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cronicas-->Democracia democrática? -- 04/09/2000 - 13:09 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- Ratinho? Não acredito... Logo você, Alberto? Todo certinho...

- O que é que tem? Eu gosto.

- Mas aquilo é horripilante? Você viu só aquele caso do hermafrodita? Que falta de ética...

Fiquei pensando como o Araújo soube da história do rapaz (ou moça) que compareceu ao programa do roedor reivindicando o reconhecimento paterno - sentimental, moral e material. Havia duas ou três hipóteses: ele ouvira o comentário de um cameló no cruzamento da Rio Branco com a Duque de Caxias; ou o fato teria sido divulgado no programa matinal da CBN - que segundo o Araújo, não perdia um; ou então ele tinha mesmo era assistido ao episódio - de passagem, na casa da sogra. Não perdi tempo tentando adivinhar, mas acredito que meu grande amigo - por falta de opção ou mesmo por gosto - sintonizara o programa na noite anterior.

Vivo num país democrático. E não se trata de uma insinuação cínica. Afora o aprisionamento forçado pela violência de São Paulo, tenho o direito de ir e vir. Se tenho uns trocados no bolso posso estacionar em fila dupla, comprar um cachorro-quente, desperdiçar mostarda e depois jogar o guardanapo no chão. Só não faço isso com medo de algum amigo mais polido presenciar meu delito. Nossa liberdade vai até o limite da censura da comunidade em que vivemos. Há leis que pegam e que não pegam. No caso, as leis informais, ditadas pela mídia influente ou pela elite intelectual (às vezes nem não intelectual assim!) não só pegam. Grudam. Encravam. E então ficamos presos a elas, quase para sempre.

Qual jornal você lê? Qual canal sintoniza? Qual seu esporte predileto? Que bebida você toma? Aprecias vinho francês? Quase todos os nossos gostos são determinados pelos amigos que nos rodeiam. E isso não fica restrito às classes mais abastadas.

- Pó, Negão! Deu pra curtir música clássica agora? Olha a tua cor, mano?...

Lembro quando fui ao Rio pela primeira vez, há quinze anos. Com meus rígidos hábitos paulistas, estranhei o fato de um senhor, chefe de família, meia-idade, carro do ano, família à bordo, entrar alegremente pelo boteco estreito da periferia, cumprimentar os pagodeiros, pagar uma rodada de chope e puxar um samba inteiro, embalado pelo sorriso largo dos instrumentistas. Impossível isso acontecer naturalmente em anos em que não há eleição - imaginava. Dia desses cometi o equívoco de anunciar em que vou votar.

- Você está louco?

- Acho que ele tem boas propostas!

- Mas e a ditadura?

- Ele tinha vinte anos quando o Figueiredo assumiu.

- E o impeachment? Esse miserável votou Nelle, tá lembrado?

- Você também, Alceu!

A sessão de justificativas prosseguiu por alguns minutos, até eu fingir ter mudado de candidato, para a conversa não varar a noite.

Ainda bem que, no dia da votação, sozinho, atrás da proteção de papelão, poderei digitar o número que quiser sem que ninguém, exceto a memória do terminal, saiba exatamente qual foi a minha escolha.
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