A casa em que moro possui um pequeno jardim. Hoje, domingo, levantei cedo e, pus-me a olhar para as flores. Às vezes converso com flores, faço gracejos procurando um sorriso em alguma rosa... Não cultivo as flores de Fernando Pessoa, não passeio por entres flores de todas as belezas - as rosas de contornos enrolados, lírios de um branco amarelecendo-se, papoulas rubras, violetas na margem tufada dos canteiros, miosótis mínimos, camélias estéreis de perfume... E girassóis elegantes imitadores do sol.
Reparei, contudo, na roseira do canto, uma rosa chorando, não eram gotas do orvalho da madrugada, eram lágrimas, mas por que o choro numa rosa tão linda. A pequena flor não me disse nada. Toquei-lhe de leve enxugando-lhe as pétalas
- Deixe-me cuidar de você somente hoje, pois lhe trago um grande carinho, olhe em meus olhos só por esse instante e veja, estou aqui, alegre-se, eu protejo você, esteja bela para mim e eu me esforçarei sempre para ser bom para você. Estou lhe ofertando o que tenho de muito pouco. Permita-me ser um pouquinho seu.
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