Tenho nas mãos
uma caneta,
um caderno em branco,
o V da Vida
e o M da Morte.
Tenho um calo:
sou filho da terra,
“Mãe gentil”,
que me acolhe sempre
no seu seio,
nos seus braços.
Saí do seu ventre,
sigo sua estrada.
Acabarei-me com ela.;
dormirei no seu colo,
após o sonho infinito
por uma vida inteira,
repousarei no seu berço,
na vida eterna.
E terei asas:
poderei voar...
E serei anjo,
talvez santo
ou arcanjo.
E minhas mãos,
frias e trêmulas,
grossas e vazias,
estarão cruzadas sobre meu peito.
E uma senhora lôbrega,
triste de doer,
que inconfortável chora,
dirá que fui um bom homem:
“levou meu coração”.
E eu,
entre as flores,
na calma da morte
e na angústia dos amores,
direi apenas:
não chore, meu amor,
deixei minhas digitais,
se lembrar-se de mim,
traga-me vez ou outra
uns arranjos florais.
|