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Poesias-->SONETOS E MAIS SONETOS -- 03/03/2005 - 04:09 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER





















SONETOS E MAIS SONETOS





























1. Caracterização do vate



Preciso consagrar-me nestes versos,

Para que o povo saiba distinguir

O bem do mal e faça, no porvir,

Os seus também, porém, não tão perversos.



Ajuda eu peço sempre ao Wladimir,

Que as rimas não detêm seus sons imersos

Nas vibrações sutis dos universos,

Que estrelas são bem poucos a ouvir.



— Perfídia, grave plágio, já não leio

Esta seqüência pífia em desatino! —

Se tudo quanto escrevo é muito feio,



Então, busco inspirar-me em verso alheio.

Pois para demonstrar-me pequenino,

Não posso elaborar formoso hino.







2. Limite considerado



Pretendo prestigiar o médium meu

Naquilo que o mantém mais apurado,

Ou seja, aqui jamais vou pôr de lado

A idéia de alcançar meu apogeu.



O verso, então, vai ser de médio agrado,

Desprezo pela forma do espondeu,

Que segue rigoroso, como eu,

Ao dar compasso certo, cadenciado.



Inútil pretender que a rima adorne

O pensamento pleno de beleza:

É bem mais fácil que este o caldo entorne,



Perdendo-se os sabores da poesia,

Pois hei de limitar-me, junto à mesa,

A imaginar, se gênio, o que faria...







3. Diante do chamamento



Jesus chegou-se um dia junto a Pedro,

Pedindo p’ra fundar a sua igreja.

— Mas, Mestre, não existe quem me veja

Um guia ou um pastor.; algum paredro...



— Se tens um coração para servir,

Irás reconhecer a melhor forma

De introduzir no povo a minha norma,

Para alcançar progresso no porvir.



O pobre rejeitou mas foi preciso,

À vista do madeiro, recompor

A tese de que tinha algum valor.



Ele também, depois de nobre aviso,

Se viu pregado à cruz, e de cabeça,

Exemplo de humildade. Nunca esqueça.







4. Obrigado, Senhor!



Enobrece-me o trabalho,

Quando o faço alegremente.

Quando estou triste, somente

Vejo os pontos onde falho.



Enobrece-me a virtude,

Se a conquisto humildemente.

Grandeza d’alma somente,

Quando lhe peço que ajude.



Por onde vou, vai também

A doutrina de Jesus,

A ensinar-me todo o bem,



Que a dois versos se reduz:

Se nenhum filho é ninguém,

Todos temos nossa luz.







5. Despertar



— Não tenho mais sossego em minha vida

Depois que comecei a ler os versos —,

Hão de dizer aqueles mais imersos

No rude aviso deste que os convida.



É que pretendo sempre oferecer,

Como recurso extremo a quem se ilude,

Reto caminho, aquele da virtude:

Obrigação, esforço audaz, dever.



O compromisso traz certo azedume.;

E, se o sujeito aguarda mansidão,

Acaba por dizer ao mestre: — Não!



É bom, em sendo assim, que se acostume:

Não perca a noite quem não teve o dia,

Para fazer o bem que lhe cabia.







6. Pacto de amor



Invólucro carnal, eu te respeito,

Agradecendo ao Pai tua textura.

Bem sei que tal matéria é toda pura,

Enquanto guarda o espírito imperfeito.



Kardec, em seus estudos, assegura

Que existem outros corpos, p’ra proveito

De quem, pelo trabalho, for eleito

Às dimensões do amor, que o bem perdura.



Assim, a dor de agora mais me anima,

Na caminhada excelsa que empreendo.

Embora não registre em forma opima,



Também não sei mentir que estou sofrendo.

P’ra demonstrar, amigo, a tua estima,

Reza por mim também, em nobre adendo.







7. Aspiração sublime



Espírito imortal, eu te abençôo,

Agradecendo ao Pai tua existência.

Quisera ter no mundo tal consciência,

Para alcançar o amor, em alto vôo.



A mim, porém, o dom dessa excelência

Penosamente atinge algum ressôo,

Pois simples reação de fé corôo,

Nesta escansão sem luz e sem ciência.



Supero a minha dor e faço os versos,

A revelar segredos de minh’alma,

Que aspira por pairar nos universos



De paz e de harmonia, sempre em calma,

Mas vai nos sofrimentos vis, perversos,

Que o coração refaz e a morte empalma.







8. Reconhecimento afetivo



Companheiros gentis, eu agradeço

As suas deferências p’ra comigo.

São tantos que me trazem seu abrigo

Que fico eu a dever-lhes forte apreço.



Alguns são meus irmãos do tempo antigo,

Que sabem que bem pouco amor mereço.;

Mas decoraram, sim, meu endereço,

De forma que estes versos mais castigo.



Que Deus lhes dê a bênção mais preciosa,

Porquanto a sua glória é a minha luz.

Meu coração é nela que mais goza.;



É nela que esta dor mais se reduz.

Assim, eu vou compondo a doce glosa,

No abraço desse amor.; e por Jesus.







9. Um passo importante



Caríssimo inimigo, eu te compreendo

Mas não te dou razão ao despautério:

Se os corpos decompõem no cemitério,

No etéreo, as nossas almas vão vivendo.



Precisa que haja sempre refrigério

P’ras dores que nos trazem mal horrendo,

Senão esta existência acaba sendo

Processo de loucura muito sério.



Perdão, hei de pedir-te eternamente,

Por ter causado um mal assaz profundo,

Mas, se puder tornar-me mais fremente,



Nas ânsias de volver de novo ao mundo,

Eu peço a Jesus Cristo que me aumente

A compreensão do bem que hoje fecundo.







10. Na mesma pele



Querido guardião, eu te pergunto

Se tens por mim afeto ou nostalgia.;

Se, estando em meu lugar, aqui faria

O texto que compõe o meu bestunto.



Se o pensamento te devora a melodia,

Pois não elegerias este assunto,

Jamais irei estar contigo junto,

A passear nos risos da alegria.



O mesmo hei de pensar lá no futuro,

Estando a receber mensagem clara

De algum pupilo lúgubre e inseguro.



Aí, vou retirar do bolso a apara

Em que escrevi meus versos, onde juro

Que compreendi o amor que já me ampara.







11. Ao mestre, com carinho



Amado professor da classe minha,

Modestamente embora, me apresento,

P’ra demonstrar total contentamento

Com sua devoção, que me apadrinha.



Peço perdão por ser assim tão lento,

Ao aprender a rima da quadrinha,

Que só não é perversa nem mesquinha,

Porque seu nobre ensino documento.



Um dia, hei de seguir o meu destino,

Na aplicação do bem que agora aprendo.

Então, irei cantar, erguendo em hino



O sentimento puro, num crescendo

De paz, para rogar o amor divino,

Pois devo muito ao mestre meu tremendo.







12. Dando um tempo



À minha própria alma eu me permito

Compor simples soneto, que daria

Motivos de alegrar-me a nostalgia,

Perante as esperanças do infinito.



Carrego esfuziante esta poesia

De tons mais prazenteiros, com o fito

De compreender um pouco mais do rito

Com que floreio a dor, nesta harmonia.



Bem sei que, no futuro, existe paz,

Que meu amor ao Pai irá crescer.;

Mas hoje esta prebenda me compraz,



Porque me desvencilho do dever,

De forma muito honesta e muito audaz:

No verso hei de provar meu bem-querer.







13. Contenção imprescindível



Impede-me a modéstia de dizer

Que tenho bons amigos cá no etéreo:

O verso deve ser severo e sério,

Pois cumpre junto aos homens seu dever.



Do mesmo modo, alguém sem refrigério

Não deve demonstrar só bem-querer,

Que a vida se resume em mais sofrer,

Depois que visitou o cemitério.



— Muito equilíbrio, irmão! — me pede o mestre,

Para mostrar ao povo o meu progresso.

Quando se pensa sempre em tom terrestre,



Não sabe a gente analisar a dor:

Põe-se a cismar que neste verso eu meço

Cada emoção, em rima superior.







14. Estabelecendo contato



Caríssimo leitor, eu te pergunto

Se esperas deste autor uma obra-prima.;

Se tens respeito e fé na minha rima.;

Se queres encontrar-te co’o defunto.



Por tudo quanto fiz e pus acima

Das normas dessa esfera, em seu conjunto,

Ainda se perturba o teu bestunto

E corres a rezar pela vindima?



Ou vens agradecer a tanta graça,

Por ter, na vida, o bem mais precioso:

Inteligência e paz, amor sem jaça,



Cadinho das virtudes superiores,

Para sorver de um gole, em nobre gozo,

Ubérrima homenagem aos mentores?!







15. Contato mantido



Estimo o meu trabalho socorrista

E dou-me por inteiro ao meu irmão.

Não sei se os bons leitores prezarão

Ver na trova o valor de tal conquista.



Se não disser, porém, que o coração

Me bate ao peito alegre, na revista,

Não poderei pedir que a gente invista

Nas obras beneméritas da ação.



O mestre me estimula a que refaça

Os textos que apresento toda vez,

Para tornar os sons quase sem jaça,



Porquanto a rima torta é má, soez:

Impede que o leitor levante a taça,

Saudando quem pregou mas nunca fez.







16. Direto ao ponto



Levado pelo vento, o meu poema

Há de espraiar-se pelo mundo inteiro.

Por isso é que ao leitor sempre requeiro

Que o leia com amor.; e nunca tema.



Nem sempre quem me lê será primeiro

Na lista dos que têm a luz suprema,

Mas vai adquirir firmeza o tema,

No coração de quem quer ser obreiro.



Os versos se compõem com tal desejo

De comprovar o bem da caridade

Que, às vezes, os problemas já não vejo



E escrevo sem saber se persuade

A rima o caro irmão mais malfazejo,

Que alguns torcem por ver que a trova enfade.







17. Visão do paraíso



Espero em Deus que o povo um dia escute

A voz do Cristo, em cânticos de amor,

Que assim é que terá de seu Senhor

Os dons dessas virtudes p’ra desfrute.



São dias mui ditosos, de esplendor.;

São tempos de prazer, sem que se lute

Por melhorar a vida, onde o quitute

É requintado gozo de sabor.



Por ora, vamos pondo o rude relho

Nesta carcassa feia em que ocultamos

O mal do mais terrível destrambelho.



Até que castiguemos os defeitos,

Os frutos vão estar nos altos ramos,

Pois somos escolhidos, não eleitos.







18. Presente de grego



Sugiro que se dê mais atenção

Aos versos que componho nesta casa:

Se quem não lê também jamais atrasa,

Ao ler, vai apressar a evolução.



Terá tanta importância a cova rasa

Em que sempre transformo esta canção?

Não falo já por mim, mas pelo irmão

Que deve recolher a melhor vaza.



Este soneto vem para aumentar

As rígidas pressões, para que estude

Aquele que não quer sair do lar,



Julgando que fará, nessa quietude,

O máximo do amor, algo exemplar,

Como no verso prego a tal virtude.







19. A obrigação de compor



Não posso confirmar minhas virtudes,

Embora os versos sejam do outro mundo.

Um sentimento alegre e mui profundo

Há de fazer, porém, com que tu mudes.



Estendo o meu prazer e a terra inundo

De risos e folganças, atitudes

Que gerarão lições, para que estudes,

Tornando o bem da vida mais fecundo.



Estranha-me saber que tenho medo

De vir com ríspidos sermões ao povo,

Pensando que, talvez, seja mui cedo



Para um puxão de orelhas de doer.;

Mas, se não se emendar enquanto novo,

Não vai fazer em casa o bom dever.







20. Disfarçando a pobreza



Duvido que apresente o caro amigo

A solução precisa para o orgulho.

Bem sei que, quando afundo, não mergulho

Nas emoções que ainda não lobrigo.



É grande a quantidade desse entulho

Que afeta a quase todos que comigo

Procuram desfazer-se do perigo.;

E para tal fazemos só barulho.



Eis como me atrevi a vir dizer

Que sou muito imperfeito p’ra poesia,

Que exige comoção de bem-querer,



Que sei citar mas nunca poderia

Elaborar em versos, que o dever

Me obriga a realizar sem todavia.







21. Disposição antiga



Estou choramingando cá no etéreo,

Querendo executar uma obra-prima,

Porém, não me acostumo com a rima,

Dês que cheguei ao fundo do mistério.



O texto que produzo não se arrima,

A fim de te propor um tema sério:

É que deixei a luz no cemitério

E agora este trabalho desanima.



Que luz deixei um dia para trás?

O brilho das fagulhas do talento

Que me perdeu em sonhos de rapaz.;



Vaidade e muito orgulho, sentimento

De estar acima sempre de quem traz

Muita humildade, enquanto eu me atormento...







22. Disposição atual



É bela esta poesia que lhes trago,

Depois que terminei de redigir.

Não sei qual seu destino no porvir,

Que os dons inda não tenho dalgum mago.



Carece deste apoio o Wladimir,

Embora o tema seja muito vago:

É que pretendo dar-lhes meu afago,

Nesta expressão mui fácil de fluir.



Se o sentimento estranham os leitores

Que esperam muito brilho e muita luz,

Não posso afiançar que estou de amores,



Que o peso das palavras me reduz

A simples e concretos destemores,

Sob os ensinos doces de Jesus.







23. Pensando no futuro



Jesus há de me abrir este caminho,

Por entre tais defeitos de visão:

Se tenho muito amor no coração,

Não posso vir dizer que me definho.



Também não vou mostrar tola ilusão,

Querendo despertar o teu carinho,

Se nestes pobres versos adivinho

Que trago muita dor ao meu irmão.



Preciso que me agüentes muito mais,

Até que ganhe força para o verso,

Que as trovas que componha sejam tais



Que um dia não dirás que sou perverso:

Jesus há de valer-te e eu sei que vais

Abrir doce sorriso, em paz imerso.







24. Passado sem saudade



Não tenho muita pressa de chegar,

Que tudo quanto faço, cá no etéreo,

Precisa que me ponha muito sério,

Pois devo oferecer como exemplar.



Um dia, eu lamentei, no cemitério,

A vida em que deixei um doce lar:

Estava muito certo do lugar.;

Errava por não ver o grão mistério.



Depois de muito errar de ceca em meca,

De haver batido a testa em muita luta,

Me vi bem ajustado nesta beca,



Que ostento agora, muito mais batuta...

Mas o entusiasmo o caro mestre breca,

Que o bem é com amor que se executa.







25. Conversa de amigos



— Renega os vícios, Coração ingrato:

Faze por mim um pouco de bondade!

Se tens a paz, o amor tu’alma invade.;

Serás feliz, enquanto o mal resgato.



Eis que a Consciência insiste em que se há de

Alterar os ditames do contrato,

Que a vida assegurou, por ser um fato,

O lucro de quem toma ou persuade.



Não venho p’ra alcançar a perfeição.

Também não quero ouvir p’ra sempre um não,

Que o sofrimento atinge a todos nós.



Fazei, leitor, que valha sempre a pena

O bom momento desta trova amena

Em que Jesus nos dá o dom da voz.







26. Limitação do vate



Carrego dentro ao peito muito amor,

Porém, não tenho meios de expressá-lo.

Um dia, recebi doce regalo

E pus-me a responder neste compor.



Pensei bastante e deu-se em mim o estalo

De demonstrar que existe algum valor

Até num ser deveras inferior,

Quando se adorna com fulgente halo.



Pedi que Jesus Cristo me inspirasse,

Buscando, no evangelho, alguma luz,

Que o verso não contém um desenlace,



Mas brilha como brilha a nobre cruz,

Que o sofrimento batizou em face

Da salvação, a que o poema induz.







27. Os maiores mandamentos



Devolvo para o povo os benefícios

Que tenho recebido neste mundo,

Se cumpro, com amor muito fecundo,

As leis e obrigações dos exercícios.



Os tópicos do bem que aqui difundo

São simples elementos, sem os vícios

Do que na Terra vi como artifícios,

Quando por lá vaguei meditabundo.



Não posso incinerar nos fornos d’alma

Os males que causei, estando vivo.

Mas tudo há de acabar, porque se acalma



A dor que hoje me oprime o coração.

Por isso é que, nos versos, incentivo

As preces com que ao Pai os dons irão.







28. Um modo de auxiliar



Felicidade, amigo, eu te asseguro,

Se tudo o que fizeres for bem feito.

P’ra tanto me dirás somente: — Aceito!

O mais eu te acrescento como juro.



Então, perguntarás se estás eleito,

Sentindo-te, na vida, um pouco impuro.

Responderei, livrando-me do apuro,

Que o sentimento é causa do defeito.



— Mas que vantagem levo na poesia,

Se tudo a mim tão-só cabe fazer?

Aposto que o amigo não daria



Um único empurrão no meu dever...

Ao menos, eu te alerto na alegria

De demonstrar que tens meu bem-querer!







29. Poesia cerebrina



Esforço-me, contudo, a minha rima

Não chega a comover a todo o mundo.

Se tento atenuar, então contundo

O coração fraterno que me arrima.



Não posso me arriscar indo tão fundo

Na descrição das dores, pois me anima

A forma dos compassos, como acima

A quadra prova um trecho mais fecundo.



Assim, tudo na vida tem seu mérito:

Se existe quem permita um raciocínio

Que exclua todo débito pretérito,



Nem venha a permitir mau vaticínio,

É justo que se faça rude inquérito,

Para aumentar do amor o seu domínio.







30. Busca de compreensão



— Duvido que haja tempo p’ra poesia,

Que as lutas vão somar no meu ativo.

Esse que vem falar em incentivo

Talvez esteja agora numa fria!...



É claro que o leitor que não motivo

Irá desconfiar que não teria

Aquele que demonstra esta alegria

Razão, para um compor exortativo.



Mas posso assegurar que venho em paz,

Sem apontar os erros mais comuns,

Que o bem que se aproveita é o que se faz,



Com muito amor e fé no coração.

Se, acaso, a trova comover alguns,

Os gajos desta turma exultarão.







31. Pelos que sofrem



Senhor, que sois o nosso arrimo e paz,

Fazei-nos mais felizes, por instantes:

Quiséramos saber como foi antes.;

Tememos que a maldade venha atrás.



Lembrai-nos que é de amor que o bem se faz,

Pois, no futuro, existem importantes

Conquistas, que oferecem aos errantes

Progresso e luz e o dom que vos compraz.



A prece que noss’alma eleva em luz

Vos pede que aceiteis a nossa fé,

Conforme o ensino puro de Jesus.



Olhai por nosso irmão que tanto pena,

Mas sem saber que a luta mais não é

Do que o rude resgate que serena.







32. Por respeito aos leitores



Não quero ver sofrer o meu amigo,

Nas trilhas da poesia que lhe trago:

Se é doce agasalhar do amor afago,

É triste compartir a dor comigo.



Quisera que meu dom não fosse vago,

Quimera a demonstrar que não me obrigo

Às rudes intempéries, grão perigo,

De vir dizer verdades, aziago.



Mas devo demonstrar estar seguro

De tudo quanto escrevo nestas linhas,

Não precisando aqui dizer eu juro,



Porque tu me compreendes e me alinhas

Entre os que sofrem mais pelo futuro,

Pois resgatar o mal são dores minhas.







33. A vida monástica



Depois de muito orar pelos irmãos,

O monge parte em busca de sossego:

Requer do Pai lhe dê soberbo emprego

E esfrega mui contente as rudes mãos.



— É isso o que se tem após a vida

Passada no silêncio dos conventos?

O barco é tão pequeno para os ventos

Que logo o nosso frade se elucida.



Aí, fica infeliz e muito chora,

Pois sabe que essa vida se perdeu,

E reza com amor: — Nossa Senhora,



Meu coração tristonho ainda é teu.

O que posso fazer, se peno agora?

Responde a boa Mãe: — Quem não sofreu?









34. Contraponto



Descrevo o sentimento que me traz

Alegre, pelo efeito da poesia.

Melhor agora sei que não faria.;

Mas o soneto dá-me gozo e paz.



Um canto de louvor levantaria,

Agradecendo ao Pai por ser capaz

De compreender o mal, o que me faz

Aceitar com amor minha agonia.



Mas temo que a virtude seja pouca,

Que a voz com que declamo esteja rouca,

Que meu sofrer perdure em cada rima.



O resultado é bom e mais fomenta

O meu puro desejo que a tormenta

Não leve para longe a tua estima.







35. Autocrítica



Trabalho o dia inteiro e, quando chego

Para dispor os versos nestas linhas,

Demando ao meu amigo: — Vê se aninhas,

No doce coração, o meu chamego.



Não dou, porém, na trova as provas minhas

De que te estou trazendo o meu apego:

Parecem as palavras rude emprego

Dos dons que nestas rimas entrelinhas.



Assim, o meu poema se conduz

Apenas nestas ânsias de ser bom,

Aliviando a carga dessa cruz



Que tens de carregar, no mesmo tom.

Aí, eu rogo as bênçãos de Jesus,

Amenizando os dobres deste som.







36. Minha alma não tem preço



Preciso melhorar meu desempenho

Nas áreas literárias, com urgência,

Senão vão me acusar de negligência,

Fechando para mim seu rude cenho.



Não sei se demonstrei inteligência

Na escolha deste termo tão canhenho,

Mas não irei fugir, porque não tenho

Receio de rogar gentil clemência.



Aí, corre um frisson na minha espinha,

Pois temo estar sofrendo sem motivo,

Porquanto o meu leitor não se amesquinha



Apenas por gostar do tema altivo

Em que troco o poder da lide minha

Pelo interesse em ver se alguém cativo.







37. Nas quatro estações



Estranha o caro irmão que o verso meu

Eleja novamente a triste rima

E peça que mantenha a sua estima,

Ainda que tão pobre seja eu?...



Mas sempre hei de pedir, pois sei que anima

O coração ferido que perdeu

Um tanto da esperança, se, sandeu,

Se pôs a imaginar uma obra-prima.



No etéreo, a formosura que se espera

Não nasce de risonha primavera

Mas vem do amor que brota e frutifica.



No outono e no verão tudo se aquece.;

No inverno recitamos nossa prece

Com muito mais calor, que a trova é rica.







38. Repensando a poesia



Não tenho pretensão de ser poeta

Nos moldes destes vates cá da Terra.

