BRINCADEIRA DE MENINOS
Manhã de abril, café frio e fraco,
Pão de ontem, ou angu de milho cozido,
Feito na panela de ferro,
Na casa de Natan...
Sua mãe nada tem, não tem nada,
Na cozinha triste, quase sem comida
Nada se vê...
Nada se vê na casa de Natan...
Infância sofrida, nenhum brinquedo,
Brinquedo nenhum... Pai trabalhando,
Esperando o almoço que não vem,
Natan tenta brincar, seus colegas o apoiam
Voam como pardais em bandos
Saindo pelas ruas em disparadas...
Escondidos das mães,
Vão nadar no rio... contentamento vaporoso
Que a vida exala ao entrar na água...
Do rio não se vê a casa de Natan
Sente a presença do colegas,
Presença não maliciosa
De Hamilton, Haroldo e Vadinho seu irmão
Tudo é festança, tudo é brincadeira...
Quanta alegria, quantos risos...
Corpos de meninos nus
Entrando e saindo do rio...
Pulando do alto da ponte
Não se vê a casa de Natan...
A mãe desconhece todas essas estrepolias
De meninos nus, brincando, sorrindo,
Brincando e nadando...
Nadando na águas do rio...
Aparece uma cobra, a turma sai
Deixa-a nadar.
Só entram novamente quando
A cobra vai embora...
Do rio não se vê a casa de Natan...
Meninos brincando, meninos nadando,
Esquecendo-se da hora de almoçar
Um dos pais preocupado com a demora
De dois de seus filhos, avança pela estrada
Encontra os traquinas já perto do rio
Hamilton, o mais velho recebe um bofetão
Haroldo vai correndo na frente...
Natan fica com medo de apanhar
De sua mãe quando na sua casa chegar,
Na sua casa, uma surra está esperando
Por brincar no rio, junto com a garotada...
Na casa de Natan, sua mãe não o deixa brincar,
Está de castigo, mais uma vez...
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