreça o cérebro, aliviando-o dos percalços do materialismo predominante em civilização de ganhos predominantemente vinculados ao bem-estar.
Haverão de perguntar os homens cultos se os de antigamente, por exemplo do Médio Evo, quando não havia na mentalidade dos encarnados senão o desejo de vida padronizada pelos sacrifícios sugeridos nos Evangelhos e estimulados pelos sacerdotes, não sofreram ganhos significativos, para se desligarem da esfera terrestre, guindando-se a mundos mais evoluídos.
A pergunta seria absolutamente pertinente, se se deixasse acompanhar do pressuposto de que os valores medievais se dissociaram do haver e do dever evangélico, para premiar os que adrede aspiravam a ganhar o Céu, sem o competente uso dos poderes seculares, para a assistência material ou espiritual dos que se espojavam na miséria ou se arruinavam na mais crua ignorância. Em todo caso, muitos, de per si, insuflados pelos ares bonançosos das pregações da suprema felicidade aos pés do Senhor, iam catalogando os bens de caráter superior, para enfeixarem-nos em atos de benemerência, em prol dos semelhantes, ainda que, como a viúva do óbolo, muito pouco tivessem para oferecer de seu.
Não podemos raciocinar em termos coletivos, quando a sociedade é hipócrita e permite que grande parte da população feneça antes da captação da verdade como roteiro de vida. Todavia, sempre haveremos de reconhecer que há avanços que sustentam o crescimento moral do conjunto, ainda que o intento dos que trabalham para o efeito não vise exatamente ao objetivo.
Neste ponto da peroração, devemos estabelecer as diferenças entre as atividades dos encarnados e dos mentores de luz ocupados com o progresso, porque, imersos muitas vezes em problemas particularíssimos, os homens podem receber o influxo da sabedoria dos protetores siderais, sem terem a exata noção da repercussão dos próprios atos. Agem os guardiães espirituais, assim, até à revelia do pensamento dos encarnados, mas atingem o elevado escopo de dar à humanidade condições de palmilhar as trilhas do sucesso cármico.
É evidente que, vai dia, vem dia, todos necessitarão tomar consciência de cada pequenino passo na direção do reino de Deus, pois o facho resplandecente haverá de conduzir a todos pela senda maravilhosa do progresso. E esta não é, definitivamente, postura de irreverente pessimismo, porque fundamentada nas expectativas dos seres mais puros.
Solicitamos ao amigo leitor que desconsidere qualquer iniciativa quanto a julgar os textos como eivados da fatalidade da perdição pelo roteiro mais ou menos tétrico com que impregnamos a visão que temos dos encarnados. Suba mais alguns metros morro acima, para que se abram novos horizontes, mais abrangentes e mais consentâneos com os ideais do amor, da justiça e da verdade. Mas também não espere que tudo venha a se realizar de pronto nem facilmente. Tudo depende do trabalho de cada um, porque a cada um segundo suas obras, de acordo com a axiomática proposição bíblica.








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PATOLOGIA CÁRMICA





Para que o título não se transforme em algo muitíssimo misterioso, vamos dizer, desde logo, que se trata da natureza ou das transformações relativas ao destino das pessoas, em conformidade com os percalços morais e de outras espécies que tenham ocorrido no passado (passado entendido aqui como as ulteriores peregrinações carnais e as subseqüentes passagens pelo etéreo).
Caso o leitor se encontre entre os que suspeitam de que os males que sofre são provenientes do acaso ou do azar, deverá atentar mais percucientemente para a coincidência intrínseca dos diferentes fenômenos coatores da dor e da preocupação.
Quando a pessoa está sob o império das doenças, costuma avaliar-lhes as causas pelos procedimentos desusados, diante dos sintomas cuja origem possa residir em fatos bem delimitados, como quando, por exemplo, ao se comer algo estragado, se deverão aguardar disfunções orgânicas na área do sistema digestivo, com repercussões dermatológicas ou outras, visto que o sangue irá transportar as toxinas e demais elementos ativos na produção do mal-estar.
Se existe tão estreita relação entre causa e efeito no campo fenomenológico físico, não há que duvidar que o mesmo princípio se ache incrustado nos abalos existenciais de natureza subjetiva, como, por exemplo, no fato de a pessoa jamais lograr aprovação na escola, por mais se recicle na aprendizagem demandada. Algo estranho deverá estar acontecendo no âmbito da mente, para oferecer as resistências intransponíveis, ainda que o desejo e a vontade estejam tão empenhados para a consecução do objetivo.
Talvez não tenhamos tido a felicidade do melhor exemplo, mas cada qual irá propor o seu, de forma a encontrar guarida na teoria acima exposta. Não é verdade que todos estamos, mais ou menos, envolvidos em problemas de caráter consciencial, por termos realizado atividades hoje repudiadas pela razão, como discussões e azedumes relativamente às pessoas mais chegadas, pais e filhos, irmãos, tios, avós et alii? As reações psíquicas provocam defasagens quanto à necessidade de a pessoa se sentir bem, de forma que muitos não se condoem de si mesmos, obrigando-se a castigos introjetados, como o sacrifício de regalias ou o abuso delas, sabendo-se, com antecipação, que trarão conseqüências danosas, tanto morais, quanto físicas.
Perdoem-nos a formulação de teses desvinculadas dos problemas específicos. É que, nesta área da pregação, não desejamos delimitar os fenômenos a uns poucos, pois a universo dos fatos beira ao infinito. Sendo assim, é de todo provável que esteja o leitor suspendendo a leitura para caracterizar algo relevante no campo em pauta, para descobrir as vinculações cármicas possíveis, embora muito distanciados da verdadeira origem das defecções puramente espirituais.
Enfim, é essa a atitude mais sadia a ser estimulada por estes mensageiros, qual seja, a de abandonar os textos para se enfronhar profundamente nos eventos pessoais, última fronteira a ser ultrapassada quando se quer evoluir para Deus. Nada há de mais importante do que descobrir os porquês dos procedimentos incautos, quando não francamente injustos ou maléficos. Se estivermos diante desse tipo de problema, antes de mais nada, devemos destinar um bom tempo para a revelação dos costumes advenientes desse processo herdado de outros tempos, mas profundamente arraigados na personalidade.
Não poderemos encerrar o tópico sem mencionar as panacéias para os males de origem desconhecida: o trabalho e a prece, em favor dos semelhantes, conquanto se deva advertir para que não se incentivem as atividades em detrimento do exame detido de cada moléstia psíquica ou cármica. Muitas vezes, o indivíduo receia enfrentar a zona obscura dos problemas e deixa para refletir a respeito deles em época que julga mais conveniente, ou seja, depois do decesso. Contudo, para todos, sempre haverá momentos de sossego, de paz, de tranqüilidade material, quando se sentem premidos pelos fatores do desassossego, da belicosidade, da intemperança espiritual, optando, então, por buscar distrações nas atividades lúdicas, recreativas, quando não se entregam ao consumo exagerado das bebidas alcoólicas ou imergem em vícios ainda mais prejudiciais ao organismo (vamos dizer assim) perispirítico.
As águas deste rio vão desembocar no oceano do equilíbrio, da confiança em que existe superior justiça para o amparo de quem se dispõe a superar as deficiências. Coloquemo-nos nas mãos de Deus, fazendo a nossa parte, porque o perdão é certo, como também a aplicação das leis cósmicas, absoluta. Jesus intercederá pelos bons e devotados seguidores de seu evangelho.







