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Cronicas-->História perdida -- 23/07/2003 - 23:03 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Orlando é garçom em um pequeno bar numa destas entrequadras da Asa Sul em Brasília. Como ele diz, pega às oito e vai até o último cliente sair, o que não ocorre antes das três da madrugada. Antigamente esperava o cliente sair para guardar as mesas da rua e tomar as providências para o encerramento. Hoje não, deu duas horas e ele começa a varrer o chão, como faziam as sogras antigamente, sinalizando que já era hora dos namorados irem para casa. Outros tempos, mas a idéia é a mesma, ver se o pessoal se manca e pára de enrolar a última cerveja.

Nesta hora ainda tenta vender mais alguma coisa para todos - geralmente poucos - dizendo que a chamada saideira não pode faltar. Geralmente cola, mas nem por isso interrompe sua lida, deixando claro que é para beber logo, que as histórias, memórias, choros e cantadas devem ser encerradas o quanto antes.

Orlando é dado à estatísticas e vai fazendo suas anotações em guardanapos de papel. Depois transcreve com o maior cuidado para uma de suas cadernetas. Diz que já andou mais de quinze mil quilómetros, só neste bar em que trabalha há três anos. Nos outros ele não sabe ao certo mas estima em coisa pra mais de cem mil quilómetros. Não raro traduz isto em número de voltas na Terra ou na distància á Lua. Ele é louco por números. Um espanto. Na realidade, Orlando só erra na conta do cliente, mas é coisa pouca, nunca mais de vinte por cento. Diz que é para desafiar os clientes, instigando-os ao raciocínio e jura nunca ter enganado um cliente bêbado. Ele tem sua ética.

Naturalmente Orlando tem seus clientes preferenciais, não pela gorjeta, que anda escassa, mas mais pelo companheirismo destes anos todos. Há um cliente em especial a quem ele afirma ter servido mais de quinze mil e quinhentos mil chopes. Orlando é louco por números. Ele só não diz o número exato por ter perdido sua caderneta de anotações em um assalto que o bar sofrera anos atrás. Não neste bar, foi num outro no qual servira novecentas e vinte e oito sopas de cebola, servidas no pão italiano, apenas em dois dias de inverno. Foi uma pena, pois naquela caderneta, a de número trinta e três, Orlando tinha preciosidades anotadas como o número de caipirinhas servidas na posse do Presidente Sarney e a contagem precisa dos canapés servidos na última recepção de que o Presidente Figueiredo participou. História pura que um dia poderia ser recuperada.

E pensar que o ladrão deve ter posto a caderneta fora. Podia ter devolvido.

Escrito em 16.07.2003
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