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Artigos-->Cordel, Cultura Brasileira -- 03/08/2002 - 22:52 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LITERATURA DE CORDEL – NOSSAS RAÍZES

(por Domingos Oliveira Medeiros)





Que Deus os tenha. Sou eu quem peço. São dois tesouros. Que nos deixaram. Mais que saudades. Dois expoentes. Duas verdades. Sempre presentes. Servindo a gente. Felicidade. Servindo às almas. O mundo atesta. Fizeram a festa. Da fraternidade. Um foi Antônio, o mais poeta. De rima farta. A mais completa. De amor, repleta. Seu nome é. Mais conhecido. A Patativa do Assaré. O outro, o Francisco. O conselheiro, o homem terno. O quase eterno. O espiritual. O sempre amado. O mais procurado. Nas questões de fé. O cândido e abençoado. Chico Xavier. Pequeno cordel dedicado aos saudosos Chico Xavier e ao grande Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, este falecido dia 08 de julho do ano em curso e objeto de nosso texto a seguir.



Antônio Gonçalves da Silva, conhecido como Patativa do Assaré, nasceu em Serra de Santana, no vale do Cariri, situado a 18km da cidade de Assaré, no estado do Ceará, em 05 de março de 1909.



Começou a fazer versos aos 13 anos de idade. Cursou até o segundo ano do curso fundamental, quando abandonou o colégio para juntar-se aos irmãos na luta pela sobrevivência que o obrigavam ao trabalho agrícola constante. Ainda jovem, em torno dos vinte anos de idade, esteve no Pará, cantando em praças públicas e nas feiras-livres, na época de ouro do ciclo da borracha.



E o fez, segundo consta de livros e enciclopédias, atraídos pelo fato de que, para o estado do Pará acorreram milhares de sertanejos em busca de trabalho e de uma vida melhor.Muitos acreditavam que iriam ficar ricos trabalhando nos seringais da Amazônia Tropical. Não se demorou muito, entretanto, e, em quatro meses, aproximadamente, estava de volta ao sertão do Cariri.



Sua fama começou no Município de Assaré, na década de 1940, quando ridicularizou, em praça pública, o prefeito da cidade, improvisando versos com pesadas críticas ao mandatário local.



A obra do repentista é muito extensa. Cerca de dois mil poemas. Toda a obra é identificada com a temática da crítica social e, ainda, por uma curiosa e surpreendente preocupação com o meio-ambiente. Na década de 50 compôs um verdadeiro libelo ecológico intitulado “A terra é naturá -- e a condição da mulher”.



O cantor das "coisas rudes e belas do sertão", também ficou conhecido como Patativa do Assaré, pela alusão comparativa entre o pássaro cantador (patativa) daquela região, e o poeta cantador e “fazedor” de versos, o mais fiel cronista popular de todo o Nordeste.



Dentro de sua temática preferida, falava sempre da miséria e da injustiça social. É conhecida a cantoria da Reforma Agrária, cujo trecho, a título de exemplo, é o seguinte: "Se a terra foi Deus quem fez / Se é obra da criação / Deve cada camponês / Ter seu pedaço de chão.





Outra composição bem conhecida, “Triste Partida”, que foi gravada por Luís Gonzaga, o “Rei do Baião”, e seu conterrâneo, Patativa do Assaré denuncia o descaso dos governos para com o Nordeste e o êxodo de nordestinos para o sul, fugindo da seca e das condições inóspitas do nordeste, em busca de uma vida melhor.



Suas composições foram musicadas e interpretadas tanto por artistas locais, como por reconhecidos intérpretes nacionais, e, também, foram gravadas. Sua última gravação data de 1995, e intitula-se “85 anos de poesia”



A fonte “Patativa do Assaré Barsa Consultoria Editorial Ltda” nos dá a seguinte informação: “Por iniciativa de pesquisadores, publicou cinco livros de poemas: Inspiração nordestina (1956), Cantos de Patativa (1967) Patativa do Assaré (1970), Cante lá que eu canto cá (1974) e Ispinho e fulô (1988). Em 23 de março de 1995 recebeu do presidente Fernando Henrique Cardoso a medalha José de Alencar”.



“A literatura popular compreende as obras em verso ou prosa produzidas por artistas sem formação acadêmica e distanciados da arte culta dos grandes centros urbanos. No conjunto formado por essas obras distinguem-se no Brasil pelo menos dois gêneros, os dois muito comuns no Nordeste e nas cidades para onde afluíram migrantes provenientes dessa região: a POESIA ORAL, improvisada, acompanhada pela viola; e a LITERATURA DE CORDEL, romances veiculados em folhetos impressos de forma rudimentar, vendidos a baixo preço. A denominação "de cordel" provém do fato de serem os folhetos normalmente pendurados em fios, à maneira de roupas em varal. Tanto os poetas quanto os cantadores são chamados trovadores”. (...) O trecho da Peleja de Serra Azul com Azulão ilustra o espírito do desafio, em que dois cantadores nordestinos, de pouca ou nenhuma cultura formal, competem em inteligência, presença de espírito e habilidade para fazer versos.



A Poesia improvisada



“Apresentada com acompanhamento de viola, nos espetáculos denominados cantorias, pelos cantadores ou repentistas, a poesia improvisada concentra-se em incidentes do momento e, em geral, ressalta a personalidade de indivíduos do auditório mediante elogios ou críticas divertidas, de modo a captar com habilidade a constante atenção dos circunstantes. Os cantadores interpretam em estilo direto os sentimentos populares imediatos, exibindo talento poético e capacidade de observação. A disputa entre uma dupla de cantadores, em parte decorada e em parte improvisada, denomina-se desafio. Na batalha do desafio entre cantadores sertanejos, denomina-se repente a resposta inesperada e perfeitamente cabível que confunde o adversário”.



“Como o Brasil, outros países latino-americanos têm tradição de poesia de improviso. O equivalente argentino do cantador nordestino é o payador, que canta versos em que se narram tanto histórias tradicionais como fatos do cotidiano ou acontecimentos extraordinários. No México também há o contrapunteo, semelhante ao desafio nordestino, em que dois poetas buscam tirar vantagens para sua poesia, proclamar seus méritos, exaltar suas qualidades ou criticar o adversário”. (Barsa Consultoria Editorial Ltda)





Literatura de cordel.



A Literatura de cordel tem a sua origem no romanceiro popular português. Aqui no Brasil, ela começou a ser divulgada nos séculos XVI e XVII, trazida pelos colonos portugueses. A partir do século XIX, o romanceiro nordestino, num processo de absorção e aculturação, tornando-se independente e com características específicas regionais. “ De forma análoga, as áreas de colonização espanhola na América beberam das fontes ibéricas. Alguns estudiosos, no entanto, atribuem as origens remotas da poesia popular à Provença, o que se confirmaria pelos temas picarescos e pela designação "trovador" aplicada ao poeta popular”.



“Na origem, a literatura de cordel se liga à divulgação de histórias tradicionais, narrativas de épocas passadas que a memória popular conservou e transmitiu. Essas narrativas enquadram-se na categoria de romances de cavalaria, amor, guerras, viagens ou conquistas marítimas. Mais tarde apareceram no mesmo tipo de poesia a descrição de fatos recentes e de acontecimentos sociais contemporâneos que prendiam a atenção da população.

Na Espanha, a literatura de cordel era chamada pliegos sueltos, o que corresponde em Portugal, às folhas volantes, folhas soltas ou literatura de cordel. No México, na Argentina, na Nicarágua e no Peru há o corrido, apresentação em versos das histórias tradicionais, oriundas do romanceiro peninsular, como também de fatos circunstanciais. No Peru e no Chile há grande divulgação de folhetos populares. Na Nicarágua o corrido compõe-se em geral de dois grupos: o de romances tradicionais, com temas universais de amor e morte, classificados em profanos, religiosos e infantis; e os corridos nacionales, com assuntos patrióticos e políticos, estes últimos os menos cantados. A poesia popular argentina recebe as denominações de hojas ou pliegos sueltos e se divulga pelos mesmos corridos, em impressos que se assemelham aos da literatura de cordel brasileira”. Conselho Editorial Barsa Ltda).





Temática.



A temática utilizada pelos cordelistas é bem diversificada. Dela constam, entre outras, histórias e historietas contadas e cantadas. “A literatura de cordel abrange ainda pequenas novelas, contos fantásticos, moralizantes ou de fundo vagamente histórico, de maneira a agradar o gosto popular pelo maravilhoso e pelo didático. Os poetas versificam os acontecimentos de que tomam conhecimento pelos jornais, velhos romances em prosa aqui chegados no período colonial, como a história de Carlos Magno e os 12 pares de França, contos da tradição oral, enredos de filmes ou peças teatrais. Embora grande parte das composições seja anônima, é de interesse observar terem sido divulgadas em folhetos de cordel obras de autores como Gil Vicente, Baltasar Dias, Ribeiro Chiado, Antônio José da Silva e outros.





Os versos que mais impressionam a imaginação popular são sobre heróis e acontecimentos. O conjunto dos versos agrupa-se em ciclos, dos quais os mais importantes são o ciclo heróico -- que inclui os romances trágicos, épicos e simplesmente heróicos --, o ciclo do maravilhoso, -- com a presença de seres e acontecimentos mágicos --, o ciclo religioso e de moralidades, o ciclo cômico, satírico e picaresco, o ciclo circunstancial e histórico e o ciclo de amor e fidelidade. Encontram-se subciclos como o de Lampião, no ciclo heróico; e o do Cancão de Fogo, no ciclo picaresco.”