No etéreo é que o sujeito muito erra,

Querendo a sua trova a mais completa.



Ao pensamento o gajo mais se aferra,

Expondo o sentimento onde ele afeta

Que existe, no seu verso, obra de esteta,

Pois declarou ao feio rude guerra.



Mas tudo quanto escrevo traz problemas,

Na hora da leitura quieta em casa,

Pois meu leitor deseja que outros temas



Demonstrem que este arcanjo já tem asa,

Para voar seguro, nas supremas,

Etéreas formas, onde mais se abrasa.







39. Primeiro de abril!



Cansei-me de lutar contra o meu ego

E fiz promessa séria de melhora,

Sabendo que, no etéreo, o que vigora

É não guiar ninguém, em sendo cego...



Roguei a Deus auxílio, nessa hora,

Mas não fiz muita coisa, pois não nego

Que transformei paciência em fundo pego

E mergulhar não quis, que o dom penhora...



Agora faço versos sem valor,

Mui desejoso que o leitor me aqueça

Com suas preces de profundo amor,



Pois não me sai jamais desta cabeça

Que tudo quanto venho aqui compor

Um pouco há de servir... de forma avessa...







40. Versificação sem talento



Cheguei bem velho mas não vim feliz,

Porque sabia que não tinha bens:

Fiquei, no mundo, a vigiar vinténs,

Enquanto amor não dei, porque não quis.



É como o verso que componho agora,

A vigiar os metros sem poesia:

Se mais me dedicasse aqui faria

Belo soneto à paz, que já demora.



Se me contento sempre com migalhas,

Minh’alma aspira por melhores rimas.;

O coração desperta e diz: — Encalhas



Ao lamentar-te.; e mais te desanimas.

Por que é que não te ajeitas e trabalhas

Para compor estâncias mais opimas?...







41. Em paz?...



Pretendo ser mui breve na mensagem,

Mas são catorze versos, nada menos.

Se tal medida é certa, são serenos

Os sentimentos todos na triagem.



De que me adianta dar-lhes testemunho

Dos males que causei, estando vivo?...

A trova já sopeso e o mais não crivo

De rudes emoções, pois me acabrunho...



Feliz me sinto dentro do terceto:

É como toca a banda no coreto

A festejar a vida com amor.



Mas, no final, retorna a tal tristeza,

Pois sei que vai ficar vazia a mesa:

O derradeiro verso vou compor.







42. De bem intencionados...



Conheço muito bem o meu caminho

E traço estes meus versos com amor:

Não quero, simplesmente, vir compor,

Mas devo demonstrar que não definho.



Na lista destas rimas sem valor,

Tudo já disse, um dia, em desalinho.;

Agora, nada mais do que carinho

Pretendo vir trazer ao meu leitor.



É justo o sentimento que me anima

E leva o coração a bater forte.;

Mas tudo quanto faço, em nobre estima,



A mente me propõe tão largo corte,

Pois como pode um ser que mal se arrima

Expor sublime luz que ao bem exorte?!...







43. Para a frente



“Renego o meu passado porque os feitos

Não honram a doutrina que hoje sigo.”

Assim deve dizer o meu amigo

Que quer estar comigo entre os eleitos.



Se evoluir é o prisma mais antigo

De quantos a memória tem perfeitos,

Tudo o que se fizer merece preitos,

Pois deve ser melhor o seu abrigo.



Assim imaginava a vida etérea,

Sem as lembranças fúteis do passado,

Pois se transforma o mal nessa miséria



Com que pena minh’alma e mais me enfado,

Mas penso no futuro sem matéria

E vejo os meus amores ao meu lado.







44. Pensando além



Preciso acostumar-me co’a poesia

E não com simples versos, que componho

Mais preocupado em demonstrar que sonho

Poder ser publicado e lido, um dia.



Assim, devo evitar dispor medonho

O texto bem rimado que daria

P’ra suspeitar que alguém melhor faria,

Se compusesse, em prosa, algo bisonho.



A vida, meu amigo, eu levo adiante.;

Enrosco-me somente no soneto,

Mas sei que o seu perdão meu bem garante,



Porque, quando exercito e digo preto,

Em sendo branca a luz nobilitante,

Você vai corrigir-me, em bom dueto...







45. Momento de relax



Podia aqui deixar a minha marca,

Dizendo simplesmente que sofri.;

Mas tudo quanto tenho dou a ti,

Num verso, que a poesia tudo abarca.



Mas não prometo o bem pela beleza,

Que a forma literária não produz,

Sem refletir na mente a doce luz

Que os seres superiores põem na mesa.



Por isso, os versos meus são pobrezinhos

E os temas que hoje assunto tão mesquinhos

Que não merecem ter tua atenção.



Os sons se constituem instrumentos,

Mas sempre são levados pelos ventos:

Espero que me ouças... p’ro perdão...







46. Espantando a zebra



Estranho cada verso que produzo

E digo francamente o quanto sinto

Não possuir mais verve, pois extinto

Se encontra o coração, por muito abuso.



Mas trago um pensamento mui distinto,

Impróprio com certeza e bem confuso,

Pois quero descair em parafuso

No meio do teu cérebro.; e não minto...



Aí, tu vais dizer-me que estou certo,

Que é da loucura que me encontro perto

E não da formosura ou do equilíbrio.



Mas ergo-me da dor para sorrir,

Sabendo que terei feliz porvir,

Que a rima não me falta em tal ludíbrio...







47. Não tenho como parar



Perdão, Senhor, por ter desperdiçado

O tempo que me destes para os versos.

Devia rejeitar os mais perversos

E conservar alguns do vosso agrado.



E quais serão os dons incontroversos

Em que posso afirmar que desenfado

O meu pobre leitor, inda ao meu lado,

Porque quer ver os males já dispersos?



Existem as palavras com magia

Que nesta rima encantam toda a gente,

Mas é preciso pôr bem mais poesia



No sentimento prenhe que se sente

De amor, de luz, de bens sem nostalgia,

Que é como tudo encaixo, finalmente.







48. Criando coragem



Palavras que iluminam o poema,

Oferecei a mim o vosso brilho.;

Fazei com que eu mantenha no estribilho

A fórmula da luz que dor não tema!



A Deus ouviu Jesus dizer: “Meu filho!”.;

E quanto a mim, ignoto neste esquema,

Que deverei fazer que a rima prema

A suplicar perdão com que me humilho?



O último dos últimos, suplico,

Sem enfeitar o verso e sem candura,

Sabendo que serei um dia rico.;



Mas hoje eu mais me perco na procura:

— Senhor, olhai por mim também, pois fico

A desejar ser filho d’alma pura.







49. Minhocas na cabeça



Disponho do meu tempo e me preparo

Para compor um texto refulgente.;

No entanto, quanto escrevo à minha gente

Se vê que desde logo é pouco raro.



Talvez eu não consiga que me agüente

O bom leitor, que julga o verso claro,

Porque deseja ver como disparo

Meu último festim, inconseqüente.



O tal leitor sou eu, que mui me espanto

De estar a terminar minh’obra-prima,

Sem nada p’ra dizer neste meu canto,



Tristonho por romper, em pobre rima,

A lúcida jornada em campo-santo,

A cruz alçada ao vento, um pouco acima.







50. Ao leitor desprevenido



A cruz que hoje carrego está mais leve,

Depois de tantos versos cativantes.

Se não gostares deles, não te plantes

A criticar meu jeito de almocreve.



Mas faze bem melhor: os semelhantes

Se atraem nesta medida em que se deve

Compor, de modo alegre, um texto breve,

Mas sempre com vigor maior que antes.



Depois, respeita a paz em que te educas,

No seio de teu lar, junto aos parentes,

Pois lês João, Mateus, Marcos e Lucas,



Para saber que Deus mantém presentes,

No Reino da Verdade, as arapucas,

A ver se a minha crítica consentes.







51. Qualquer dia eu chego lá



Resolvo os meus problemas no improviso

E trago muitos temas sem complexo,

Mantendo esta esperança de ver nexo,

Conforme o sentimento que analiso.



Então, abro minh’alma em doce amplexo

P’ra receber do irmão seu nobre aviso,

Querendo pôr na tela o paraíso,

Sabendo que é do Umbral que o verso anexo.



Se falo de Jesus em harmonia,

Trazendo o seu ensino para a trova,

Não posso bendizer, nem conviria,



Porque Kardec explica a Boa Nova

De modo superior, sem todavia,

Que é como eu vou compor na escura cova...







52. Versos menores



Procuro não cansar o meu leitor,

Mas sei quanto estas trovas são terríveis.

Também quando me exprimo em baixos níveis,

Mais perco o bom impulso de compor.



Então, já me desculpo, pois falíveis

Sempre haverão de ser quanto ao valor:

Se tudo aqui se espera superior,

O vate quer amigos compreensíveis...



Na hora em que rascunho a minha rima,

Escolho a que melhor possa explicar

O sentimento oculto que me anima.;



Depois, peço licença, que o seu lar

É de respeito excelso e pura estima.;

E adentro temeroso, devagar...







53. Criando asas



Senhor, perdão vos peço se o meu verso

Não traz mais desafogo p’ra minh’alma.

Bem sei que, lá no fundo, eu quero a palma

E mais lamento ser, assim, perverso.



Depois deste ditado, já se acalma

O coração, que bate em dor imerso.;

No entanto, vai meu povo tão disperso

Que a rima se contrai e só me ensalma.



Aí, lanço nos ares tais mementos,

Que vejo a repetir-se algumas vezes

Nos cérebros bondosos e me encanto,



Sabendo que refletem sentimentos

Nem sempre tão mesquinhos, tão soezes,

Porque componho a trova com meu pranto.







54. Tangendo a realidade



— Um texto, um só poema é suficiente

P’ra comprovar que venho em boa paz,

Mas tudo o que componho nunca faz

Com que o leitor me estime e mais: me agüente.



Isso eu dizia sempre, um tempo atrás,

Bem antes de saber que muita gente

Vem lendo a produção e já se sente

Simpática e feliz, pois se compraz.



Aos poucos, vão chegando os belos textos,

Trazidos por mão hábil, generosa,

Enquanto os que são pobres vão p’ros cestos



Em que são esquecidos, já que a glosa

Precisa, para as almas, dos pretextos,

Pois quanto mais perfeito mais se goza.







55. No natalício do amigo



Aceite, meu amigo, este versinho,

Que trago com amor para você.

Bem sei que é com receio que me lê,

Mas saiba que lhe dou o meu carinho.



Às vezes me desvio do caminho,

Para colher primores, como vê.

Se alguém me perguntar também: — Por quê? —,

Terei de confirmar que passarinho...



Então, sua alegria me conforta,

No instante em que agradece esta lembrança.;

Do coração descerra a nobre porta,



Pois através da qual é que se alcança

A paz cheia de luz que nos transporta

Aos cimos da virtude da esperança.







56. Seguro de mim



Espero ser feliz daqui p’ra frente,

No embalo da poesia que me cabe,

Porquanto sei o quanto a gente sabe,

Nem mais nem menos: nada diferente.



Assim, caso este verso meu desabe

E caia sobre mim funestamente,

Eu oro ao bom Jesus que me sustente

E que de tanto amor jamais me gabe.



Espero ter escrito com sucesso,

A ponto de agradar o meu leitor,

Causando-lhe a impressão de algum progresso,



Que o gajo que aqui vem é superior:

Então fico feliz e mais eu peço

Apoio e luz e força p’ra compor.







57. Cumprindo a lei



Não tenho muito tempo pela frente,

Que o meu roteiro está p’ra terminar.;

Mas antes vou compor algo exemplar,

Um texto que me torne mais contente.



P’ra tanto vou pedir que este teu lar

Receba de Jesus, perenemente,

As bênçãos dum amor que te sustente

E faça este teu dom mais cintilar.



Também eu vou orar a melhor prece,

Rogando que o bom Pai nos abençoe,

Sabendo que meu verso não merece



Que alguém o leia e, menos, que o perdoe.;

No fim, alcançarei quem colhe a messe

Da rima que meu povo quer que soe.







58. Renúncia é tudo



Progresso permanente eu recomendo

A quem vai estudar Espiritismo:

Às vezes, já se está perto do abismo,

Perigo de cair em ermo horrendo.



“Existem companheiros com quem cismo”,

Há de dizer alguém, “e não me rendo

A suas fantasias, pois pretendo

Agir sem ressonância de egoísmo.”



Avante, caro irmão, que a luta é santa,

Pois melhorar-se a alma se requer.;

Mas da matéria a distração é tanta



Que logo se depara um mal qualquer

Que fere a vida alheia e alguém se encanta

Com nobre sacrifício, onde estiver.







59. Sempre sobra uma certeza



As dúvidas também têm seu papel

Na formação do espírita, que estuda,

Mas, quando a tese é simples e miúda,

A tal lição se aprende sem babel.



Se a análise resulta mais graúda,

Em tema que requer um bacharel,

Sugiro que na sopa caia o mel,

A ver se o seu agir de fato muda.



Se nada está perfeito cá no mundo,

O que se faz exige todo o amor,

Porque, se alguém disser: “Hoje me afundo!”,



É como este soneto que, sem dor,

Demonstra como é fácil, num segundo,

Perder a vida o prisma superior.







60. Sempre sobra algo no fundo do copo



Freqüentemente, peço ao meu amigo

Que escute os meus dizeres, numa boa:

Não gostaria de falar à toa,

Pois tal me saberia a vil castigo.



No entanto, quando escrevo, a alma voa

E, quanto mais distante, menos ligo,

Embora nisso exista o grão perigo

De não rimar ao gosto da pessoa.



Assim, tudo o que faço cá no etéreo

Parece desandar quando transmito,

Passagem que ressumbra a cemitério



E põe o grupo meu bem mais aflito,

Que o bom desta poesia é o refrigério

Da voz que vem tranqüila do infinito.







61. Nada é fácil



Não tenha preconceitos, companheiro,

E aceite este meu verso tão capenga.

Se o julga interminável lengalenga,

Credite um certo dom a mim primeiro.



Ninguém que faça trovas não arenga,

Por isso esta premissa eu lhe requeiro:

Me dê certa esperança que, altaneiro,

Um dia eu chego lá menos molenga.



As rimas me divertem nesta paz

Em que o soneto prima, sendo alegre,

Pois chega de sofrer que o mal me traz



As duras emoções, sem que me integre

Nas turmas mais felizes, incapaz

De decorar as leis, que ao bem me regre.







62. Não há festa de um só



“Espere um pouco mais, meu caro amigo,

Para volver ao mundo em que hoje estou:

Assista deliciado ao grande show.;

Partilhe o doce gozo aqui comigo.



A vida é de esplendor e de harmonia,

Se tudo o que fazemos nos apraz:

Tenhamos muita fé em que haja paz,

Nas rimas que compõem cada poesia.”



Assim pensava eu, estando só,

Bem longe do bulício e do queixume

Da multidão faminta a erguer o pó



Da estrada que palmilha em sofrimento:

Agora brilha o sol e acende o lume

Do amor que do infinito espalha o vento.







63. Há tantos como eu...



Desejo assegurar ao bom leitor

Que estou tentando pôr nesta poesia

Alguma coisa bela que faria

Vibrar o meu irmão com muito amor.



Mas tudo que imagino, todavia,

Esbarra nesta forma superior,

Pois co’as palavras tenho de compor

E o sentimento é fonte que irradia.



Perdoe-me, portanto, o ser canhestro

Nesta expressão falaz que cedo morre.;

Mas o soneto é nota que hoje orquestro,



Batuque sem sentido, mal de um porre

Que um dia me tornou vulgar maestro,

Sambista sem pendor que alguém socorre.







64. Tomando pé na situação



Existe muita luz nesta poesia

Que escreve a minha turma alegremente:

Queremos ver sorrir a toda a gente,

Senão bem pouco vate aqui viria.



Mas sempre que falamos deste assunto,

A repeti-lo em versos sem valor,

Tememos seja azedo o recompor,

Lembrando que este autor é só defunto.



Aí, vão perguntar que faz o povo

Que para cá passou sem expressão:

— Não tem de regressar p’ra cá de novo,



Sem esbanjar seu tempo na escansão?

Mas esta rima atroz requer denodo,

Pois temos de orientar o nosso irmão.







65. Versos menores



Nós vamos despejando tantas dores

Nos versos que compomos sem mistério,

Sabendo que a poesia é caso sério,

Se dela redundarem estertores.



Na busca da causar só refrigério,

Existem os que falam mais de amores:

São graves, são severos, superiores,

Bem longe de lembrar do cemitério.



Às vezes, se apresenta um gajo triste

Que põe para a consciência um dedo em riste,

Na acusação atroz de crime horrendo.



Porém, fica a pensar em cada rima,

Temendo ali perder a nobre estima

De quem, com muita fé, me estava lendo.







66. Compre este conselho



Não queira ser perfeito nesta vida

Mas faça tudo sempre de melhor:

Carregue de Jesus as leis de cor.;

E de Kardec aceite o bem da lida.



Trabalhe com denodo e muito amor,

Fazendo mais feliz quem o convida

A partilhar das dores, pois duvida

Do resultado quem não quer compor.



Um dia há de chegar com sua conta,

Somando e dividindo o que se fez.

Sabendo que a verdade ali se aponta,



É bom tomar cuidados de freguês.

Noss’alma quase sempre volta tonta:

Façamo-la mais séria desta vez.







67. Para resolver em silêncio



Existe uma palavra aí na Terra

Que é dita muito mais do que no etéreo.

Talvez esse problema seja sério.;

Talvez a nossa rima é que se emperra.



No entanto, quando alguém, no cemitério,

Acorda, libertando-se da terra,

Se logo o pensamento se descerra,

Recebe a tal carícia em refrigério.



Precisa ser esperto p’ra saber

Qual é tal termo que noss’alma invade,

Catadupa de luz e bem-querer?



Havendo amor e paz pensar quem há-de

Que possam ser palavras de dever?

É simples a resposta: é só saudade!...







68. Mais ou menos oração



Ajuda-me, Jesus, nesta jornada,

Fazendo-me feliz por te servir:

Não faças que me prenhe do porvir.;

Enxuga o pranto meu, que o tempo é nada.



Que valha para mim o devenir

Que a luta faz prever, o que me agrada:

Se devo levantar mais pó na estrada,

Que seja sempre alegre e a bom sorrir.



Faze de meu ardor a melhor forma

De dar aos companheiros lenitivo,

Seguindo de Kardec a excelsa norma.;



E põe meu compromisso na verdade

Que explica o sofrimento de quem, vivo,

Se apraz, pois para o amor se persuade.







69. Apesar de tudo



Eu quero que me entendam quando digo

Que estou sempre a serviço da virtude:

É certo que também o vate mude,

Porquanto vive à beira do perigo.



Quem quer vir reclamar outra atitude

Do povo que nos lê e pede abrigo

Não pode se esquecer que aqui comigo

Irá pedir em vão, que o mal ilude.



“Serenamente, eu chego já ao fim,

Sem nada ter notado de valor!” —

Há de dizer quem julga ser ruim



O verso que acabamos de compor.;

Um abraço, porém, concede a mim,

Que a rima se constrói com muito amor.







70. Porque não sabem o que fazem



Voltava da refrega onde, apurado,

Me vi a combater os próprios vícios:

Preciso agradecer os benefícios

Da gente que me tem muito ajudado.



As rimas mais parecem artifícios

Para mostrar o quanto sou amado.;

Mas a verdade fica do meu lado,

Se ao menos desse amor lhes dou indícios.



Não há quem mais feliz seja no etéreo,

Quando recebe apoio e compreensão,

Porque passa a fazer algo mais sério,



Rogando, com Jesus, ao Pai, perdão:

Não tanto para os outros, que o mistério

Está na caridade desse não.







71. Não menos sério



Requeiro que o leitor esteja atento

Aos versos mais sutis que lhe remeto:

Com fórmula econômica, o soneto

Exige seja curto este tormento.



Por isso, muito embora esteja preto

O ar que respiramos, mal agüento

A hora de voltar ao aposento,

Para ditar a rima do meu gueto.



Caso analise a trova com rigor,

Deve este amigo estar com apetite,

Porque vou reunir, para compor,



Idéias e emoções com que me agite:

Quem trouxe o coração cheio de amor

Pode embeber de luz este sulfite.







72. Num passe de mágica



“Notável a poesia que componho!” —

Ao atingir-lhe o fim, é o que mais digo.;

Mas brigo, quase sempre, cá comigo,

Que o som que repercute é mui medonho.



É claro que hoje enfrento o grão perigo

De provocar no amigo apenas sonho

E não o bom desejo dum risonho

Exame do real, ao modo antigo.



É com Jesus que conto no desfecho,

Que a luz deste soneto já se acende,

Ao colocar amor em seu entrecho:



A caridade do perdão me rende

Um verso mais formoso, pois remexo

No velho e bom baú deste duende.







73. Ensaio de despedida



Não sei como dizer que vou parar,

Se o verso que componho é tão bonito.

Com a menção do fato, mais me agito

E sinto já saudade deste lar.



Bem sei que só sussurro o que hoje dito.;

Que tenho um proceder muito exemplar:

Enxugo as minhas lágrimas sem par

Na história da existência deste aflito.



Mas tenho de seguir evoluindo

E a carne é que oferece condição

Para tornar meu ser melhor e lindo:



Preciso duma nova encarnação.

Um dia voltarei, pois sou bem-vindo.

Adeus! Deixo na trova o coração!







74. Noblesse... pero no mucho!



Ter asas eu queria aí na Terra,

Para voar nas nuvens, sobre os mares.

Agora, peço a Deus, nos meus esgares,

Se posso retornar sem tanta guerra.



Os homens não me assustam mas por Ares

Eu tenho medo, sim, pois esta terra,

Que sobre mim caiu e já descerra,

Foi tiro de escopeta de um dos pares.



De que me vale a vida, se tão logo

Hei de voltar p’ra cá talvez zangado?

Então devo dizer que a sorte jogo,



Sem me encontrar formoso do seu lado.

Um verso a mais e já me desafogo,

Que a briga é da consciência em desagrado.







75. Pensando em você



Carece de saber com que defeito

O verso que componho se apresenta?