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A INTERCESSÃO DE JESUS





Esperar que Jesus interceda por todos, indistintamente, haverá de ser deveras penoso para quem possui em alto nível o dom da justiça, por saber que existem pessoas que, em absoluto, não podem ser aquinhoadas com proteção divina, antes de passarem por rigorosas provações, para se tornarem um pouquinho só dignas de se perfilharem entre os bons.
Mas Jesus é por todos, mesmo pelo ladrão que se dependurou ao seu lado e que lhe clamou por proteção. Ter-se-á o dito facínora redimido no instante precedente ao desenlace vital? Em se sabendo que as dores físicas e morais são profundas para quem se encontra em vias de abandonar o corpo em virtude de colapso cardíaco, como sói ocorrer aos que sofrem a desdita da crucificação, poder-se-ia imaginar que o resgate da maldade se desse em tão curto período.
Jesus, pelo que se lê nos Evangelhos, asseverou ao malfeitor que com ele estaria no Reino do Pai, naquele mesmo dia. Para respeitar a postura de quem duvide de tão rápida regeneração espiritual, devemos levantar a hipótese da necessidade posterior dos apóstolos de afirmarem que a proteção do Messias seria completa, dando aos seguidores de seus ensinos a condição ideal da perfeição.
Tal dúvida quanto à precisão do texto sagrado vai parecer aos ingênuos como terrível conjetura de espíritos obsessores, ainda mais se consignada permanecer a crítica de puerilidade intelectual. Entretanto, busquem o pensamento kardequiano a respeito da fidelidade dos textos bíblicos à palavra e aos feitos do Senhor e terão no Codificador a mesma suspeita de ter havido a intromissão de pensamentos próprios dos evangelistas, para mais efetiva concretização doutrinária junto aos neófitos.
De qualquer modo, fique anotado que aceitamos como verdadeira a expressão de Jesus quanto a levar o pobre companheiro de infortúnio para as terras mais felizes dos apaniguados pela predisposição de emendar-se e de submeter-se à injunção superior das diretrizes estabelecidas nas leis e códigos siderais, em função dos seres residentes neste quadrante do Universo.
Para o pobre sofredor em vias de se transferir para o etéreo, qualquer situação que lhe aliviasse a sobrecarga das dores e da expectativa da purgação dos atos contrários aos dispositivos do amor ao próximo e do perdão iria representar a salvação absoluta.
Eis que entendemos como relativa a promessa do Cristo, em momento de profunda consideração pela angústia de quem passava pelas mesmas crises físicas e por outras ainda mais terríveis quanto ao aspecto espiritual, dado que a Jesus não se pode atribuir o desconhecimento do que o esperava após o decesso, enquanto, para o ladrão, podemos reconhecer o influxo dos castigos eternais prometidos pelo judaísmo para os transgressores das leis.
Quando o Espiritismo desperta a consciência dos que se premunem contra a falsidade ideológica dos cultos tendentes ao perdão sem a competente imersão na dor a que os vícios e o mau procedimento constrangem, deve estar atento para não incidir na mesma visão distorcida de que é mecânica ou automática a restauração da pureza primitiva com que foram criados os seres. Jesus intercede por todos, sim, mas não indistintamente, porque impedido está de contrariar a vontade do Pai impressa na legislação cósmica. Jesus não está capacitado a tornar puro o espírito que até um momento antes se espojava nas imundícies dos crimes.
Para citar exemplo fulminante: quem se atrever a matar várias crianças e suicidar-se em seguida merecerá, de imediato, ser levado aos pés do Senhor, na glória do aperfeiçoamento global? Jesus faria isso? Nem se o sujeito despertasse no etéreo cônscio do mal praticado, porque sempre haverá a necessidade da reparação.
Oremos pela intercessão de Jesus, através dos mensageiros mais habilitados pelo estudo e pela prática das virtudes, mas declaremo-nos decididos a perlustrar os caminhos da redenção, com o sacrifício de todas as aspirações de se alcançarem os milagres do perdão indiscriminado. Ao principiarmos a caminhada rumo ao Senhor, ver-nos-emos fortemente amparados, animados, incentivados, auxiliados e orientados pelas ondas de amor emanadas desse sublime servidor de Deus, o que está muito longe de ser pouco.








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QUANTO AO AUXÍLIO SOLICITADO





Se Jesus não irá guindar os seres aos páramos celestiais tão-só por terem oferecido momentos de repúdio à condição de inferioridade que os levou a atos perversos, no rumo das concretizações egoístas, por vaidade, por presunção, por orgulho, por vingança, por falta de comiseração e das demais virtudes, nem por isso tais seres serão relegados ao próprio destino, despojados das regalias ofertadas aos verdadeiramente dignos de transpor o limiar da dimensão que freqüentam para imergir em círculo mais depurado.
Só o fato de ninguém escorregar para níveis inferiores demonstra a sapiência das leis de que se impregnou o Universo. Conquistas realizadas, conquistas eternizadas. Em sendo assim, poucos haverá que não tenham progredido o mínimo que seja, para que possam constituir-se em categoria classificada por características conhecidas, ainda porque quase todos os que se encontram mais acima perpassaram pelas condições da inferioridade e têm nítidos os desmandos mentais e sentimentais que foram causa de sofrimento.
Ora, o principal para os irmãos evangelizados é o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos. Esse o paradigma de todas as ações, no exercício das tarefas missionárias que lhes são próprias, por força das necessidades cármicas. Se não realizarem o que lhes é imanente nessa fase do crescimento espiritual, permanecerão nesse estágio indefinidamente, do mesmo modo que os que rastejam pelos lodaçais dos vícios e dos crimes jamais poderão receber alvará para freqüentarem o círculo evolutivo seguinte, se não repudiarem o mal. É questão de justiça.
Portanto, qualquer que ore em coerência com a dor, minimamente interessado em se desfazer dos liames que o prendam a si mesmos, no desejo mais puro possível, de acordo com a circunstância, de se melhorar, irá receber apoio e orientação dos que, mais acima, têm a obrigação de atendê-lo.
As observações são válidas para todos, isto é, para encarnados e erráticos, pois se constitui em norma de procedimento, regulada nos artigos da legislação que recomenda o desprendimento dos valores desvirtuados, na tentativa cada vez mais ponderada e mais desejada de alcançar sucesso missionário. Dessa forma, se o amigo pleitear, com sinceridade, que os do etéreo o acompanhem nos empreendimentos honestos, para livrá-lo das indecisões e da insuflação malévola dos que desejam desencaminhá-lo, encontrá-los-á dispostos e agradecidos pela deferência da evocação.
A percepção do auxílio durante o evento deverá ser maior ou menor, segundo o grau de envolvimento emotivo do assistido. Se confiante e seguro, as vibrações dos benfeitores se farão sentir claramente, podendo assumir formas bastante próximas do mediunismo, como a insuflação do discurso que deverá produzir ou dos eflúvios correspondentes aos pensamentos equilibrados, de acordo com a expectativa de desenvolvimento das atividades. Quando nervoso e atabalhoado, terá clarões mentais de tranqüilidade para a continuidade do trabalho ou será estimulado por gestos ou palavras inspiradas pelos protetores aos demais do círculo.
Depois de ultrapassado o momento que interessava ao solicitante ser auxiliado, sempre será instigado ao exame de todos procedimentos, podendo reconhecer a participação das entidades espirituais, caso esteja cônscio de que sua solicitação se deu com lisura. O mesmo poderá fazer quem não pediu qualquer apoio e quem julga que foi mal direcionado durante o empreendimento. Poderão ter algumas agradabilíssimas surpresas, porque os resultados, ainda que imprevistos, haverão de se coadunar com o roteiro do bem que deveria ser promovido, mesmo que não fosse essa a intenção do pesquisador.
— Quais conclusões deverão presidir as atividades subseqüentes aos atos maldosos concretizados integralmente, quando criminosos, por exemplo, tendo almejado eliminar pessoas ou assaltar instituições, logrem êxito?
Gostaríamos de que as pessoas, nesse caso, houvessem por bem consultar o etéreo, no que diga respeito às forças espirituais superiores. Contudo, desconfiamos que jamais farão qualquer movimento em tal sentido, preferindo agradecer, quando o fazem, aos obsessores a que se vinculam, estimulando-os à indevida proteção de que são capazes, dada a igualdade das (vamos chamar assim) freqüências em que se sustentam em seu existir.
— Pode-se concluir que até para o mal existe auxílio?
Existem interesse e insuflação, mas o que disso redunda para todos os envolvidos é a sua permanência nas paragens do sofrimento, da decepção, da dor, sempre que retornarem ao etéreo, onde o Umbral ou as Trevas estão reservados para quem não se capacitou a vibrar em consonância com os melhores.
— O que, nesta mensagem, pode ser caracterizado como notificação especial, além dos elementos contidos nos livros de Kardec?
Para quem tiver lido as obras referidas, nada. Para quem não leu, a observação de que deve ler, porque, no campo da moralidade e da virtude, tudo lá está perfeitamente assinalado e adequadamente desenvolvido. Eis o exemplo de como auxiliamos nós.