Os heróis da literatura de cordel são pessoas que tiveram existência real e, em correspondência a anseios profundos da coletividade sertaneja, tornaram-se objeto de culto ou lendas, como o padre Cícero e Antônio Silvino. E há também os que inventados, como, por exemplo, o valente sertanejo Cobra-Choca. A Consultotira da Barsa nos dá conta de que “no ciclo circunstancial, ou folheto de ocasião, incluem-se relatos escritos sobre acontecimentos políticos ou fatos diários. A primeira guerra mundial foi assunto de vários romances, assim como a eleição do presidente Jânio Quadros no início da década de 1960 e a deposição do governador de Pernambuco, Miguel Arraes, pelos militares em 1964. As grandes enchentes, a vida dos artistas mais populares, as façanhas de Lampião e seus cangaceiros e a epopéia do imperador Carlos Magno são alguns dos temas dos cordéis de maior tiragem”.





Um exemplo clássico do ciclo circunstancial - e um dos campeões de vendas – intitula-se “A lamentável morte de Getúlio Vargas.” Conta-se que quando Getúlio Vargas suicidou-se, em 24 de agosto de 1954, o poeta popular Delarme Monteiro da Silva ouviu a notícia pela manhã, pelo rádio, entregou os originais ao meio-dia, recebeu os primeiros impressos na tarde do mesmo dia e vendeu setenta mil exemplares em apenas 48 horas. A admiração popular logo mitificou o presidente Vargas e foi dessa maneira que ele apareceu no romance do poeta Rodolfo Coelho Cavalcante.



“A chegada de Getúlio Vargas no céu e o seu julgamento, no qual o protagonista dialoga com Jesus, são Miguel, Salomão, Moisés, Davi, Elias, Daniel, Isaías, Saul, Abraão, Sócrates, Aristófanes, Hermes, Pitágoras, Platão e Rui Barbosa. Um dos poetas de cordel mais conhecido, o pernambucano Leandro Gomes de Barros, nascido em 1865 e morto em 1918, é autor de mais de mil títulos.”



Em certa medida, as histórias de cangaceiros, cantadores, santos, assassinos, touros e serpentes misteriosas contribuíram para incrementar a alfabetização do homem do sertão, que aprendeu a ler e escrever motivado pelo interesse das histórias ou porque desejava dedicar-se à poesia. A literatura de cordel é fonte de informação que antecede a vulgarização do jornal como principal fonte de informação das populações mais pobres do interior. Ela apresenta profundo sentido vivencial para as classes menos favorecidas, ao traduzir valores e anseios do povo nordestino. Exemplo disso é a vitória do homem sertanejo sobre o senhor de engenho, ou sobre os donos de terra da zona da mata, cantada em prosa e verso pelos poetas populares.





Os centros principais de impressão e venda dos folhetos no Nordeste são as cidades de Juazeiro CE, Campina Grande PB, Caruaru PE, Recife PE e Salvador BA.

Impressos em papel de má qualidade e com pouco cuidado, os folhetos do cordel, na origem, não iam além de três ou mais conjuntos de folhetos dobrados em quatro. Esses folhetos apresentavam produção rudimentar, e tinha como suporte pequenas gráficas familiares. Nos pólos de cultura mais desenvolvidos, no entanto, os textos de cordel foram eventualmente publicados industrialmente e comercializados como qualquer outra obra.



Característica importante do romanceiro nordestino são as xilogravuras que ilustram os folhetos. A necessidade de tornar as capas mais atraentes aos compradores iletrados levou os poetas a se improvisarem em gravadores e a cortar na madeira personagens e cenas de seus escritos.



“O entalhe a ponta de canivete, faca ou formão se faz em madeira que varia tanto quanto a ferramenta: tábuas de caixão de vinho ou querosene, pinheiro-do-paraná, cedro e outras. O material mais comum é a casca de cajá. Anônimas em sua maioria, as xilogravuras algumas vezes aparecem assinadas, porém sempre há complementação e fidelidade entre gravura e poema. Delas resultaram peças com demônios, dragões, cantadores, cangaceiros, santos e assassinos, touros misteriosos, serpentes de várias cabeças e outros exemplares de arte popular. Por cerca de cinqüenta anos, literatura e xilogravura andaram juntas, ao longo de todos os ciclos e sagas de temática da literatura popular.(...).



No início do século XX, principalmente em São Paulo, maior comunidade urbana de nordestinos do Brasil, surgiu uma novidade importante: o cordel industrializado, impresso em gráfica e em papel de melhor qualidade, com conteúdo mais literário e intenção especial de dar informação imediata sobre os acontecimentos.



Contrariamente ao que ocorreu em Portugal, onde a literatura de cordel decaiu em função da expansão do jornal diário, no Brasil ela permaneceu. E essa literatura, é bom lembrar, exerceu influência em escritores brasileiros de ficção como José Lins do Rego, Jorge Amado e Guimarães Rosa; Em escritores de peça de teatro, como Ariano Suassuna; e aos que se dedicavam mais à poesia, como Joaquim Cardozo e João Cabral de Melo Neto.



FONTE; Barsa Consultoria Editorial Ltda.

03 DE AGOSTO DE 2002

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