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Poesias-->MARULHOS POÉTICOS 3 -- 03/03/2005 - 05:21 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER

























MARULHOS POÉTICOS — III









(50 SONETOS MEDIÚNICOS)



















ESPÍRITOS DIVERSOS

















ÍNDICE





1. Para a saúde da alma ..........................

2. A reboque do anterior .........................

3. Sem abatimento nem euforia ....................

4. Estatelado ....................................

5. Com muito amor ................................

6. No topo do mundo ..............................

7. De caso pensado ...............................

8. Ríspido mas tratável ..........................

9. Minha felicidade ..............................

10. Intrigado .....................................

11. Notório saber .................................

12. Momento crítico ...............................

13. O dom da palavra ..............................

14. Ainda hesitante ...............................

15. Reatando velhas amizades ......................

16. Um cacho de promessas .........................

17. Para demonstrar estima ........................

18. Cuidar da saúde espiritual ....................

19. Resultado positivo ............................

20. Com que rima estima? ..........................

21. De mundos e de Raimundos... ...................

22. Sem rodeios ...................................

23. Inoportuno ....................................

24. No ápice da loucura ...........................

25. Solo rico .....................................

26. Engripado .....................................

27. Queijo suíço ..................................

28. Andando a pé ..................................

29. Alma adentro ..................................

30. Castigo imprescindível ........................

31. Arrebatamento poético .........................

32. Água para os sedentos .........................

33. Desanuviando a mente ..........................

34. Intrigante reflexão ...........................

35. Deliciosa tarefa ..............................

36. Zoando estabanado .............................

37. Regalia mediúnica .............................

38. De árvores e de símbolos ......................

39. Bode expiatório ...............................

40. Resultado iníquo ..............................

41. Testemunha ocular .............................

42. Pequena dificuldade ...........................

43. Nem tudo é brilho .............................

44. Retrato de um amor ............................

45. Brigue ligeiro ................................

46. Vigorosa reação ...............................

47. Notável semelhança ............................

48. Inócua recomendação ...........................

49. Turbulência final .............................

50. Adeus, amigos .................................









1. Para a saúde da alma



Renovo minha rima e desespero,

Entrando noutro campo sem preparo.

Por isso é que tal feito aqui declaro,

Com medo de chegar ao ponto zero.



Demonstram-me os colegas ser bem raro

Que alguém saia do posto em lero-lero.

Em branco, nenhum verso deixar quero,

Ainda que retorça o mal que exaro.



Depois que o treinamento terminar,

Irei fazer da escola um doce lar,

Para gozar da paz do bem cumprido.



Por ora, permaneço muito atento,

Dizendo ao bom leitor quanto lamento

Não dar-lhe mais prazer, com meu zunido...







2. A reboque do anterior



Preciso confortar o coração,

Amenizando a dor desta chegada.

Tudo o que aqui expus é quase nada

Dos males que causei, grande vilão.



Mas tenho de afirmar que mui me agrada

Trazer esta notícia ao caro irmão,

Porquanto é de esperança o meu refrão,

Poesia que aqui vem de cambulhada.



Prefiro elucidar este momento,

Com rimas conhecidas e perversas,

Porquanto a forma é fácil e eu sustento



O pensamento equilibrado e bom,

Deixando concentradas, não dispersas,

As emoções do amor, no mesmo tom...







3. Sem abatimento nem euforia



Os versos que se escrevem lá na Terra

Procuram demonstrar algo valioso,

Exagerando a vida e o forte gozo

Das sensações da pele que ela encerra.



Aqui, o pensamento mais formoso

Nos faz sentir mais perto a triste guerra

Que trava o coração, quanto mais erra

Na encenação do mal litigioso.



Abraço o meu amigo, sem conselho,

Porquanto assim demonstro o meu respeito,

Fazendo do soneto um belo espelho



P’ra refletir a luz que em verso deito,

Em meio à escuridão, pobre fedelho,

Nas artes da poesia contrafeito...







4. Estatelado



Escorreguei na rima e me estrepei,

Realizando um verso desabrido.