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MORALIDADE SUPERIOR





O que admiramos nas pessoas que reputamos as mais perfeitas dentre tantas para as quais emitimos opiniões desfavoráveis? O que comumente dignificamos em tais seres apaniguados por especiais favores da natureza é a esperteza com que respondem aos incentivos da sorte, quer pela inteligência sagaz e pelo destemor de levar avante o planejamento, quer pelo envolvimento emocional das pessoas de quem dependem para a realização dele.
Se tivermos mais acuidade mental, iremos arremessar para a moralidade superior todos os resultados positivos, ou seja, aqueles que visam a auxiliar as pessoas, dando-lhes mais conforto material e, como conseqüência, ajudando-as a desempenhar melhor o papel de cidadãos respeitosos das diretrizes emanadas de Jesus.
— Quer dizer que pouca importância têm as qualidades intelectuais e sentimentais, perante o conhecimento vivenciado dos conceitos evangélicos?
Pouca importância não diríamos nunca, porque tais elementos se desenvolvem a partir da assimilação das virtudes superiores. Um herói, por exemplo, não se importa em sacrificar a vida em favor da salvação de outros seres, porque sabe que o seu ato é o único que terá significado para o reconhecimento de sua coragem e desprendimento. Pensará nisso no auge da atuação? Possivelmente não, mas se empenhará inconscientemente, tendo em mente levar a efeito a ação benéfica.
Paralelamente a esse tipo de procedimento, também bandidos temerários, sem amor à vida, arriscam-se, no paroxismo da sandice, para concretizar o crime, por exemplo, sem receio nenhum de morrer, o que freqüentemente ocorre nos tiroteios com a polícia. Os soldados também, por seu turno, se envolvem, com o sangue quente, na guerra contra os malfeitores e muitos abandonam a carcassa no campo da batalha.
Citamos os eventos sem brilho para demonstrar que os homens estão armados de extremo orgulho, incapazes de aturar o epíteto de covardes, mesmo quando a atitude não representa nada para ninguém. Desligam-se muitos da vida, sem darem o devido valor a ela, enquanto perspectiva de realizações no setor do aperfeiçoamento espiritual. E, no entanto, no etéreo, proclamam fidelidade à lei da preservação, para merecer o retorno redentor à carne.
— Qual a diferença entre o herói e o malfeitor?
Cremos que a pergunta é cediça, no campo da argumentação dos resultados da performance. Ninguém irá discordar de que o contraste mais significativo esteja na intenção com que chegaram ao ápice do sacrifício. Para uns, o pensamento está na integridade dos direitos cármicos do próximo; para outros, na inadmissibilidade do fracasso na consecução dos atos em prejuízo do semelhante.
— Não haverá meio-termo?
Claro que há infinitas modalidades de pensamento, de sentimento, de impulso, de motivação. Falamos a grosso modo, como nos cabe fazer em mensagens retóricas a favor do desempenho pautado pelas recomendações de Jesus, à luz do Espiritismo. Para cada indivíduo, haverá uma sentença pronunciada pela própria consciência.
— Mas existem muitos que se consideram injustiçados, quando sofrem os percalços dos sofrimentos na carne ou na erratibilidade…
Esses são os que não adquiriram a sabedoria que promana das leis cósmicas nem souberam assimilar os ensinamentos cristãos . Com o tempo, reconhecida a inutilidade da rebelião, ajustam-se aos processos da aprendizagem pela dor e passam a considerar a evolução como o mais perfeito ato de amor de Deus. É o arrependimento a nota inicial da integração desses irmãos nas hostes dos que se destinam ao restauro das diretrizes existenciais desde a criação. Não se trata de passagem obrigatória para todos, mas não há outro caminho para os que desafiaram as leis, por orgulho, por vaidade, por egoísmo, com o acréscimo da necessidade de resgate dos atos em detrimento dos semelhantes, ainda que estes, por elevada compreensão dos liames naturais dos desafetos com a maldade, os tenham por perdoados e pelo soerguimento deles trabalhem.








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PERTO DA MORTE






Condição ideal para se pensar na vida futura, a velhice atua de maneira determinante na tomada das decisões de caráter religioso. É bem verdade que existem os materialistas ferrenhos, que ousam afirmar, provectos, que a Divindade, se existisse, lhes teria dado prova contundente de seu destino através de vibrações das esferas não regidas pelo magnetismo terrestre. São esses velhos os que melhor podem aproveitar da impunidade com que mergulham na dúvida porque, em geral, tiveram vida muitíssimo proveitosa para a família e para os parceiros de profissão ou de vida social. São pessoas que se agarram nas realizações materiais, crentes de que tudo dispuseram de sorte a lhes atender aos preceitos de soberana vontade.
Entretanto, se tivessem a pachorra de perlustrar os conhecimentos dispostos nas diferentes religiões, não como produto do interesse pelo poder ou pelo dinheiro, nem como fruto da vaidade dos mais fluentes pela palavra e mais categorizados pelos raciocínios, iriam perceber que todas estimulam as reflexões a respeito dos eventos pós-carnais, até quando discursam sobre noções opostas às do Espiritismo.
Neste desenvolvimento, estamos empenhados em chamar a atenção para a perda da oportunidade da meditação que levaria a facilitar a entrada do espírito em seu ambiente próprio. Caso a pessoa se vista intensamente dos valores meramente terrenos, vai deparar-se com problemas muito sérios de adaptação.
Não aceitamos a acusação de morbidez quanto a este tétrico tema, porque passamos por todas as etapas da vida e da morte e ascendemos até o atual patamar, favorável às comunicações de advertência para a ingenuidade da crença que os encarnados possuem de tudo saber, quando deveriam aceitar, pacatamente, as informações, suspeitando de que estas possam arder pelas chamas da sabedoria e da verdade. Contudo, entendemos que haja a possibilidade do medo, especialmente decorrente de sentimentos de culpa arraigados na alma, em virtude de procedimentos não totalmente honestos, nobres ou fundamentados nas prescrições cristãs.
Do medo à cristalização da necessidade de afirmar a existência do nada além da morte é simples passo, que muitos dão, confiantes de que, caso contrário, terão plena capacidade de satisfazer os princípios intelectuais em curso no etéreo, da mesma forma que atuaram frente às exigências sociais.
Mudando de pato pra ganso, devemos interrogar o prezado leitor a respeito de como se vê perante as forças da espiritualidade, se estão seguros de ser bem recebidos, de ser assistidos, de ser encaminhados para platôs de felicidade condizente com vida de esforços e de conquistas nos campos da moralidade e da sabedoria.
— Ah! Não são velhos! Têm longa perspectiva de vida e se julgam em pleno serviço em prol dos irmãos infelizes, retardados, criminosos, doentes, ignorantes, atrasados, conformados com as diretrizes dos usos e costumes, até quando prescrevem eles o egoísmo, o orgulho, a vaidade, a preguiça, a luxúria, a ira, a usura, a gula, a intemperança, em suma. Ainda bem que escapes estão de todos esses terríveis flagelos da humanidade!
Caso desgostosos pela descrição irônica de procedimento ainda imaturo (até daqueles mais acima descritos com a reação dos velhos malandros que desejam usurpar o direito a estabelecer as regras da vida além da morte), perdoem-nos o atrevimento dos arremessos juvenis, que foi como quisemos caracterizar este grupo de alunos da Escolinha de Evangelização.
Eis que pronunciamos a palavra mágica, cabendo agora desenvolver a tese de que perdoar será a marca indiscutível da ascendência moral sobre quem vem com tanta ranzinzice para o safanão das íntimas intenções de tudo poder, porque se tem a noção estabelecida de como agem e reagem os beneméritos protetores individuais. Aí, haverão de conjugar o verbo por inteiro: eu perdôo, tu perdoas, ele perdoa, caso sejamos todos perdoados...
Fazemos nós a crítica da moralidade evangelizada e nada deixamos passar quanto aos intentos da supremacia de quem se julga a melhor das criaturas. Somos imodestos apenas no apontar dos defeitos nossos e dos outros, mas pretendemos ser bem orientados para suplantarmos as deficiências de caráter. Submetemo-nos às observações e buscamos seguir os ensinos dos mentores. Tal atitude deve ser instituída na alma de maneira perene, sem hesitações e sem medo, ainda que a Morte esteja com o dedo em riste apontado para nós.
— Que tal ler de novo as dissertações a respeito das virtudes?








