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Contos-->Um tanto de entusiasmo -- 16/06/2004 - 21:00 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




E ai o cliente explicava ao novo cliente o avanço do novo sistema:
_ Olha, Seu Belarmino, agora cada vez que o senhor usar nosso cartão ao fazer qualquer movimentação em sua conta corrente o senhor será avisado pelo celular.
_ Como é que é? – perguntou o incrédulo cliente
_ É isso mesmo, o Senhor usa o cartão ou movimento e pum, o celular toca.
_ Rapais mas que coisa boa!
_ É, em nosso banco o Senhor terá total segurança.
_ Só tem um problema.
_ E qual é?
_ Eu não tenho o Diabo do celular.
_ Não tem!
_ Pois é, seu moço, não tenho.
_ Mas não seja por isso. O banco vai dar um celular de presente para o Senhor.
_ O que é isso, só por causa de um troquinho desses?
O “troquinho” a que o fazendeiro se referia eram trezentos mil dólares.
_ Nada disso. Ponha seu dinheiro em nosso banco, que o banco vai dar um celular pro Senhor. E não vai ser qualquer celular não. Vai ser um Nokia 3520.
_ Como? Não era pra ser um celular?
_ Mas é. É a marca e modelo.
_ Mesmo?
_ Mesmo. Amanhã. Amanhã passa aqui que o seu celular vai estar esperando pelo senhor.
_ Bom, eu não pedi nada. Mas o prometido tem de ser cumprido – sentenciou o matuto.
E assim lá se foi o fazendeiro, que no mesmo dia transferiu sua conta.
Logo na saída do velho o arrependimento abateu-se sobre o gerente. Um telefone celular não era qualquer coisa barata. Não fazia idéia de quanto custaria o tal Nokia: uns trezentos reais...
_ Seiscentos reais! Seiscentos reais, Dona Lúçia?
Reagiu quando sua auxiliar apresentou o orçamento.
_ Não, não seu Fausto: quinhentos e noventa e nove...
_ E não dá na mesma coisa?
A auxiliar discordou e sustentou que o valor era um real a menos, portanto não era a mesma coisa.
Passou o dia matutando como solucionaria o problema. A primeira idéia que lhe ocorreu foi provisionar como despesa. Aumentaria compra de qualquer coisa e assim arranjaria o valor necessário. Logo desistiu. A maioria das compras era feitas pela matriz e as poucos miudezas que por ventura fugissem do orçamento nunca davam mais que cinqüenta reais. Um provisionamento de seiscentos reais poderia chamar atenção da inspetoria. E o tempo passava sem nenhuma idéia salvadora surgisse. Ele não tinha muito tempo, afinal seu cliente estaria na agência logo cedo e o celular teria que estar a sua disposição, senão qual não seria a decepção do novo cliente? E qual seria sua desculpa? “Seu Belarmino, estamos sem reserva para esta contingência, portanto seu celular fica para outro dia.” E como ficaria a imagem do banco? Sim ele fora muito claro quando disse que o banco daria o telefone. E sua palavra for dada: “ponha seu dinheiro em nosso banco que o banco dará o celular pro senhor”. Do jeito que falara, subtendeu-se que o banco e o gerente eram uma coisa só, e assim entendeu Seu Belarmino, que em seu vasto entendimento de primeira séria mal acabada, não distinguiria quem era quem. Além de quem ele não pediu nada, nem mesmo para abrir a tal da conta. Aquela manhã ele apenas queria pagar a luz e errou de banco. E para o barraco ficar completa, a política do banco proibia de dar ou receber presentes. Se essa estória chegasse a Supervisão ele estaria em péssimos lençóis. E vejam que o destino lhe pregava uma peça: aquele cliente tinha chegado justamente na semana em que ele tinha que atingir uma quantidade enorme de depósitos, assim não podia perder esta oportunidade de cativa-lo e recuperar sua imagem junto ao Banco. Sua vida estava toda construída no Bairro de Afogados, e a ameaça de uma transferência pairava no ar. Sua filha estudava num ótimo colégio e sua esposa vendia seguros do próprio banco – uma boquinha arranjada – e ele era gerente de uma agência disputada. Resumindo: ele precisava do celular.
_ Dona Lúçia!
Ordenou que sua devotada funcionária fizesse uma caixinha dentre os funcionários da agência.
_ Mas qual seria o motivo?
_ Diga a todos que eu resolvi fazer um doação para o IMIP. Coisa de seiscentos reais. Todos devem colaborar, todos, afinal a causa é justa e temos que ser caridosos. Vá, diga isso e hoje!
Lá se foi Dona Lúçia para a ingrata tarefa da ação entre amigos. Porém a empreitada fora infeliz, conseguindo apenas míseros setenta reais.
_ Só isso, Dona Lúçia?
_ É...- respondeu, tremendo toda.
_ Quantos funcionários temos?
_ Trinta e cinco.
_ Turma miserável!
_ Sim. Vá até a loja e compre aquele celular que eu mandei orçar hoje cedo.
_ Sim senhor.
E lá se foi Dona Lúçia, portando cinco cheques pré-datados, para a loja de celular. Cada cheque saiu com um pontasso no peito. Um terço do seu salário jogado pela janela. Maldita promessa.
Dos males o menor. No final do expediente lá estava o telefone sobre sua mesa. Uma beleza, novinho e pronto para uso. E sua mulher que sempre quis um daqueles e ele sempre negara, alegando a necessidade de se economizar. Pra que pagar tanto dinheiro se existiam aparelhos bem mais baratos. Por fim ele comprou um daqueles promocionais, compre um leve dois.
Ao chegar em casa, como de costume, tirou a carteira e deixou na cabeceira da cama. E como por hábito, sua esposa fazia tradicional vistoria pente fino, na busca de algum telefone, nota de despesa em motel, presente para alguma amante, etc. Aliás, este cerceamento, em menor ou maior escala, toda mulher sempre faz. A mulher acha que todo homem trai, sem exceções. De certa forma, considerando que o simples pensamento peca, todos traímos. Existe uma diferença clara na concepção de traição de homens e mulheres. Para a mulher o simples pensar já constitui ato de traição. Para nós homens a traição precisa ser consumada de fato. Esta busca soa repulsiva para nossa Sagrada Ordem dos Maridos Fiéis.
E fidelidade era com Fausto mesmo. Se houvesse uma graduação para fidelidade ele seria no mínimo mestre. Chamais tomara qualquer atitude que ferisse o sagrado laço matrimonial. Olhar até que olhava. Pensar, pensava. Afinal como não olhar e pensar diante de tantas bundas e tetas fartas, somadas as tardes quentes recifenses. Mas daí a dizer que tenha saído com outra mulher... Nunca! Ele não era homem para essas coisas, faltava-lhe coragem. Nem tanto coragem, mas jeito pra coisa. A única mulher que namorou foi sua esposa. A primeira e fim. Como seria conquistar uma mulher hoje? Antigamente bastava um ramalhete de flores e pronto. Isso não o livrava da desconfiança caseira. Com tanta mulher dando sopa por ai...
E nesse revirar de carteira eis que surge a prova do crime: cinco cheques pré-datados de cento e vinte reais. O que ele teria comprado? Vejamos... Buscou, fuçou, revirou e surgiu a constatação irretocável da falta cometida: a nota fiscal. Um telefone celular, último lançamento, igualzinho aquele que ela sempre quisera, em nome de .... Lúçia Rodrigues. Sim, Lúçia Rodrigues, a auxiliar que trabalhava com ele no banco. Então ele tinha um caso com aquela piranha.
Todas estas conjectura passaram pela cabeça da esposa traída. Mesmo que saibamos que o pobre Fausto é inocente, não podemos tomar parte no caso, pelo óbvio motivo de estarmos do outro lado e pelo tempo, pois nesse momento nosso pobre gerente, saído do banho, esfolava o rosto diante do talão de cheques firme na mão da esposa.
_ Como o Senhor explica isso, seu Fausto?
_ Isso, isso o quê?
_ Isso, seu Fausto – jogando os canhotos dos cheques juntamente com a nota fiscal do telefone.
Num primeiro instante ele poderia falar somente a verdade, que lhe sairia mais barato. E sua postura sempre correta era o álibi necessário. Porém tinha a Nota Fiscal, onde por providência e adequação do momento, sem levar a compra maiores necessidades cadastrais, Dona Lúçia mandara tirar em seu nome. E a verdade, nessa condição, soaria como a desculpa mais esfarrapada do mundo. Vejam o que a falta de malícia faz com um homem. Nem para um amante fajuta ele servia.
_ E então seu Fausto, a quanto tempo?
_ A quanto tempo o quê?
_ A quanto tempo tu saí com essa Lúçia?
_ Que, que Lúçia?
_ Essa que tu presenteou com o celular. Pra mim nunca teve dinheiro, agora pra essa sirigaita tem.
Nem mesmo a presença de sua santidade mudaria a certeza da mulher. Estava prestes a perder o emprego ou a mulher, ou ambos.
Diante do aperto, e olha que numa vida tão pacata os apertos foram poucos, o que dificultou uma saída melhor além da óbvia:
_ Mas querida, o celular é pra você.
_ Pra mim?
_ É, amorzinho. Eu queria fazer uma surpresa, por isso deixei no banco, pra trazer amanhã.
E quando a embasbacada esposa estranhou um presente como aquele , sem houvesse uma data que o merecesse, mais uma vez o Diabo entrou no negócio. Sim, pois o amigo há de concordar que para uma mentira Ele sempre aparece a tempo.
_ Como querida! Não lembras do nosso noivado?
_ Noivado?
_ Que data é hoje?
_ Cinco de setembro.
_ Então, foi em sete de setembro que a gente noivou.
_ Foi?
_ Foi. Lembro ainda hoje que fomos para a parada militar, lá em Surubim.
_ É...
E assim o caso, que nunca existiu, morreu como se tivesse existido. No final ficou a sensação de que alguma coisa fora ocultada, um pesar, um remorso, um... sei lá.
Na manhã seguinte lá se foi Dona Lúçia compra outro celular. Sim pois agora seriam necessários dois telefones e mais prestações. Que estranho, pensou ela, mas chefe tem suas manias, e ela era paga pra cumprir ordens, não pra pensar.
Ao abrir a agência Seu Belarmino apareceu portando a ordem transferência do Banco do Brasil, no valor combinado.
_ Certo, Seu Belarmino. Muito obrigado por confiar em nosso banco.
_ Que que é isso, eu só disse que faria e fiz. E o senhor?
Fausto entendeu o recado do roceiro.
_ Aqui esta, seu Belarmino, o telefone prometido – e estendeu a caixa da Tim, com o telefone devidamente habilitado.
_ O senhor é homem de palavra mesmo.
E o velho se foi todo contente, deixando um fausto desolado, com uma despesas fora do orçamento.
Passou uma semana e Seu Belarmino entrou no Banco irado.
_ O que foi Seu Belarmino - perguntou Fausto apavorado.
_ Essa porcaria que o Senhor me arranjou - jogando o aparelho sobre a mesa do gerente – o Diabo não pára de toca. A cada minuto uma chamada, e da mesma mulher, dizendo a mesma coisa. É muito perturbação. E tem mais: vou tirar minha conta dessa esculhambação.
E na mesma hora sacou todo o dinheiro, devolvendo para o Banco do Brasil.
Eta vida miserável.



























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