Talvez esteja bom, mas eu duvido

Que siga os tais critérios desta lei.



Alguém irá dizer onde é que errei,

Por não haver a norma aqui cumprido,

No entanto, em sendo justo, eu sei que lido

Com sentimentos puros, junto à grei.



Por isso, o meu leitor há de ficar

Entusiasmado e alegre no lugar

De ruminar as dores do seu mal,



Porquanto aqui falhar no pobre verso

Vai demonstrar bem pouco ser perverso

Aquele que lapida este cristal...







5. Com muito amor



Eu noto que meu verso já melhora,

Passando pela fase de exercício.

Não posso vir trazer um desperdício,

Porém, vou demonstrar que o amor vigora.



Gerando entre os colegas só bulício,

Entrego o resultado em boa hora,

Mas crente de que logo irei embora

Servir noutro lugar, com menos vício.



Estimo os meus colegas e lhes digo

Que podem já contar sempre comigo,

Para a ventura excelsa do viver.



Pretendo auxiliar sempre que possa,

Mas vou pedir por mim, sem fazer mossa,

Rogando ao Pai por nosso bem-querer...







6. No topo do mundo



Quisera compreender o sonho humano

De se postar acima do comum.

Já conheci milhares mas nenhum

Me deu explicação, se não me engano.



Alerta, eu ouço ainda o zunzunzum

Dos meus colegas tristes, quando insano

Julgaram que eu estava, pois me ufano

Das rimas que compus inda bebum.



Agora, eu desafio o seu poder

E venho demonstrar meu bem-querer,

Tecido noutros versos mui formosos.



Quisera aqui deixar o meu abraço,

Porém, sem provocar teu embaraço,

Ó coração fiel aos nobres gozos...







7. De caso pensado



Atrevo-me a escrever este poema,

Sem ter o que dizer a meu respeito:

Atendo do meu mestre o nobre pleito,

Tecendo comentários, sem algema.



Ocorre que do dom eu me aproveito,

Correndo com os versos e já me extremo

Nos elogios do amor, o bem supremo

De quem, sendo chamado, foi eleito.



Depois que terminar, humildemente,

Irei levar a trova à aprovação,

Medida de rigor que põe a gente



A ver se desperdiça o tempo, em vão:

São muitos os poemas e se sente

Quão pobres os que nunca se lerão...







8. Ríspido mas tratável



Não posso acreditar que tenha dito

Ofensas contra o Pai, durante a vida.

Rebelde eu fui, porém, o amor valida

Feliz transformação, depois de aflito.



Arrependi-me aqui, mas não se olvida

O mal com que se fere e mais me agito,

Buscando pelas causas, se reflito

Em que Jesus perdoa quem lapida.



Adúltera mulher salvou das pedras,

Expondo os corações ao mal do povo.

Eu digo ao coração: “Enquanto medras,



Expões o meu penar neste soneto.”

Por isso é que componho um verso novo:

Bem sei que sai melhor se luz prometo...







9. Minha felicidade



Estar a compor versos não é sina

Que desmereça alguém aqui no etéreo.

É, sim, dura tarefa, ensejo sério

Que aos bons que ainda sofrem se destina.



Por isso, cá me alegro: é refrigério,

Após a luta bárbara que ensina

O quanto deve o gajo à disciplina

Que tem de enrijecer, com tal critério.



Se busco compreender a triste vida

Que me manteve aceso em guerra azada,

O verso a refletir no amor convida,



Enchendo o coração de fé por nada

Que possa conseguir com minha lida:

A prece por mais luz ao Pai me agrada...







10. Intrigado



Por fim, cheguei à conclusão perene

De que o amor se dá por toda a vida.

Importa lá saber se a dor convida

A proteger quem sofre tão infrene?



Sabemos que tal tempo convalida

Os ganhos da virtude mais solene,

No entanto, aqui queremos que serene

O sofrimento tolo nesta lida.



Assim, vamos levando a pobre trova,

A ponto de trazê-la muito nova,

Sem castigo e sem luz, quase infantil.