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O APLAUSO DO BENFEITOR





Será mentira se dissermos que as pessoas afeitas à teoria espírita estão perpetuamente aguardando o incentivo ou o aplauso dos protetores e demais amigos da espiritualidade? É corrente entre os correligionários da doutrina que tudo devem fazer para agradarem-se os benfeitores das atividades pertinentes às ações mais dignas, dentro do contexto evangelizado.
Longe de nós duvidarmos das melhores intenções de quantos se dispõem, muitas vezes através de estrênuos sacrifícios, a realizar as tarefas de assistência aos carentes que buscam o conforto das palavras amoráveis e do agasalho físico. Contudo, temos constatado que existe o temor de não se alcançar a aprovação do etéreo, pelo risco de se cair em desgraça, em virtude de mal aprendidas noções excessivamente filosóficas ou profundamente intelectuais.
Quando as pessoas se deixam embalar pela ilusão de que cabe aos outros e não à consciência a análise da performance espiritual, são facilmente o joguete de seres menos felizes, menos perfeitos, os quais se espojam de rir das facécias que pregam, insuflando, no pensamento e no coração dos desprecavidos, a sensação de que vão cozer nos óleos ferventes do inferno.
Observa-se que muitos crentes, sem aspirações verdadeiramente superiores, julgam que fazer o bem, dando de si, de seu tempo e de seus haveres, irá ser contado a benefício de melhor colocação nas esferas do etéreo, independentemente dos estudos a que estão habilitados pela capacidade intelectual. Há mesmo quem julgue pura perda de tempo a leitura de Kardec, por exemplo, porque têm de se dedicar a trabalhos junto aos departamentos sociais e, até mesmo, evangélicos dos centros espíritas.
Por outro lado, empenham-se na observância das obsequiosidades e prolfaças do trato meramente urbano, jogando confetes nos parceiros, como se tudo o que providenciam esteja absolutamente dentro dos padrões da moralidade superior. São isentos de crítica e se desejam eqüidistantes das pelejas pela concretização das atividades, para as quais poderiam contribuir com maior eficiência, se, corajosamente, se dispusessem a correr o risco de serem mal vistos pelos anjos guardiães.
Dentro do movimento espírita, estamos cansados de observar pessoas assumindo cargos administrativos sem comiseração pelas dificuldades alheias, tanto que não reivindicam dos que acreditam pobres de espírito que acompanhem as sessões de estudo e de discussão dos pontos doutrinários de maior complexidade. Estes parceiros, geralmente, se encontram melhor aquinhoados de força de vontade do que os mesmos diretores, necessitando, entretanto, do estímulo das realizações efetivas no âmbito do contato com os escritos de Kardec.
Todos, indistintamente, todavia, julgam que o principal é o aplauso de quem, segundo preconceito supersticioso, lhes deve assistência, conforme assinalamos em texto anterior, uma vez que se obrigam os socorristas ao atendimento de certo número de pupilos encarnados. Esquecem-se de que existe a necessidade de reflexão, antes, durante e após cada evento, para o que se exige preparação por meio dos estudos.
— Se bem entendi o que o mensageiro está desejoso de me passar, é que deve ser permanente a suspeita de que podemos sempre fazer melhor tudo o que nos cabe, para lograrmos ascender na escala evolutiva. Em sendo assim, não seremos elogiados pelos mentores espirituais?
Quem se preocupa com o elogio alheio, mesmo de entidades postadas em nível superior, é que não tomou consciência exata do valor das ações e dos méritos filosóficos e doutrinários da meditação. Está na infância terrena, quando deveria preocupar-se em amadurecer para a vida eterna.
— O comunicador não está exagerando no nível em que situa a programação dos seres humanos, tendo em vista as grandes deficiências que necessariamente apresentam por estarem imersos na densidade corpórea?
Sem contra-senso, à vista da seriedade da dissertação, devemos dizer que coitadinho é o filho do rato que nasce pelado...
Damos por encerrado o discurso e nos pomos à disposição dos professores, para a crítica pertinente e a orientação efetiva para a melhoria do desempenho. Às vezes, recebemos elogios, somos aplaudidos e, por assim dizer, estimulados na direção do aperfeiçoamento, pelo afeto, pelo bem-querer, pela simpatia deles. Isto nos emociona e nos faz extremamente agradecidos. Mas fique claro que não trabalhamos com tal intuito, senão no estrito interesse de servir para progredir, com o mesmo amor, pelo amor ao Pai, conforme o ensinamento de Jesus e o apoio incondicional de Kardec.
A lição é difícil mas, se fosse impossível, não teria sido impressa no texto das leis universais.








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AS BÊNÇÃOS DE DEUS





O Senhor, pelo atributo da existência absoluta, abençoa permanentemente, quando estamos imersos nas condições do aperfeiçoamento contínuo, o que prescreve que exista passado, presente e futuro, ou seja, a perspectiva da realização temporal, mesmo que, filosoficamente, aceitemos tão-só a aplicação energética como motor para a consecução do objetivo espiritual e, como conseqüência, do desenvolvimento, crescimento e degeneração orgânica, no que se refere ao plano corpóreo.
Se a bênção do Pai se espalha pelo universo uniformemente, porque é ele absolutamente justo, lícito é concluir que estejamos imersos nessa ação divina.
— Por que, então, muitas vezes, não nos sentimos apaniguados por tal deferência, optando, inclusive, por julgar-nos distantes dela, tantas e tão graves são as dores físicas e morais? Podemos concluir que somos nós quem se afasta ou quem não abre fendas na couraça da maldade, para a percepção dos fluidos energéticos de revigoramento?
Julgar que a bênção não nos alcança é estabelecer critérios demasiado pequenos, segundo os parâmetros da intelectualidade tacanha que mantemos durante a vida, presos no envoltório carnal, impedidos, portanto, de exercer todas as faculdades de que o espírito está dotado. Cabe explicar, com Kardec, que a alma se desprende parcialmente muitas vezes, em especial durante o sono, ocasião em que pode estabelecer outras formulações psíquicas mais próximas do desempenho dos desencarnados. Nesse caso, uma de duas: ou o pensamento extrapola as lindes da capacidade do cérebro material e, portanto, não fica impresso nele, como se não tivesse existido; ou o pensamento se limita às condições intelectuais em usufruto durante a encarnação, podendo ser lembrado, sem, contudo, apresentar nuanças de caráter superior à performance durante a vigília.
A partir da idéia de que somos muito inferiores para entender como se dá a proteção divina a todas as criaturas, devemos refugiar-nos naquilo a que Jesus atribuía poderes de salvação, ou seja, na fé. Kardec também pleiteava dos adeptos da doutrina espírita que mantivessem acesa a chama da fé e acrescia a necessidade de que fosse raciocinada. Ora, todo este desenvolvimento textual não pleiteia, justamente, a condição de fé condicionada pelo conhecimento e pelo raciocínio? Então, será através da fé que atingiremos a compreensão subjetiva, a sensação moral de que estamos o tempo todo, como se nossa existência tivesse a condição do eterno, como eterno é o Pai, mergulhados na atmosfera do amor de Deus.
Falta responder sobre a responsabilidade de cada um para a impressão de que lhes é negada a bênção do Senhor.
É extremamente simples explicar que nem todos apresentam a dificuldade de não se sentir abençoados. Ora, quem está pensando-se excluído, por acusar-se de maldade ou de defeitos morais de porte suficiente para a esquematização da inferioridade, perante a grandeza da criação, é que deve resolver onde atacar, para suprimir os efeitos deletérios da suspeita.
Só a idéia de que existe a possibilidade da redenção não será suficiente para se acreditar na ação divina? Olhando-se para os irmãos mais infelizes, os que se encontram sob o domínio dos crimes e dos vícios, não se pode inferir que, um dia, chegarão a compreender as leis universais, alterando significativamente o comportamento, no sentido de atender aos preceitos cósmicos? Pelo que informa a ciência, não é verdade que o corpo humano (de que se serve o espírito) evoluiu desde as formas primevas para a contenção do arcabouço cerebral dos dias que correm? Não é possível deduzir que o espírito esteve em condições bem piores, relativamente a esta em que hoje obramos, ainda que deficientes em muitos aspectos? Esse progresso não haverá de ser o ponto de toque da argumentação, isto é, a prova de que o Pai nos abençoa perenemente até que ingressemos na condição da eternidade, subjugando os caracteres do passageiro, do transitório, do insólito e dos demais dispositivos presos ao curso do tempo?
Na próxima vez em que solicitarmos a bênção do Senhor, roguemos, nos refolhos da mente, sob o influxo sereno de amorosa vibração, pelo auxílio dos protetores espirituais, para que o alvo da prece possa, sim, compreender quais são as barreiras que estabeleceu para não perceber que está sob o manto misericordioso do Criador.








