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Contos-->Trocados -- 31/05/2004 - 15:30 (Isabel Fontes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tinha a mania de ficar quieto no canto das salas, com o olhar perdido no tempo, braços cruzados, mordendo os lábios. Por dentro parecia arder, mas por fora não se via nada, respirava muito depressa e ás vezes um pouco ofegante. No seu interior desenrolava-se um mundo de alegria, com muita luz e fantasia. Chorava muitas vezes. No outro mundo não existiam lágrimas, levava uma vida fácil. Reconfortava-se.

As portas ainda permaneciam fechadas, o barco ainda flutuava em direcção á ilha. Estava um nevoeiro cerrado, só se ouvia o bater de asas de gaivotas a sobrevoarem o barco.

Eram os gemidos de boas vindas.

Estava sentado cá fora a contar as moedas que tinha no bolso do meu casaco já gasto. Dirigia-me para uma nova vida, numa nova terra, só com a certeza de um emprego numa editora e dinheiro certo para o café. O barco balançava através do oceano, largando espuma branca por ambos os lados da proa. Fechei os olhos e tentei imaginar a nova casa que me esperava, o meu novo lar. Era a primeira vez que ia viver junto ao mar, tão longe da capital. Ao fim de dez anos de um casamento planeado, tinha chegado ao fim, tudo me parecia estranho.

Uma rajada de vento mais forte despertou-me, ocorreu-me o facto de o clima na nova terra ser bastante diferente do que estava habituado, parecia-me um bom começo. Tinha tido bastante trabalho a organizar aquela viagem, não tinha deixado nada ao acaso. Comprei o bilhete de barco uma semana antes, as minhas roupas estavam todas dobradas dentro de um saco de viagem colocado na mala do carro, no banco traseiro trazia o pouco que me tinha calhado depois da separação. Agora ao pensar na maneira como tinha visto o anúncio, tinha coincidido com o dia em que tinha assinado o divórcio á dois meses. O meu agradecimento pela oportunidade que me tinha sido dada pelo editor e as felicitações que os meus colegas me tinham dado, naquele momento tudo me assentava. Apenas as duas moedas que eu tinha no bolso do meu casaco gasto, pertenciam ao meu passado.

O barco atracou, fui o primeiro a entrar no carro e a sair pelo pontão.

Parei junto á primeira porta de pastelaria que encontrei, olhei e entrei. Ao fim de dez anos apenas duas moedas me prendiam ao passado. Pedi um café. Ao pagar, aquele gesto estava destinado a dar-me coragem, percebi que era o início de algo, o principio de uma nova etapa na minha vida. Agora partia em direcção ao novo lar que me esperava, ao novo trabalho.

Tinha uma direcção.

Durante muito tempo nunca me tinha deixado libertar, senti-me livre no momento que me livrei das moedas que tinha no meu casaco já gasto.

O mundo escondido era um novo filtro para uma vida sem mágoa, sem responsabilidades.

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