Nunca duvide
José Mattos
Olhe pra trás o menor que puder
São fantasmas que nos seguem silenciosos
Destilando loucura em entrecortados risinhos de escárnio
Idêntico ao guincho das ratazanas que perambulam pelos esgotos
Não olhe pra trás,
Ao menos que queira insanamente revolver “Ex-Vitas” no ciclo infinito,
soterradas sob os escombros do passado remoto
Não duvide, jamais.
Os fantasmas te seguem castanholando os esqueletos
Ao menor descuido, sua alma há tempos cotejada, cede e baixa a guarda
Cedendo espaço para a irreflexão.
O principio é um sufocamento, arde em chamas o estômago,
Um zumbido infernal de abelhas picam os tímpanos inescrupulosamente, envenena a alma
Gira em órbita a cabeça em livre queda
Uma queda suave, planada, infinita, como as alucinações.
Impalpável como uma folha seca que desce na vertical, oscilando horizontalmente
Sob o bafejo morno do outono.
Se acaso ouvir passos à retaguarda
Como se ressoasse os seus próprios
Não olhe pra trás, são eles com gatimônhas
Para Corromper teu espírito
Sopram-lhe aos ouvidos, ventinhos gelados
De arrepiar todo o corpo
De eriçar os pêlos
Pisam de ranger o assoalho, batem à porta com os nós dos dedos,
derrubam panelas pela cozinha, vão ao piano, ao violão,
Assusta o gato, o cão...
Não duvide
Não olha pra trás
Nem em pensamentos
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