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RENITÊNCIA OU TEIMOSIA





Quando os espíritos trazem à baila a teoria da reencarnação, revelando que todos perpassamos por diversas vidas, explicando que o fazemos por causa de não nos oferecermos ao aproveitamento das oportunidades de aprendizagem dos valores evangélicos, persistindo nos vícios e defeitos, muitos leitores criam a figura mental do teimoso ou do renitente, como se dependesse de simples catarse do caráter defeituoso, para darmos o passo seguinte na caminhada rumo à perfeição.
É evidente que a obstinação é altamente prejudicial, em se tratando dos eventos espirituais de ordem cármica, contudo, existe toda uma série de fatores circunstanciais que nos premem de encontro a nós mesmos, atemorizando-nos quanto ao arremesso para novas decisões, nem sempre amparadas pelos estudos ou pelas observações.
— Não estamos sob a proteção dos guardiães individuais e familiares? Então, por que não conseguimos lograr êxito nos planejamentos de reencarnação que devem ter sido profundamente meditados, sob a supervisão de espíritos categorizados, uma vez que, no ambiente etéreo, não se dá vez aos amadores, aos superficiais, aos inferiores, quando se trata de formular, com responsabilidade, o futuro de quem reencarna?
Não se organiza o futuro, senão que se projeta com rigor o corpo físico e se escolhe com percuciência a família mais condizente às necessidades do irmão. Ao azar dos acontecimentos, as propriedades pessoais de toda espécie são aplicadas com maior ou menor sucesso, tendo em vista o retrospecto vital impresso no perispírito. Do mesmo modo que a personalidade das pessoas projeta nas mentes dos circunstantes efetivos caracteres de procedimento, também no sentido mais abrangente das sucessivas encarnações, não se pode esperar que haja mudanças muito significativas.
— Quer dizer que os planejamentos visam a alterações mínimas?
É exatamente o que ocorre, com a possibilidade, à vista do crescimento em determinada área, de acréscimos de lucros mais substanciais, à medida que o indivíduo adquire a certeza de que está caminhando para Deus, através da aquisição e da aplicação das virtudes. A tomada de consciência pode dar-se ou na esfera carnal ou tão-só no âmbito das relações subjetivas com os protetores, em momentos de liberdade. A evolução será tanto mais rápida quanto melhor for compreendida a correlação entre praticar o bem e estruturar o caráter.
A vida é um livro aberto onde se podem escrever novas determinações, novas aspirações, novos objetivos; onde o refazimento é admissível sempre que se consignarem as conquistas almejadas. É também livro aberto para a mudança de perspectiva, transformando-se, por exemplo, o que seria caminhada para resgate de pregressos débitos, em flagelo para a purgação, em dor, de atos deletérios em geral.
Vamos, à guisa de exemplificação, citar o caso de uma pessoa vir ao mundo desejosa de reconciliação com seres que lhe ingressaram na família. Se tais elementos não aceitam o intento relativo a eles, abortam o planejamento, exigindo-se dos orientadores etéreos, em conjunto com o encarnado, em estado sonambúlico, que se assinalem outras diretrizes, inclusive para que não corra o risco de retrucar com violência, acrescendo mais uma defecção ao rol dos males que deveriam ser abolidos.
Caberia a pergunta a respeito do grau de automação cármica dessa participação dos protetores. Não há mecanismo que sustente as atividades socorristas estipuladas de comum acordo com o encarnado. Este pode dispensar a ajuda, no decorrer do processo vital, o que acontece freqüentemente. Por outro lado, grande parte da humanidade se afeiçoa à carne, a ponto de se ligarem a espíritos malfazejos, ocasião em que os bons se afastam, permitindo que os eventos se tornem a dura lição necessária para a cura da rebeldia.
Eis que se caracteriza o caso mais corriqueiro da renitência ou teimosia e esta mensagem readquire a natureza admoestadora, lembrando aos leitores, sem sutileza, que devem, obrigatoriamente, investigar se não estão mergulhados nessas águas malparadas.
Recomendação imprescindível: orar um pai-nosso, antecipando as conclusões certamente penosas do exame de consciência e em agradecimento ao Pai pela possibilidade de esclarecer um ponto que seja do projeto cármico.







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REVERTENDO O QUADRO




Não poucos espíritas, em todo o Brasil, se estimulam para o questionar das diretrizes esquematizadas pelos dirigentes mais notórios do movimento espírita oficial.
Seríamos omissos se não denunciássemos o que estamos acostumados a presenciar nas vibrações claríssimas dos que pretendem modificar o que julgam incorreto. Dizem, de viva voz, que tudo fazem para beneficiar a divulgação da doutrina, mas terão os corações verdadeiramente imersos nessa superior intenção? Não vamos denunciar o desejo de projeção universal pela consignação do nome na História do Espiritismo. Esse é aspecto muito particular que afeta mais a uns que a outros. Entretanto, o que se encontra de mais comum é a insatisfação de ver que pessoas descritas como medíocres estão com o poder nas mãos e agem de modo tão pessoal que não permitem qualquer discussão sequer metodológica; que dizer, então, no que respeita aos cânones e sistematizações dos ensinos kardequianos!
Desejam tais personalidades terrestres a participação dos espíritos nesse aranhol de idéias mal formuladas, porque inerentes ao pensamento eivado de frustrações? Minimamente. Alguns se dizem bem orientados pelos guias pessoais, de sorte que empreendem a agitação no meio em que atuam, iludindo-se quanto à universalidade dos sentimentos em relação aos trabalhos alheios, tidos como coercitivos da liberdade de julgamento. Quem tem veículos dentro da imprensa costuma verrumar contra os opositores declarados. Quem se restringe à oralidade da expressão, não perde vaza de concatenar razões para os apodos ferinos contra os que agem em discordância com seus princípios.
Essa ciranda de amores-próprios vai estendendo-se em malha de grande extensão, em claro prejuízo dos valores cristãos mais simples, como a modéstia, a humildade, a contenção, o recato, a boa vontade e demais itens tolamente considerados como fraqueza de caráter. Espelharem-se em Francisco Cândido Xavier nem pensar! Aliás, esta simples referência a alma de tão grada performance moral irá constituir num dos crimes apontados como de profunda profanação dos preceitos doutrinários, qual seja, a instituição de personalidade humana em pináculo de valores excelsos, como se estivéssemos santificando o venerando médium. O culto das personalidades está expulso do reino fundado por tais inovadores, desejosos, eles sim, de se estabelecerem no centro das discussões.
Não pendemos para nenhum dos lados em litígio, senão que aplaudimos a grandeza espiritual de quantos apontam os erros de procedimento, sem atingir os irmãos que defendem com unhas e dentes a sua própria concepção. Achamos benéfico que haja investigações doutrinárias, de molde a estabelecer critérios para a evolução filosófica e moral, pela crítica percuciente às diretrizes de Kardec e aos pontos de vista dos especialistas encarnados ou não. Do contrário, não pleitearíamos a divulgação de nossos textos, muitos deles, sutil ou nitidamente, a favor de mudanças nas posturas científica e religiosa de encarar a doutrina.
O que rejeitamos in limine é a fixação de roteiros de atuação em que se vise aos homens e não às idéias. Quão desagradável seria e quão antipáticos seríamos considerados se viéssemos assinalar os nomes daqueles cujas vibrações íntimas denunciamos conhecer! Eis o procedimento menos caridoso, portanto mais afastado do fundamento da moral espírita, axioma universal coligido por Kardec, qual seja: FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.
Se pudéssemos, pleitearíamos que todos os irmãos pelejassem pela unificação das idéias, mas isso seria inconcebível para quem sabe que as pessoas estagiam em pontos evolutivos diversos. A partir desse princípio, que os envolvidos pelos ditirambos acusatórios aceitem os adversários como seres em processo de enriquecimento espiritual e, sem rituais de cristalização civilizada, perdoem as ofensas, segundo repetem, com certeza, no pai-nosso que não lhes sai dos lábios.
Quanto mal tem feito aos companheiros encarnados a cediça discussão da natureza do corpo de Jesus! Talvez somente o Mestre de Nazaré pudesse vir esclarecer o assunto, porque a palavra de Kardec foi insuficiente. Então, é com o máximo da alegria que reproduzimos a declaração do Cristo, para, definitivamente, solucionarmos a questão, predispondo todos os adeptos da doutrina para a consecução do maior bem, ou seja, o amor ao Pai, pelo amor às criaturas. Vamos dar a palavra a Jesus:
— Pai, perdoai-os porque não sabem o que fazem!








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CULMINANDO O TRABALHO





— Qual será a hora de suspender o trabalho e iniciar a avaliação dos resultados, no campo das tarefas mediúnicas? Estaremos adiantando-nos ou iremos deixar passar a melhor oportunidade?
Perguntas que tais devem fazer-se espíritos e encarnados, para que o progresso alcançado possa ser introjetado na mente e no coração.
— É importante saber se estamos aproveitando os esforços? Não seria bem melhor que trabalhássemos indefinidamente, sem solução de continuidade, enviando, em tempo hábil, um referendo aos espíritos mais adiantados?
A pergunta denota desconhecimento do que seja avançar no setor espiritual. A principal característica do aperfeiçoamento reside na consciência que se tem dele. Atribuir a responsabilidade pela verificação dos pontos positivos (ou negativos) a outrem, mesmo que melhor categorizado, é transferir importante fase do aprendizado moral, sem o conseqüente julgamento das causas e efeitos, lei de séria extensão no plano das realizações cármicas.
Quando incitamos os leitores a que interrompam os afazeres habituais para a meditação esclarecida pelos parâmetros espíritas ou cristãos (outros diriam humanistas), estamos simplesmente exigindo o que Jesus exemplificou, com profusão de ocorrências, durante sua passagem planetária. Não é verdade que se afastava da multidão ou se distanciava dos discípulos, em busca de sossego, para a prece, para o contato com os de seu nível, para as deliberações pungentes dos sacrifícios? Mesmo quando preparava as parábolas e pregações, deveria refletir longamente a respeito de como as palavras seriam recebidas pela audiência, a qual caracterizava com rigor, conforme provam os textos evangélicos à proficiência. Ou julgam os amigos que tudo vinha à mente do Salvador de imediato, mercê de superior condição intelectual?
A derradeira questão pode parecer absurda para quantos admitem que o Nazareno é a estrela de primeira grandeza na galáxia sob seu comando e administração. Mas podemos dizer que, para seres de alta capacidade, um milésimo de segundo de reflexão deve representar o que, para o comum das inteligências encarnadas, significa várias horas, dias, meses ou anos. Nem por isso, contudo, não terá meditado, não terá perlustrado todas as causas e respectivos efeitos das ações passadas ou dos projetos em vias de concretização?!…
Ainda que em dimensão mais profana, mais secular, mais pragmática, o concurso da avaliação se recomenda em qualquer ramo das atividades humanas. Faz parte da metodologia científica e se encontra, inclusive, sedimentada na sociedade sob forma de exames e provas de habilitação de toda natureza. Daqui não estarmos dizendo nenhuma novidade. O que nos atemoriza é a entrega dos corações ao trabalho edificante dos centros espíritas ou às atividades do relacionamento gregário obrigatório, sem a correspondente perquirição quanto à formulação dos melhores procedimentos, segundo as circunstâncias.
Aguardar pela passagem para o etéreo, na pressuposição de que aqui os espíritos são donos de todo o seu tempo, poderá causar frustrações difíceis de vencer sem sofrimento, porquanto a mesma ânsia da dedicação cega ao trabalho, por mais emérito seja, será categorizada pela consciência como deficiência de método, se não for vista como o orgulho de se presumir o máximo dentro das tarefas socorristas.
Cada vez mais, na Terra, as ciências progridem na decifração dos eventos naturais, o que exige dos neófitos que se entreguem a cursos absorventes, para a formação técnica ou profissional mínima para o desempenho delas. Voltemos o mesmo olhar para o aprendizado do ministério espiritual e saibamos compreender que a dificuldade é bem maior, porque exige do coração e do intelecto que estejam harmonizados, para o equilíbrio das deliberações.
Kardec afirmou, categórico, que as reencarnações seriam muitas até que pudéssemos pleitear ser guindados a mundo de maior felicidade. É bem esse o objetivo que temos em mente quando recomendamos que se façam periódicos exames dos procedimentos doutrinários. E a melhor hora é a que esteja a mais próxima possível de cada ato, de cada pensamento, de cada sensação, o que se denomina de avaliação contínua, na esfera dos encarnados.
— Quer dizer que o processo de verificação dos procedimentos deve ser automatizado, do mesmo modo que fazer o bem e demais atividades evangélicas?
É exatamente isso.
— Mas isso não culmina trabalho algum! É mera fase integrada a ele!
E quem disse que o trabalho vai terminar algum dia?!







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AS MORADAS DO SENHOR





Estimulados pela história das religiões, até os espíritas sentem como corretas as projeções mais fantásticas dos mundos habitados.
Quando Jesus nos diz que a casa do Pai possui muitas moradas, não devemos restringir-nos ao campo de observação visual e concluir que os planetas deste e de outros sistemas estelares sejam habitados por seres adequadamente revestidos dos mesmos elementos da natureza ali reinante, conforme se observa na Terra. Evidentemente, existirão outros corpos celestes habitados por espécies compatíveis com o ambiente. Não seremos nós, entretanto, que estaremos habilitados a vir relatar se em Marte ou Júpiter ou Plutão existem tais encarnações e de que tipo são as categorias dos espíritos em processo de aperfeiçoamento.
Sabemos que Kardec mereceu informações desse naipe de próceres espirituais e redigiu dissertações em que reproduz o que lhe foi passado, evidentemente com o ônus dos conhecimentos da época, ou seja, com bem definidas limitações científicas, já que muitas descobertas se deram posteriormente, como ainda hoje vemos os humanos a lançar ao espaço extraterreno sondas para contato físico mais aproximado. Sabemos mais: que Kardec descreveu as categorias dos espíritos ali encarnados.
Não nos importa considerar o grau de desenvolvimento moral dos seres em pauta. Devemos restringir as observações ao fato de estarem encarnados, o que significa necessariamente que, se se deslocarem os mortais para tais mundos, terão condições, por meio dos recursos sensórios, de entrar em relacionamento com eles. Evidentemente, a comprovação das assertivas assim dispostas está ao alcance da ciência terrestre, já que as civilizações estão produzindo artefatos apropriados para a investigação sideral. Se houver riqueza disponível dentre as excedentes para as aventuras espaciais, acreditamos que não demorará para que se pesquisem as condições físicas daquelas criaturas.
Contudo, não é objetivo nosso discutir essa espécie de moradia tão impregnada dos valores e vibrações dentro da freqüência existencial dos corpos humanos. Desejamos, sobretudo, mencionar o que somos capazes de comprovar na condição de espíritos, isto é, que há planos existenciais de outra ordem, onde também moram seres criados por Deus.
Discutir se Jesus se referia a encarnações dentro do projeto universal dos que vivem na Terra ou se abria o pensamento humano para esferas dentro do fluido cósmico de outra contextura vibratória não nos parece, nesta altura das informações doutrinais espiritistas, pertinente ao escopo que se tem em mira quando se reencarna na Terra para a aquisição de recursos morais e de conhecimentos específicos, em função das personalidades bastante imperfeitas de quantos aqui aportam.
Terão razão os que nos acusarem de incentivar a fantasia dos inocentes, dos ignorantes e dos incapacitados intelectualmente, caso nos determinássemos a descrever como são tais moradas. Vimos os desenhos das mansões em Júpiter publicados por Kardec. Cotejamos com os conhecimentos atuais do meio físico daquele planeta, em relação à possibilidade de sobrevivência dos seres humanos. Concluímos que seria impossível à estrutura molecular dos seres vivos estabelecer residência ali, porque não há atmosfera respirável pelo organismo aqui adaptado. Então, seria lógico inferir que os desenhos pertencem ao plano espiritual. Neste caso, precisaria ser em Júpiter? Não poderiam tais espíritos superiores morar em círculo ao derredor da Terra, segundo o nível de depuração de seu desenvolvimento?
A ser verdadeira a dedução, enganaram-se os mensageiros que transmitiram as notícias e os desenhos a Kardec? Ou julgaram que seria mais fácil admitir a existência das moradas, segundo a tradição acima referida das religiões antigas?
Ficam as interrogações como incitamento ao raciocínio, simplesmente. Que não caiam os amigos na armadilha das ilusões que a imaginação exacerbada costuma dispor para quantos desejam retornar à carne, para viver no Paraíso, após a trombeteada do Juízo Final.







