Usina de Letras
Usina de Letras
164 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62266 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10379)

Erótico (13571)

Frases (50655)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4776)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6203)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->UM ABISMO PROFUNDO -- 08/06/2004 - 05:26 (Felipe de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Como gostaria de ter uma voz amiga do outro lado do oceano Atlântico. Um eco longínquo que desnudasse uma outra metade de mim. Essa porção secreta que transporto durante anos a fio e, a força de ignorá-la, se dilui metafisicamente dentro do meu corpo. Não deixando resídios. Não deixando rastros. A cada dia se fossilizando ainda mais. Como gostaria de ter uma voz do outro lado do oceano. Que me fizesse esquecer essa doença cotidiana de viver e pudesse penetrar profundamente no meu lado encantado e infantil.

Meu Deus ! Como seria maravilhoso, uma voz amiga, distante e, ao mesmo tempo, tão próxima, num porto qualquer do outro lado do oceano Atlântico. Uma voz amiga e sincera, independente das intempéries da existência, onde fosse possível trocar idéias, vivências, sonhos e confidências. Uma voz que eternizasse as nossas emoções : mesmo se estas emoções são na sua grande maioria simplórias e ridículas.

Um amigo sem idade, sem rosto, sem preconceitos, sem sexo, apenas uma voz. Sem julgamentos, sem punição e sem palavras duras de adeus. Apenas uma voz apaixonada pela vida que ecoa do outro lado do oceano. Um canto mágico de sereia. Uma voz que chega de longe, mas tem o dom de escutar as confidências mais secretas. Uma voz que questiona e que perdoa sempre. Repetidos perdões. Uma voz suave que possui a magia de atravessar os oceanos e contar histórias belas e triste de um passado não muito distante.

Como gostaria de encontrar alguém distante e, ao mesmo tempo, bem próximo de mim para passearmos de mãos dadas por estas ruas e avenidas. Alguém que pudesse sufocar a totalidade do meu medo matinal e, no silêncio desabusado dos dias, pegasse na minha mão e me ensinasse a traçar um círculo perfeito. Um círculo de vida aonde fôssemos todos os dois tão especiais. Não houvesse mentiras, medos, disputas desnecessárias e a cada momento uma troca de verdadeiros sentimentos. Um paraíso terrestre. Um lar. Um mundo encantado só nosso; aonde pudéssemos deslumbrar o futuro do alto dos nossos cadafalsos.

Durante toda a minha vida colecionei perdas preciosas, uma danação de partidas, algumas vezes fui o culpado, outras, a vida foi nos separando e nem sequer notei que uma parte de mim estava indo embora naquela despedida. Como reter as pessoas próximas do nosso coração ? As pessoas que amamos, por vezes, passam tão rápidas na nossa existência que nem temos tempo de eternizar alguns momentos. Basta um instante de descuido e tudo ao nosso redor se transforma, vai corroendo todos, diluindo-se vertiginosamente, deixando apenas uma vaga lembrança. Acho que precisamos nos acostumar com as perdas, pior ainda, acho mesmo que precisamos aprender a dizer adeus a cada momento da nossa existência.

Talvez nem todos partam verdadeiramente, talvez fique sempre qualquer resíduo dentro de cada um de nós, que nos faça lembrar, mesmo remotamente, de alguém que amamos. Quantas vezes repito esta frase ? Como gostaria que as pessoas estacionassem muito mais tempo na minha vida. Que não fossem sempre obrigadas a partir, de um momento para outro, longe, bem longe de mim. O que me inquieta são as distâncias. Essas distâncias existenciais que vai corroendo tudo ao nosso interior e nos absorve quase inteiramente à vontade de viver.

Sem bem saber porque, eu estou a beira de um abismo, pior, por vezes, eu sou o abismo. Sinto um vazio enorme sob os meus pés. Tudo é muito próximo. Quase incoerente, por maior esforço que faça, não posso evitar essa dualidade que ronda magistralmente minha alma. Pareço não existir realmente, desapareço, como num espetáculo circense de magia. Tudo reside exclusivamente neste anonimato. Nesta incógnita que teima em atravessar os meus pensamentos nas horas mais inoportunas.

Eu sou o abismo mais profundo e misterioso que ninguém ainda conseguiu imaginar. Nestes momentos, tudo e todos, ao meu redor são indiferentes, terrivelmente indiferentes. Eu não os sinto na sua totalidade, não os toco, nem sequer os escuto verdadeiramente, eles são todos absolutamente indiferentes e não posso fazer nada por eles e nem eles por mim.

Trecho de “Fragmentos Submersos”, editado pela Livrorapido.com


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui