O GRANDE PEREGRINO
Não vi Cristo no lombo de Seu jumento,
Alimentando multidões no deserto,
Em montanhas declamando Seu evangelho
Ou nas estações de Seu flagelo.
Tampouco vi Sri Krsna em sua biga
Retardando a batalha no campo,
Mostrando ao arqueiro Arjuna
Os sentidos que daria à vida.
Nem vi Siddharta em seu isolamento
Renunciando aos bens de família,
A meditar nas alturas do Tibet,
Ensinando o inevitável como alento.
Também não vi Gandhi,
De corpo moreno e alma transparente,
Enfrentar nações e subjugar exércitos,
Ensinando a auto-estima a sua gente.
Perdi o tempo de Maomé e dos Orixás,
De Luther King e Che Guevara.
Cheguei tarde para a obra da Madre.
Mas vi um Grande Peregrino
Adotar a terra e recuperá-la
De uma tormenta que a molestava.
Ele uniu exércitos de velas
Em punho de jovens e anciãos,
Negros, brancos, mestiços,
Detrás das muralhas do oriente,
Nos confins oprimidos do ocidente.
Sem armas venceu batalhas e guerras,
Nações inteiras na face beijou.
Curou almas e num só rebanho
Todos os homens de bem guiou.
A luz azul de seu olhar
Mostrou o céu aos oprimidos.
Com sabedoria, coragem e humildade
Levou aos povos a verdade do paraíso.
A dádiva divina me foi concedida
De ver este Grande Peregrino
Adotar a humanidade como família
E a paz de todos pregar em sua homilia.
Viver em seu tempo foi uma graça,
Sua peregrinação foi uma aula,
Compor seu rebanho é um privilégio,
Guardar sua memória é uma oração.
A humanidade a quem abraçou
Chora como órfã seu adeus,
Mas sabemos que sua caminhada não cessou,
Pois és o próprio milagre, João de Deus.
Enquanto tuas mãos, em sinal de benção,
Do trono do universo nos acena,
Nós, seu eterno rebanho,
Sentiremos no espírito sua presença.
Meu tempo minguará como a lua.
Na escuridão do céu e no pranto aprisionado
A saudade divagará em meu pensamento.
Restarão-me suspiros de felicidade
De ter vivido os anos de Vossa Santidade.
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