Sempre que, de outro, eu aspiro,
O perfume suave, não identificado,
De muitas flores que ornam altares,
Sinto a alma embriagada,
Nos vapores sutilmente transportada,
Ao cenário dum passado remoto,
Onde presa a um corpo amado,
Sentia, de suas mãos, a quentura,
Levantando-me os cabelos negros,
Expondo meu pescoço arrepiado,
E a ávida boca sorvia, dos poros,
O vinho neles originado.
Os dedos nervosos erguiam os véus,
Tateando o caminho do portal do céu,
Penetrando, atrevidamente,
O átrio sagrado do prazer,
E nus, como havíamos nascido,
Dançávamos exótica dança do ventre,
Regida por ele, hábil maestro,
Fazendo de mim seu corpo de baile,
Que hoje só existe na recordação,
E, vez por outra, no sonho toma forma,
Quando sinto o perfume sem nome,
No corpo de outro homem.
19/09/03.
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