Talvez esteja a idéia um tanto lenta.;

Talvez, sem ter recursos, mais enfeito.



Mas se Jesus nos traz, mais de setenta,

Sem medo, deverei de dar um jeito

De colocar na trova, em tendo eleito,

Um só que possa pôr-lhe a mente atenta.



O número de vezes do perdão

É muito superior que o necessário

Para fazer passar minha escansão,



Mas posso assegurar que o meu hinário

Contém bem duas preces pelo irmão

Que prima por me dar tudo ao contrário.







76. Para dar ânimo



Surpresa, meu amigo, esta presença,

Que traz um novo alento e um bom sorriso:

Às vezes, o incentivo é tão preciso,

Que o gajo pelo estímulo já vença.



Bem sei que não lhe falta nunca siso,

Para julgar o verso a recompensa

Que tem pelo trabalho sem detença,

Um dia após o outro, um paraíso...



Então, deve alegrar-se mais ainda,

Que a trova que hoje dito é muito linda,

Prece de amor, de luz, e de esperança.;



Abraço o seu pendor para a grandeza

De se sentir feliz, ao pé da mesa,

Pedindo ao bom Jesus doce aliança.







77. Orgulho vão



Eflúvios, simplesmente, de uma rima,

Os sentimentos causam-me alvoroço:

Um dia, quando eu era ainda moço,

Imaginei-me estar num mundo acima.



Por isso é que estiquei tanto o pescoço,

Olhando todo o mundo sem estima,

Achando que é dever de quem mais prima

Não atender a quem caiu no poço.



Queria ser esperto além da conta,

Apenas nos estudos da doutrina,

Chamando quem não sabe de alma tonta,



Palerma, candidato que amofina

Perante as leis de Deus, que não aponta.;

Mas hoje aquele mesmo é quem me ensina.







78. O dia da caça



Não tenho muito tempo p’ra poesia,

Mas venho, mesmo assim, trazer um verso.

Talvez não brilhe tanto no Universo,

Mas sei que é tudo quanto aqui faria.



Não posso reclamar, estando imerso

Em cismas da vontade, em alegria,

Sabendo que melhor farei um dia,

Pois nada é para sempre tão perverso.



Então, ao Pai eu rezo agradecido

Por compreender que tudo se perfaz

De modo tão perfeito, e não duvido



Que até neste soneto sou capaz

De me encontrar contigo, meu querido

E bom irmão, em luz, amor e paz.







79. Nem tudo é o que parece



Espanta-me o temor do caro médium

De que o ditado falhe alguma vez:

Tão certo é o compromisso do freguês

Que o tema é o resultado deste assédio.



Não quero versejar em mau francês

Nem busco surpreender, com tal remédio,

Aquele que procura dar ao tédio

Somente distração, e mal não fez.



Embolo o meio-campo e vou-me embora,

Mui crente que ajudei meu bom amigo,

Sabendo que, por rir, hoje demora



A compreender que é sério este perigo

De ver que jogo a bola, mas vigora

As regras da poesia, que castigo.







80. Responsabilidade antes de tudo



Prefiro caminhar bem devagar,

Nas sendas cá do etéreo, pois conheço

O quanto o coração causa de empeço,

Se digo alguma coisa sem pensar.



Também devo saber teu endereço,

Ó meu leitor querido, e do teu lar,

Pois a leitura aí tem de ofertar

Uma alegria boa, sem avesso.



Ao bom Jesus eu peço e, mais, insisto

Em ser o verso meu feliz, benquisto:

Um feixe de esperança e muito amor.;



Também uma oração mui comovida,

Conforme um bom poeta que convida

A todos se comporem no Senhor.







81. Qualquer dia eu acerto...



Peço perdão ao povo pela trova

Que vem p’ra demonstrar que ainda existo:

É pouco p’ra quem quer ser mais benquisto.;

É muito p’ra quem sofre triste prova.



Eu sei que entre os poetas não me alisto

Nem venho p’ra mostrar, em rima nova,

Que bem pode escrever quem desencova

O amor que tem ao Pai e a Jesus Cristo.



É fácil de compor um simples verso.;

Até quatorze trago e mais não faço,

Pois sei que vou perder-me, se, disperso,



O sentimento vaga em negro espaço.

Então, com meu compadre eu só converso.;

Da prece eu não me esqueço, mas não passo...







82. Que não seja só em sonhos



Sonhei, e no meu sonho vi Jesus,

Que me chamava, alegre, p’ro seu lado.

Olhei para o meu corpo esfacelado:

Notei que carregava ainda a cruz.



— Por que, Mestre querido, estou fadado

A ver que, nesta estrada, a tua luz

Me deixa tão feliz e me conduz,

Enquanto o meu destino é meu enfado?



Dormia e, ao mesmo tempo, já compunha

O verso que apresento, tão mesquinho,

Porque jamais peguei meu touro à unha.



Bem sei o que me aguarda em meu caminho,

Porque, do amor do Cristo testemunha,

Preciso demonstrar que o bem sublinho.









83. Sob as vaias da torcida



A bola corre solta no gramado:

Meu time joga duro e muito sério.

Unido, sob a luz do cemitério,

O povo nos aplaude, do seu lado.



Agarro bem a bola, em refrigério

Dos males que mantenho, por malgrado.;

Mas tenho de passar, senão me enfado,

Que o árbitro dá pênalti... mistério...



Tanto joguei na Terra futebol

Que aqui pensei chegar já de uniforme.

Sentei no banco e vi que o meu farol



Não tinha gerador e o mal não dorme:

Mesmo na escuridão, sem Lua ou Sol,

O sofrimento é grande e a dor enorme.







84. Um olho aqui o outro lá



Ao lado do Senhor, pretendo, um dia,

Sorrir para a miséria do passado:

Não quero conservar-me ali no enfado,

Mas como não estar em harmonia?!...



A paz, tal como penso, é só do agrado

De quem não tem pendor p’ra correria:

Não sei, agora, como lá faria,

Se mantivesse o tônus deste fado...



Então, evoluir é necessário,

Pois aprender preciso a me compor

Diante das virtudes do berçário



Da esfera que, a seguir, bem superior,

Pretendo freqüentar, de modo vário,

Diverso deste mundo o quanto for...







85. Assestando as baterias



Não tenho muito tempo p’ra perder.;

Então, escreva logo o meu ditado.

Não quero aqui, porém, ser criticado,

Pois não está em mim um tal poder.



Dos versos que lhe trago não me agrado,

Nem posso a sua ajuda agradecer,

Pois só lhe exijo cumpra o seu dever

De registrar o texto, do seu lado.



Aos poucos me desperto para a rima

E ponho, no compasso, o sentimento:

Preciso, então, contar com sua estima,



Pois a falar sozinho não me agüento.

Assim, não é o final que mais me anima:

É ter podido ver algum talento...







86. Alinhavando a peça



Eu preciso aprender a controlar-me:

A poesia me serve para isso.

Se marco, sem pensar, um compromisso,

Não sei como fazer para o desarme.



Então, este compasso é meu serviço

E a rima é que disponho sem alarme:

Se as sílabas me trazem muito charme,

Englobo o pensamento e já chouriço...



Não devo, então, supor que seja pouco

Levar um bom soneto até o final.

Se corro o risco de falhar, destouco



E emprego este recurso natural,

Fazendo p’ro perverso ouvido mouco

E sem ceder jamais a qualquer mal.







87. Crer é quase tudo



Não temo o meu futuro e me preparo

Para enfrentar a vida novamente:

O amor de Deus me ampara e a alma sente

Que tudo há de dar certo, estando claro.



Não quero que se pense ser freqüente

Saber qual o programa — é fato raro —.;

Mas se tal compromisso eu bem encaro,

É justo suspeitar que tudo agüente.



Não hei de receber qualquer missão:

Estou a divisar sério resgate.

Não basta, para o bem, tão-só perdão,



Preciso dar ao mal um xeque-mate:

Reforma interior do coração.;

Tarefa exterior que me arrebate.







88. Afinando o cravo



Sugiro que este verso seja lido,

Sem muito reclamar, pois tem defeito:

Se o mundo todo houvesse sido eleito,

Ninguém faria um verso só polido.



O som não mostraria seu efeito.;

Ninguém a predizer, com um duvido,

Que as coisas se teriam resolvido.;

Bem longe de eu dizer que tudo aceito.



A imperfeição, porém, é de rigor

Num mundo só de provas incompletas.

Nem quando eu terminar de aqui compor,



Posso dizer que a norma dos estetas

Eu respeitei, por força de um amor

Que me atingiu em cheio dessas setas.







89. Provocando reações



Não tenho muita coisa p’ra dizer,

Mas posso fabricar uma poesia:

A rima é muito fácil, quem diria

Que alguém para o compor não tem poder?!...



No entanto, o tempo não se perderia,

Se demonstrasse aqui mais bem-querer,

Pelo compasso alegre de um dever,

Mais sutil p’ra compor em harmonia.



Eu devo agradecer ao meu parceiro,

Que ajuda neste esforço do improviso,

Não tanto pelo ardor que lhe requeiro,



Porque tem mais que eu muito juízo

E vê a trave imensa e fino argueiro,

Dizendo o que emendar quando preciso...







90. Sem grande entusiasmo



Mantenho-me tranqüilo neste dia

Em que tudo parece tão perverso,

Pois tive duro encontro, estando imerso

Em cismas e problemas, sem poesia.



Depois que refleti neste universo

De límpidas virtudes de harmonia,

Pus no lugar o cérebro que havia

Pensado noutra espécie já de verso.



Mas devo demonstrar como venci

Os ímpetos de forte sentimento,

Conquanto a rima esteja por aqui



Tão fraca e tão anêmica no alento

Que dou ao descascar o abacaxi,

Provando pela trova que me agüento...







91. Não esperava tanto



Disponho de algum tempo p’ra poesia,

Enquanto não trabalho em socorrismo.

É quando me deparo em fundo abismo,

Mui longe de dizer que progredia...



Contudo, ao afinar a lira, cismo

Que é bom ouvir os sons da melodia.

Esforço-me e me ofereço, em alegria,

Para cumprir os dons do silogismo.



Então, o coração bate mais forte,

Porque penso em Jesus, no seu ensino,

Sabendo que é preciso que me importe,



Se, pelo amor dos homens, me fascino,

Deixando que o meu verso tenha a sorte

Daqueles que escrevi quando menino...







92. No lusco-fusco da psique



Rebrilhos e faíscas coruscantes,

Nos versos meus? Não sei se tal faria,

Que o tema dominante da poesia

Não deve se prender aos gozos dantes.



Então, vou moderar a melodia

E dar às emoções alguns flagrantes,

Porque preciso ver se me garantes,

Ó Musa do Dever, certa alegria.



No ensejo desta rima complicada,

Não sei se vou servir-me da doutrina,

Porque bem pouco sei, um quase nada,



Embora o seu concurso se defina

Como o real valor que mais agrada

Ao meu leitor, que a vida dissemina...







93. Psicanálise de araque



Nem tudo o que se quer alguém consegue

Sem grande esforço e luta permanente,

Embora ponha fé que se apresente

Quem tenha alguma luz e o bem lhe entregue.



Mas, como eu tenho de compor mais rente

Ao dom que na doutrina se persegue,

Não posso cá empacar, pois sei que o jegue

Só pára quando apanha e muito sente.



Se a carga está pesada, descarrego

E faço mais viagens: não sou tolo,

Que o fundo dos abismos serve ao cego.



Então, devo dizer p’ra meu consolo

Que tenho o ego, o id e o superego

Prontos p’ro verso, quando for compô-lo...







94. Passando a bola



Entrego-me ao trabalho com denodo

E faço os versos muito alegremente.

Talvez o resultado não se agüente,

Mas posso afiançar que me dou todo.



Aí, o que me lê é certo sente

Que é pouco o seu valor, quase um engodo,

Que levo a fantasia a dar a rodo

As rimas sem castigo e som carente.



Então, peço a Jesus que me acompanhe

Nos versos cá do fim, a chave de ouro,

Para fazer jorrar doce champanhe,



Se terminar a trova sem desdouro.

Faça você tal fim e não se acanhe,

Pois sei que qualquer um vai dar no couro...







95. Bem arrumadinho



Solícito é que volto para o verso

E dou este recado satisfeito:

O bem quando me fazem sempre aceito.;

Não posso aqui negar que o mal não terço.



Bem sei vou demorar p’ra ser eleito

Mas penso, se não for muito perverso,

Verei algumas luzes no universo,

Caminho a conduzir ao Ser Perfeito.



Espero que este amigo que me lê

Não possa ver em mim um intrujão,

Em busca tão-somente de mercê.



Aqui já deposito o coração,

Mandando um forte abraço p’ra você

A quem, pensando em Deus, chamo de irmão.







96. Sem graça



Procuro não errar na minha métrica,

Nem dar à minha rima um som estranho.

Mas o trabalho tem um tal tamanho,

Que a vibração só pode ser elétrica.



É quando, no quarteto, mais me assanho,

Achando a formação longe de tétrica,

Que estou a precisar mais da obstétrica,

Para que venha à luz algo d’antanho.



É que o moderno aqui, dom permanente,

É lei universal e sempre a mesma.;

E quando alguém nos diz estar presente,



Mantém-se a diretriz deste abantesma,

Que vem p’ra registrar que muito sente

Não ter nada melhor, que é simples lesma...







97. O tiro que saiu pela culatra



Prescrevo aos meus amigos a doutrina

Que nos legou Kardec, em sua vida.

A base da moral ao bem convida:

É bem Jesus quem no evangelho ensina.



Quando estiver su’alma combalida,

Basta pensar em Deus, que a adrenalina

Recompõe, de imediato, a sua sina

Nos trilhos da verdade, para a lida.



Se há sangue de barata em suas veias

E o coração não bate muito justo,

Hão de esperar que as coisas sejam feias.



Pois refugir do medo a muito custo

Vou prometer, ó Musa que me odeias,

E saio já daqui, porque me assusto...







98. Desvencilhando-me rapidinho



Preciso assegurar-me da audiência,

Pois espantar leitor não é profícuo.

Então, este poeta, além de iníquo,

Iria demonstrar não ter ciência.



O verso assim disposto é bem oblíquo:

Requer deste meu médium paciência.;

E do editor exige aquiescência,

Um jeito superior, gentil, conspícuo



O mestre que me anima tem cuidado

De que não mais ofenda os que têm fé,

Fazendo uma poesia com enfado,



Que o bom é tomar leite com café.;

Manteiga vai no pão, que é como agrado

O paladar da vida.; e dou no pé...







99. Só a forma não basta



Estimo que meu mestre me acompanhe

Nas horas mais difíceis da poesia:

Não sei como sem ele aqui faria

A rima que os leitores mais assanhe.



Repito tão freqüente a melodia,

Querendo que o meu tema não se estranhe,

Mas guardo p’ra depois o meu champanhe,

Que nada aqui merece essa alegria.



Não sei se os meus leitores chegam juntos

À conclusão que ponho neste verso.

Talvez nos dêem desconto, pois defuntos



Não têm como trovar, sem ser perverso

O fundo de doutrina dos assuntos,

Pois meu caixão compreende este universo.







100. Simples efeméride



Completo cem sonetos neste dia,

Porém, não foram feitos só por mim:

O grupo todo sempre disse sim

Ao arremedo tosco da poesia.



Não é que seja a trova tão ruim,

Mas falta muita coisa p’ra harmonia.

Um vate aí na Terra, eu sei, faria

Melhor que qualquer um, em vista o fim.



Não há como furtar-me a dirigir

Alegre saudação ao Wladimir,

Agradecendo a sua compreensão.



Não vale este soneto para as contas,

Porquanto a minha indiscrição apontas,

Ó tu, Musa matreira da escansão.







101. Misteriosa exigência



Não penso diferente do meu mestre,

Que exige dos alunos disciplina.

Então, o meu poema o bem ensina

A dar valor ao carma do terrestre.



Quem veio para o mundo, esta oficina

De dores a vencer, então se adestre,

Para enfrentar estrada rude, alpestre,

Pondo no coração amor à sina.



É como fazer versos quando as rimas

Se deixam descair para o difícil.

Aí posso dizer: Se tu me estimas,



Aceitarás que o som esteja físsil —,

Que é lógico saber que tu te arrimas

Num bólide do etéreo, verso míssil...







102. Nem sempre a tentativa vale



Eis que arregaço as mangas p’ra escrever

Algo que possa honrar esta Escolinha,

Mas tenho para mim que se avizinha

Apenas um momento de poder.



Quisera ver acesa essa luzinha

Que determina a rima e o bem-querer,

Nest’arte de escandir, não por dever:

Porque no coração o amor se aninha.



Jesus que me perdoe o traço incerto.

Nesta pintura amena do caráter

Que exige do leitor, por estar perto



Est’último terceto do poema,

Que aceite que te chame já de frater,

Ó tu que és duma bondade extrema...







103. Atualizando o verbo



Acordo para a luta nesta esfera

E vejo que a poesia é quase nada.

É claro que o leitor nem sempre enfada,

Mas sinto que o melhor é o que se espera,



Enquanto me dou conta da jornada,

Em trovas da esperança que acelera

O meu compasso, em nome da galera,

Que aplaude o meu vigor e mui se agrada.



A frase fica solta e se destaca

Das normas cá do etéreo para as rimas:

Então ao bem me ajusto e o verso empaca.



Só vai fluir de novo, se me estimas,

Ó Musa da verdade e da matraca,

Megera que me obriga às obras-primas.







104. O desafio é sério



Não forço a natureza dos meus versos

Para agradar a gregos e a troianos:

Se trago dentro ao peito desenganos,

Então devo fazê-los bem perversos.



É próprio acontecer entre os humanos

Que os sons, em maus ruídos sempre imersos,

Não deixam de enroscar-se, controversos,

Nas teses da doutrina dos insanos.



Mas dentro da Escolinha não se pode

Enfatizar tal erro, sem a crítica

Bem justa e bem certeira a tal pagode,



Que o bem, a ressaltar em cada rima,

Precisa ter por base a sã política

De tudo vir compor por nobre estima.







105. Destes o inferno está cheio



Jesus caminha ao lado dessa gente

Que tanto mal pratica neste mundo,

Pedindo ao Pai que apenas um segundo

Desperte cada qual interiormente.



Mas muito enraizada lá no fundo

Está tanta maldade descontente:

Não dá para o Senhor fazer que agüente

Um pensamento d’alma só, fecundo.



Quem sabe este poema realize

Um tal milagre, apenas uma vez,

Pois um segundo dá que se analise



O intento da pureza que se fez

Na rima que registro para a crise

Que possa despertar um só freguês.







106. Nem Dante faria tanto



Eu peço ao meu amigo que me esqueça,

Poeta sem poesia, um simples vate.

Que fique neste impresso um disparate

É tudo quanto almejo, selva espessa.



O tema é que me importa, neste engate

De frases com as rimas de cabeça:

Ó alma, não espere que faleça

O corpo, p’ra no mal dar xeque-mate.



Rigor não traz à crítica esse bem,

Se a forma prevalece ao conteúdo.

Por isso, o meu amor trago também,



Enaltecendo o dom, conforme estudo

O verso que componho, nota cem

Se exalto o pensamento, sobretudo.







107. O gato não escondeu o rabo



Não trago ao bom amigo um verso rico,

De límpida, graciosa formosura,

Porém, quanto aqui faço lhe assegura

Que existe uma outra vida — e eu certifico.



Será que essa tal vida é bem mais pura

Mas não produz um verso mais profícuo.;

Ou cai em negro abismo o gajo iníquo,

Cumprindo o seu destino a criatura?!...



Existe um descompasso nesta rima,

Conforme eu demonstrei um pouco acima:

Desejo de agradar, sendo perfeito.



Mas, quando a boca é toda desdentada,

Não pode ser feliz essa risada,

Nem quando o coração é dum eleito...







108. Acanhadinho



Prefiro dar à poesia

Um sentido mais cordato:

O médium já paga o pato

De me ouvir a cada dia.



“Eu não vejo desacato!” —

Nem outra coisa diria

Nosso amigo, nesta fria,

Pois é fato, não boato...



É tão pouco se soneto,

Inda mais se o verso é curto

E seu tema obsoleto.



“Mesmo assim, eu não me furto!” —

Diz-me o médium com afeto.;

E a poesia sai em surto...







109. Um bom início



A história deste mundo nos ensina

Que a vida deve ser tão bem vivida

Que, ao tempo de chegar sua partida,

Nos seja a tal maldade pequenina.



Mas ao voltar ao mundo, esta medida

Deve conter bem mais da sã doutrina,

Que o vírus da maldade se vacina

Com muita caridade, em rude lida.



Por que fazer poesia sem tempero,

Sabendo o resultado tão canhestro? —

Pergunta o meu leitor em desespero.



Talvez por ser tão pobre e parco o estro,

Atrevo-me a escrever com certo esmero,

Porquanto em meio à luta é que me adestro.







110. Outro velho tema



Não trago novidade para o verso

Nem mesmo a rima vai diferenciar.

O mestre que me ajuda quer mudar,

Achando que tal mote é mui perverso.



Bem sei que repetir não dá lugar

A novos sentimentos do Universo.;

Mas, como em farto amor eu vou imerso,

Não temo que esta trova irá falhar.



Assim, quem ler Jesus no bom Kardec,

Não pode ver mudados os tais temas,

Que o bem não vai sofrer, aberto em leque,



Nenhuma restrição, pois há problemas

Apenas para quem sentir-se em xeque,

Julgando que as virtudes são supremas.







111. Promessa é dívida



Não busco conseguir a melhor rima,

Que a vida aconselhou um som modesto.

É honra muito grande, à qual me apresto,

Apenas soletrar a minha estima.



O mais não pode ser somente o resto,

Mas tudo alcançará ser obra-prima,

Se feito para ver se alguém se anima

A dar tudo de si, em verso honesto.



Jesus um dia ouviu a minha prece

E me mandou alguém p’ra me ajudar.

Assim foi que colhi a minha messe



Plantada no recesso de meu lar:

Na trova, um dom melhor já transparece.;

Ao meu redor, a luz a coruscar.