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AS NOTÍCIAS DO ETÉREO





Temos observado que os irmãos espíritas desejam muito contatar pessoas conhecidas e familiares no plano espiritual. Quando se deparam, contudo, com textos como os nossos, onde não se caracterizam os autores, seja pelo nome, seja pelos traços característicos da personalidade e estilo de escritura, menos ainda pelas informações particulares da vida na Terra, tendem a rejeitar a mensagem, ainda que plenas quer de conselhos sábios ou práticos, quer de reflexões saudáveis para a melhoria do desempenho vital.
Costumam os mais inocentes dar crédito a textos menos elaborados, sem a contrapartida da comprovação da categoria do autor, apenas fundamentando-se em informações periféricas, acessórias, secundárias, desde que se mantenha o princípio de que tudo está bem, que o futuro reserva melhores dias, que haverá reunião de desafetos, que os negócios empreendidos trarão a recompensa almejada e demais tralha pertinente ao atendimento dos desejos egocêntricos. Se tais pessoas recebem indicações de que não serão atendidas, frustram-se quanto às expectativas da natureza superior do comunicador e, longe de se compenetrarem do valor das palavras, saem em busca de espíritos cujas manifestações lhes sejam mais condizentes com as aspirações.
Existem médiuns desprovidos de cultura que recebem verdadeiras obras filosóficas, embora nem sempre a tradução se dê com fidelidade intelectual. Sabem os mensageiros que as expressões não terão o mesmo nível lingüistico das vibrações transmitidas, mas insistem, porque não dispõem de médiuns categorizados, muitos deles dedicados a determinados temas, não abrindo a mente para imantação não alinhada com as vibrações costumeiras. Além disso, como no caso do nosso médium, muitos estabelecem horário e local rigorosos, para o aproveitamento de um só benfeitor ou de equipe de protetores, que se beneficiam de seu trabalho, oferecendo, ao mundo físico dos humanos, roteiros definidos, quer quanto à extensão, quer quanto às propriedades dos conhecimentos desenvolvidos.
Não há como categorizar o aspecto da obsessão, quando o companheiro encarnado exerce vigilante condicionamento vocabular, oferecendo estruturas frasais de fundo literário. Se os assuntos se deixam eivar de falsidade, a só condição do exame doutrinário é que poderá extrair os aspectos do vilipêndio que se obtemperou registrar, para o engodo dos leitores, frigindo no erro quantos se embalarem pelo fisiologismo vernáculo.
Em outras palavras, quando o médium se caracteriza pela superioridade cultural, subsidiariamente apenas denotando argúcia moral ou acuidade intelectual, também os ditados que recebe devem sofrer rigorosa vistoria dos mais experientes, com o ônus, evidentemente, de que haverá quem vá defender tal linha de manifestações, por não entender patavina do que se lhe transmitiu. Também aqui haverá contestação relativa ao argumento de autoridade, tendo em vista que se responsabilizam pelas diretrizes teóricas da doutrina pessoas dos mais diferentes matizes evolutivos.
Pode parecer que o demônio esteja indo contra o próprio reino, na expressiva lição de Jesus. Entretanto, não estamos preocupados, senão muito tenuemente, com o futuro destas perorações. Se a verdade que consignamos não adentrar a mente e o coração dos amigos leitores, teremos de lamentar a nossa falta de habilidade para transformar as lições dos mestres em argumentos decisivos para o encaminhamento dos encarnados aos temas que os ajudarão a definir os principais objetivos dos estudos.
De qualquer modo, pensamos estar cercando cuidadosamente todos os setores do raciocínio, para a promulgação da necessidade do conhecimento científico e filosófico das teses espíritas.








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OS CASOS CURIOSOS





Desde Kardec, as pessoas gostam de reconhecer as respostas inteligentes dos seres desprovidos do corpo material. Julgam que o fato de estarem no etéreo lhes dá, automaticamente, condições de sabedoria e de clarividência. Assim, quando se deparam com respostas não totalmente exatas, mediante a capacidade que têm de efetuar a crítica, logo se dispõem a ajudar o coitado que paira na ignorância.
Mutatis mutandis, nós do etéreo, o tempo todo, ficamos a observar as solicitações dos encarnados que nos chegam por permissão dos mentores da colônia, com a finalidade precípua de nos aperfeiçoarmos na análise dos objetivos humanos, em relação ao histórico de cada um e à sua imersão no estágio atual da humanidade. Como os encarnados, também os da erraticidade se condoem de tanto despreparo para a vida e se prontificam a auxiliar os necessitados.
Que meios têm os mortais de ajudar os erráticos? A prece e os estudos para os quais estes são convidados. Como obter bom sucesso? Através da confiança de que os amigos estão presentes e se encontram amparados pelos benfeitores. Mas tais providências surtem efeito? Sim, desde que haja seriedade e integral desejo de colaborar com o adiantamento dos infelizes.
Não haveremos de enfatizar o recurso de que vimos lançando mão, qual seja, o destas dissertações infestadas de conceitos e de sadias provocações para o exame bibliográfico dos temas. Já relacionamos algumas das obras essenciais mas não ficaremos contentes se não abrirmos em leque a literatura espírita, tanto no que concerne às páginas mediúnicas, quanto no que respeita aos tratados e monografias dos encarnados.
— Quer dizer que todos os desenvolvimentos teóricos merecem crédito? Não haverá tremendo risco de enganar-se o leitor, caso se depare com textos eivados de erros, de falhas, de preconceitos e demais falcatruas que soem depositar nos livros quantos estejam intentando subverter o Espiritismo?
Só o fato de o indivíduo estar vivo é suficiente risco para escorregar na teoria e submergir na superstição. Se bem considerarmos os desvios de interpretação das leis cósmicas do Catolicismo ou do Protestantismo, por exemplo, não era para profligarmos tremenda campanha contra tais imperfeições religiosas e filosóficas? Entretanto, não nos afligimos quanto aos companheiros que se entregam a outros cultos do mesmo modo que tememos pela falsidade ideológica dos que, em sendo espíritas, ainda que aprendizes, não alcançam compreender as explicações kardequianas.
Poderíamos estender-nos muito mais na descrição dos casos curiosos, mas não desejamos oferecer aos leitores quadro pessimista dos relacionamentos entre os humanos e os que se dedicam a classificá-los para melhor socorrê-los, na hora da necessidade. Por outro lado, não são poucos os que buscam estas mensagens espíritas para satisfazerem o vão desejo de se verem no caminho certo, porque, ultrapassado o estágio dos conhecimentos superficiais, partem para a elaboração pessoal dos mecanismos fluídicos, almejando decifrar os meandros mais íntimos da contextura perispiritual.
— Não foi exatamente essa a preocupação inicial do grupo? Não se encontram desenvolvimentos relativos a segredinhos vibratórios, como o processo de volitação, a natureza da matéria quintessenciada, a atmosfera que se respira no etéreo?... Como explicar a presente contradição, se tudo passa a ser considerado como simples curiosidade?
Não fosse a pergunta parte da retórica que adotamos para os textos, e poderiam os leitores supor que alguém, de fato, esteja pensando em refutar-nos pela forma que o fizemos. Estamos tão-só insistindo no aspecto da seriedade acima referido. Tornar estes temas mero diletantismo intelectual é executar obra literária para a obtenção de poder, de glória, de riqueza, sem a contrapartida da descoberta dos condutos psíquicos, sociais, morais, filosóficos, religiosos e de outras espécies que se conjugam para a formação da personalidade humana. Teria o amigo condições de resistir às condicionantes médicas dos textos técnicos, por exemplo? Não é verdade que as descrições dos condutores energéticos favorecem o crescimento científico no setor? Que dizer dos tratados jurídicos, para a formação de diretrizes de procedimento no julgamento dos que burlam as leis? Pois são esses os princípios que devem presidir o interesse a respeito de como se desenvolve o progresso espiritual.







