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Cronicas-->Flashes de Um Sonho -- 03/09/2000 - 16:09 (Fernanda Guimarães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Flashes de um Sonho



As dores ainda emolduram as fotografias do presente...constantes flashes expõem a última lágrima que desliza solitária no rosto que nunca foi tocado por ele.
A boca obstina-se, guardando palavras ansiosas que seriam ditas, quando os nossos olhos despissem-nos um para o outro. Retinas sedentas beber-se-iam, revelando uma espera repleta de saudades.
Beijos inquietos, suspiram pelo ar, desejando lábios que eu jamais provei. Uma sinfonia de sabores desfila sem rumo, desafiando o tempo que marca mais um dia de inexorável distància.
Abraços perdidos de amor, murmuram pelos corredores do meu corpo. Lugares sagrados que continuam a aguardar o toque do anjo-homem que um dia, com sua lira, musicou novos prelúdios na aurora do meu coração.
Com ele, pude ser outra vez menina e tantas vezes mulher, deitando-me sem receio no tapete da felicidade. Tecíamos entre novelos de carícias as nossas vidas, já inimagináveis distantes um do outro. Fios que a cada momento entrelaçavam-se em perfeita unicidade, apesar das nossas tão evidentes diferenças. Talvez, fosse isso que nos tornava tão cúmplices. Não eram as singularidades, também tão visíveis, que nos enleavam. Éramos a laranja e a sede, o desafio e o temor, a centelha e a escuridão. Entre nós não existia desencontro. Sabíamos que os nossos olhos nos guardavam um para o outro, mesmo que não estivéssemos ao alcance das nossas retinas. Não importava, o tempo que o destino havia demorado para nos encontrar. Sabíamos que nos esperávamos, e cada esquina do meu corpo, sinalizava que nossas vidas se tocariam nestas tantas perpendiculares, onde o sol acasala-se enamoradamente com a lua.
Nosso amor em rotas estelares, brincava de brilhar em céus, mesmo gris...ouvíamos e entendíamos estrelas, como versejara Bilac. Vivíamos no nosso éter, indiferentes às tempestades que se formavam. Em meio a nuvens disformes, um temporal nos surpreendeu. Parecia uma chuva de verão...rápida e sem avisos, mas ainda assim borrou telas, devastou quadros já pintados e fez deslizar pela ribanceira sonhos que se construíam no útero da vida. Nossas vidas escorregaram em desfiladeiros distintos...as mãos dele não me alcançaram, embora eu gritasse o nome dele. Fomos descendo pelas encostas, enquanto os olhos de mar dele, sangravam em renúncia.
Agora, uma tela em branco vagueia entre meus olhos, enquanto as cores se dispersam serpenteando outras paragens. A paleta olha-me, inquiridora, como que a me perguntar, se um dia ainda pintarei novamente!


© Nandinha Guimarães
Em 03.09.00

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