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Contos-->A COMPENSAÇÃO – 2ª parte -- 04/06/2004 - 22:13 (adelay bonolo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A COMPENSAÇÃO – 2ª parte

Um dia, inesperadamente, como que caída do céu, encontrei a moça com quem viria a casar-me daí a poucos meses de namoro. Era bonita, sem ser maravilhosa, elegante e caprichosa no vestir, sem ser afetada, esbelta e dona de uma voz “caliente”. Não era muito meiga e carinhosa, mas seu jeito me agradou e passei a considerá-la a mulher da minha vida.
De boa família, recém-egressa também de outra faculdade, era exatamente o oposto das pessoas do sexo feminino com quem mantivera até então algum relacionamento. Tudo isso me cativou e fez-me esquecer as dificuldades passadas e os maus momentos vividos.

O casamento foi seguido de grande festa, havendo comparecido toda a família de ambos. Minha vida mudou para melhor, meus complexos desapareceram (ou se esconderam!) e minha timidez deu um tempo. Com todo aquele arcabouço histórico, pus nessa mulher todas as minhas esperanças, sabendo que tinha sido a melhor coisa que já me acontecera. E não era para menos! Tratava-a como princesa e na cama dava o melhor de mim, embora reconhecesse que não era bom amante. Meus complexos e experiências anteriores deixaram seqüela indelével.

Não sei se foi por isso ou se apenas contribuiu, um dia ela me confessou que não gostava mais de mim. E disse assim, sem mais nem menos! Sem nenhuma preparação, de chofre! Foi um choque terrível, como se o mundo tivesse desabado sobre minha cabeça. Tudo perdeu a razão de ser.

Fiquei desarvorado. Bem que havia notado que de uns tempos para cá ela se esquivava de mim e sempre que eu chegava do trabalho, não importava a hora, já estava dormindo ou com muita dor de cabeça. Reparara também que passou a ajeitar o cabelo de forma diferente, bonita, como nunca vira antes.

Se não gostava mais de mim e sendo ainda muito jovem, a qualquer momento passaria a gostar de outrem. Essa idéia me apavorava. Tentei, a todo custo, reconquistá-la. Perscrutava em nossa vida a causa do desamor. Comecei a fazer exame de consciência de tudo o que acontecera e de tudo o que fizera e fazia. Esmerava-me em cortejá-la e em tratá-la bem. Mas de nada adiantava, seu desamor era irredutível e muita vez chegava ao desdém, ao desprezo mesmo.

Passei a pastorá-la, seguindo-lhe os passos, e se a não encontrasse em casa, o coração parecia querer sair-me pela boca fora. A ansiedade era tanta que me fazia ofegar incessante e violentamente. Às vezes dava por mim a chorar pelos cantos e à noite, ela ali a meu lado, virada sempre para o outro... eu suspirava de amor, mas não havia a menor correspondência.

Não durou muito e, como sempre, fui o último a saber e pela sua própria boca! A separação foi inevitável e consensual. Pouco se me importava o destino e partilha dos bens, assim como a guarda dos filhos. Tudo havia desmoronado. Tudo perdera a graça por completo. A imagem da infidelidade, as cenas, as palavras, a doação a outrem do amor que julgava me pertencer, tudo isso passava pela minha mente como numa tela de cinema e me infelicitava ao extremo.

Fiquei casado cerca de 15 anos, tendo-me restado do casamento, além das penosas lembranças, a presença de dois filhos que são o refrigério de meus dias.

Com a separação, toda a problemática anterior ao casamento (timidez, complexos etc.) voltou e bastante reforçada, agora com aquela experiência dolorosíssima.

Estou sozinho há mais ou menos cinco anos e até hoje a lembrança do passado me embarga a voz e às vezes me pego chorando, ainda pelos cantos.

***

Estava absorto nesses pensamentos, relembrando em pormenores os episódios de minha vida, quando toca o telefone. Era Cláudia, exatamente aquela moça que encontrei na noite anterior na cervejaria e que julgava havê-la perdido para todo o sempre e quem me fez viessem à baila as recordações aludidas nas linhas anteriores.

— Não saia de casa, disse-me ela ao telefone. Dentro de 10 minutos estarei aí.

Achei esquisito: não me perguntou o endereço e não lhe passara o número de meu telefone. Que estranho!

Menos de 10 minutos depois, toca a campainha, abro a porta e ei-la que surge radiosa, magnífica, maravilhosa, com aquele sorriso maroto desenhado no canto esquerdo da boca.
“Não acredito”, pensei comigo. “Não mereço tudo isso!”