O mestre sabe bem que o compromisso

Exige deste autor melhor serviço,

Um bom estratagema, sem ardil...







11. Notório saber



Recebo esta encomenda e dou despacho

Tão logo me acomodo na oficina.

Então, malho esta rima pequenina,

Que vai fazer feliz o povo — eu acho.



A prece que rezei mais me ilumina

Se a trago para o verso onde eu a encaixo

De forma mui sutil, formando um cacho

De fortes emoções, na luz divina.



Por isso é que componho com vontade,

Sabendo ser mui clara a minha verve,

No toque deste metro que me há de



Tornar muito famoso, sem que enerve

O mestre que me ajuda e persuade

Que honra ao Pai o amor com que lhe serve.







12. Momento crítico



Prevejo, para o fim deste soneto,

A conclusão mordaz do meu leitor.

Não sei equilibrar-me ao vir compor:

Apenas seriedade é que prometo.



Depois de tantos versos sem valor,

Não posso acreditar que este quarteto

Estronda com furor sobre o coreto,

Para atrair um povo superior.



Apraz-me aqui, contudo, dar à rima

O colorido próprio de minh’alma,

O que me faz sorrir e mais me anima.



No entanto, o coração sempre se acalma,

Ao repetir a prece com que estima

Levar o dom do amor, em nobre palma.







13. O dom da palavra



Espera-se que o autor saiba o que diz,

Porquanto aqui se atreve nesta rima.

Não basta ter por todos grande estima:

Precisa que demonstre ser feliz.



No entanto, o sofrimento desanima

E o verso sai mui pobre, por um triz

Não destinado ao cesto, que a raiz

Mergulha em terra seca, em seco clima.



E tudo já se encerra de repente,

Que o mestre me aparece sorridente,

Iluminando a face, a fazer graça,



Dizendo como estou tomando jeito,

Ao revelar que sofro e que respeito

A inteligência alheia, que o bem passa...







14. Ainda hesitante



Transfiro para a glosa esta saudade

Dos tempos em que estive aí na terra.

Eu sei que a melodia não descerra

O drama que vivi e que me invade.



Ocorre que pensava só na guerra,

A desfechar as armas sem piedade

Das gentes no costado, como abade

A prescrever as penas a quem erra.



É claro que não posso descrever

Em forma tão restrita o meu poder

De solfejar a dor que sinto ainda.



A prosa que respiro e a que me entrego

Repousa bem no fundo do meu ego,

A despontar agora quando finda...







15. Reatando velhas amizades



No etéreo, quando a crise empalidece,

O povo se mistura com agrado.

As velhas amizades do meu lado

Sugerem que agradeça em doce prece.



Alguns dos inimigos persuado

Que peçam a Jesus que boa messe

Possam ceifar, que o tempo favorece

A plantação de amor, em rico fado.



Assim, vai progredindo o grupo inteiro,

Enquanto cada membro for primeiro

No intuito de cuidar da dor alheia.



Eu mesmo, nestes versos que componho,

Penso deixar real o que foi sonho,

Na véspera do bem que luz semeia.







16. Um cacho de promessas



Não quero ver passar este momento,

Sem lhes expor aqui meu compromisso.

Quem vem do etéreo vem prestar serviço

Daqueles de que eu gosto e sempre invento.



É claro que preciso ter mais viço,

Para compor o verso e o sentimento,

Porquanto este poema tem assento

Na lucidez do vate manumisso.



Espero, no futuro, vir com trovas

Que possam demonstrar de fato as provas

Do amor ao Pai e aos nossos semelhantes.



Agora me despeço humildemente,

Sabendo que causei ao ser que sente

As ânsias desse amor, melhor que antes.







17. Para demonstrar estima



Pretendo concluir a minha parte,

Trazendo um só soneto sem miséria,

Elogiando o amor de forma séria,

Rogando ao Pai proteja a minha arte.



Talvez o bom leitor nessa matéria

Esteja com tal fome e não se farte

Com um poema só, meu baluarte,

Na fúria de encerrar, sem qualquer léria...



Por isso é que me engraço com a rima

E faço desta trova uma obra-prima,

Lugar-comum dos vates já defuntos.



Reviro o coração e encontro ainda

Um pouco desta força quase finda

E peço a todos que rezemos juntos...







18. Cuidar da saúde espiritual



Não posso permitir que o verso encerre

A quota destinada para o vate,

Sem responder de pronto ao disparate

De alguém que pensa mal se a conta eu erre.



Cuidar desta saúde a dor rebate,

Estando o gajo triste, sem que emperre

O curso da poesia e desenterre

Imagens mais felizes de acicate.



Espero não ter feito muito alarde,

Dizendo que o poema desencarde

Das nódoas nosso espírito selvagem.



É mui pouco o que venho aqui dizer

Nem tenho para tal tanto poder,

Mas agradeço a Deus esta mensagem.







19. Resultado positivo



Encontro estes meus versos na jornada

Que empreendo junto ao orbe, quando estudo,

Porém, não canto o bem nem digo tudo

Que se passou comigo pela estrada.



Resumo o pensamento mas não mudo

A essência deste ser um quase nada,

No entanto, estando a rima declarada,

Alguém logo melhora o conteúdo.



É bom quando acontece assim comigo,

Pois sei que o resultado do castigo

Irá favorecer um texto novo.



A luta se atenua e digo, em prece,

Que o nosso irmão se doa e não carece

Da luz do pobre amor que trago ao povo...







20. Com que rima estima?



Recito o melhor verso que conheço

E vejo que o poeta o fez formoso.

Presumo qual seria o forte gozo

De quem pôs nas palavras duro gesso.



Mas como aqui compor, se não mereço

A idéia que efetiva um tal repouso?

Apenas pela rima em que não ouso

Ferir o sentimento desse apreço?



Sossego o coração ao ler as quadras,

Analisando os versos mais acima,

Dizendo intimamente: “Tu não ladras



Deixando a caravana ir em frente.”

Aí cresce no peito a minha estima

Pelo padrão que leio eternamente.







21. De mundos e de Raimundos...



Espero que o Drummond não se aborreça

Por relembrá-lo aqui tão pobre vate:

Pensava numa rima-disparate,

Surgiu-me de repente sorte espessa.



Que solução seria p’ro engraxate

Vir a saber agora estar impressa

Esta lembrança imprópria, que arremessa

Um sentimento vago de alfaiate?!...



Cosidos, tais tecidos são um terno

Que visto tão sem jeito e tão mesquinho,

Bem longe de um poema sempiterno.



Mas meu momento mau é com carinho

Que trago a me aquecer, no triste inverno

Em que transformo a cruz que n’alma aninho.







22. Sem rodeios



Pretendo deixar claro o meu problema,

Nos versos que rascunho sem talento.

Bem sei que a dor que agora aqui agüento

Não vou desafogar em rima extrema.



Também não vou ferir o sentimento

De quem me ouve em paz e cujo lema

Se espalda na verdade sem que trema,

Por mais que se desgoste do lamento.



Larguei o amor na estrada dessa vida,

Julgando estar melhor, estando só,

E vi meu povo todo em despedida,



Seguindo para o Reino, em meio ao pó

Que levantava a fé, sem dar guarida

Àquele cujo orgulho causou dó.







23. Inoportuno



Sustento que meu verso é descabido,

Abrindo como em leque os seus dizeres.

Queria compreender todos os seres,

Não tenho uma só alma comovido.



Portanto, canto em vão os misereres

Dos salmos que compus, em rude olvido

Das pregações do Cristo, que, duvido,

Alguém saiba de cor, com tais poderes.



Ainda que flertasse co’a virtude,

Não posso aqui pedir que o amigo mude,

Apenas p’ra aplaudir um verso alado,



Pois vôo cá no etéreo em pensamento,

Sabendo que no ar não me sustento,

Caindo a toda a hora, e sem agrado...







24. No ápice da loucura



Estive muito perto de endoidar,

Depois que aqui cheguei tão deprimido.

Bem sei que vão supor, mas eu duvido

Que cheguem de verdade ao meu lugar.



Estive muito perto mas fui tido

Apenas como exemplo elementar

De como não fazer dentro do lar,

Porquanto a dor dos outros consolido.



Embora traga o peito carregado

De sofrimentos vários, tão cruéis,

Eu posso oferecer como legado,



As favas sem açúcar mas com féis,

O texto que fabrico emocionado,

A ponto de trocar nossos papéis.







25. Solo rico



— Plantei minhas sementes com amor

E colho muitos frutos saborosos.

Assim deve falar quem, dentre gozos,

Brinca nas terras férteis do Senhor.



Os pobres que labutam desgostosos,

Arroteando solos sem valor,

Maldizem da justiça superior,

Entrando por caminhos tortuosos.



Se a terra for mui fraca p’ra plantar,

Usemos do artifício da virtude,

Incrementando a fé dentro do lar,



A caridade pondo luz nas almas,

Para mostrar quando a esperança ilude,

Se impera o mal sobre do bem as palmas.







26. Engripado



No enrosco de uma rima descabida,

Troquei pela feiúra este arcabouço,

Que tantos versos belos nele ouço,

A ponto de enxergar-me nesta lida...



Mas transformei a cela em calabouço,

A demonstrar as dores lá da vida,

Que me trouxeram pobre e sem guarida

Do mar encapelado no balouço...



Depois de ter vencido a dura prova,

Que assim propus depois de despertar,

O tema da poesia se renova



E logo para o bem, a dar lugar,

Castigo cada verso em forte sova,

Compondo esta emoção nada exemplar...







27. Queijo suíço



A trova que esburaco nestas rimas

Conservam o verdor do noviciado:

Estive tanto tempo aqui parado,

Que o queijo ao derredor não tem enzimas.



Assim é no vazio que mais agrado,

Nas idéias que trago tão opimas,

Embora não ajudem minhas limas,

Na hora de acabá-las, sem pecado.



Mantenho o meu discurso e chego inteiro

Ao fim deste soneto em que requeiro

Por compreensão e amor a toda a gente.



A prece em que bendigo a sorte avara

Não chega ao mesmo termo, pois dispara

O coração em dor, amargamente.







28. Andando a pé



Sustento que não tenho preferência

Por esta ou qualquer forma de poesia:

Entrego-me ao trabalho e comporia,

Com método, este texto de paciência.



Não dou nenhuma “dica” nem daria

De como resolver a inconsistência

Do tema resultante da consciência

Que geme dentro em mim, que estou “em fria”.



No entanto, os versos brotam e me entusiasmo,

Notável arremedo em verso rico,

Estruturado apenas num quiasmo,



Pois logo me arrependo e retifico,

Porquanto o protetor, ao ver-me, pasmo,

Me manda publicar... pagando o mico...







29. Alma adentro



Retiro minhas forças da poesia

Que escrevo aqui contente desta vida,

Porém, quando redijo, comovida,

O texto fica torto e o dom esfria.



Convenço o professor que me convida

A vir trazer a prova da harmonia

De que não tenho jeito e não faria

Qualquer coisa que preste nesta lida.



Aí, eu leio o cântico que fiz,

Julgando por seu mérito rasteiro,

E digo no poema estar feliz,



Por concluir o verso bem primeiro,

Porque meu mestre amado sempre diz

Que dele a sugestão jamais requeiro...







30. Castigo imprescindível



Arrumo as minhas rimas de tal modo

Que os versos chegam justos ao leitor.

Entendo destas artes de compor

E fujo de servir-lhes caldo ou brodo.



Assim, eu desempenho com amor

Este exercício válido em que podo

Os galhos mais rombudos e acomodo

Os sentimentos pobres como a dor.



Estranho, logo após, o resultado

Pois sei perfeitamente que não tenho

Tão fácil a feição do vate alado



Por isso, é com justiça que meu cenho

Se franza ao ver composta doutro lado

O verso mais enxuto e mais ferrenho...







31. Arrebatamento poético



Pretendo vir com rimas para o povo

Que quer saber bem mais desta doutrina,

No entanto, quando meço a disciplina,

Prevejo que o poema rui de novo.



Estabeleço a sorte desta sina,

Ao pôr no verso a dor como renovo

Que nasce dentro d’alma e não removo,

A ver se o fruto seu mais me ilumina.



Embora esteja triste e aborrecido,

Sorrio dessa desgraça que me abate,

Ao ver que o sofrimento está vencido,



No texto com sabor de chocolate,

Que é gosto que me agrada e que duvido

Possa causar tristeza ou disparate...







32. Água para os sedentos



Comove-me a atenção do bom leitor

Que me acompanha sempre nesta rima.

Bem sei que o coração pouco se anima

Diante de tais versos sem valor.



No entanto, alguém perdido, sem estima,

Talvez venha a encontrar algum ardor

No fundo da emoção superior

Que trago copiada e me sublima.



Entrego-me ao labor com muita força,

Sabendo que as maldades há quem torça,

Depois de refletir no tema alheio.



Renovo, então, meus votos de virtude,

Que o bem, no coração, não há quem mude,

Que o belo há de surgir imerso ao feio.







33. Desanuviando a mente



Escolho bem melhor agora a rima

E sei que desempenho com lisura

Esta lição de amor, que me assegura

Que estou muito feliz com tua estima.



Pensava antigamente na impostura

Que representam versos como acima,

Que é fácil de escrever que o bem me anima,

Sofrendo dentro d’alma pela usura.



Em breve vou voltar à vida aí,

Pois tudo o que pretendo, por enquanto,

É dar ao semelhante o que aprendi.



As trovas são brilhantes, mas me encanto

Com a promessa rica para ti

De que o perdão do Pai vale p’ra tanto.







34. Intrigante reflexão



Possuo cabedal de boas normas,

Para trazer ao povo que me lê.

Espero que o melhor para você

Esteja nos meus temas, não nas formas.



Mas como estas poesias sem porquê,

Asinha, coração, tu as transformas,

Porquanto, quanto ao tema, desconformas,

Me vejo trapalhão neste á-bê-cê...



Assim, eu levo adiante o compromisso

E logo vou deixando o meu serviço

Ao seu alcance, amigo folgazão.



Eu ponho o meu capote de invisível

E fico a reparar como é possível

Tornar o texto rústico mui são...







35. Deliciosa tarefa



Enquanto estou compondo esta poesia,

Eu penso nos problemas que venci

E logo vem à mente pôr aqui

A luta que travei, sem nostalgia.



Mas tudo ganha peso, pois sofri,

Até que despertasse esta alegria,

O que me alerta agora que seria

Penoso p’ro leitor o rififi.



Assim, quando transponho p’ro papel

As rimas mais enxutas do translado,

Eu dou as pinceladas deste mel,



Na brincadeira branda de um agrado,

Mas sem castigo algum, sem aranzel,

Pois quero recebê-lo deste lado...







36. Zoando estabanado



Aplico-me a esta rima e saio inteiro,

Enquanto me retrato sem pudor.

Apenas não consigo aqui dispor

Os bens que ao instrutor assaz requeiro.



As lágrimas que verto pela dor

De ver o quanto estou choramingueiro,

É círculo vicioso em que entrincheiro

O rol destas virtudes sem primor.



Depois que estudo os versos, reanimo

E ponho-me a limar as vis arestas,

Trabalho sem futuro e sem arrimo.



Ó coração trevoso, nunca em festas,

Estende a rude mão e faze opimo

O verso, com a força que me emprestas...







37. Regalia mediúnica



São poucos os que escrevem cá do etéreo,

Mandando seus escritos aos mortais.

Talvez não sejam bons mas são leais,

No cumprimento doutrinal mais sério.



Desejo que o leitor não tenha mais

Motivos p’ra não ter um refrigério

Das dores do sofrer, ante o mistério

Da morte envolta em brumas perenais.



Assiste-me o instrutor e me fornece

Os termos com que faço a minha prece,

Com sentimento pobre como a rima.



No entanto, o resultado que ofereço

Encontra um coração de amor sem preço,

Excelsitude sábia que me anima...







38. De árvores e de símbolos



Atrevo-me a dizer que estou sublime,

Apenas porque tenho este mentor

Que sempre aqui me obriga a vir compor,

Embora a trova falhe e pouco rime.



Não digo ser o texto inferior

A tantos que aqui leio, no regime

De ter de repensar quanto me anime

O verso descarado e sem pudor...



Por isso, eu me apresento sem disfarce,

Propondo ao meu leitor que faça disso

O lema de uma vida até alcançar-se



Satisfazer as leis e os mandamentos,

Tornando o amor e o bem um compromisso

A redundar em luz sem sofrimentos.







39. Bode expiatório



Os textos que ditamos junto à mesa

Respondem pelo jeito que pensamos.

Nem sempre aqui se podam os seus ramos,

Ficando registrada uma incerteza.



Por isso, o mestre pede que façamos

Algumas referências à pobreza

Das rimas, que nos causam tal surpresa

Ao vermos que o leitor tem seus reclamos.



Bem tolos cá seríamos se a pressa

Justificasse o dolo por descaso

Das teses doutrinárias — vil promessa.



O que nos falta mesmo é a compreensão

De que nosso trabalho nos dá azo

De lhes pedir amor, paz e perdão.







40. Resultado iníquo



Disponho de algum tempo para o verso

E trago no rascunho esta poesia.

Talvez devesse aqui ter alegria,

Porém, o sentimento é bem diverso.



Ocorre que o melhor de mim daria,

Se o resultado fosse incontroverso,

Conforme o gosto humano n’alma imerso,

Que o bom é belo sempre em nostalgia...



Agora que escrevi todas as rimas,

Eu peço ao coração, que bate forte:

— Tu podes fraquejar. Se desanimas,



Porém, ao bom leitor indica o norte,

Que amor é luz suprema, pois sublimas

As trovas todas, sim, após a morte...







41. Testemunha ocular



Pratico esta poesia mediúnica,

Sabendo de antemão que a rima é brava.

São poucas as palavras desta trava

Mas vêm cobertas por mui alva túnica.



Assim, a trova permanece escrava

Daquela idéia portentosa e única,

Como se o meu sentir, em frase púnica,

Capaz seria de uma ação ignava.



Portanto, meu leitor, eu lhe suplico

Que escreva versos ao correr da pena,

Tornando o veio fraco, um dia, rico.



Minh’alma, ao ver que acabo, se asserena,

De forma que o pior já justifico,

Pois rima pobre, em suma, é muito amena...







42. Pequena dificuldade



Existe quem não queira compor versos,

Dizendo não ser lógico que os leiam.

Bilhões de sentimentos se falseiam,

Em trovas em que os dons estão dispersos.



Por isso, é compreensível ver imersos

Nas trevas da consciência os que medeiam

Os atos mediúnicos que ateiam

Bom fogo nesses cépticos perversos...



Estimo o meu labor e aqui não falho,

Enaltecendo o bem e a luz do amor,

Sem duvidar jamais deste trabalho



Que me reduz sofrivelmente a dor,

Nesta esperança audaz de ver que malho

Em ferro quente e dócil, com ardor...







43. Nem tudo é brilho



Fantasmas de outras eras me aparecem,

Vestindo as mesmas formas sedutoras.

Talvez sejam aquelas das senhoras

Que tive como esposas que se esquecem.



Iriam suceder com as leitoras

Alguns desmaios tardos que enobrecem?

Por serem tão sensíveis, mais acrescem

O seu poder de amor, tão superioras.



No entanto, eu mesmo fui anteriormente

Aquele que renego e que critico,

Pois que meu coração já se ressente



De ter de vir mostrar-se assim nanico,

A ponto de sonhar que o bem da gente

Se encontra no passado que edifico.







44. Retrato de um amor



Ouvi tanta promessa em minha vida

Que agora já não sei o que dizer.

Os sentimentos têm o seu poder

E a vontade deslumbra e aquece a lida.



Depois, a gente vê que ao bem-querer

Aquele que nos ama assim convida

Outra pessoa, que do amor duvida,

Que a entrega é dúbia, como deve ser.