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BENDITOS OS TRABALHADORES DA SEARA ESPÍRITA!






Havemos de configurar hosanas pela boa vontade dos irmãozinhos que se dedicam ao trabalho de atendimento aos que, do etéreo, vêm trazer roteiros de amor, solicitações de auxílio, rogos de esclarecimentos.
Não basta ficarmos alegres e agradecidos, é preciso que, da nossa parte, contribuamos com algo útil. Não fora pela modéstia do grupo, poderíamos suspeitar de que nossa participação possa merecer a atenção de generosos leitores, apesar da turbulência com que apresentamos os textos. Teríamos vindo bem melhor, se tivéssemos a calma e a objetividade dos encarnados que nos orientam com salutares críticas e observações.
Mas não vamos perder a oportunidade para desenvolver outro tópico resultante das pesquisas que levamos a cabo sob o lúcido comando do Professor João, qual seja, o de que muitos encarnados se dispõem ao trabalho com o máximo de boa vontade, mas obstam a continuidade dele tendo em vista a pequenez de discernimento dos mensageiros. O temor advém, principalmente, do fato de se virem prejudicados pela divulgação dos textos, mesmo que internamente, dentro do respeitável ambiente do centro espírita.
Não são poucos os que dão margem a exposições orais de extrema violência, de acendrada ignorância, de terrível sofrimento, porque nem todos os irmãos da erraticidade são criaturas pacíficas, cheias de luz e felicidade. Mas todos queremos atingir o apogeu do cristianismo, pela absorção integral das lições de Jesus, para a qual, sabemo-lo agora, necessitamos incrementar os estudos científicos e exaurir totalmente a capacidade egocêntrica de dizer não aos semelhantes.
O medo se situa na linha do egoísmo, do orgulho, da vaidade, porque não nos conformamos em dar curso a mensagens de categoria inferior. Se não vêm vazadas em terminologia precisa, se as construções sintáticas ferem o vernáculo, se o discurso não reproduz, ipsis litteris, os dizeres de Kardec, se o nome que se assina não tiver repercussão social de elevado nível, parece àqueles médiuns que estão sendo iludidos, perseguidos, obsidiados, possuídos.
Ora, se para as comunicações de viva voz existem meios de esclarecer os infelizes, não menos recursos há para o controle da psicografia, muito especialmente os da prece e do saber, porque estudar essas manifestações não representará perda de tempo, se acrescentarmos mais informações ao rol dos conhecimentos dos companheiros que partilharem da doutrinação.
Estamos tendo o prazer da leitura de um bom amigo. Sempre que alguém se sensibilizar pelos dizeres destes jovens, seremos contatados vibratoriamente e estaremos presentes para auxiliar nas meditações, porque nos sentimos responsáveis por todos os desenvolvimentos e providenciaremos para que novas idéias se lhe despertem, com o intuito de tornar muito mais útil o que de per si é tão mesquinho e corriqueiro.
Que Deus nos ajude a todos na perseguição dos ideais espíritas!







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PALAVRAS DERRADEIRAS





Nem precisaríamos vir reforçar os agradecimentos que temos deixado expressos por todos os textos, pela benevolência da atenção dos amigos leitores e do caro médium. A turma manifesta-se solidária aos ensinamentos do Professor João, embora tenhamos ficado bem aquém de suas excelentes explanações, porque nos faltam recursos intelectuais para a percepção da complexidade científica. Mas vamos retendo aspectos importantíssimos quanto à moralidade, o que determinou o último desiderato da classe, tendo em vista que fomos inteirando-nos das dificuldades dos encarnados de aceitar o mínimo de transcendência científica, não afeitos aos ganhos elementares fundamentados na essência existencial dos espíritos.
Caminha a humanidade para o aperfeiçoamento da Ciência, no que toca às descobertas mais próximas da aplicação industrial, quando não motivadas pelo desejo de supremacia de uns povos sobre os outros. Kardec, mais de uma vez, se referiu aos litígios sangrentos como necessários para o extermínio das prerrogativas dos mais fortes, uma vez que sua visão era eminentemente evolucionista. Julgava (disso estamos bem certos) que aqui chegavam aptos ao exame minucioso das causas que deram origem às dissensões, às revoluções, às injustiças, prontos, portanto, para o progresso.
Quando estão na carne, os espíritos não possuem essa perspectiva histórico-psicológica, tendendo a considerar como de perda as vidas jovens. Eis que, finalmente, encontramos meio de referir-nos ao grupo, formado de seres de pouca permanência na carne, na última romagem.
— Os temas, precisamos intervir, não estão muito afins ao delineamento psíquico das criaturas que partem cedo. Parece ao encarnado que os textos apresentam grau de dificuldade superior e discussão de nível elevado. Seríamos melhor convencidos por manifestações imprecisas; empolgadas, sim, mas carentes de reflexão e imperfeitas quanto à fraseologia e ao rigor da esquematização retórica.
Nós levamos várias sessões discutindo esse aspecto e concordamos com que, caso as comunicações nada acrescentassem à mesquinhez cultural do momento da chegada (muitas vezes depois de passagem obrigatória pelo Umbral e pelas Trevas), não poderíamos pleitear dos humanos que dessem atenção aos escritos. Foi por isso que investimos em campo não de todo dominado, para demonstrar que estamos, também nós, desempenhando o papel de aprendizes do evangelho, neste misérrimo setor do Cosmos.
Em suma, devemos reafirmar o que dissemos inicialmente, ou seja, o quanto necessitados estamos de melhorar em todos os aspectos. Que nos valha a dissertação final para a rogativa ao Senhor, em prece que elaboramos plenos de felicidade por termos chegado ao fim desta fase escolar.

Senhor, aceitai a modesta contribuição da turma e fazei com que os leitores compartilhem desde momento de profunda alegria e desapego dos bens pessoais. Sentimo-nos orgulhosos pelo trabalho. Nem poderia ser de outro modo. Entretanto, rogamos a vós a benevolência de prosseguirmos exercendo os misteres que nos foram confiados, encaminhando-nos para tarefas sempre úteis. Aceitai, ainda, a solicitação de estarmos junto aos encarnados, toda vez que se sentirem estimulados pela leitura. Tornai cada um de nós responsável pelas comunicações, expurgai-nos da alma as péssimas propriedades que espargimos pelas mensagens e favorecei o aperfeiçoamento de todos, através da insuflação da verdade em nossos corações. Assim seja.
Indaiatuba, de 05.02 a 02.04.96.
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