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Artigos-->A soma de todos os medos (uma entrevista) -- 05/08/2002 - 13:25 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O best-seller americano Tom Clancy sobre fantasias terroristas antes e depois do 11 de setembro, a filmagem do seu thriller "A soma de todos os medos" [The sum of all fears] e seu novo romance "Red Rabbit" [Coelho Vermelho]



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"Kafka era ainda mais louco"



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por MARTIN WOLF (Der Spiegel, 32/2002 – 05/08/2002)

trad.: ZPA





SPIEGEL: Mr. Clancy, em seu romance "The Sum of All Fears" [A soma de todos os medos] terroristas fazem explodir uma bomba atômica numa grande cidade americana. O filme foi um dos mais bem-sucedidos blockbusters desta primavera. Por que tantos americanos querem ver agora no cinema o que os terroristas são capazes de aprontar em seu país?



Clancy: Por que os japoneses vêem filmes de "Godzilla", nos quais um monstro estraçalha Tóquio com os pés? Muito simples: porque é emocionante.



SPIEGEL: "Godzilla" era pura fantasia. Mas o teu enredo, mesmo tendo sido publicado já em 1991, faz lembrar alertas bem atuais por parte dos serviços secretos sobre terroristas.



Clancy: Na época, era para mim apenas um enredo para um thriller, não mais que isso. Quando escrevo, não penso em política. Que terroristas venham a explodir uma bomba atômica em cidades americanas, é algo que considero improvável.



SPIEGEL: Em seu romance, também estavam envolvidos terroristas árabes. No filme, eles foram transformados numa gangue neonazista multinacional. Já não se deve mais mostrar árabes no cinema como praticantes de atentados?



Clancy: Por mim, sim. Não foi minha a idéia de fazer essa mudança. Mas o estúdio, é claro, prefere o politicamente correto. E, não é o meu caso, as pessoas em Hollywood sabem como fazer filmes.



SPIEGEL: O senhor não? Em todo caso, o seu nome aparece nos créditos como "produtor executivo".



Clancy: Não quer dizer nada. Dei algumas dicas sobre detalhes técnicos e recebi alguns dólares por isso. Só isso. Negociados os direitos de filmagem, o estúdio pode fazer o que quiser com o livro. Mas o romance é melhor que o filme, não é mesmo?



SPIEGEL: Depois do 11 de setembro, ataques terroristas afinal ainda continuam sendo um tema apropriado para o entretenimento?



Clancy: Certamente, por que não? Eu tento apenas escrever livros emocionantes. A maneira como o faço, bem, isso nem sempre é agradável para os pobres diabos que aparecem nos enredos. Mas o problema é deles, não meu.



SPIEGEL: O senhor é um cínico.



Clancy: Eu sou um escritor – é uma profissão honrada, como disse Shakespeare.



SPIEGEL: Em seu romance "Ehrenschuld" [?], de 1994, um piloto-suicida lança um jumbo em direção ao Capitólio em Washington e mata quase o governo inteiro dos EUA. É possível que nele tenham se inspirado os praticantes dos atentados de 11 de setembro?



Clancy: Não, não acredito. Não é difícil, absolutamente, chegar a uma idéia como essa. Em 1968, quando fui presidente do Clube de Enxadristas da Universidade, um dia entrou um cara no meu escritório e perguntou: Qual seria a melhor maneira de a gente se livrar do governo inteiro de uma só vez?



SPIEGEL: Deposição?



Clancy: Não, não era essa a idéia. Passados quinze minutos, chegamos à idéia com o Capitólio e o avião. Não há muito o que fazer contra um ataque desse tipo.



SPIEGEL: Sobretudo se, visivelmente, não se está preparado para a eventualidade.



Clancy: No caso, o Pentágono conhecia o enredo: ao final dos anos 80, contei o que havíamos pensado a um general que era responsável pela vigilância aérea da capital. Ele ficou calado. Depois, disse: Se houvesse um plano para casos como esse, não me seria permitido abrir a boca. Mas ainda não chegamos a refletir sobre tal ameaça, nunca.



SPIEGEL: Depois do 11 de setembro, juntamente com outros autores, cineastas e especialistas em segurança, o senhor esteve envolvido numa reflexão sobre outras possíveis tramas terroristas. Qual o resultado?



Clancy: Nenhum, foi pura perda de tempo. Quando a gente sugere aos funcionários do governo que passem a olhar um palmo adiante do nariz, eles simplesmente aumentam a medida do palmo, só isso.



SPIEGEL: Fosse um terrorista, o que o senhor faria?



Clancy: Faria um curso de Direito. Hoje em dia, os terroristas mais efetivos são os advogados.



SPIEGEL: Isso o senhor precisa explicar melhor.



Clancy: O senhor sabe muito bem: os advogados que trabalham para os protetores do meio ambiente, esses assim chamados verdes. Esses são os verdadeiros terroristas. Por eles, não deveríamos mais perfurar o solo em busca de petróleo, nem construir pontes, nem sequer deveríamos derrubar árvore nenhuma, por menor que fosse. E isso é uma merda. Essas pessoas tratam de fazer a sociedade se transformar de acordo com as opiniões que professam.



SPIEGEL: O senhor fala como um político de direita.



Clancy: Políticos são pagos para ficar falando. Por isso, acham que o que fazem é trabalho mesmo. Mas isso não é trabalho. Eu sou pago para escrever.



SPIEGEL: Esta semana sai o seu novo livro nos EUA, e ele tem um título suspeito, ecoa John Updike: "Red Rabbit" [Coelho Vermelho]. A editora fez mistério em torno dessa obra, como se ela contivesse os planos de ataque dos EUA contra o Iraque. Por quê?



Clancy: Por princípio, não falo sobre os meus livros antes de aparecerem nas livrarias. Seria fraudar o leitor. Só posso adiantar: Trata-se de um acontecimento real dos anos 80. Em torno dele, eu teço a minha história.



SPIEGEL: Significa que o acontecimento real seria o atentado contra o Papa – e a sua idéia de que, por trás dele, estariam conspiradores do Kremlin.



Clancy: Vamos formular da seguinte maneira: Para mim, era importante que esse livro pudesse render um bom filme.



SPIEGEL: Não é nostalgia dos anos 80 o que ele deixa transparecer? Já em 1991, um dos seus heróis dizia: "Eu não sou um ultradireitista que clama pela volta da Guerra Fria, mas, na época, os russos ao menos eram previsíveis."



Clancy: Não sei se, hoje, eu ainda escreveria essa frase dessa maneira. Desde então, tanta coisa mudou. Mas, não tenho saudades da Guerra Fria.



SPIEGEL: Em todo caso, na época os presidentes Ronald Reagan e George Bush tiveram-no como convidado na Casa Branca. Também já foi hóspede de Bush Jr.?



Clancy: Não, ainda não. Suponho que ele, no momento, tem muito o que fazer.



SPIEGEL: Bush, por exemplo, está mandando criar um novo ministério - "para a segurança da pátria". Isso é necessário?



Clancy: Não, o ministério é supérfluo, um erro. Já existe burocracia suficiente em Washington, e eu entendo um bocado de política de segurança.



SPIEGEL: Antigamente o senhor até vendia segurança: Antes de se tornar escritor, trabalhou como agente de seguros ...



Clancy: ... algo que, no entanto, não me estimulava do ponto de vista intelectual, essa é a verdade.



SPIEGEL: Vender paranóia é intelectualmente estimulante?



Clancy: Com toda certeza. Eu não sou o primeiro a ter reconhecido isso. Franz Kafka foi também um homem ligado aos seguros. Ele era, com certeza, ainda mais louco do que eu.



SPIEGEL: Ainda lamenta não ter podido entrar para o Exército por causa de um problema ocular?



Clancy: Eu me conformei com isso. Mas teria gostado muito de comandar um tanque. Adoro tanques de guerra. Minha primeira esposa me deu um de presente há alguns anos.



SPIEGEL: Que atenciosa!



Clancy: É mesmo, com um canhão bem grande pode-se rodar confortavelmente pelos arredores. É mais gostoso do que atravessar a área carregando um fuzil.





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Tom Clancy, 55, desde o seu thriller "Caçada ao Outubro Vermelho" (1984), está entre os escritores de maior sucesso no mundo. Seus livros – que costumam ter por cenário o ambiente dos agentes secretos e trazer uma profusão de detalhes sobre estratégias e armas militares – são elogiados por alguns críticos por sua visionária ausência de tabus; outros os condenam por sua postura latentemente reacionária.
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