Ao que se nota, como em todos os lugares e situações, ultimamente as mulheres tomaram conta dos botecos. Não estou certo se é tão ultimamente assim. Como não tenho ido muito a bares e assemelhados, há um grande risco de eu estar totalmente por fora. Falo assim, grande risco, mais para eu me sentir melhor, na realidade eu provavelmente estou totalmente por fora. O "provavelmente" é por conta de uma nesga de esperança, mas não há chance, há que fazer uma reciclagem.
Mas o fato é que há tempos, ou mais recentemente, as mulheres tomaram conta dos botecos e bares, mais os bares. Ou estarei enganado novamente? Boteco que eu falo é boteco mesmo, nada de bares cenográficos reproduzindo o sujo da esquina. Falo no próprio, com mesa de cervejaria enferrujada - a mesa, não a cervejaria - croquete da Dona Maria e caldo de feijão aos sábados e pagode a partir das quatorze horas.
Também não falo na simples presença feminina, sempre tão bem vinda. Falo de mesas na linha "clube da luluzinha", onde elas se isolam para conversar sabe-se lá o que, mas tudo indica seja divertido.
Mais um ponto em que os homens perdem o comando. Parece justo. Melhor, seria justo. Seria justo se não abusassem, tomassem conta do ambiente todo. Não se sabe ao certo o que falam as mulheres nestas rodas de bar, mas tudo leva a crer que é algo semelhante ao que falam nos banheiros. Mulher gosta de banheiro, melhor dizer toalete, de bar. Os comerciantes deviam investir mais neste quesito. Ou investem e eu não sei. Como poderia?
Não devem trocar pontos de crochê, nem receitas de ensopados. Talvez uma dica de patê ou geléia de fruta exótica. Talvez alguns macetes para o amor. Não, acho que não. Duvido que tenham esta solidariedade toda. Mulher é fogo, muito mais quando tem homem na jogada. Também não trocam receitas de doces dietéticos.
Ao que tudo indica, o assunto é sempre o mesmo: homem. Sinal dos tempos. Iludir-se-ia quem achasse que já foi diferente. Sempre falaram, a diferença é que hoje em dia não há motivo para negar e imagino que o vocabulário seja mais explícito. Sei lá. Escrevam com depoimentos, serão aproveitados sem nomes, apenas com objetivos científicos. Se preferirem, as moças podem escrever anonimamente, assinando algo como "loira sincera" ou talvez, "morena magrinha e sensual" ou ainda "cheinha cheia de amor". Fiquem à vontade. Marmanjos não precisam escrever, a menos que tenham muita experiência na questão, o que duvido. Outro dia eu faço uma pesquisa com eles para saber sobre pescarias no Araguaia.
Assim, não há motivo para negar, é evidente que falam de homens. Algumas com veemência, outras com entusiasmo, muitas com uma certa tristeza, com cara de "coisa pouca". Não raro gesticulam, esclarecem seus pontos de vista. Bem, não entendo o que querem dizer com certos gestos, ao que parece há todo um simbolismo só delas conhecido, um código secreto.
Tudo isto é aceitável. O que dói é quando apontam para a "mesa do bolinha", fazem um breve silêncio, algum gesto indecifrável e depois riem à s gargalhadas.
Não vejo a menor graça.
Escrito em 19.07.2003
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