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Contos-->NA GARUPA DA MORTE -- 25/05/2004 - 13:29 (Marco Antonio Cardoso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tinha muita lama lá.
Um poço quase fechado com a lama que já queria endurecer aos renitentes raios do sol.
A velha de lenço puído na cabeça, cara queimada pelo inclemente astro torrador e enrugada como um maracujá, parecia aflita, levava constantemente as mãos ao rosto, querendo enxugar as nervosas lágrimas e o suor, enquanto aguardava seu velho marido que já vinha com uma enxada nas mãos, rodeado de meninotes agoniados.
O quintal se estendia até a caatinga fechada que rodeava a pequena vila toda, asfixiando-a.
Os motoqueiros chegavam por uma trilha empoeirada, e ficavam zoando na pracinha, se é que se poderia chamar aquele terreiro seco de praça, pois ali só tinha um umbuzeiro velho, quase morto, com alguns banquinhos toscos de tábuas velhas, onde os homens ficavam a bater papo enquanto jogavam dominó nas demoradas tardes de domingo.
O motoqueiro de blusão preto trazia um forasteiro na garupa, para conhecer aquela terra onde o tempo havia parado.
Pararam junto ao velho que escavava o poço, e todos pensaram que ele buscava encontrar mais água, mas não era este o caso.
- O que tá buscando aí, coroa? Indagou o motoqueiro.
O velho, chapéu de palha velho e desfiado na cabeça, nem se deu ao trabalho de olhar para ele e foi logo disparando:
- Isso aqui é trabaio sério, vá dá suas vorta na pracinha. E continuou cavando.
Eles deram muitas risadas com a zanga do homem e partiram, mas não sem antes perceber que todos os moradores já rodeavam o buraco, e não sobrara viva alma em qualquer lugar.
Até o coroinha que às vezes servia de padre, quando este não vinha lá de Barra para rezar a missa quinzenal, deixara a pequena capela de pau-a-pique à toa e procurava abrir caminho entre os curiosos para chegar perto do tal buraco.
Os motoqueiros se reuniram embaixo do umbuzeiro, obedecendo a ordem do chefe deles, o de blusão preto.
Decidiram depois de discutir acaloradamente, que esperariam o fim da tarde para deixar o lugar, para descobrir o que acontecia.
O homem que seguia na garupa do chefe dos motoqueiros estava irritado pois pagara para conhecer aquela região inóspita e bela, e agora estava à mercê da vontade daqueles folgados.
- Pois bem cara, vá a pé. Disse um deles para o homem que reclamava e gesticulava.
- Não estrague nosso negócio com sua burrice. Disse o chefão, e voltando-se para o homem, tranqüilizou-o: Estaremos logo na cidade, não se aborreça, mas aqui está acontecendo algo curioso, será interessante para você também.
De vez em quando o povo que rodeava o buraco gritava e pulava como a manifestar incontida alegria.
Entre assustados e curiosos, os motoqueiros estavam quase que paralisados, pois não queriam partir, mas também não se encorajavam a chegar mais perto.
Mais alguns longos instantes e um deles não se conteve mais e partiu para cima do povo com a moto a toda velocidade.
Eles abriram caminho e o homem com moto e tudo se precipitou no buraco, que já estava bem grande, mas não seria o suficiente para engolir uma motocicleta, como fizera.
"Que diabos estava acontecendo ali?" Pensaram eles, avançando para o grupo, que mais gritava e se agitava.
Ao chegarem perto viram vários corpos sujos de lama, estendidos ao lado do buraco.
Eram corpos de adultos e crianças, mortos.
O corpo do motoqueiro também estava entre eles.
Todos ficaram em silêncio, enquanto o velho trazia do buraco o corpo de mais uma pessoa, enlameada.
- Vocês estão violando um cemitério? É isso?
Nenhuma resposta, muito embora todos olhassem para eles.
- Pronto, esse é o úrtimo. O velho parecia exausto, cavara uma enorme cratera e carregara todos aqueles cadáveres sozinho, os outros só olharam ele trabalhar.
Foi quando um dos forasteiros reparou que os corpos estavam se movendo e arfando.
Ficaram mais assustados quando seu companheiro, que parecia estar morto, levantou-se, com grande dificuldade, e caminhou arrastadamente na direção deles.
- Você está bem, cara? Perguntou o chefão?
- Devo estar bem, para um morto.
- Deixa de brincadeira. Se está bem vamos embora.
O velho, enxada em punho, dirigiu-se a eles:
- Voceis vinheram aqui em hora errada. Num vão pudê sair do jeito que chegaram.
Quando ouviram estas palavras do velho, eles perceberam que estavam rodeados pelos moradores da vila, todos armados com facões, paus, enxadas e outros artefatos de uso rural, que passaram a ser usados para matá-los.
Todos mortos, os corpos foram jogados no poço de lama, sob os gritos dos assassinos.
Ficaram em silêncio, aguardando por quase meia hora, até que o velho os resgatasse, enlameados, e os colocasse ao lado dos outros, que já começavam a se levantar.
Quando já anoitecia, todos os corpos já estavam de pé, inclusive os forasteiros assassinados.
Acompanhando o coroinha que ia puxando uma prece, se dirigiram até a pequena capela, para rezar pela realização da promessa do beato Simão, que exatamente a cinqüenta anos prometera que daquele poço que mal dava água, brotaria a vida para os que estivessem mortos, e seria a vida eterna.
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