112. Minha prebenda



Retiro-me feliz de junto à mesa,

Depois que já ditei a minha trova.

Assim, meu compromisso se renova

E as coisas se equilibram com justeza.



Faz tempo que deixei a minha cova,

Em busca de saber a tal proeza

Que me deixou sem ar, pela surpresa

De estar um ponto acima, em cada prova.



Foi o trabalho (diz-me o professor)

Que fiz junto à miséria mais horrenda.

Agora já estou pronto p’ra compor,



A ver se alguma luz aqui se acenda,

Pois tudo quanto faça com amor

Virá p’ra soerguer quem não compreenda.







113. Com um toque de inveja...



Pensei fosse falhar nesta poesia,

Que a prosa se estendeu e transbordou:

O gajo veio aqui nos dar seu show

E terminou de vez minha euforia.



A turma, satisfeita, comentou

Que tudo o que sentiu não falaria,

Mas teve que convir: paralisia,

Nem sempre mais demonstra quem parou.



Por isso é de improviso que apresento

O texto desta tarde proveitosa.

É pobre, que remédio, o sentimento:



Jamais serei feliz em nobre glosa.

No entanto, ao terminar, me volta o alento

De ver como a virtude o bem nos dosa.







114. Para que não invejem...



Parece que não tenho mais sossego,

Depois que comecei a versejar:

A hora do aconchego neste lar

É tudo quanto quero neste emprego.



Depois fico a cismar, neste lugar,

Em rimas permanentes, sem apego,

E ponho a fermentar, p’ro descarrego,

O que julgo melhor, mais exemplar.



Mas sempre o resultado é bem mais fraco

Do que desejo eu mesmo p’ra poesia.;

E quando está ruim é que destaco



Que alguém, melhor que eu, aqui faria

A rima de sucesso, quando empaco,

Pensando em já sair, que a trova é fria...







115. Lição que se repete



— Meu filho, a sua vida é toda sua:

Não queira atribuí-la mais a mim.

Não pense que a existência chegue ao fim,

Porquanto, além da Terra, continua.



Meu pai, ao me ensinar, me disse assim,

Enquanto eu só propunha endecha à Lua,

Pensando que no céu ela flutua,

Porque morreu ou segue bem ruim...



Agora, eu me dou conta da certeza

De que o mundo prossegue em harmonia.;

E venho demonstrar, junto a esta mesa,



Que tudo quanto é bom nesta poesia

Nem sempre dá tributo à vã beleza:

Mas eis o ensino meu, que lhe traria...







116. A felicidade é simples



Estimo o meu amigo e aqui festejo

A glória de servir-me desta pena.

Bem sei que o verso meu também acena

Com glosas que se dão no realejo.



Não posso lamentar a dor terrena

Nesta harmonia triste, pois almejo

Trazer ao meu leitor um bom traquejo,

Em busca de emoção, na cantilena.



Mas faço desta trova o meu troféu,

Que a paz que aqui disponho é superior.

Um verso só dos meus e estou no céu,



Pois lucro neste teste de compor,

Que a rima há de romper o espesso véu

Que oculta na matéria o meu amor.







117. Crítica ferina



Não posso compreender como a poesia

Atrai tantas pessoas, pelo inverso...

Se digo nestas rimas: — Faça um verso! —,

Alguém sempre dirá que não faria.



É claro que quem fica aqui imerso

Não tem como checar esta harmonia:

Precisa variar a melodia,

Buscar as vibrações deste universo.



Em termos de produto apresentável,

Os gajos cá da Terra nunca perdem,

Que o bom é despejar algo agradável



Nos pobres dos leitores sem cultura,

Em rimas ambiciosas que os enlerdem,

Deixando p’ra depois o bem que dura.







118. Ao mestre, com carinho...



Desejo agradecer ao professor

Que atende tão feliz ao seu aluno.

Cheguei eu mesmo aqui boçal, jejuno.;

Agora penso ter algum valor.



Por isso é que, nos versos, me reúno

À turma que comigo vem compor,

Para mostrar ao mestre o nosso amor,

Pois só quer ensinar, sempre oportuno.



Descarta o mestre amigo este elogio

E diz que só não gosta do poeta

Que vem para chamá-lo aqui de tio.



Corado há de ficar que é certa a seta

Que atinge o coração, em pleno brio:

Ó Deus, protege o mestre que nos veta.







119. Veja Pedro



Não nego que já tenha algum talento

P’ra versejar, um dia, com proveito:

A rima que disponho deste jeito

Vai dar prazer ao gajo, se o contento.



Então, muito me esforço e não aceito

Um verso que não tenha um bom momento,

Pois tudo que lhe peço e que sustento

É dar-me um voto só, leitor afeito.



Mas como versejar assim pro forma,

Sem ter um conteúdo bem bacana,

Alguma tese arguta, alguma norma,



Que o bem é da virtude que promana?!

Aí é que se aguarda uma reforma

Do espírito que traz a falha humana.







120. Contradição e fulgor



Artistas cá do etéreo, os meus colegas

Se aprestam p’ra vencer o desafio

E treinam tantos versos. com tal brio,

Que às vezes mui se esfolam nas refregas.



Eu mesmo não prossigo sem um fio

Do mel desta esperança a que te entregas,

Ó Musa salvadora, em rimas cegas,

Pois sabes perdoar meu calafrio.



Não quero entusiasmar-me além da conta,

Que o resultado é fraco é não me agrada,

Depois que tudo escrevo e que se apronta



O médium p’ro ditado em disparada:

Também a hesitação com que se afronta

Precisa melhorar, p’ra não ser nada...







121. Para remediar o anterior



Um simples exercício, este meu verso

Não serve p’ra constar na antologia.

Um dia vou ditar outra poesia

E todos vão dizer: — Mas que universo!...



Agora aqui registro um todavia,

Para moldar de vez o som perverso,

Saudade elementar de tom diverso

Que soube distinguir na melodia.



Pediu-me um bom amigo que fizesse

Um verso mais bonito, alguma prece,

Lembrando que Jesus é todo amor.;



Mas, como me falece a inspiração,

Procuro não dizer-lhe apenas não,

Erguendo a minha voz: — Perdão, Senhor!







122. Fogo de artifício e companhia



Preciso contentar-me com bem menos

Ou dou co’os burros n’água dentro em pouco:

A rima faz pensar que fiquei louco,

Enquanto os versos vou compondo amenos.



Se o som sai todo torto, é que estou rouco,

Malabarismo infrene de somenos,

A receber ao longe alguns acenos

De quem não leu ou faz ouvido mouco...



Pertenço a certa turma do barulho,

Ou seja, que compõe só com ruído,

Frenética harmonia deste entulho



Que chega a entusiasmar, porém, duvido

Que cause alguma coisa além de orgulho,

Por causa dum silêncio de alarido...







123. Omnia quibus erat.



Sugiro que o leitor se desalinhe

Apenas p’ra saber como se faz

P’ra compreender que as normas para a paz

Exigem que, nas brigas, se engalfinhe.



Se de verter latim já for capaz,

Não perca a compostura e se encaminhe,

Sabendo, se vis pacem, cá escrevinhe

Um simples para bellum mui loquaz.



Pois quem deseja a paz prepara a guerra,

Que é tudo o que o saber antes dizia,

No tempo em que o sofrer aqui na Terra



Um verso bem formoso merecia.

Agora, o mal cresceu e a gente encerra:

Ó Pai, quando haverei mais harmonia?!...







124. Recaída temática



Sustento que este dia eu vou compor

Um texto bem mais fácil de ditar:

As rimas vão sair bem devagar

E o gajo me vai dar maior valor.



Preciso enfatizar que tenho o amor

Do mestre que reserva este lugar,

P’ra que demonstre ser mui exemplar

A trova que componho, superior.



Circulo eternamente ao derredor

De minha própria forma e compostura

E as rimas que disponho as sei de cor,



Que é como a minha mente aqui censura

Um mundo imaginado bem maior,

Porquanto eu quero a rima ainda mais pura...







125. A aurora do amor



É lei que aqui no etéreo não vigora

Aquela da fratura por fratura.

No entanto, p’ra tornar a gente pura,

Precisa que haja dor.; e sem demora.



Quem é feliz e sabe esta estrutura

Da rima que sorri mais do que chora

Propõe o benefício e vai embora,

Contente por prover a criatura.



Assim é que este tema se sustenta,

No exemplo de um terceto mui azado,

Que a gente que me lê, por ser atenta,



Já sabe o que acontece deste lado:

O louco sanguinário aqui se assenta

E espera por Jesus, pois é seu fado.







126. Com algum sentimento



Eu trilho o mau caminho da penúria

E, conformado, vibro a melodia.

Se mais tivesse, aqui colocaria,

Para fugir dos vezos desta incúria.



Então, eu bem me lembro da alegria

Que sentes, meu leitor, se, sem lamúria,

Descrevo esta desdita, longe a fúria,

Rogando que me estimes na poesia.



Imita a quem te pede uma oração

E reza ao Pai também por este irmão,

Que sofre tanto agora por seus crimes.



Suspende o teu rancor, abrindo os braços.

Aceita quem tremeu com seus fracassos,

Pois é com teu amor que me redimes.







127. Novo despertar



Não posso prosseguir sem lhes dizer

Que o dia está mui quente por aqui.;

Que tive idéia enfim de que vivi

Apenas p’ra cumprir o meu dever.



Foi bom, pois consegui saber que aí

Cheguei a um belo fim por bem-querer

Do povo que me dava tal poder,

A quem, sem ter noção, retribuí.



No etéreo, percorri a escuridão,

Durante muito tempo, que a consciência

Não despertava nunca p’ro perdão



Dos erros praticados na existência,

Pois uma só brilhante encarnação

Não basta p’ra se ter tanta abrangência.







128. Até onde podemos ir?



Não vamos dedicar nossa atenção

Aos casos de falência da vontade,

Pois hoje desejamos que se agrade

Aquele que tem fé no coração.



Mas vamos desejar felicidade

A quantos nos entoam a canção,

Louvando com amor a cada irmão,

Sentindo alguma vez forte saudade.



Ó Pai, dá-nos que a prece seja boa,

Para tornar o dia mais feliz,

Que um verso sem sabor aqui destoa,



Que o bem eleja agora quem nos quis

Propor uma esperança que se doa,

Deitando dentro d’alma uma raiz.







129. Quem dorme ainda?



Senhor, perdão vos peço para os crimes.;

E tu, leitor, compreende esta poesia,

Pois, com mais luz, o vate te daria

Outras razões p’ra que meu texto estimes.



Antigamente, vinha em harmonia,

Sem suspeitar que queres ver sublimes

Todos os versos, dês que tu não rimes,

Para mostrar que o gajo se iludia.



Mas, devagar, já chego à conclusão

De que mais vale um pássaro na mão

Que a multidão voando pelo espaço.



Um dia, eu me avizinho e falo certo

De que venho dormindo e não desperto,

Porquanto pairo ao longe do que faço.







130. Precisa de boa vontade



Não posso aqui perder um só momento,

Porque, depois da trova, é que trabalho.

Por isso é que meu médium quebra o galho

E põe na tela um nobre pensamento.



Mas, como? Este poeta é um espantalho

Inútil para os versos?! Não me agüento!

Pois vá catar coquinhos, pois atento

Ninguém há de ficar, neste escangalho.



O “nobre pensamento” então se perde.;

O tempo vai p’ro espaço e já não rima,

E o texto hoje sugere que se enlerde



Quem quer fazer aqui uma obra-prima.

Eu deixo o posto a ver se quem o herde

Consegue desfrutar total estima.







131. Com as mãos já calejadas



Não tenho outro prazer na minha vida,

Senão vir escrever este poema.

É pobre, de pobreza assaz extrema,

Mas mui honesto e lúcido na lida.



O gajo que comigo luta e rema

Nem sempre p’ro entrevero me convida,

Pois sabe que, ao perder, não dá guarida

O coração do povo ao tal problema.



Mas vou levando a rima mesmo assim,

Que um dia eu chego lá, tu podes crer,

Pois tudo quanto agora é tão ruim,



Se muito trabalhar, ganho o poder

De melhorar a vida para mim:

Promessa de mais luz e bem-querer.







132. Misteriosa voce



Não quero bater papo inutilmente,

Que a rima tem momentos de poesia,

Nem todas, pois aquelas que eu faria

Talvez só contivessem pó de gente...



Eu pus acima um termo diferente,

Mistura de intaliano e fantasia,

Querendo que alguém diga: — Todavia,

O gajo flerta um tanto.; e segue em frente...



Mas tudo de alegria que introduzo

Nos versos metafísicos do povo

Não vai além de simples, vil abuso,



Com um sotaque louco muito novo.

Aí, alguém vai ver se encontra incluso

O texto da lição.; e quebra o ovo...







133. Estou melhorando!



Se o texto for bem simples, me contento,

Que é mais difícil ser mui natural:

Na rima se revela todo o mal,

Se é com vaidade que meu verso enfrento.



A trova permanece p’ro mortal,

Pois obra quem escreve, mesmo lento,

De sorte a oferecer um sentimento

Que fica, no presente, sempre igual.



Por isso é que importante ser mui puro

O texto que resulta deste esforço,

Às vezes, muito triste, eu lhe asseguro,



Porquanto é de notar que nunca torço

Os males que declaro e que conjuro,

Tornando este soneto um bom... escorço...







134. Sincopadamente



O som que vem do etéreo nos acorda

E põe novo sentido em nossa vida:

Talvez seja um mistério que convida.;

Talvez seja a caçamba sem a corda...



É tanta a graça alheia nesta lida

Que nem de graça vamos nessa horda,

Pois quem nos chama agora pinta e borda,

Que a rima é tosca, fútil, desabrida...



Mas ao clamar por Deus, tranqüilamente,

Sabendo ser seguro aqui viver,

O gajo é lá nos íntimos que sente



A brincadeira séria e o bem-querer,

Que o gosto é sem desgosto permanente,

Fogo que queima e arde sem doer...







135. Um bom começo



A luz desta poesia é que me obriga

A vir falar de amor a toda a gente.

Quisera este meu verso diferente,

A ver se bem ao mundo algum instiga.



Mas é no coração que o povo sente

Que Deus é pai de amor e que nos liga

Ao mundo superior, mas sem fadiga,

Que a prece aqui não cansa, eternamente.



Então Jesus nos trouxe da verdade

Quem pôde compreendê-la e explicá-la.;

Kardec é quem nos diz que o bem invade



O coração de quem seus vícios cala.;

Mas somos responsáveis, se a maldade

Impede de crescermos nesta escala.







136. Ignorância e contra-senso



— Não posso perdoar quem não perdoa! —

Prediz, com seus botões, um pobre tolo.

E nada há de servir-lhe de consolo,

Se alguém mostrar-lhe a idéia muito à-toa.



Quem come até fartar-se desse bolo,

Dizendo emagrecer, que a hora é boa,

A voz da consciência um dia soa,

Para mostrar que amor vai recompô-lo.



Mas tudo quanto alcança é desespero,

Porque falhou atrás ao semelhante.

Agora quer livrar-se do exagero,



Mas fica sem saber que o bem garante

Um molho mais feliz, pois seu tempero

Está na caridade de um transplante....







137. Assaz rapidamente



Estimo que meu médium tenha vindo,

Para atender ao gajo que o conclama:

Por sobre nós, a luz que se derrama

Irá fazer feliz o verso, e lindo.



Não quero festejar sozinho o drama

Que irei vencer, embora quase infindo,

Que Deus é pai de amor e está sorrindo,

P’ra demonstrar ao mundo que nos ama.



É, na verdade, um texto mui fogoso,

Que gera, no improviso, muita estima

De quem sabe que a rima traz o gozo



De se supor que seja uma obra-prima:

No fogo mais gasoso e doloroso,

Um balde d’água fria... que me anima...







138. Recomendação útil



Um dia após o outro, é essa a lei

De quem trabalha a fim de progredir.

Lá longe, divisamos um porvir

De festa e luz, de amor de toda a grei.



Mas hoje nos importa só servir,

Sabendo que Jesus é o nosso rei.

E quem disser ao bem: — Não sei... Não sei... —,

Irá ter de pensar e corrigir.



Agora é nossa vez de, junto à mesa,

Dispor em verso a rima da poesia.;

Real e mui formosa esta proeza,



Porque ninguém julgava que o faria.

Assim, tudo na vida é boa empresa,

Quando se faz em luz tal harmonia.







139. A um amigo



Não tenho o que dizer de teu agrado,

Meu tagarela amigo, doutra vida,

Mas posso compreender tua ferida

E ministrar remédio muito azado.



Bem sei que o teu humor não me convida

A vir passar uns dias do teu lado,

Mas tenho-te comigo e já me enfado,

Por ver que nada faço nesta lida.



Então, vai um soneto muito fresco,

Capaz de derrotar o teu fracasso,

Porque, neste calor, a um bom refresco



Ninguém há de dizer: — Por ora eu passo...

Se melhorar um pouco o mal dantesco,

Aí, hei de te dar um forte abraço.







140. Tratamento íntimo



Retiro-me feliz de junto à mesa,

Depois de vir ditar esta poesia.

Bem sei que alguém melhor poetaria,

Mas bem que eu acho tudo uma beleza...



Assim, eu peço a ti uma harmonia,

Durante esta leitura, sã proeza,

De quem no coração traz a nobreza

De tudo perdoar, sem todavia...



Carrego hoje comigo esta doutrina,

Que estudo nesta classe, com denodo,

E passo, nestes versos, muito fina



A rima que construo, sem engodo:

Se o texto, por ser pobre, desafina,

Bem sei que vou contar co’o povo todo.







141. Os meios justificam os fins



Não posso garantir uma obra-prima,

Conquanto tudo faça com amor:

Se escrevo como eu fiz nessa anterior,

Eu acho que me perco cá na rima.



Est’arte de compor e recompor

Começa devagar e com estima.;

E, logo que o poeta mais se anima,

Alguém sugere um verso superior.



Será que, nesta vida, a perfeição

É meta que se põe a cada dia,

E o gajo fica alegre ao dizer não,



Que é pobre e muito fraca esta poesia?...

Ou devo cá dizer que ainda irão

Sorrir mui satisfeitos de alegria?!...







142. Com extremos de simplicidade



Reúno as minhas forças p’ra escrever

Um texto mais do agrado do leitor:

A rima, por vulgar o quanto for,

Vai demonstrar que tenho bem-querer.



É simples conseguir ser superior

Nos versos mais tranqüilos do dever,

Que o mestre que me assiste tem poder

De me estancar as lágrimas de dor.



Ninguém é tão feliz quanto queria

Na etapa dos estudos cá da escola,

Mas nada transparece na poesia,



Que o gênio do progresso deita e rola:

Um dia após o outro, eu progredia,

Portanto, tudo agora me consola.







143. Confiante no resultado



Apenas um soneto e vou-me embora

Curtir a companhia dos afins.

Se os versos se apresentam tão ruins,

Alegre é minha espera sem demora.



Mas colho as minhas flores nos jardins

Que envolvem de beleza, nesta hora,

Os dons que todo o grupo comemora,

Por ter o meu leitor seus lambrequins.



A festa se completa no poema,

Que a vida tem momentos mui felizes.;

E, se vencer aqui o meu problema,



Dispondo com rigor as diretrizes,

Então parto contente, sem que tema

Os sons, que dão trabalho aos aprendizes...







144. O caminho, a verdade e a vida



Pretendo demonstrar que estou contente,

Por vir fazer uns versos nesta casa.

Eu já perdi, na vida, muita vaza,

Deixando p’ra depois, eternamente...



Às vezes, a modéstia mais arrasa

As nobres pretensões que a gente sente,

Que o medo de falar, estando ausente,

Reside no fator que o bem se apraza.



Então, vim transmitir o meu carinho

A quem quiser ouvir-me, estando sóbrio,

Pois quer saber do amor, justo caminho,



Com que Jesus nos trouxe para a vida,

Que deve ser vivida sem opróbrio,

E nele está a verdade desta lida.







145. Quem avisa...



— Disponho de algum tempo p’ra poesia —,

Dirá gentil leitor despreocupado,

A ver se a tal leitura traz o agrado

De que tudo o que faz tem harmonia.



Aí, leva um tal susto, se chamado

A contas por não sei ou todavia,

Pois todo bom poeta aqui faria

Um verso p’ra consciência em pé de enfado.



— Preciso empertigar-me p’ra virtude —,

Vai sussurrar mui trêmulo esse amigo.;

Eu mostro o quanto espero que ele mude,



Com medo de que vai brigar comigo.

Mas, quanto bem fizer mais amiúde,

Irei mudar o tom do meu castigo...







146. Definindo o rumo



Não creio no destino e sigo em frente,

Trilhando o meu caminho com coragem.

Também não quero aqui contar vantagem,

Que o povo todo mal no verso sente.



Se a rima me apavora, esta viagem

Terá seu fim previsto, certamente,

Pois são quatorze linhas e um dormente,

Que o trem deve passar nesta paisagem.



Esforço-me, no fim, para dizer

Um pensamento só, galante e fino,

Para fremir de amor e bem-querer



Quem veio esperançoso por um hino.;

E peço a Jesus Cristo o seu poder

De tê-lo como a luz do meu destino.







147. A voz do coração



Respiro aliviado neste clima,

Que o verso que produzo vem melhor.

As rimas, todas elas, sei de cor:

A mim me falta apenas tua estima.



— Mas como suportar ao derredor

Suspeitas como aquelas lá de cima? —,

Irás dizer, sem dúvida, e me anima

A tua aprovação, meu bem maior.



Um dia, cá estaremos reunidos,

A comentar as trovas que fazemos.

Então, hão de doer nossos ouvidos



Pois críticas ferinas vêm dos demos

Que sabem mais que nós, por mais vividos,

Enquanto a luz do céu não acendemos.







148. Sem dúvida



Sustento firmemente que o meu verso

Não tem outra intenção que a de informar.;

Por isso é que me atrevo a, neste lar,

Deixar o tema certo, incontroverso.



Mas quando vou dispor algo exemplar

E peço inspiração ao universo,

Não sinto na verdade estar imerso

O coração que bate devagar.



