Usina de Letras
Usina de Letras
149 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62191 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10352)

Erótico (13567)

Frases (50598)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Mais um dia -- 31/05/2004 - 15:12 (Isabel Fontes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mais um dia que passa, mais um dia de ilusões. Hoje não me sinto com grandes capacidades para o que ainda está para vir, estou muito debilitada, a cabeça não está a funcionar correctamente. Mais um dia que acordo e não te encontro a meu lado, horários trocados dá nisto. Um de nós devia abdicar da boa vida, do bom emprego, tudo isto está a destruir o que existia de bom na vida em comum. Começo a tentar perceber o que realmente está errado nesta relação, os dois pensamos saber tudo. Ainda no outro dia conversava contigo e tu só te limitavas a abanar com a cabeça, foi um pouco triste, só percebi quando parei de fazer perguntas e tu continuavas com a cabeça para cima e para baixo. Como na lavandaria em que eu já quase discutia com a empregada e tu que sempre me acalmavas, simplesmente te limitas-te a ver e ouvir, como quando vamos ao hipermercado e tu já não te importas com a qualidade do papel higiénico, com a sua cor.
Hoje levantei-me mais cedo para ver se ainda te conseguia apanhar no meio das torradas, mais uma vez vi a porta a bater. Logo hoje que eu tirei o dia de folga para poder conversar contigo, passar o dia abraçada a ti como nos velhos tempos em que um simples abraço era como uma noite de amor. Nem sei o que irei fazer, se ler, se arriscar em ir ter contigo ao escritório e tentar almoçar. Bem, fui ter contigo.
Cheguei por volta do meio-dia, estavas numa reunião, esperei, a tua secretária simpática serviu-me um café. Olhava-me como se eu fosse uma peça rara, como se fosse algo precioso, penso ter sido essa a ideia que deste às pessoas. Acabou a reunião, saíste e pediste para eu aguardar um pouco, esperei, esperei. Nunca mais saías, levantei-me e entrei na tua sala, estavas ao computador, com esperança pensei que estivesses a trabalhar, qual o meu espanto, estavas a jogar ao “Tetris “. Pediste desculpas e saímos para almoçar, eu nem queria acreditar, pediste desculpas como quem pede um copo de água. Fomos calados o caminho todo, as montras eram o meu divertimento, gostei muito das calças verdes, ao fim de três quarteirões chegámos ao restaurante. Entraste e quase te esquecias que eu vinha atrás, pediste novamente desculpas disseste que era o hábito de andar sozinho. O empregado do restaurante indicou-nos a tua mesa do costume, só tinha um prato e pediste outro, a comida tinha bom aspecto. Passámos o almoço como dois gagos, um dizia sim e o outro confirmava. Finalmente o tormento chegava ao fim, pediste um café, eu pedi uma água com gás natural, mais uma vez tive de beber a água fresca. Comecei a tossir, olhaste para a janela e perguntaste-me o que fazia a seguir ao almoço, fiquei de boca aberta, perguntaste se me sentia bem, respondi que ainda não tinha nada programado. Acabou o almoço, saímos, tu foste para o escritório, eu fui à loja das calças verdes.
A loja era magistral, claro que além das calças comprei umas quantas blusas para combinar, acabei ainda por comprar uma gravata que condizia com o teu fato cinzento mescla. Ainda passei pela geladaria comi um dos meus copos de gelado, se estivesses aqui dirias que era uma exagerada, como de costume em tudo o que me sabia bem. Fui descendo pela avenida e deparei comigo a olhar o céu, estava limpo sem uma única nuvem, pensava em ti, lembrava-me do dia em que nos conhecemos, daquela viagem de comboio que fizemos juntos para o Porto, sem sabermos o que o futuro nos reservava. Cheguei a casa, fui ao correio, tinha correspondência para ti, as cartas que existem no correio são sempre todas para ti. Uma delas chamou-me a atenção, era de uma clínica de análises. O mundo de repente tornou-se pequeno demais para o turbilhão de emoções que senti no momento em que acabei de ler a carta, estavas doente, a maldição de cancro que só cai nos outros, tinha-nos atingido. Porque não me disseste nada, porquê o silêncio?
Já era noitinha quando chegaste, eu estava sentada no teu cadeirão, esperava por ti, tinha imensas perguntas para te fazer, estava irritada contigo, tu entraste e acendeste a luz. Nada, não consegui dizer nada, olhaste para mim, estava a chorar, corri para os teus braços, abracei-te, fizemos amor, ali mesmo ao pé do teu cadeirão. Choraste, eu chorei, não dissemos nada, dormimos abraçados a noite toda no tapete do chão, a ver o nascer-do-sol. Acordei antes de ti, fui ao quarto buscar uma manta, quando cheguei à sala já estavas acordado, olhaste para mim e sorriste, enroscámo-nos na manta e ficámos os dois abraçados ali no chão ao pé do teu cadeirão a ver mais um dia.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui