Só pra imitar o Mario Prata, vou narrar o meu final de semana. Aqui em Recife é bastante comum cruzar com gente famosa, artista de carne e osso, que não sofrem do mal que ataca as personalidades. Por aqui a maioria dos artistas vivem na terra e se identificam com seus viventes, tornando-se natural a troca de informações e a boa vizinhança com os fãs.
Fui acometido de uma diarréia danada e, por ação dos Deuses, o médico que me atendeu é amigo do poeta Ariano Suassuana. Falei ao mesmo que eu sou escritor e fui incentivado por ele a procurar Ariano.
Relutei por alguns dias mas fui. Cheguei na Rua Chacon e me deparei com um velho casarão, simples, cercado de árvores. A segurança consistia em um cadeado velho e uma corrente da mesma idade, nada mais. A casa fica na frente de outra lenda pernambuca: Miguel Araes.
Ao chegar no bairro de Santana fui buscar informações do endereço. Perguntei à pessoas que passavam pela avenida: o primeiro já soube e tenho a impressão de que seu perguntasse a outros dez também saberiam. "É logo na frente da do Dotó Araes". Nada das firulas que vi em outras ocasiões com gente que não chega na sola de Ariano e Araes.
Outra curiosidade confidenciada pelo médico é de que Ariano vai todos os domingos à missa na igreja de Casa Forte, assim simples, no meio do povo.
Simples são Alceu Valença, Lenine, Nando Cordel..., fora Mestre Vitalino, Luiz Gonzaga, João Cabral, dentre outros. Gente que reconhece em seus admiradores o sucesso, e mais: que o sucesso passa e as pessoas ficam.
Mas e ai? Bom, tive dois momentos: um triste e outro feliz. O triste foi verificar que um escritor da grandeza de Ariano ganhou tão pouco, financeiramente falando, mesmo com Auta da Compadecida encenada pela Globo e tudo mais. O feliz foi verificar que Ariano, sendo simples como é, deverá ler minhas mazelas poéticas. Se assim for, finalmente hei de publicar meu livro de poesias. Existe também a possibilidade de ele me mandar para a escola, afinal ele é simples mas não é burro.
Hoje fui para Boa Viagem apreciar o Recifolia. Muita música baiana, numa mercantilização escancarada da cultura recifense. Nada próximo das idéias de Gilberto Freire. Vez por outro cataram alguns frevos e a dança é espetacular. Em particular uma bailarina, extremamente competente, me encantou. O frevo é como futebol: tem que ser ao vivo.
Acabei meu final de semana vendo o Ariano dando uma entrevista para a TV Cultura. Tenho isso como uma premunição, ele deve ter lido minhas poesias. Amanhã é outro dia, e espero Ariano.