No etéreo, a confusão se faz presente,

No coração simplório dessa gente

Que pensa ser eterna a convivência.



Aquele que progride no infortúnio

Encontra ali, nas trevas, plenilúnio,

Ao receber irmãos dessa existência.







45. Brigue ligeiro



Abre meu barco as velas sobre o mar

E o vento da poesia embala a rima.

A festa entre os marujos mais se anima

E eu fico esta saudade a relembrar.



No tempo em que era jovem, tinha estima

Pelos poemas nobres do lugar.

Agora, eu sinto estranho este luar,

Que fende o firmamento luz acima.



Resolvo pela prece o meu problema

E peço ao meu mentor que me esclareça

Por que é que eu fico assim preso em algema.



Se meu passado acalma esta cabeça,

Que dói perversamente e não blasfema,

Devia o coração fazer que esqueça...







46. Vigorosa reação



Empreendo esta viagem mar aberto,

Consciente de que tenho um bom destino.

Se o verso que componho disciplino,

A promoção no etéreo é que está perto.



Mas tenho de ao meu povo um bom ensino

Levar, sem pressa alguma, que ao deserto

Pregou Jesus, sabendo que era certo

Que o mesmo sucedesse ao citadino.



No entanto, eu sou teimoso e compareço,

Ainda que tremente e descuidado,

Buscando não deixar nada do avesso.



Falei de mim mas antes fiz a prece

Que sei do meu mentor muito de agrado,

Enaltecendo ao Pai a luz que acresce.







47. Notável semelhança



Estive a ler aqui outras poesias

De irmãos que antecederam nesta faina

E vi que me servia a tal sotaina,

Dependurada a quo p’ras melodias.



Usar a mesma lima e a mesma plaina,

Por ordem dos mentores e dos guias,

Rendeu às nossas trovas simetrias,

Exército a exibir farda e polaina.



Então, eu me preparo p’ra partir,

Deixando registrado o sentimento

De pertencer ao grupo, no porvir,



Dos que estarão felizes noutra esfera,

Prometendo voltar noutro momento,

Com luz mais forte e amor sem vã quimera.







48. Inócua recomendação



Exige o nosso mestre que empreguemos

Palavras todas cheias de esperança.

É bem que o seu poeta não alcança,

Novato mas sem força para os remos.



No entanto, como a trova sempre avança

E chega a um bom final, conforme vemos,

Não posso boicotar os dons supremos

Do guia que me anima e não se cansa.



Por isso, a mesma fórmula repito,

Dizendo ser bem fácil, se acredito

Que o bom leitor perdoa o meu deslize.



Assunto não me falta no momento

E o bem do amor em paz logo acrescento,

Rogando ao Pai que o verso supervise.







49. Turbulência final



Espero haver trazido ao bom amigo

Palavras de esperança e muita paz.

Não pense que o poema aqui se faz,

Na idéia de mexer tão-só comigo.



Não posso confrontar-me como apraz

Àquele que me tem como um perigo.

Por isso, não me azedo e já me obrigo

A demonstrar amor mais que sagaz.



Ocorre que as palavras não se perdem

Na mente dos felizes vencedores,

Embora os sofrimentos não se herdem.



Estimo que meus versos mais fugazes

Contenham os remédios para as dores

Que tu, meu coração, não extravases...







50. Adeus, amigos



Aviso que hoje parto satisfeito,

Com ânsias de aprender mais um pouquinho.

Demonstro aos bons leitores meu carinho

E abraço o mestre amigo, a quem respeito.



Estendo o pensamento onde adivinho

Que estou sendo guloso e, mais, sem jeito,

Porquanto agradeci ter sido eleito,

Supondo estar trilhando o bom caminho.



As faltas levarei e o compromisso

De respeitar o enredo cá do etéreo,

Para fazer melhor este serviço.



Mas devo terminar de modo sério,

Ao Pai agradecendo tanto viço

De amor, de luz, de paz, em refrigério.





Indaiatuba, de 28.05 a 16.09.03.



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