O meu leitor não deve requerer

Dos vates cá do etéreo perfeição,

Que a rima sofre muito até poder



Dizer algo feliz, como verão

Aqueles que me trazem bem-querer

E nunca para o amor vão dizer não...







149. Historinha familiar



Raiava um novo dia, cá no etéreo,

E o povo já se punha a trabalhar.

A mim, cabia pôr-me junto ao lar,

Para tratar ali de tema sério.



Mamãe quem me pedia algo exemplar:

A rima mais feliz do refrigério,

Pois meu papai partira p’ro mistério

E o luto dessa ausência era sem par.



Eu procurei por ele, auxiliado

Por gente mais capaz e mais pujante,

E logo consegui tê-lo ao meu lado,



Mas respirava mal, muito ofegante.

O beijo que lhe dei o fez curado:

Mamãe, o nosso amor o bem garante.







150. Com vistas no futuro



São simples o meu verso e o sentimento

Que trago p’ra mostrar ao meu leitor:

Não quero evidenciar profundo amor,

Pois tudo quanto escrevo um pouco aumento.



Nest’arte do soneto, o meu compor

Exige desde já melhoramento,

Mas vou levando a rima sem tormento,

Contando aliviar de pronto a dor.



E como vou fazer p’ra dominar

Os rápidos impulsos com que luto?

Chegando ao fim da trova devagar,



Dizendo ao meu amigo muito arguto

Que um dia ele também irá provar

Que o bem que aqui se faz é seu tributo.







151. Falando sozinho



“Não quero demonstrar ressentimento,

Mas devo interferir em sua vida.

Bem sei que o coração não me convida,

Mas vou fazer o tanto que acalento.”



Assim é que eu pensava, em dura lida,

Pois para fazer versos me atormento:

Responsabilidade dum momento

Que fica a perdurar, se mal cumprida.



É simples a lição que hoje aqui trago,

Mais fácil que o compasso em que não primo.;

Pior, porque não douro um só afago,



Nem venho sustentar que dou arrimo:

Um pito, uma raspança, um mal que pago,

Exame de consciência a que me intimo...







152. Assustando o leitor



Não quero lamentar esta poesia,

Porque, no fim das contas, a concluo.

Se fosse meu feitio dar um recuo,

Aí, com mais certeza, eu não viria.



Se vou falar de mim, gaguejo e suo,

Que o tema me mergulha numa fria:

A crítica ferina que eu faria

Vai atingir alguém que não acuo.



Que sirvam de lição os medos meus.;

Também esta postura desabrida.

Bem sei que, ao terminar, dizendo adeus,



O gajo que me lê prossegue a lida

E faz uma promessa aos pés de Deus:

Jamais vai rascunhar algo na vida...







153. O bom é rir depois...



No ata e não desata desta rima,

Entendo que meu tempo logo passa.

Mas, como aqui não quero vil trapaça,

Vou logo conquistando a sua estima.



E como fazer isso sem chalaça

Que ofenda e cause medo em quem se anima?

Buscando oferecer algo que exprima

Os dons da luz, do bem, do amor, da graça.



É obra de quem tem muito talento,

Projeto superior dum vate grosso.;

Mas tudo quanto faço aqui sustento:



Um fruto simples, doce, sem caroço.;

Levíssimo arremesso.; um verso ao vento,

Salvando quem se encontra em fundo poço.







154. Mudando o estilo



Distingo, com clareza, o que é melhor

De tudo quanto obriga ao desperdício.

Assim, se cheirar droga é triste vício,

Quem é que isso não sabe até de cor?



Mas muitos vão treinando, no bulício,

As dores que, no etéreo e na pior,

Irão ferir os seres ao redor

Que querem vir trazer-lhes benefício.



Doentes como estão, não podem ver

Saída para transe tão terrível:

Dependem tantas vezes do poder



De quem acima deles tem um nível.;

E como deduzir que é o bem-querer

Que vai dar-lhes um dom inextinguível?







155. Mantendo a linha



Resolvo suspender os meus ditados

E sinto estremeções na fantasia:

Como é que vou passar o fim do dia,

Sem textos e pretextos retocados?



Então, volto correndo p’ra poesia,

Que o bom p’ro general é ter soldados:

Meu mestre mais se alegra dos agrados,

Pois sabe que haverá rica harmonia.



O povo aqui me escuta atentamente,

Sabendo que é difícil vir rimar

Para cobrir um tema surpreendente,



Que o verso que proponho neste lar

Retrata a decisão que o gajo sente

Que deve ser, no mínimo, exemplar.







156. Sem castigo



Nostálgica visão do amor antigo

Que se desfez um dia na voragem

Da vida em torvelinhos, se reagem

Os pruridos carnais dum mau amigo,



Foi longo o desperdício da viagem,

Pois por aqui vaguei sem ver perigo

No fato de trazer junto comigo

A túrbida noção de ter vantagem.



Ainda muito zonzo dessa vida,

O povo quer que eu diga como dói

Esta saudade amarga, desabrida,



Na forma de um poema, como sói

Ouvir no coração quem me convida

Que suba em bravo touro tal caubói...







157. Querendo ser esperto



Não temo aqui voltar para a poesia,

Ainda que bem pouco contribua.;

Mas vou levando a vida como a sua,

Quando adormece em leito-fantasia.



Talvez o meu poema constitua

Apenas distração, pois não daria

Somente um sentimento de alegria,

Enquanto aqui manejo tal charrua.



É claro que é simbólica esta frase,

Pois tudo cá se sente de outro modo.

Espero que o vernáculo se case



Co’a vibração que imprimo e que não podo,

Pois tudo quanto escrevo é bom, ou quase,

Um nada de artimanha em que me engodo...







158. Reflexão, apenas reflexão



Arrolo os benefícios destas rimas

E vejo que o equilíbrio é bem maior:

Exige disciplina e sei de cor

Que tu, meu coração, sempre me animas.



Se o sentimento é paz ao derredor,

Sossego ao respirar em doces climas,

Também devo pedir boas vindimas

Ao Pai, em prece lúcida, melhor.



Mas sempre aqui mergulho inutilmente,

Pois logo vou querendo um verso grande,

Infâmia da vaidade em minha mente,



Que pensa que o leitor, ao ler, desande

Em críticas vorazes, porque sente

Que penso mais em mim, que o mal comande...







159. Por linhas tortas



Consiste a minha trova em simples versos,

Em rimas conhecidas pelo povo,

Que sempre assim dirá: — Ei-lo, de novo,

Trazendo uns sentimentos mui perversos.



É claro que exagero em meu renovo,

Pois podem estes males, se conversos,

Tornarem-se em virtudes, pois imersos

Em luzes ficarão, e eu me comovo.



Dizer de modo enxuto o pensamento

É muito complicado p’ro poeta,

Que tem de respeitar este momento,



Fazendo, num soneto, a mais completa

Ilustração do amor, conforme intento,

Cupido a arremessar certeira seta.







160. Brinquedo educativo



Eu lanço um desafio ao meu amigo

Que teima em contrariar minha opinião,

Dizendo que meu canto é muito chão,

Que nunca irá cantar aqui comigo.



É certo que esse canto cantarão

Os bons beneditinos, canto antigo,

P’ra enaltecer ao Pai, como eu castigo

Os versos desta estrofe, com razão.



Pois entre neste coro e fique atento,

Que um dia há de querer me acompanhar,

Dizendo para si: — Será que agüento



Cumprir a obrigação de vir cantar,

Depois de ter logrado atendimento?

É claro, meu amigo: é seu meu lar!







161. Dá para entender?



Um verso simplesinho e me retiro,

Porque tenho tarefas a cumprir:

Se venho prometer um bom porvir,

Preciso pelo etéreo dar um giro.



As rimas que escolhi p’ro Wladimir

Não posso conceber e lhe transfiro

A obrigação do médium que dá tiro

E acerta alguém no escuro a combalir.



Por isso é muito bom não ter esquema,

Fazendo a tal da trova de improviso,

Ainda que o leitor, por mais que trema,



Suspeite que haja blefe, que harmonizo

Os sentimentos da bondade extrema:

Jesus a nos abrir o paraíso.







162. Eleja o melhor verso



Renovo o meu pedido de paciência

E volto a apresentar um verso tosco:

Talvez seja demais um novo enrosco.;

Talvez seja um sintoma de imprudência.



O brilho que eu quisera nunca fosco,

Na luz dum verso feito com ciência,

Virá p’ra demonstrar ambivalência,

Que o mau há de ser bom, se for conosco.



Montado o jogo rústico da trova,

Na brevidade simples do soneto,

O médium toda rima desencova



E torna bem mais branco o que era preto:

Assunto de esplendor que se renova,

Um tema subalterno que acometo.







163. Chegou minha vez



— Pretendo concluir minha poesia

Deixando um rastro bom de muita paz.

Não sei se, no ditado, alguém perfaz

As regras que me obrigam neste dia.



Assim pensava o moço, um bom rapaz

Que foi chamado aqui p’ra melodia,

Sabendo que o melhor de si daria

Mas vendo ser pequeno o seu carcás.



Seu arco até que tinha dimensão.;

A corda estava rija e bem untada.;

O alvo punha medo na escansão



Mas não tremia o pulso, um quase nada.;

O mestre só lhe deu fraco empurrão...

E disparou a flecha: o bem lhe agrada...







164. Verdadeira modéstia



Não trago muita fé neste trabalho,

Porque não tenho luzes para tanto.

Quisera demonstrar com este canto

O quanto dou no ferro com meu malho.



Aí, irão dizer que não me encanto,

Porque só me limito ao quebra-galho

Dum texto não polido, que achincalho

Apenas p’ra que pensem que sou santo.



É tudo quanto tenho o que apresento,

Embora o resultado seja bom,

Que o verso que se faz dentro do acento



É tão melodioso quanto o são

Aqueles dum poeta luculento,

Que traz para o poema nobre dom.









165. Não mereço castigo?...



Espero que meu verso não fracasse,

Porquanto este meu tempo é tão precioso.

Se nada conseguir, falta-me o gozo

De ter aproveitado um rico passe.



Por pretender fugir muito fogoso,

Fazendo um verso fraco, vil, fugace,

Prevejo muito bem que, neste enlace,

Já vou perdendo a luta, inamistoso.



Mas que posso dizer que não conheça

Aquele que me lê tão desatento,

Pedindo p’ro meu texto não esqueça



Que a rima me prendeu e não lamento?!...

Pois tudo quanto trago na cabeça

Repasso mui feliz... no pensamento...







166. Farfalham as lembranças



Felizes borboletas pelo ar

Colorem a paisagem cá do etéreo.;

O pobre que lhe escreve fica sério

E sente o muito medo de falhar.



Mas vejo nesse vôo o refrigério

De quem mui pelejou neste lugar,

Querendo um belo verso vir rimar,

Já longe do terror do cemitério.



Misturo sensações em descompasso,

Alegres sofrimentos de entrevero,

Que o tema da poesia que repasso



Não pode dizer nada em exagero:

Colorem borboletas este espaço,

Lembrança a farfalhar sem desespero.







167. Saindo da penumbra



Preciso contemplar um pôr-do-sol,

Pois saio desta esfera tão escura.

O dia, um tal clarão, não me assegura

Que pude até jogar bom futebol.



Agora é que batalho a mente impura,

Pensando nestas rimas de arrebol,

A vista encalacrada por terçol,

A ver se cumpro aqui a nobre jura.



Que foi que o mestre amigo me pediu?

Apenas um soneto muito honesto.

Ao longe me parece ouvir piopio,



Tal ave a me dizer que inda não presto.

Se o canto desse pássaro se ouviu,

Melhor é me calar, que o mais é resto...







168. Como em confessionário



Preciso confessar que estou sozinho

Na luta contra o medo de falir.

O mestre faz-me ver o devenir,

Mas sinto que estou longe do caminho.



No entanto, faço força e o progredir

É coisa que prometo com carinho

Ao pobre coração, que eu não mesquinho,

Conforme testemunha o Wladimir.



As vibrações de amor que aqui registro

Me fazem muito bem e me confortam:

Esqueço o pensamento vil, sinistro,



E penso só nos dons que me transportam.

A trova é pouca coisa e eu me ministro

A sova que mereço e que me exortam.







169. Condição atual



Estive aqui perdido para a trova,

Mas meu bom professor me deu ajuda

E disse que o pior é ter graúda

A dívida do mundo, que renova.



Eu quero que minh’alma não se iluda,

Pensando ser a rima rica e nova:

O verso, quando é mau, recebe a sova

De alguém a nos gritar: — Você: caluda!



Aí, esta jornada titubeia,

A coisa vai ficando muito feia

E o tema, a desandar, promete pouco.



Pedir perdão não vou após sofrer,

Que o verso aqui disponho com prazer,

Conquanto a idéia passe de estar louco...







170. A gente faz o que pode



Não posso arrepender-me por ter vindo,

Embora este meu verso seja pobre.

Também lhe peço, amigo, não me cobre

Um verso muito bom ou muito lindo.



Por mais que o pensamento se desdobre,

O rumo desta trova vai saindo

Do tema cá do etéreo, quase infindo,

Do amor, um sentimento rico e nobre.



Recurso universal: cito Jesus

E ponho nesta rima sua luz,

Livrando-me da pecha de inferior.;



Mas, como resta um ranço de ironia,

Preciso completar minha poesia,

Pedindo o seu perdão ao meu compor.







171. Com alguma sabedoria



A bola já não passo com destreza,

Que o jogo aqui no etéreo é mais sutil:

No mundo, a correria estava a mil.;

No etéreo, o nosso orgulho é vã proeza.



Deixei os companheiros já senil

Mas logo vim postar-me junto à mesa,

Talvez nimbado, sim, mas da surpresa,

Pois tal deferimento é mui gentil.



Desejo agradecer aos mestres meus

Por tanta cortesia e confiança,

Pedindo-lhes a bênção neste adeus,



Que o tempo de volver veloz avança.;

E peço ao povo todo que o bom Deus

Acenda a luz do amor que o verso alcança.







172. Apenas bem intencionado



Proponho-lhe uma troca, caro amigo:

Que venha para cá, para escrever

Poemas que demonstrem seu poder

De dar aos mestres meus o seu castigo.



Assim, se demostrar seu bem-querer,

Em versos que eu não trago aqui comigo,

Lhe juro, para breve, que me obrigo

A dar bem mais de mim, como dever.



Bem sei que este incitar vai ser aceito,

Um dia, cá no etéreo, pois a vida

Termina para todos de tal jeito



Que leva a refletir a quem duvida

De que jamais será um ser eleito,

Que os versos lhe parecem rude lida.







173. Assaz devagar



Termino a minha etapa na poesia,

Pois sou requisitado a outro mister.;

Mas tenho de afirmar que, se puder,

Virei p’ra prosseguir, num outro dia.



Estando a ruminar um bem qualquer,

Depois de versejar em harmonia,

Eu penso em revelar minha alegria

Na forma habitual, se Deus quiser.



Assim, este soneto põe um fim

Apenas numa fase não tão pura,

Que o clima desta mente está ruim.



Depois de trabalhar, o vate jura

Que quer voltar a ser, dentro de mim,

Um simples servidor que o bem procura.







174. Em paz, talvez...



O estilo destes versos, sempre igual,

Não causa dissabor ao escrevente:

Sabendo o que escrever, ele bem sente

Que o tema tem seu fluxo natural.



Mas, quando ocorre a rima altiloqüente

De um vate mais artista e coisa e tal,

Começa a suar frio, a passar mal,

Pensando no fragor de um som potente.



Perfeitamente cônscio é responsável:

Desfaz-se das amarras do egoísmo,

Querendo tão-somente ser amável,



Ouvindo os sons internos do truísmo:

Formulação gentil de um vate estável,

Que quer fazer-se ouvir... de fundo abismo...







175. Em cinco minutos



Agora eu me apertei para a poesia,

Que o tempo é muito pouco para o verso.

Assim é que este som soa perverso.;

Assim é que falseio a melodia.



Mas vou pensar que estou no mar imerso

Dos sentimentos bons deste meu dia,

E vou compor a trova que faria,

Se me sobrasse o tempo do universo.



É bom vir tão depressa até o final,

Ainda que o sucesso se conturbe.

Ocorre que este tema é bom fanal,



Para pregar ao povo desta urbe:

O bem que aqui fazemos cobre o mal

E não permite ao médium se perturbe.







176. A chave é de ouro



Destaco um pensamento generoso

E tento colocá-lo na poesia,

Mas, como é muito pobre a melodia,

Não sinto em vir fazê-la nenhum gozo.



Assim, melhor aqui qualquer faria

Se solfejasse a rima mais vaidoso,

Na busca de florear, bem glamouroso,

Os termos mais supimpas de hoje em dia.



O pensamento queda já no olvido

E o sentimento aqui se põe mais triste.

Bem sei que chego ao fim mas mui duvido



Que deva recolher meu dedo em riste:

Um verso só bastava a dar sentido

Ao bem do amor, se o bardo ao mal resiste.







177. Pensando na modéstia dos anjos



Retalhos de lembranças dessa vida

Sustentam-me, no etéreo, em harmonia:

Vontade de escrever bela poesia.;

Desejo de mostrar que o bem convida.



Mas tudo quanto faço alguém faria

Em rima mais supimpa guarnecida

De sentimentos d’alma promovida

A esferas superiores de energia.



Mas vou levando a trova mesmo assim,

Sabendo que não tenho p’ro trabalho

Pendor que reputasse mui ruim.;



Senão cá não teria este agasalho,

Que o Mestre confiou também a mim

Um bem de amor, de luz, que agora espalho.







178. Carraspana sem trauma



Preciso aliviar as minhas penas,

Orando pelos pobres que padecem,

Pois sei que os sofrimentos enfraquecem,

Deixando o povo em dores mais amenas.



Pedir aos que, por birra, não me esquecem,

Para deixar-me andar pelas serenas

E ricas regiões, ao som de avenas,

Talvez, nesta poesia, os males cessem.



O cumprimento destas leis do amor

Exige a cada um bom sacrifício,

Porquanto a paz alguém deve compor,



Para evitar da guerra o seu bulício.;

E neste bom momento é superior

O intento de dizer um não ao vício.







179. Linguagem figurada



Ativo o meu passado e já reviro

Os tempos de estudante aí na Terra:

Folgava toda vez que estava em guerra

E punha muita fé em cada tiro.



A guerra a que, porém, eu me refiro

Não era a que perigo e mal encerra:

Eu pelejava, sim, e a rima emperra,

Porquanto na consciência o verso miro.



Mas tudo se acabou tão de repente,

Que o cérebro espalhei pela calçada:

Atropelado fui, em meio à gente



Que protestava, então, por quase nada,

Um prato de comida fria ou quente,

Enquanto a minha vida era estragada.







180. Ouça-me, apenas...



A forma pela qual faço a poesia

Eleva-me a esperança do perfeito:

Bem sei que falta muito a ser eleito,

Mas sei que vou reger a melodia.



Por isso é que trabalho e tudo aceito

Que os mestres cá me pedem todo dia.

Preciso conformar-me, todavia,

Pois vejo quanto falho em meu trejeito.



Assim deve fazer o meu leitor,

Sem dar mais atenção à pobre rima,

Que tudo se concentra em puro amor,



Na busca de colher a sua estima,

Orando pelas bênçãos do Senhor,

Pedindo por mais luz um passo acima.







181. Fazendo o possível



Cuido dos meus versos neste dia,

Conforme determina o meu patrão,

Mas sei que muito poucos haverão

De ler e de gostar desta poesia.



Retranco as dores mal no coração,

Fazendo perceber falsa alegria,

Nas rimas, que melhor alguém faria,

Pedindo por amor e por perdão.



O dia vai correndo e já termina,

Espécie de bulício que desperta

Para as lembranças minhas de menina,



Folgando na calçada, em hora incerta,

Que o tempo não tem hora quando ensina

Que o bem é luz de Deus, em porta aberta.







182. Notícias do além



Quando foi que nós falhamos com você,

Caro amigo, que nos lê, com atenção?

Ponha fé, ponha esperança, esteja à mão,

P’ra aceitar bem mais trabalho, na turnê.



No compasso do improviso da escansão,

Nós podemos tão-somente um á-bê-cê

Destas rimas, que se fazem só porque

Noticiamos os serviços que virão.



Todo o povo a perguntar se põe aflito.;

Quer saber se o compromisso é p’ra valer,

P’ra chegar muito mais perto do infinito:



— Vou passar na provação deste poder,

Porque ler é diferente e não me agito.;

Mas compor vai exigir mais bem-querer?!...







183. Uma dificuldade dos versos



Caminho pelas sendas da poesia,

Sabendo que periga a minha sorte,

Pois devo assinalar qual é o norte

A quem vier a ler-me a melodia.



E, se falhar, é triste ver o corte

Que o mestre há de fazer, como em sangria,

Porquanto escorre a seiva que daria

Mais dor e sofrimento e mesmo a morte...



Responsabilidade é de rigor

Na esteira destas águas que percorro,

Pois devo respeitar deste compor



As normas mais sutis do bom socorro,

Que exige dos poetas muito amor:

Um pano bem cortado e rico forro.







184. Quando a poesia é essencial



Estendo a mão e agarro com firmeza

O tempo que disponho p’ra poesia:

Talvez não seja boa a melodia,

Mas sentiria a falta desta mesa.



Se não comparecer aqui um dia,

Terei de rascunhar com mais beleza,

Porque minh’alma vai sentir-se presa

Das emoções da angústia em que vivia.



Querido companheiro que me lê

Pensando ser mui fácil versejar,

Que o tempo deste vate está à mercê,



Tendo em reserva sempre um bom lugar,

Aguarde que se chame por você,

Para viver o amor em doce lar.







185. Refletir faz bem



Preciso reagir contra a preguiça,

Mistério de minh’alma nesta plaga:

Cheguei muito cansada dessa saga

Que representa a vida, em rude liça.



Mas a recordação jamais se apaga

De tudo quanto fiz, que agora atiça

O fogo do sofrer, que o bem se enliça

E o mal se põe de pé e me azorraga.



Na Terra fui mesquinha e egoísta.;

Agora peno a dor deste castigo,

Querendo o coração que mais invista



No bem-querer alheio, e não comigo,

Pensando em retornar mais altruísta,

A dar conforto à gente em doce abrigo.







186. Meio sem jeito



Não tenho muito tempo para as rimas,

Por isso qualquer coisa que aqui faça

Precisa se encontrar com quem repassa

As tímidas poesias doutros climas.



Se fosse dizer tudo, é só desgraça

Que trago para os versos, obras-primas

Da dor, do sofrimento, que lastimas,

Ó tu que pões amor na tua taça.



Pretendo atenuar tanta rudeza,

Que o belo também vem para esta mesa,

Premissa de esplendor, de paz, de luz.



A prece que me ocorre aqui fazer

Talvez não dê ao canto um só prazer,

Mas vai lembrar por certo de Jesus.







187. Repensando a vida



Preciso dar prazer ao meu leitor

Nos textos que aqui trago com afeto.

Nem sempre o sentimento é tão completo

Que possa me ensejar um bom compor.



Se sinto as amarguras, logo veto

O resultado triste e sem valor.

Por que compartilhar a minha dor,

Se existe muito amor em quem marreto?



Por isso o texto sai com muitos trincos,

Promessa simplesmente de poesia:

As rimas eu queria como uns brincos,



O mais vem com ressalvas, todavia.;

Às vezes, nossas roupas trazem vincos

Que fazem com que tenham harmonia.







188. Sentimentos antigos



Diretriz de Jesus, o nosso amor

Não pode limitar-se, simplesmente:

A todos deve dar-se, pois se sente

Que é dando que crescemos em valor.



Aquele que vem ler, indiferente,

Sem dar de si, também não vai compor

A trova que nos quer superior,

Embora este sofrer mui pouco agüente.



Precisa equilibrar com alma pura

Os fatos da emoção que nos invade,

Para mostrar na rima, que perdura,



Aquele afeto que nos traz saudade

Dos tempos em que dávamos a jura

De eterno amor a quem o amor agrade.







189. Movimento pendular



Queria descansar só um pouquinho

Das tristes, infelizes condições,

Mas tenho de aturar os meus sermões,

Por ter-me desviado do caminho.



Reflete esta poesia os tais senões

Com que marquei a vida sem carinho,

Porquanto hoje não sei, mas adivinho,

Quão pobres são as rimas e escansões.



No entanto, esta lição contém amor,

Pois quero trabalhar já sem descanso,

Ao ver que sou capaz de aqui compor,



A demonstrar ao povo este balanço

Do mal que vem p’ra bem, se superior

O sentimento d’alma que hoje alcanço.







190. Trabalho insano



Desconfia o leitor que exista fraude

Nos textos que ditamos todo dia?

Por que tanto trabalho eu me daria,

Se sei que ser mui vil ninguém aplaude?



Não posso compreender que esta poesia

Eu venha aqui ditar, sendo debalde

A rima que se sabe de arrabalde,

Bem longe dos processos da harmonia.



A graça que se estima e que se pede

A rir tão desbragado nunca cede,

Que é luz que se requer do mensageiro.



E, quando existem sombras, simplesmente,

A mente dessa gente um pouco sente

Que se enredou nos males que faceiro.







191. Ao futuro a confiança



Sossega, coração, e põe-te atento,

Pois logo chego ao fim desta poesia.

Eu posso suspender a melodia,

Mas creio bem melhor dar-lhe sustento.



Não posso equilibrar esta harmonia,

Se tenho de ditar cada argumento.

É justo aqui, portanto, este tormento,

Que o tempo se retrai, sem alegria.



Depois, aqui virei para emendar

O que tiver ficado para trás,

Que o texto que me importa, neste lar,



Registro com minh’alma toda em paz.

A rima está bem longe de exemplar:

O pensamento é tudo e sou capaz.







192. Silêncio em expansão



Serena, coração, e põe-te atento,

Pois Deus te vai pedir p’ra que trabalhes.

Não quero, em sã consciência, que tu falhes,

Por isso, aquieta agora o sentimento.



O teste verdadeiro é que agasalhes

A dor do teu irmão, que a minha agüento.;

E batas, compassado e sem tormento,

Que a fé é de rigor: não são detalhes.



Um dia, irás sorrir perante a vida,

Que a morte é só passagem sem valor:

É triste, quando jovem, a partida,



O cosmo irá querer, porém, compor

A sorte que te cabe, e resolvida

A rima há de ficar, em puro amor.







193. Diga: Presente!



Periga, neste verso, a pobre rima,

Que não revela os sonhos de minh’alma,

Mas meu futuro em leque já se espalma,

A revelar que o Pai também me estima.



Então, devo trazer a trova em calma,

Pois tudo quanto verso mais me anima.

Que a troca de sentido não se exprima,

Para fazer notar que o verso ensalma.



O lucro é compromisso que me assume,

Postura de bondade que se espraia,

Que o bem do amor na rima se resume.



Enquanto o pensamento a trova vaia,

O sentimento vem mostrar-se a lume

E a prece, que me agrada, não desmaia.







194. Pense nisto!



Permito que me afoguem de trabalho,

Se posso aqui trazer tantas idéias,

Pois uma só função, lá nas colméias,

Daria para uns versos, se não falho.



São muitos os assuntos de assembléias

Em que devo pensar, sem quebra-galho,

Que o mestre me castiga no borralho,

Sem dons de hoje criar prosopopéias.



É forte esta denúncia que aqui faço,

Se o gajo tem buscado a sutileza

De ver em tudo amor, nenhum bagaço,



Que a rima que disponho sobre a mesa

Também revela a dor no rim, no baço,

Se tudo na memória é só tristeza.







195. Confiteor



Preciso compreender que esta poesia

Talvez não tenha crédito, afinal.;

Embora a dissipar pretenda o mal,

Não chega a concluir em harmonia.



Então, vou reservar p’ra meu fanal,

Pois sei que vou voltar um belo dia

A ver se sou capaz e se faria

Um verso bem melhor e coisa e tal...



O máximo de agora é simplesmente

A tentativa justa que me empolga

A ponto de deixar-me mui contente,



Pois sei aproveitar-me desta folga

Para mostrar ao povo alguém que sente

O bem que por castigo o vate amolga.







196. Os últimos e os primeiros



Questão a resolver, grave problema,

O tema dos meus versos para o dia.

Talvez melhor o vate se daria,

Se apenas cá dissesse: — Nunca tema!



A doce condição desta harmonia

Virá p’ra demonstrar a luz suprema

De quem mantém a fé.; o mal algema,

Curando-se da dor, sem nostalgia.



Agora falta pouco para a vida

Chegar aos compromissos derradeiros,

Pois tudo quanto faça, alma querida,



Terá de dedicar aos companheiros.

Do mundo irá trazer somente a lida:

O mais são sonhos só... e dos primeiros...







197. O pensamento é bom



Pretendo progredir durante a vida

E mais, ao retornar cheio de amores:

São vãos os meus desejos superiores,

Se não cumprir com zelo a boa lida.



Preciso obedecer aos meus mentores,

Que pedem atenção, que o bem convida

A tudo compartir, sem dar guarida

Aos tristes infortúnios destas dores.



Ocorre que o meu verso segue em frente,

Mas tenho esta saudade a me prender

A fatos do passado em que se sente



Que fui deixar p’ra trás o meu dever.

A trova até que sai fluentemente.;

A prece é que se emperra ao meu poder.







198. Aprendendo a orar



Não posso arredar pé de junto à mesa,

Enquanto não ditar o meu poema.

Bem sei que é muito pouco, mas me algema

Ao compromisso santo da beleza.



Um cheiro mui suave de alfazema

Desprender da trova é tal proeza

Que eu peço ao meu leitor a gentileza

De pôr, no coração, a paz suprema.



Assim, quando rezar por mim, não meça

As emoções do amor, que o bem reluz,

Nem tenha o meu irmão nenhuma pressa,



Que um dia há de chegar em que tal cruz

Irá ficar p’ra trás, que é bom à beça

Saudar ao Pai no céu, como Jesus.







199. Ainda a prece



Eu peço ao Pai do céu que sempre ajude

A quem nunca se lembre de rezar.

Existe muita gente sem um lar?!...

Então, eu também peço que isso mude.



Bem sei que a minha prece é singular:

Recito dentro d’alma, em sã quietude,

Pois sinto a doce paz mais amiúde,

Felicidade e amor, num só lugar.



Jesus me ampare agora, pois sufoco,

Sentindo que preciso desfazer

As dores que desfilam no meu bloco,



Sagrado compromisso de um dever,

Pois, sem certo equilíbrio, eu me equivoco

E escondo a chave de ouro em meu poder...







200. Nos limites da compreensão



Não nego que me sinto preocupada,

Pois devo imaginar que o meu leitor

Exija de quem venha aqui compor

Que faça uma poesia e persuada.



Não basta só dizer que sinto amor,

Que o mal no coração é quase nada:

Preciso dar avisos, que a jornada

Terá de prosseguir com mais ardor.



Então, faço o que posso e me arrependo

De haver desconfiado fracassar,

Pois tudo quanto dou de mais horrendo



Ainda vai causar um bem-estar,

Que o mundo para o qual estou vivendo

É simples agasalho do meu lar.







201. Uma questão fundamental



Não quero aborrecer mais o meu médium,

Que tenta estimular-me p’ro trabalho.

Ocorre que não quero um quebra-galho

Nem quero, p’ro refrão, nenhum remédio.



Não posso aqui, porém, sem agasalho,

Deixar o bom amigo ao livre assédio

De quem vem à procura de intermédio,

Apenas p’ra mostrar seu espantalho.



Então, peço ao leitor que bem reflita

Respeito destes temas que aqui trago:

A prosa destes textos mais restrita



Não tem como causar nenhum estrago,

Se n’alma refletir a fé bendita,

Que eu quero demonstrar em doce afago.







202. Rude argumento



Senhor, venho pedir-lhe aqui, de novo,

Por toda criatura constrangida,

Que, tendo arruinado a pobre vida,

Agora não tem voz perante o povo.



Se bem analisar nossa ferida,

Verá, Senhor, que o verso é bom renovo,

Que os males que eu guardava em poço covo

Afloram desta vez, se amor convida.



Então, transformo a dor, a dar-lhe luz,

Que veja em pleno dia os olhos meus,

Cansados de chorar sob tal cruz,



Querendo o coração lhe dar adeus:

Que a levem para longe as de Jesus.;

Que a bênção dessa paz venha de Deus.







203. Até o verso treme



A dúvida que trago dentro ao peito

Retrata fielmente a minha vida:

Um dia fui pensar e dei guarida

A pensamentos tolos, sem respeito.



Em vez de registrar que a dura lida

Devia ter seqüência e o mal aceito,

Lutei contra o destino de tal jeito

Que terminei em pó, em fel, vencida.



Somente cá no etéreo compreendi

O quanto a minha dor foi importante.;

E mais devera ter sofrido ali,



Calada e mais atenta, pois garante

Uma consciência lúcida ao sufi

Que o Pai sempre o recebe mais adiante.







204. Por linhas tortas



Não devo lamentar o desperdício

Do tempo que aqui levo a versejar:

Embora nada traga de exemplar,

Ao menos não dedico tempo ao vício.



Também pode ocorrer, neste lugar,

A inspiração do vate, este estrupício,

Que o tema há de causar algum bulício

No coração de alguém, não por azar.



Existe cá no mundo tanta gente

Que, seja, embora, a trova muito feia,

Irá chegar a muitos tão-somente



Como exercício rústico que ateia

Mais fogo nesta lenha em que se sente

Que o Pai escreve certo e não campeia.







205. Lá e cá



A morte que convém ao ser humano

Prescinde de um sofrer desesperado,

Se o gajo, nessa vida, de seu lado,

Tiver cumprido o bem, sem causar dano.



Eu mesma aqui cheguei em desagrado,

Porque de muito pouco hoje me ufano.;

Então, desejo ver subir o pano

Dum novo compromisso em que translado.



Voltar ao campo etéreo é bem mais fácil

Do que reencarnar em corpo denso.

Difícil é chegar aqui mais grácil.;



Na Terra, a criancinha é mais gentil,

Enquanto n’alma o gajo diz: Eu penso

Que hei de cuidar melhor do meu perfil...







206. Versos agudos e fechados



Dedico este soneto ao meu amigo

Que quer desafiar os próprios vícios.

Então, devo dizer que os benefícios

Se estenderão a todos que fustigo.



Um dia, irão dizer que os tais cilícios,

Que lembrarão o dia do castigo,

Também reconheceram cá comigo,

Porquanto hão de fazer bons exercícios.



Se a casa pegar fogo, que fazer?

O corpo de bombeiros vem, p’ra isso,

Cumprir, então, o justo e bom dever.



É simples notação de compromisso:

Os mestres hão de ter esse poder

De me empurrar a rima, enquanto enguiço...







207. Alegria perniciosa



A fé que sinto em mim corresponder

Às ânsias deste irmão que me socorre

É como quando em vida, em pleno porre,

Cumpria da amizade o bom dever.



O mais pairava ao longe e o corre-corre

De quem lutava tanto por viver

Não perturbava o nosso bem-querer,

Pois tudo nessa vida um dia morre.



Agora que o contrário é que me adeja,

Que o bem está voltado para mim,

Faz mal beber um copo de cerveja,



Pois álcool é u’a mistura mui ruim,

Enquanto esta alegria o bem almeja,

Que o bom é desfrutar o amor no fim.







208. Uma lição do avesso



Liberta dos grilhões, eu sinto a vida

Pesar-me estranhamente na consciência,

Mal algo aqui me diz: — Tenha paciência

Que Deus vai fornecer-lhe uma guarida.



Então, tudo se põe como ciência,

O sentimento até de estar ferida,

Que é lógico que a fé provém da lida

Que obriga cada irmão, nesta existência.



O pensamento é tudo.; o mais é nada:

Mas, para aqui pensar, haja equilíbrio,

Que amor se deve dar, pois arrecada



O bem maior, felicidade e pranto

Por desfazer da mente o vil ludíbrio

Que nos manteve presa ao seu encanto.







209. Manuscrito



— Contento-me com pouco! — é o que dizia

Ao bom amigo meu que aqui escreve.

Então, vim lhe pedir que pegue leve,

Que o texto, desta vez, não tem poesia.



Se o gajo quer parar, não sei se deve,

Embora aquela tela esteja fria.

Mas como tudo acaba em harmonia,

O grupo quer que a trova hoje releve.



Por isso o meu assunto é desta hora,

Problema p’ra mais tarde resolver.

No entanto, se houver perda, o vate chora,



Porque tentou cumprir com seu dever:

Escreve o bom amigo e vai embora.;

Mas eu fico a sentir seu bem-querer.







210. Com um dia de preparação



Não posso acostumar-me com as trovas

Que invento nesta hora, junto à mesa:

Eu sei que se admira tal proeza,

Mas sei também que tu, leitor, reprovas.



O bom é versejar com mais beleza,

Dizendo as coisas velhas como novas:

Castigos de poeta viram sovas,

Se o linguajar perder sua pureza.



Não brinco, quando a luz quer se apagar,

E salvo, verso a verso, no momento,

Que é duro repetir mais devagar



O que, quando produzo, não lamento,

Que a forma ganha muito neste lar.;

É bom o conteúdo e o sentimento.







211. Prestando contas



Não devo desejar ferir ninguém

Nas rimas que aqui faço tão sentida,

No entanto, ao demonstrar a minha vida,

Aposto que eu magôo mais de cem.



Porque não terminei vendo cumprida

A sina que marquei para o vaivém,

Eu hoje vejo a estrada e sei que tem

A indicação segura que elucida.



Por isso, aqui lhe peço, bom leitor,

Que me perdoe sempre o vil enguiço,

Pois tenho de aceitar este compor,



P’ra refletir que agora o compromisso

Se espalha pelas mentes com amor,

Porquanto a rima é mais que um bom serviço.







212. Experimentando a pena



Não quero tomar parte da mentira

De um texto superior, se sou tão pobre:

Espero que este sino só redobre

Na estética do amor a que se aspira.



Então, que o meu leitor apenas cobre

O que lhe prometi e tenho em mira,

Ou seja, aqui trazer-lhe, em breve tira,

A paz interior e o mais que sobre.



Também posso rezar por meu irmão

Que não consiga ler nenhum dos versos,

Pois só por escrever não é que irão



Os vates cá do etéreo ser maldosos,

Que os sons, além da luz, só são perversos,

Se impedem que melhorem nossos gozos.







213. Bem simples



Falece-me a vontade de escrever,

Mas tenho de cumprir a obrigação:

Ainda que esta rima seja em –ão,

O trato é demonstrar só bem-querer.



Por isso, vou chamar de meu irmão

A quem a este soneto se atrever,

Abrindo o livro e tendo tal poder

Que os termos logo ajustam na escansão.



Ainda, em sendo pouca a sua ajuda,

Não negue a quem precisa desta lavra

O benefício ao bem a que se aluda.



Quem tem alguma coisa para dar,

Um mínimo que seja, uma palavra,

Componha, com amor, algo exemplar.







214. As palavras repercutem



Não quero permitir que falhe ainda

O intento de mostrar que a rima é boa,

Mas tudo quanto escrevo não ressoa,

Conforme a trova que julguei mais linda.



Então, o professor me diz que à toa

O sentimento, quando é bom, não finda

No esquema destas rimas, mas deslinda

Que o verso traz do amor quanto apregoa.



Mas deve o vate apenas compreender

Que tem de vir à mesa co’a esperança

De transferir à trova o bem-querer,



Que alguém, na Terra, a luz em paz alcança,

Que o pensamento tem tanto poder

Pois, simples seja o verso, e a dor descansa.







215. Resguardando o fôlego



Instiga-me este médium a dizer

Que tenho desejado escrever mais,

Mas um soneto só me satisfaz,

Pois, para eu ir além, falta poder.



Então, este improviso vai valer

P’ra fomentar idéias no rapaz,

Julgando que este vate é mui capaz

E que o fazer tão pouco é bem-querer.



É grande o seu cansaço, ó meu amigo,

E o meu, por trabalhar o dia inteiro.

Assim, fique contente hoje comigo,



Que apenas uns minutos lhe requeiro.

Deixei o meu leitor correr perigo?

Então, que me perdoe o bom parceiro.







216. Olhando para o alto



Não tiro o pensamento em ser melhor

Para fazer o bem para as pessoas:

Se as rimas que aqui trago não são boas,

Ao menos, vou dizer que as sei de cor.



O sentimento teu no ar ressoas,

Ó coração fiel, que, ao derredor,

Envias vibrações do amor maior,

Sapinho a coaxar pelas lagoas.



Quisera compreender todo o infinito

E pôr no verso meu a formosura

Apenas duma estrela que hoje eu fito



E penso que apresenta a luz mais pura,

Mas ouço o verso meu e escuto um grito:

— Cuidado, caro amigo, co’a estrutura...







217. Quando vale a intenção



O tema dos sonetos não dá samba,

Porquanto a seriedade é de rigor.

Então, quando aqui venho p’ra compor,

Eu sei que o sentimento não descamba.



Mas como demonstrar o meu amor

No verso em que não dou de bom, de bamba,

Nem tenho em minha corda uma caçamba

Que possa trazer água p’ro exterior?!



Ia pensando assim e achei o tom

Desta canção de vida, em franca luta,

Pensando em não dar trela para o som,



Que surdo é quem não ouve nem escuta:

Abraço o meu amigo e mostro o dom

Apenas da vontade, na minuta...







218. Cada qual dá o que tem



Sorrio quando dou de mim ao verso

E vejo que a verdade prevalece.

Aí, faço questão de bela prece,

Porquanto estou no amor também imerso.



A tal pujança, enfim, desaparece

E o tema, que abrangia este universo,

Reduz-se a um soneto mui perverso,

Um fruto, simplesmente, desta messe.



Ocorre que minh’alma é muito pobre

E a rima que componho sai mesquinha:

O riso tão alegre os sons não cobre



E o pranto que ameaça se avizinha.

Então, rezo de novo, que redobre

O amor que pela trova se mantinha.







219. Que bom que vocês existem!



Não trago uma só flor do meu jardim,

Que aquelas que aqui colho são mais belas:

São brancas, são vermelhas e amarelas,

Que espalho junto aos pés, em torno a mim.



Por isso, sou feliz, que as arandelas

Se acendem tão festivas, em carmim,

Azul celeste e verde, num sem fim

De luzes radiosas, como estrelas.



Não vou voltar, porém, ao meu tugúrio,

Tão lúgubre da dor que me atormenta,

Pois levarei comigo um lindo antúrio,



Lembrança imorredoura que me alenta,

Sabendo desde já que meu murmúrio

É simples como a prece que aviventa.

Rute.







220. Todo amor é lindo



Os flocos de algodão, no ar dispersos,

Buscavam bom terreno onde hibernar.;

A mim me parecia que era um lar

Que cada qual formava, em lindos versos.



Por isso me atrevi, neste lugar,

A dar uma noção dos dons perversos

Que tento restaurar, estando imersos

Em lúgubres sazões, de par em par.



Preciso, pois, vencer minha ruindade,

Ao menos nestas linhas do soneto,

Pedindo ao bom leitor que não se enfade,



Se o tema, que era branco, ficar preto:

Sementes de algodão, tão-só, verdade,

Um dia brotarão, eu lhe prometo!

Rute.







221. Do bom e do pior



Preciso controlar minha vontade,

Pois meu desejo é sempre bem profundo:

Quisera conquistar etéreo e mundo,

Que o verso, quando é bom, mais persuade.



Mas, antes, vou vencer este iracundo

Quarteto, que se põe sem propriedade,

Que a luta pelo bem minh’alma invade.;

Preciso de um tempinho, um só segundo.



Pois esse é o meu problema junto à rima,

Que o verso bem que sai e até se ajusta

Às normas desta métrica que intima.



O tema é que confunde e que mais custa:

O fulcro do compor uma obra-prima

Resulta mui confuso.; e o vate assusta...







222. Espelhe-se nos versos



Não quero perturbar com minha dor

A paz do bom amigo que me lê.;

Mas seja o meu recurso ter você

Apenas por juiz deste compor.



Então, posso supor que alguém me vê

Segundo um prisma altíssimo de amor,

Imaginando a prece superior

Com que vai dar-me apoio, sem porquê.



