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Contos-->Vida laranja e verde garrido -- 21/06/2004 - 17:08 (Isabel Fontes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Vinha eu descansado a descer o Chiado ouvindo a Madonna nos meus fones quando fui abordado por uma senhora que mais parecia saída de um filme mudo. A sua figura parecia mais saída daqueles filmes Europeus do século " troca o passo", vestia um vestido laranja com umas flores verdes bem garridas, os seus seios eram bastante volumosos e o cabelo estava todo amarrado e fazendo um totó muito desengonçado na parte de cima da cabeça. Que figura estranha. Despois de tirar os fones das orelhas pedi-lhe que repetisse toda a conversa, a figura queria saber onde ficava a loja das Meias, lá lhe expliquei, a senhora de vestido garrido e penteado fora do contexto, agradeceu-me e meteu as suas pernas roliças ao caminho.

Hoje começam os Saldos de Verão, uma ironia neste dia cinzento e de chuva em pleno fim de Agosto. Pessoas a entrarem à pressa nas lojas a remexerem em tudo, empregados que não conseguem controlar a fúria das pessoas a mexerem em tudo e a desarrumar as prateleiras das lojas atropelando-se por uma simples blusa de mangas curtas, os atrasos dos transportes públicos nas filas todos gritavam com alguém que tinha passado à frente de outro, os preços garridos e convidativos, o enxame de carros na Baixa sem sítio para estacionar parando em segunda fila obrigando os polícias a passarem multas, nos sinais já não existia vermelho nem verde quem chegasse primeiro passava. As pessoas passeando pela calçada distraídas com os pingos grossos que caíam, e, no meio de tanta confusão lá ia a figura de vestido laranja e flores verdes garridas, passando pelas pessoas e ignorando a confusão que gerada à sua volta.

Dei por mim a esquecer as horas e o encontro que tinha com o Hugo em frente ao Nicola para lhe entregar o programa de contabilidade que tinha conseguido rapar lá do escritório. A figura roliça e garrida chamava a minha atenção, comecei por entrar numa loja de biquinis, de uma marca pouco pronunciável, onde a figura, nome que lhe passei a chamar, remexia num fato de banho que mais parecia um sinal para as avionetas aterrarem em caso de emergência, como era possível aquele gosto. Cada vez me intrigava mais a figura. Entrei em loja sim loja não e passei por todos balcões, por todas as prateleiras vi e toquei em coisas que nunca me tinham passado pela cabeça, com tanta oferta acabei por comprar uma camisa rosa choc com riscas amarelas, influência da figura. Nunca lhe dirigi a palavra nem tentei, limitei-me a segui-la para todo o lado, chegou a hora de almoço e dei comigo numa daquelas tascas onde o óleo dos pregos e afins tinham a mesma cor. Sentei-me mesmo em frente à figura e observei-a a comer o seu belo prego cheio de gordura a escorrer pela boca as batatas fritas cheias de gordura, e eu a comer o mesmo. Por estranho soube-me bem.

Começámos o segundo roud numa loja de desporto, a figura já tinha à sua volta perto de 10 sacos o que a tornava ainda mais apelativa e caricata. Decidi mudar-lhe o nome e passei a chamá-la de Jaquina, achei o mais apropriado, consegui ganhar coragem e aproximei-me mais dela. Estava a ver uns ténis vermelhos com a marca escrita em azulão, fiquei aterrado, pediu o seu numero. Ao experimentá-los sentou-se num pequeno banco, que nem uma pessoa normal se consegue sentar direita, e vi toda a extensão das suas pernas até às coxas e o pormenor da barriga cheia de ondas, não era o mar, mas ondas de banha. Naquele momento tive imensa vontade de me rir a situação era demais, calçou os ténis e já não os tirou pediu ao empregado para tirar as etiquetas e saiu com eles, vi logo que as voltas não iam acabar tão cedo. Virou a esquina e entrou numa loja de charutos, pensei que melhor que aquilo era impossível, comprou a primeira caixa que viu e mandou embrulhar, eu fui apanhado por um empregado cola e acabei por comprar um charuto e lembrei-me do meu pai, e saiu muito apressada cheia de sacos e atravessou a rua sem reparar nos carros passando a alta velocidade.

Olhei para as horas e achei que já tinha material que chegava para contar logo á noite no jantar de família. Decidi abandonar a Jaquina. Depois da loja de charutos entrou numa perfumaria e perdia de vista , era gorda mas tinha cá uma genica, a hora do jantar já se estava a aproximar e ainda tinha que tomar um duche, esta correria atrás da Jaquina deixou-me todo transpirado e de rastos, e aperaltar-me para a família.

Cheguei a casa dos meus pais por volta das 19 horas, cheirava a lulas, já lá estavam as minhas duas irmãs, a Rita e a Marta, como sempre fui o último a chegar. A minha mãe ainda anunciou que vinha a tia Ermelinda do Norte jantar connosco, uma tia que só a Rita a conhecia pois tinha ido uma vez passar férias com essa minha tia lá na santa terrinha, fiquei curioso não era normal para um jantar da minha família. Faltavam cinco para as oito quando tocaram á campainha, fui abrir, para meu espanto era a Jaquina ela era a minha tia Ermelinda. Esbocei um sorriso ela com os seus gordos braços abraçou-me e dei-me um beijo na cara, com aquela boca onde eu já tinha visto gordura a escorre-lhe pela boca, felicitou-me por estar tão crescido desde a última vez que me tinha visto, tinha eu dois anos, o que era normal. Dirigimo-nos para a sala de estar e começou a entrega de presentes, tinha estado todo o dia a vê-la escolher prendas para a família, a mim calhou-me a caixa de charutos, fora o que já tinha comprado, tive de dar ao meu pai porque não fumo para tristeza da minha tia, acabei por receber outro presente uma t-shirt laranja e ramagens verdes, tal e qual o vestido dela, fiquei para morrer no que é que me tinha tornado.

Durante o jantar voltei a observar melhor a tia Ermelinda e após duas horas de conversa comecei mesmo a gostar dela, a sua simpatia absorvia toda a sua imagem castiça e os seus seios opulentos, combinei um fim-de-semana lá na santa terrinha que afinal chamava-se Mangualde.

Passados dois meses da minha aventura, com a figura Jaquina, falo todos os dias com a minha tia Ermelinda e até vesti hoje a minha t-shirt laranja com ramagens verdes. Desde a minha aventura na baixa lisboeta atrás da minha tia, sem saber, que tomei gosto e nas minhas folgas acordo cedo e dirijo-me para o chiado na esperança de encontrar alguém que me motive para o resto da semana, alguém que leve a vida laranja e verde garrido.

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