—Não diga nada, respondeu-me, como que adivinhando meus pensamentos.

—Mas...

—Psit, disse-me ela, agarrando-me ao pescoço.

Nesse instante uma sensação de calma, tranqüilidade desceu sobre mim, parecendo-me flutuar nas nuvens, voando, voando... aquela maravilha de mulher estava ali, colada ao meu corpo, que vibrava de emoção, tocando seu rosto no meu, macio e com um perfume...

Não sei o quanto ficamos assim agarrados, numa simbiose extraordinária. Toda a minha problemática desaparecera por completo. Algum pensamento negativo que teimasse em sobrevoar minha mente era de logo rechaçado pelo calor de seus beijos.

“Meu Deus”, pensei, “por que tudo isso, agora?”

— Compensação, pareceu-me ouvi-la dizer. Ou seria... Conceição...

— O quê?, tentei perguntar, mas nunca lhe obtive resposta. Cada vez ela mais me abraçava e me beijava, como se fôssemos amantes de longa data.

A presença de Cláudia na minha vida foi, na realidade, uma grande compensação de todos os anos de amargura, tristeza e sofrimento que tinha passado. Tudo em que ela tocava se transformava em amor! Nossa casa passou a vibrar de felicidade! Até o conceito de mau amante que fazia de mim mesmo desapareceu.

Tornei-me ótimo, apesar de meus quase 45 anos. Os lugares da cidade, que haviam perdido a graça com a fase desastrosa do casamento e que me traziam lembranças doloridas, recuperaram o encanto. Rejuvenesci alguns anos. Meu rosto, normalmente triste e de sobrecenho cerrado, iluminou-se. Ficava patente para todos, só em me ver, que eu estava feliz, muito!

***

E assim se passou muito tempo, não sei quanto; em época de felicidade os relógios trabalham depressa; até que um dia... inesperadamente, da forma como veio, o sonho desvaneceu-se. Cláudia desapareceu, deixando profunda lacuna em minha vida. Não lhe guardei o telefone, nem o endereço, que sempre se recusara a informar.

Procurei-a por toda a parte, pus anúncios em jornais, visitei necrotérios, perguntei aqui e ali, por todos os lugares e... nada! Ninguém jamais a tinha visto. Voltei a freqüentar a mesma mesa da cervejaria, na esperança de reencontrá-la.

Busquei em vão localizar uma fotografia sua, mas infelizmente dela não guardei nenhuma, se é que houve alguma. Parece que Cláudia passou pela nossa vida, transformando tudo e a todos e não deixou rastro. Ninguém a conhecia ou dela se lembrava. Não havia nenhum papel, nenhum documento, nada, nada que pudesse se referir a ela. Como podia isso? Jamais me preocupara em registrar sua presença de forma mais efetiva, tanta era a felicidade que com ela experimentava!

Lembrei-me que ultimamente ela falava muito de Altinópolis, parecendo conhecer-lhe inclusive as pedras da rua. Liguei para lá, falei com minha irmã. Fiquei de viajar logo.

Viajei. Chegando lá, procurei minha irmã, a quem contei toda a minha história recente vivida maravilhosamente com Cláudia, que agora desaparecera. Ouviu atentamente e acho que ficou muito sensibilizada com o meu desespero. Daria voltas comigo pela cidade para procurar não sabíamos bem o que seria, alguma coisa que pudesse ligar-se a ela...

Passamos vários dias procurando em vão. Numa tarde, vi de relance, recostada à grade do jardim da frente da casa, uma garota que me chamou a atenção.

— Chama-se Conceição, disse minha irmã; é moça com deficiência física, fala pouco e escuta menos ainda. De nascença, dizem. Nunca sai de casa, a não ser para as idas ao hospital.

Aproximei-me, querendo fazer contato com ela.

Minha irmã entendeu a intenção e tentou persuadir-me, segurando-me pelo braço. Cheguei mais perto e notei a incrível semelhança entre ela e a minha Cláudia, se bem que pouco mais nova que essa.

— Olá, pensei dizer, você não ...

Ela se virou vagarosamente, olhou-me fundo nos olhos e pareceu-me sorrir, o mesmo sorriso malicioso desenhado no canto esquerdo da boca.

Voltou-se em seguida para o outro lado, levantou a cabeça e pôs os olhos no infinito, lentamente...

adelay bonolo
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