Disfarço a hipocrisia nesta rima,

Sabendo estar mui longe de obra-prima

A sugestão claríssima da prece.



É que preciso tanto dessa ajuda,

Que peço, na poesia, que me acuda

Alguém que ponha fé nesta quermesse.







223. Valiosas informações



Redijo simplesmente este poema,

Por força da lição que recebi.

Então, penso na rima a pôr aqui,

Julgando resolver bem o problema.



Mas que lição darei, se não senti

Estímulo nenhum de forma extrema?

Aí, peço perdão, antes que trema,

Que o tempo há de ser útil para si.



O meu não desperdiço nesta trova,

Não mais do que passei dentro da cova

A ruminar maneiras de vencer.



Mas, no trabalho, achei o meu remédio,

P’ra superar de vez tremendo tédio:

Então vou reformar o meu dever....







224. Preste muita atenção



Um dia, eu me encontrei perto do fim,

Na estrada duma vida atribulada:

Não tinha realizado quase nada,

Mas tinha alto conceito até de mim.



Em sonho, é que me vi desafiada,

Dizendo o protetor ser bem ruim

A sorte destinada e, mesmo assim,

Me pus a rir, tão tola e malcriada.



Aqui cheguei em prantos, pois o medo

Cresceu quando me vi tão desprovida

Daqueles bons recursos, onde o enredo



Ali formava eu sempre, dando vida,

Às coisas desta mente que, em segredo,

Pensava estar fazendo. — Alguém duvida?...







225. Lute, mas não fira



Estou muito segura do futuro,

Mas sei que vou sofrer porque falhei.;

Assim é que pergunto à minha grei,

Quando terei o coração mais puro.



A vida terminou, mas eu não sei

Por que fui transtornar o bem, eu juro:

Pensando ser ativa, eu dei um duro,

Querendo transformar a velha lei.



Mas penso que a intenção estava certa.;

Os métodos que usei é que entravaram

Os gonzos desta porta agora aberta,



Depois que o mestre meu me fez saber

Que respeitar é máxima que encaram

Os que querem mudar, p’ra ter poder.







226. O resultado é sempre dúbio



Procuro refazer o meu passado,

Mas a memória é fraca e bem ruim.

Talvez seja preciso para mim

Que alguém bem mais esperto fique ao lado.



Bem sei por que a este posto eu hoje vim:

P’ra demonstrar que a luta traz agrado

A quem não vai dizer: — Hoje me enfado

Pois nada vou fazer. Não é assim.



Talvez este soneto traga a marca

De alguém que pende muito p’ra fuzarca

E, alegre, quer matar o compromisso.



Mas, no fundo do texto, resta o pranto

Do vate que pretende ter encanto,

Mas que não tem como prestar serviço.







227. Com perdão da má palavra



Não posso arrepender-me do que faço,

Estando junto à mesa no ditado,

Porque seria grande o desagrado

De vir pedir perdão, num passo em falso.



Eu dei um bom exemplo deste fato,

Atravessando a rima cá do espaço,

Dizendo que o rascunho eu despedaço,

A conservar, porém, o ensino dado.



É que meus versos vão de vento em popa,

Nos meus limites, claro, que são fracos.

Talvez, quando vestir a nova roupa,



Encarnação supimpa sem os cacos

Que acrescentei na última, uma sopa

De letras e de sons, todos opacos...







228. Poesia da verdade



O som deste meu verso é muito estranho

P’ro meu ouvido agreste e tão inculto:

Pareço estar diante d’algum vulto

Que quer fazer a mim um mal tamanho.



No entanto, eu não defino como insulto,

Nem mesmo se a tal mal eu me arreganho,

Tentando dar-lhe logo um belo banho,

Porquanto, com perdão, em paz, o indulto.



Talvez meu bom leitor queira saber

O tempo que levei para escrever

Este soneto chocho e sem mistério.



Pois digo que gastei a vida toda,

Que sempre hei de aguardar que a rima ecloda

Na hora em que me vale o refrigério.







229. Fazendo uma imagem de mim



Não tenho nem idéia do que seja

Amar e desprender-se por amor.

Eu penso ter amado, mas com dor,

Insuportável dor nessa peleja.



Então, eu reneguei seja o que for

Que possa oferecer-me de bandeja

A forma mais feliz, em que craveja

A paz com toda a luz interior.



Por isso, este soneto em que lamento

A chance que perdi, levada ao vento

Dos interesses dúbios de minh’alma.



Eu quis o bem-estar e a segurança,

Pensando que esse amor a gente alcança

Apenas co’o bater de simples palma.







230. Sintomas de progresso



Estive numa fase muito boa

Em que deixei o mal bastante atrás.

Foi fase de gozar de tanta paz

Que a forma deste verso até destoa.



Eu quis fazer o bem, pobre rapaz,

Pensando a tempestade só garoa,

E vi que tanto bem não é à toa

Que exige melhoria não fugaz.



Analisando a trova, eu posso ver

Que estou a transformar o meu dever

Num bem de amor, de fé, muito oportuno.



Então, esta alegria eu passo adiante,

Dizendo que este esforço me garante

U’a medalha simples, como aluno.







231. Como não ver a trave?



Convido o meu amigo a meditar

Nos textos que produzo junto à mesa.

Não sei se mais se agrada da beleza,

Se o texto o faz lembrar outro lugar.



O máximo p’ra mim, maior proeza,

É ver o meu soneto, devagar,

Ganhar uns rudimentos de exemplar

Nas sugestões que gera tal surpresa.



Não vinga um verso torto e de trejeito,

A denunciar que o gajo mui se inflama.

Eu digo, em seu lugar: — Como suspeito



De que esta trova há de viver da fama

De quem fez nome, mas não foi eleito,

Porque demonstra aqui que só reclama.







232. Falta o nó nessas pontas



Não venho p’ra agradar ao meu leitor,

Embora aqui devesse ser cordato.;

Então, os meus problemas já desato

E quero que respeitem este autor.



Forçado eu sou a tanto espalhafato,

Nest’arte de causar certo estupor.;

Ou posso comedir-me ao vir compor,

Deixando a idéia revelar o fato.



A tese se concentra na poesia,

Ou bem na falta dela, que o resumo

É o bom leitor quem faz à luz do dia,



Que a escuridão do mal, eu já presumo,

Não tem como agradar e eu só daria...

Mas tenho de manter-me em rijo aprumo.







233. Promessa difícil de pagar



Eu vou pegar de leve, dada a hora,

Porquanto o meu amigo está com sono.

Também, desta verdade quem é dono,

Se o texto não diz nada e o gajo chora?!...



São tantas as poesias.; tal pletora

Há de causar transtornos se ambiciono

Que a minha há de ficar em abandono,

Estando entre as milhares da penhora.



Perder não posso aqui, contudo, a chance

De demonstrar que progredi no etéreo.

Ninguém hoje não há que não avance



Um pouco, a cada verso, em refrigério,

Embora o mal no bem o tal entrance,

Pedindo ao bom leitor solva o mistério.







234. Vórtice de vida



Respeito os sentimentos do meu médium

E digo-lhe que a forma não promana

De inspiração que busca a lida humana,

Senão que o mal requer que haja remédio.



Quem suspeitar de dolo mais se engana,

Que é doce o nosso dom, em meigo assédio,

Promessa que fazemos longe ao tédio

De sermos sempre iguais, na caravana.



Embora cada irmão tenha um motivo,

A turma se limita, e muito bem,

A dar, no seu recado, um lenitivo



Ao males que sabemos ser de quem,

Embora o gajo fale ao nosso ouvido:

Trabalho que não cessa.; e amor também.







235. Delimitando a força



Não peço para a trova inspiração,

Pois quero demonstrar o meu valor.

É pouco, eu sei, pois tenho de compor,

Examinando as leis desta escansão.



Se alguém notar que as rimas sei dispor

Apenas com pobreza e distração,

Consciente do final que acaba em –ão,

Talvez não sinta aí nenhuma dor.



Procuro aqui malhar bem fortemente

O ego e o superego deste vate,

A ver se meu espírito não mente



E se meu coração sem fé não bate,

Arrependido já, mas siga em frente

Que o bem é uma frutinha: uva ou tomate...







236. Vamos trabalhar, irmão!



Envolvo o pensamento em panos quentes,

Porque respeito devo ao bom leitor:

Quisera ter palavras só de amor,

Mas tudo quanto exponho tem serpentes.



Então, hás de dizer-me que o compor

Não tem razão de ser, se, inconseqüentes,

Os versos vêm pedir que tu me agüentes,

No inferno astral do medo desta dor.



O lenitivo chega em boa hora,

Na forma de poesia posta em verso,

Pois fico a relembrar Nossa Senhora



Em seu calvário, em luto tão perverso,

E assim Jesus, seu filho, que estertora,

Ali na cruz, por causa do universo.







237. Eis quanto posso



Estimo que este verso esteja certo,

Ao menos quanto à métrica e ao compasso,

Pois tudo quanto aqui de mais eu faço

É mero treinamento, em campo aberto.



Bem quis vir demonstrar que, neste espaço,

A gente também tem um mestre perto,

Mas como me atrever quando me alerto

De que basta um errinho e perco o passo?!...



Por isso, este meu medo é logo eleito

Assunto de suprema perfeição,

Que é tudo quanto tenho quando espreito



A forma de soneto da lição,

Que é curto e, quando triste, se dá jeito

De nunca ouvir do povo rude não.







238. Sepulcro caiado



Pretendo ser mui breve nesta trova,

Realizando o verso com agrado:

Não ponho o sentimento mau de lado,

Porquanto a minha dor a rima prova.



No entanto, não estou desesperado,

Que o dia me mostrou a face nova

De um velho e vil problema que se encova

No fundo da consciência, com que enfado.



Por isso, este meu verso é bom à beça,

No intento de levar ao meu leitor

Que devo analisar, quando não cessa,



O mal que faz coçar, lá no interior,

A secreção do vício, em rude peça

Que prega ao vate a trova ao vir compor.







239. O certo e o duvidoso



Acuso, atrás da porta, o sentimento

De que quero burlar do Pai a lei.

Reflito com consciência e já não sei

Se estar tão certa a idéia eu sempre agüento.



Nem todos que confessam: — Sei que errei! —

Escondem o que sentem no momento,

Arrependidos, sim, no pensamento,

E prontos a servir à sua grei.



A gente quase nunca está por perto

Daqueles que sofreram vil traição,

Mas, quando o coração se põe aberto,



O povo sabe bem qual a canção

Irá cantar o gajo, em sendo esperto,

Aliviando a dor a seu irmão.







240. Revirando a mesa



Preciso conformar-me se o destino

Reserva para mim um sofrimento.

Pior vai ser se agora me atormento,

Na pressa de tornar-me bom menino.



A fúria com que vim neste lamento,

A ponto de causar um desafino

Na lira que hoje tanjo e não domino,

Terá de sossegar meu desalento.



Talvez este contato co’a poesia

Me dê as condições de um ser pacato,

Na informação segura que eu faria



Um bom soneto aqui, pois me aclimato:

Iluminado estou, se esta alegria

Me deixa temperar de amor tal ato.







241. Diante da realidade



Importa-me saber a opinião

Do bom leitor amigo que me estima,

Mas sei que elogiar a minha rima

Não vale simplesmente, ou dizer não...



Se fosse este meu verso uma obra-prima,

Talvez servisse apenas de ilusão,

Pois pensaria assim o meu irmão:

— Quão belo é esse sentir com que se anima!



Mas, sendo pobre a trova, o compromisso

Se ajusta mais fiel a um nobre gozo

Que exige do compasso apenas viço,



Que acima defini como glorioso,

Ao lhe pedir, amigo, e agora atiço,

Que diga que gostou do joão-teimoso.







242. O soneto que me fez pensar



Não tenho muita coisa p’ra dizer

Nem o meu verso é tão desenvolvido.

Talvez eu chegue ao fim, mas já duvido

Que o tema atrairá seu bem-querer.



Falar da rima em si é bom partido,

Que o tema é conhecido p’ra valer,

Sabendo-se, contudo, que o poder

Da imagem desgastou em seu ouvido.



Mas como resolver este problema,

Sem pôr as mãos na massa da escansão,

Pedindo ao coração que nunca tema



O fato de se ouvir sonoro não

De quem sequer tentar simples poema

Se ajeite, para estima deste irmão?!...







243. Um estudo: eis tudo.



Não temo tempestade nem trovões,

Que a vida do meu lado é mais sutil,

Mas temo o sofrimento no Brasil,

Que os males lá se dão aos borbotões.



Assim, sofrer uns versos, mais de mil,

Não me parece rude aos corações.;

Tampouco o tempo gasto em tais serões

Decorrem para dano estudantil.



No entanto, se não falo da miséria,

Ao menos p’ra lembrar-me o compromisso

De que devo tornar a rima séria,



Vou parecer bem tolo e logo enguiço,

Que a trova se aproveita da matéria,

Para mostrar o etéreo com mais viço.







244. Memória não sublimada



Bato as asas, num vôo silencioso,

E venho aqui pousar para a poesia,

Enquanto, lá no alto, apetecia

Tornar a minha rima um nobre gozo.



E quando volvo à crosta, todavia,

O vôo se transforma de ditoso

Em triste realidade, já que ouso

Burlar as leis do verso que trazia.



É que é tão densa esta matéria ao sul

Do meu estágio vívido de vate,

Que até posso rimar o rei Saul



Co’a sorte que me deu seu xeque-mate,

Porquanto este horizonte, agora azul,

Um dia teve tons de chocolate.







245. Ainda bem que trova é breve



Recordo, com pesar, a minha vida,

Porquanto nada fiz de algum valor.;

Por isso, quando eu venho aqui compor,

Procuro tornar clara esta subida.



Assim, por seu aspecto exterior,

A peça que registro alguém duvida

Que traz a marca límpida da lida

Que busca por afeto e por amor?!...



Eu torno estas palavras muito minhas,

Que a luz dos mestres meus eu não reflito,

Senão este poema, em entrelinhas,



Teria bem mais força que meu grito,

E tu, meu coração, que a rima alinhas,

Terias que sofrer pelo infinito...







246. Sem fronteiras



Entrego-me à poesia e ponho em versos

Os sentimentos todos que me animam.

Assim, os bons leitores que me estimam

Hão de poder saber quão são perversos.



Aí, hão de tocar-se que me arrimam,

Com seus rogos por mim no bem imersos,

E vão saber que os temas controversos

São úteis para alguém, se amor imprimam.



Sou lúcido e mantenho em equilíbrio

As forças que me fazem terminar

O meu soneto troncho, sem ludíbrio.



Mas deixo que o leitor sinta um pouquinho

Do fel que me atormenta, pois meu lar

Ficou sem mim, sem fé e sem carinho.







247. Chuchando o médium.



Não sei se vai dar tempo p’ra poesia,

Mas com certeza os versos vão sair,

Capengas, como diz o Wladimir,

Que não deseja ouvir sem harmonia.



Se as rimas são em i, vão produzir

Um choque de audição que nos faria

Apenas vir brincar, sem, todavia,

Perder um tempo bom para o porvir.



Ocorre que este esteta é vil, careta,

Perverso nestas rimas do rascunho,

Que quer que a tal beleza comprometa



O tema, em conteúdo e testemunho

De que adiantar-se aqui só de muleta,

Que poucos têm o dom do próprio punho.







248. Quem se habilita?



“Jesus, olhe por nós, os pecadores”,

Clamamos, por sofrer desde a matéria,

Mas, se nossa intenção fosse bem séria,

Daríamos valor às próprias dores.



Iríamos bradar contra a miséria,

Aquela que enceguece os seus autores,

A gente que não sofre os dissabores,

Mantendo os miseráveis só com léria.



Mas tudo quanto pode este poeta

Há de ficar imerso sob escombros

De sentimentos vis, porque projeta,



Em ondas de estupor, os seus assombros

E leva p’ro soneto que arquiteta

A cruz, que deposita em outros ombros...







249. Com as velas pandas



Não quero pedir água ao inimigo,

Porquanto combatemos sobre o mar.;

Então, posso dizer algo exemplar

E rir, com muito agrado, aqui comigo.



E o que pensei será que um dia digo,

Achando tudo bom, em bom lugar,

Que o tema, muito embora devagar,

Atiça a compreensão deste perigo?!...



Se rir é o meu remédio predileto

Para conter as fúrias na poesia,

Então devo afirmar que hoje completo



A glosa, sem temor, sem todavia,

Que a via toda inteira é um bem discreto,

Redoma de um amor que se irradia.







250. Desejo de ser útil



Invento um metro novo e já desfaço

A trova que parece tão sem jeito,

E volto ao decassílabo, que aceito,

Modelo entre os modelos, neste espaço.



É rio sempre a correr sobre seu leito,

A desaguar, ao longe, no regaço

Do mar das ondas calmas em que passo

As tardes de escansão e de proveito.



Não é que eu tenha o dom de paz e vida,

A irradiar amor, em cada verso.;

É que este gesto meu também convida



A quem quiser progresso no universo

Que estime os tais momentos dessa lida

Em que se faz um bem em luz imerso.







251. Alma em remoinho



Imploro ao guardião que me protege

Mais luz, para compor os versos meus.;

Assim, quando termino, elevo a Deus,

Em prece, os pensamentos deste frege.



Ocorre que são tantos os sandeus

Que o mal seu coração afoito elege

Que a frase, que era azul, hoje está bege,

Descolorida e sonsa p’ros ateus.



É que a poesia sofre um despautério,

Na tentativa inválida e inferior

De quem o medo traz do cemitério,



Com vezos de saber, de ser doutor,

Porém, jamais encontra um refrigério,

Porque não aprendeu o que é o amor.







252. Com alguma dor



Proponho ao meu leitor que faça a rima,

Segundo a compreensão deste mistério.

Assim, a que lhe ocorre é cemitério,

Enquanto, para mim, o verso anima.



É claro que requer um refrigério,

Sem pôr a pretensão em obra-prima,

Pois leu muitas poesias mais acima

E tanta perfeição o põe bem sério.



— É claro que o soneto é de improviso! —,

Há de exclamar o gajo, com malícia,

Querendo desfazer do nosso ciso,



Porquanto é este o autor da obstetrícia,

A partejar a idéia, sem juízo,

Ouvindo alguns vagidos, com delícia...







253. Deglutindo versos



Não passo muita sede ou muita fome,

Que a luta pela vida aqui fenece.;

Mas, quando tenho medo, me aborrece

O fato de ver quanto o mal carcome.



Então, tento rogar, em bela prece,

Sustentação e apoio, pois me some

O lídimo desejo de renome,

Que ter amigos sempre favorece.



O bem que aqui se faz traz recompensa

No amor que logo espalha tal ventura

Que tudo o mais o povo já dispensa,



Para tornar a vida bem mais pura,

Agradecendo ao Pai a benquerença,

Que é mérito e virtude, pois perdura.







254. Indo longe demais



Espero perturbar o mais que possa

O meu caro leitor tão desatento:

Que ganhe, nesta dor, um novo alento,

Fugindo de levar tremenda coça.



Aí irei pensar: Não sei se agüento

Chegar ao fim do verso nesta fossa,

Julgando ser bem feito, em rica boça,

Este soneto vívido que invento.



No rumo do perfeito é que me entrego

Às mãos muito ferinas de meus críticos,

Sabendo que o bater neste meu prego



Ajuda que os madeiros sejam míticos,

Jesus e os dois ladrões, que jamais nego,

As vítimas do mal de vis políticos.







255. Obsessor de si mesmo



Não tiro os olhos meus de sobre a tela,

A ver se esta poesia se completa.

Bem sei quanto é difícil ser poeta,

Para tornar a dor do verso bela.



Porém, a minha vida se repleta

De doces harmonias e revela

Que as lições que passo, nesta cela,

São todas vãs e tolas... dons de esteta.



Então, estudo o tema e desabafo,

Fugindo da premissa da verdade,

Que apenas pela rama psicografo.



Quem acha que perder-se o gajo há-de

Não sabe os meus recursos, pois me safo,

Dizendo ao bom leitor que o bem me invade.







256. Não diga que ninguém avisou



O enredo dessa vida é tão bonito,

Se tudo aí der certo para o gajo.

Então, deve dizer: — Eu não reajo,

Senão dentro das leis cá do infinito.



Mas tanto a carne obriga a tosco andrajo

Que a dor é imperativa e o cara, aflito,

Não sabe controlar tremendo grito

E perde o sofrimento pelo trajo.



Assim, quando desci, no cemitério,

O corpo, nesse apego ao vil sucesso,

Sabia ficar longe o refrigério,



Co’o sofrimento d’alma sem progresso,

Pesando a situação de modo sério.;

Mas logo a rima vem e eu recomeço.







257. Parece fácil.; será que é?



Não posso acrescentar, nesta poesia,

Nenhuma informação quanto ao progresso,

Pois tenho fracassado e, sem sucesso,

Apenas mal componho a melodia.



A tese é bem distante e até lhes peço

Que curtam quanto possam, todavia,

Sem criticar o vate, que faria

Um verso bem melhor em retrocesso.



Então, por que aqui venho desarmado,

No intuito de fugir do mal insano,

Pois, cá no Umbral, o fato é que me enfado



E, quando eu faço a trova, eu não me engano:

O sofrimento fica amenizado,

Por causa deste exemplo ao ser humano.







258. Para despertar a consciência



O medo de enfrentar certo perigo,

Às vezes, é sinal de covardia.

Eu mesmo renunciar hoje queria

Ao verso, que ameaça de castigo.



Mas como desejar mais harmonia,

A meditar sereno aqui comigo,

Se deixo de cumprir a meu amigo

O vívido dever desta poesia?!...



Assim, ao ver a guerra que devasta

Os povos, por ganância de dinheiro,

Alguém tem que dizer bem alto: — Basta! —,



Que a morte há de gerar, no mundo inteiro,

Apenas sofrimento, que é nefasta

À prática do bem, que hoje requeiro.







259. Perdoe-me, você!



Preciso convencer-me que é melhor

Fazer um verso simples, quase prosa,

Que o povo que me lê, sereno, glosa,

Se a rima ele souber guardar de cor.



No entanto, a minha trova mais formosa

Não tem outra que a valha ao derredor,

Porquanto o meu assunto é bem pior,

Pois falo desta guerra que me tosa.



Desvio o velho tema e me atrapalho,

Pois ponho na bondade do leitor

O mérito maior dos dons que espalho.;



E peço que respeite meu compor,

Que, embora cansativo e muito falho,

Exige do poeta algum valor.







260. Falando a verdade



Queria desejar ao meu amigo

Mais sorte na leitura da poesia,

Que, às vezes, o meu tema não devia

Mexer com sua paz, mas eu perigo.



Esteta, eu comprometo a melodia

Apenas com compor aqui comigo,

Lembrando o sofrimento muito antigo

Que me leva a esquecer toda a alegria.



E o círculo se fecha sobre mim,

Ficando o meu leitor aí de lado,

Achando que o meu texto, tão ruim,



Apenas cá demonstra o desagrado

Que fere os bons princípios a que vim

Pedindo p’ra que seja abençoado.







261. Saindo da escuridão



As luzes que se acendem para mim

São tocos de umas velas lá da esquina:

Alguém passou por lá, muito traquina,

E se lembrou de um ser muito ruim.



Até por troça, o gajo me ilumina,

Mas sem saber que pode dar um fim

À rima que componho e agora vim

Trazer à luz do mundo, pequenina.



O pensamento é tudo e o bem é mais

Amor, que dissemina essa virtude,

Pois, quando em mim, pensar o gajo faz



Que o sentimento mau em bom transmude.

Por caridade, eu peço que os mortais

Acendam dessa luz, que a dor se ilude.







262. Por que sofrer?



Preciso contentar-me com bem pouco,

Porquanto a minha voz é tão roufenha.;

Difícil é que a rima aqui mantenha,

Que os males de minh’alma já destouco.



Também, como ser bela esta estamenha

Com que visto este verso, estando rouco?!...

Nem mesmo o meu ouvido eu faço mouco

E o bem que dispuser não há que venha.



Depois, fico perdido a contemplar

O resultado fraco da poesia,

Pensando em já ceder o meu lugar,



Sustando o que melhor outro faria.

Meu mestre mostra a trova a terminar

E o som fica mais puro de alegria.







263. Saber, até que eu sei...



Indago a contragosto se gostou

O meu caro leitor desta poesia,

Mas é com muito medo, todavia,

De que seja um fiasco este meu show.



Então, por que a pergunta se queria

Apenas sugerir que o bem gorou,

Na voz deste poeta, como um grou

A anunciar inverno e nostalgia?!...



Eu peço, finalmente, que perdoe

O gajo que me lê o atrevimento

De suspeitar que a rima aqui ressoe,



Ao menos um instante, um só momento:

Da luz, uma centelha, um raio voe,

Na fé e na esperança em que me agüento.







264. Vamos lá!



Chegou Jesus dizendo a todo o povo

Que a caridade brilha lá no céu,

Que quem, aqui na Terra, é só escarcéu

Vai ter de retornar em dor, de novo.



Veio Kardec e ergueu do etéreo o véu

E demonstrou que a fé tinha um renovo

No fato da razão, e disse: — Eu movo

A idéia de que a alma fica ao léu.



Agora o sofredor consegue ver

Que existe do outro lado nova vida,

Que só depende dele ter prazer



Em ir p’ra lá com alma enaltecida,

Bastando sobre o mal criar poder,

Fazendo o bem, que à luz o amor convida.







265. Espantando a escuridão



Não sinto medo agora cá do etéreo,

Pois tenho alguma luz e algum estudo,

Porém, para dar forma ao conteúdo,

Vou ter de desvendar muito mistério.



O povo, quando lê, pensa que tudo

O vate que se atreve, em sendo sério,

Tem de saber e dar um refrigério

Às dores e às angústias, sem contudo...



Eu venho simplesmente p’ra dizer

Que mudem o que pensam deste mundo,

Que os pobres que versejam têm poder



Para mostrar apenas um segundo

De todo o seu trabalho e seu dever,

Ficando p’ra depois o mais profundo.







266. Ganga impura.



Resisto à tentação de divagar,

Pensando só em mim, em meus problemas.

Não trago soluções, porém, não temas

Perder teu tempo aqui dentro do lar.



O mundo das estrelas mais extremas

Talvez não brilhe tanto e, devagar,

Se deixe dominar pelo luar,

Que apaga os mais distantes teoremas.



Assim, este meu verso é que me ilude

Porque penso fazê-lo tão supimpa,

Julgando, embora, simples de virtude.;



E o bom leitor, que sabe quem garimpa,

Perdoa o pensamento tolo e rude

E extrai a gema rara, douta e limpa.







267. Desassossego e reflexão



Alguma luz eu trago, sim, comigo,

Mas é tão pouca que nem dá p’ra ler

O resultado bronco do dever

Do verso com que brindo o meu amigo.



Quisera esmiuçar este poder,

Mas temo dar de frente co’o perigo

De aqui perder um vezo muito antigo,

Ao qual dedico estima e bem-querer.



É quando cresce um vulto que ultrapassa

As lindes destes versos e já me assusta,

Ao recordar da vida uma desgraça



Que faz com que a vaidade, tão augusta,

Tropece no vernáculo sem jaça

E acabe nesta rima: a que mais custa.







268. Sirva a lição



Eu não me apego muito aos dons da vida

Nem faço restrições aos versos meus:

Se alguma luz tiver, graças a Deus,

Eu quero pôr na trova em dura lida.



Jesus, quando falava aos fariseus,

Recriminava a todos a surtida

Aos bens alheios, quando o amor convida

A dar ao mal e aos vícios um adeus.



Aqui no etéreo, o tema é diferente.

Que o lucro é só moral fica evidente,

Pois não se tem riqueza material.



Os meus irmãos pelejam contra a dor

De serem acusados no interior,

Porque não são felizes neste astral.







269. Em cada leitor um irmão



Notei que meu amigo, quando lê

Os versos que disponho com cuidado,

Nem sempre, lá no fundo, sente agrado

E pensa, perguntando: — Mas por quê?



No mínimo, o desejo mais sagrado

Não é de elucidar tanto a você,

Mas é de ver as rimas à mercê,

Para o prazer sutil do desenfado.



Ocorre que hoje sofro tanta pena

Dos males praticados lá na vida

Que a trova, que componho tão pequena,



Parece que ao amor e à luz convida,

Que o bem, mesmo distante, já me acena,

Na estima do leitor, em prece ungida.







270. Licença mais que poética



Sujeito-me à tremenda disciplina

Que exigem estes versos do poeta.

Assim, a trova fica mais completa,

Pois posso sossegar quem me domina.



No entanto, o conteúdo se amofina

Se Amor não traz na aljava uminha seta

Que atinja o coração de quem me veta,

Que o resultado é tosco e a rima indigna...



Porém, toda maldade tem limite

E aqui não cabem termos descosidos:

Se acima eu incitei e dei palpite,



Agora eu me arrependo e volto atrás

E ponho à sua frente os meus pruridos

De ver o mundo todo em doce paz.





271. Preenchendo um vazio



Carrego aqui comigo uma ilusão

Que se transforma agora em má poesia.

Bem sei que desprezar não deveria

O fruto do trabalho da escansão,



Porém, o que fazer, se a melodia

Abala totalmente a minha mão

E o tema vai ficando um ramerrão

De dores imprestáveis que eu nutria?!...



Ao menos, sobra espaço p’ra Jesus

Depositar no chão a sua cruz,

Abençoando a gente que me lê,



Que bem por isso sabe qual o peso

De quem não quer mudar o antigo vezo

De carregar no verso sem porquê...







272. Criando ânimo



Preciso que me apóie, meu amigo,

Embora o sentimento seja tolo.;

Mas, como um verso eu tenho de compô-lo,

Se tenho o seu perdão, me desobrigo.



Assim, pensava há pouco em lhe dar bolo,

Deixando p’ra depois o meu castigo,

Mas, como hei de pedir que vá comigo,

Se em seu caminho ponho o maior rolo?!...



Então, surge Jesus na trova e faz

Que eu pense bem melhor, sem improviso,

Pois tempo eu tenho muito, até demais,



Para bolar um rolo em que lhe aviso

Que devo imaginar do céu a paz,

Para forçar a rima com mais siso.







273. Poesia de resultados



O tempo que hoje eu tenho para a rima

Reduz-se a alguns minutos de improviso.

É claro que aqui trago, com meu siso,

Uns versos preparados, com estima.



Estou muito folgado e paraliso

A febre do desejo de obra-prima,

Pedindo ao bom leitor, que mais me anima,

Que me perdoe a trova e o prejuízo.



Então, chega Jesus e o dom que vibra

Me faz arrepiar, com emoção,

Pois bate o coração em cada fibra



P’ra me acordar desejos de perdão,

Que o bem, com muito amor, a luz calibra

E traz, co’a caridade, a salvação.







274. Esperança em prece



Senhor, faça de nós servos corretos,

Dispostos a estudar com muito afinco,

Tornando o coração feliz, um brinco,

Para aceitar em paz os seus decretos.



Os nossos bons leitores, mais de cinco,

Pretendem festejar quando, completos,

Os versos informarem que seus netos

Soletram cada rima que hoje finco.



Então, venha Jesus abençoar

A trova que desperta o nosso amor,

Por ser honesta e lúcida, exemplar,



Embora ofenda a arte de compor.

No entanto, encha de luz o doce lar

De quantos tenham paz, por seu valor.







275. Aos corvos o crocitar



Quisera conquistar o seu amor,

Nas trovas que componho a cada dia,

Mas tudo quanto penso não daria

Para justificar o meu ardor.



Qual mérito traria esta poesia

Que interessasse a rima superior

Do mestre e deste amigo de valor,

Que sabe muito mais, sem todavia?!...



Por isso é que Jesus cá comparece,

No verso que introduz este terceto,

Pois quem plantar recolhe desta messe



De luz, de paz, de amor, em bom soneto,

Ao que suplico ao Pai, rezando a prece

Que trago agora ao povo, em vil panfleto.







276. Preciso tirar a capa



Deixei minhas pegadas lá na areia

Que a onda da maré logo apagou.;

Aqui, eu faço uns versos, dou um show

Que o tempo há de apagar: o mal campeia.



Se alguém me ler, no entanto, é certo vou

Ficar numa memória, até que, cheia,

O gajo vai dispor, por estar feia,

Da trova que algum dia impressionou.



Ainda que Jesus me desse amparo

Nas rimas que disponho, cuidadoso,

Preciso confessar que hoje disparo,



Pois sei que está difícil dar-lhe um gozo

De puro sentimento, meu preclaro

Leitor, pois mais não sou que preguiçoso...







277. Cáustica poesia



Levanto a velha hipótese da dor

Que fiz por merecer estando vivo

E o verso que utilizo e que cultivo

Não serve à minha arte de compor.



Preciso imaginar um modo ativo

De referir o efeito ao seu autor,

Pois nada se descreve do exterior,

Se a causa aqui não passa em sério crivo.



Jesus não comparece desta feita

Senão para anular o meu pedido,

Que a rima discursiva se rejeita,



Caminho, herdade, lucro apetecido

De um tempo que, sem luz, ninguém aceita,

Lamento de verdade desprovido.







278. Cuidado na medida certa



Cheguei a transmitir certa mensagem

Inteiramente cego e pessimista,

Então meu mestre disse: — Não insista

Em embarcar de novo em tal viagem.



Critique os versos tolos, tendo em vista

Que de você se exige a tal coragem

De enunciar que errou, pois interagem

O autor e seu leitor, que o bem conquista.



“Então, Jesus”, pensei, “vai me ajudar

A pôr em versos claros esse tema,

Que tem de ser sutil, audaz, sem par.”



Mas tudo o que escrevi, pobreza extrema,

Não trouxe p’ra que veja, que o seu lar

Merece a melhor prece, e não que trema.







279. Atenção, amigo!



Pretendo ser bem simples nestas linhas,

Porque tudo o que escrevo sai confuso,

Não tanto por falhar, nem por abuso:

Porque meus temas são só picuinhas.



Mas, como o verso é nobre e eu não me escuso,

O sentimento vai nas entrelinhas,

Que o mais posso dizer que são mesquinhas

Lembranças de outros tempos, que hoje encruzo.



Jesus, ajude agora o pobre vate,

Que quis ser simples mas me compliquei,

Que a trova, que era fácil de arremate,



Precisa de alinhar conforme à lei.;

Perdoe quem se atreve ao disparate

E ponha o bom leitor em minha grei.







280. Pedindo um tempo



Preciso descansar desta poesia,

Que os temas se esgotaram por completo.

Eu vou municiar-me, pois um veto

Do mestre representa que auxilia.



Por mim, ficava aqui mas mui me afeto,

Porquanto a mente pune a aleivosia,

Que um verso meu sem jeito já teria,

Causando ao bom leitor um mal concreto.



Até Jesus não tem função na rima,

Pois falta-me emoção e a trova assume

Caminho tão errado e desanima



O grupo que me ajuda e tem cuidado

De não causar no povo um azedume,

Orando com fervor cá do meu lado.







281. O homem põe...



Não posso despedir-me tão sem jeito,

Conforme o verso acima testemunha:

Ontem, meu bom amigo não supunha

Que quem se lamentou diria: — Aceito!



Não vou pegar o touro com a unha,

Que a rima há de exigir outro trejeito.;

Então, devo afirmar que fico atreito

A confirmar o bem com boa alcunha.



Jesus, a sua bênção eu requeiro,

Em prece comovida, que lhe envio.;

Retiro da gaveta o meu isqueiro



E acendo a vela que só tem pavio:

É esse o meu poema, o derradeiro,

Iluminado e puro, por um fio...







282. Testando a trova



Perdão vos peço, Pai, se aqui me atrevo

A vir lamuriar-me da existência.

Talvez me falte ainda essa ciência

De dar preclaro som ao meu enlevo.



Ao meu leitor eu peço mais paciência,

Rogando p’ra que o bem tenha relevo,

Pois tudo que componho eu sei que devo

Tornar mais belo e puro, em evidência.



As luzes perenais dos mandamentos

Que são suas lições, Jesus querido,

Parábolas que ensinam sentimentos



Que quero demonstrar, porquanto lido

Com emoção, em ânsias, por momentos,

Refletem-se na rima em que eu duvido...







283. Com as asas implumes



Não peço para mim a prece amiga

Que o bom leitor dirige ao nosso Pai.;

Eu peço por quem sofre e sei que vai

Sentir-se bem melhor, que a dor mitiga.



Preciso melhorar, pois sobressai

A forma que aprendi à moda antiga.;

Assim, rogo também não haja briga,

Quando a palavra for um simples ai!



O amor que desejei aí na Terra

Encontro cá no espaço com fartura.;

O bem que alguém me faz a paz encerra



De um coração formoso em prece pura:

Se o verso perde o pé e a rima erra,

Ao menos, meu irmão hoje me atura.







284. Prestando conta



Atrevo-me a pensar que sou poeta,

Pois alguns versos faço com presteza,

Mas, ao postar-me junto desta mesa,

Os sons que aqui componho o mestre veta.



É que o compasso é todo a tal proeza

Em que resumo a trova que completa

O número de sílabas, na meta

Das rimas desta língua portuguesa.



Então, que fique claro ao meu leitor

Que não desfaço d’arte de compor

E sim do despreparo da mocinha,



Que instada fui p’ra demonstrar, no verso,

Que o coração que trago tão perverso

Do bem, do amor, da luz já se avizinha.







285. Por onde se deve começar



Esqueço, muitas vezes, que preciso

Conter os meus impulsos de poeta,

Pois tenho de estudar, que a minha meta

É fazer versos, sim, mas com juízo.



Vazia, a minha mente não completa

A estrofe em que capricho neste aviso.

A ternura que anseio e que improviso

Precisa ser mais lúcida e direta.



No desafogo desta rima rude,

Existe um pouco até duma virtude

Que desabrocha já no coração.



É ter paciência p’ra mostrar que a paz

Há de alcançar o meu leitor voraz.;

É perdoar as falhas da emoção.







286. Um pouco melhor



Preciso controlar a minha fúria

Porque para o compasso eu tenho o dom,

No entanto, de que adianta o melhor som,

Se a trova que termino é sempre espúria?!...



O verso pelo verso nunca é bom,

Mas cobre dos estudos minha incúria.;

Então, fico refém de vil lamúria

E o meu sentir se dá no coração.



Por isso, sou forçada, neste enleio,

A prometer bem mais daqui p’ra frente,

Trazendo novos temas de permeio



Àqueles que bem sei que o amigo sente

Felizes no regaço de quem veio,

Porque dão alegria e paz à gente.







287. Sentindo saudade



Retiro da memória os casos tristes

E ponho-me a lembrar das coisas boas:

Gostava de sentir frias garoas

E rir com meu papai dos velhos chistes.



Ó tu, meu coração, que já não côas

Os sentimentos tolos e resistes

Na aceitação do amor, que o mal insistes

Em revelar às vistas das pessoas,



Não tenhas tanto medo do porvir

E do trabalho insano que é preciso

P’ra deslanchar no bem e progredir:



Se existe uma paixão, aí diviso

A causa que tu tens que corrigir

P’ra pôr nesta cabeça mais juízo.







288. Sinceridade é o tema eterno



Consigo imaginar um bom poema

Porém, não sou capaz de recortá-lo

Em fórmulas lingüísticas, no embalo

Dos temas mais perfeitos neste esquema.



Eu penso em Jesus Cristo e logo um galo

Repete o seu cantar e o meu dilema

Parece que confirma que se extrema

A negação do bem quando me entalo.



Se cá trouxesse os versos mais bonitos

Iluminado aos sóis dos infinitos

As pérolas perfeitas da virtude



Iria dar exemplos de impiedade

Porquanto este temor que hoje me invade

Não faz que o coração o amor transmude.







289. Contaminação evitada



Jesus vai me ajudar, com doce encanto,

Nesta jornada incrível de pureza,

Amor a se espargir em torno à mesa

De quem vem estudar, enquanto canto.



Talvez estes ruídos sem grandeza

Aturdam os ouvidos pelo pranto,

Que aqui sugerem místico acalanto,

Mas realizam dores, vã proeza.



Os termos já se soltam, sem destino,

A refletir angústias, desatino,

Perdão a quem não ousa vir de novo.;



E o toque deste sino, cá no meio,

Bizarro, a destoar no meu enleio,

Castiga e fere e traga a bem do povo.







290. Pensando nos outros



Estrondam os canhões, ruge a metralha,

Nos campos, nas cidades, noite e dia,

E estou aqui no etéreo, em má poesia,

A ruminar a dor que o verso espalha.



Então, rezo a Jesus, que me daria

O tema do perdão, sem qualquer falha,

E fico a imaginar que a morte encalha

Milhares que o rancor afoga e estia.



Pudesse nesta rima ser perfeita,

Na exatidão do amor, que se requer

De todos, cuja causa seja eleita,



P’ra se evitar que o mal progrida, e faça

Que a humanidade perca o que vier

Da parte do Senhor... E a luz não grassa...







291. Ao derredor da dor



Os homens, eu bem sei, são imperfeitos:

Não tenho que esperar um bom empenho

Nos feitos do egoísmo, pois mantenho,

Eu mesma, esse senão nos meus trejeitos.



Então, devo rogar aos bons, eleitos,

Que façam que a poesia a que hoje venho

Não sirva simplesmente de canhenho,

P’ra registrar meus dons e meus defeitos.



Pudéssemos, faria verter luz

De cada verso meu, cheio de amor,

Lembrando o Peregrino, sem a cruz,



Que os males não mataram seu valor.;

O sentimento aqui, porém, reduz

Minha intenção de em paz vir a compor.







292. Tomando jeito



Preciso dominar melhor meu medo

De errar nesta escansão sem compromisso:

Eu tenho de prestar um bom serviço,

Mas, para a perfeição, ainda é cedo.



Às vezes, meu poema ganha um viço

Nas contas do compasso deste enredo,

Que o tema destes versos de arremedo

Parece ter as cores que cobiço.



Mas, quando aqui termino a obra minha

E vejo quanto é pobre, vil, mesquinha,

Eu rogo a Jesus Cristo que me ampare.



Ao menos, despojei-me dos meus vícios,

Um deles de compor com artifícios

Que eu quero que esta rima desmascare.







293. Exercício de responsabilidade



Sustento que a poesia é um lenitivo

Que pode transformar-se em algo bom.

Quisera este poeta ter o dom

E o tema, pois tem tempo e é criativo.



Mas, quando aqui componho e ouço o som,

Dissimetrias rústicas que ativo,

Preciso concordar que, estando vivo,

A idéia era o melhor desta escansão.



Aqui, meu sentimento rende pouco:

Juntando com o meu cantar de rouco,

A tese se transforma em brincadeira.



Tivesse graça ao menos que eu lucrava,

Mas puxo o breque e ponho a grossa trava:

O Mestre quer que o bem e a paz requeira.







294. Varinha de condão



Cultuo o melhor verso e deixo claro

Que bem melhor seria se encarnada,

Porquanto isto que faço um quase nada

Irá representar, sem ter preparo.



Eu giro ao meu redor e já se enfada

O meu melhor leitor, o mais preclaro,

A quem peço que reze por amparo

Para que a poetiza vire fada.



Aí, com meus encantos, vou tornar

Alegre e bem mais puro o doce lar

De quantos se atreverem na leitura.;



E vou pedir ao Pai que me perdoe

Por lhe rogar, humilde, que abençoe

O amor que hoje revela a criatura.







295. Toda ajuda é útil



Espero alegremente ser um dia

Alguém que realize um bom poema,

Que é fácil de compor, mesmo sem tema:

O duro é descobrir dons de poesia.



Nefasto o sentimento que se extrema:

Negativismo tolo que daria

Apenas para um termo de ousadia,

Acalentando n alma dor suprema.



Que sirva, como aviso do poeta,

Tal obra que hoje faço e se completa

Como arremedo até dum verso alheio.;



Mas fique, na consciência desse amigo,

Que muito discuti junto comigo

O verso que compus sem titubeio.







296. De coração aberto



Jesus, seja meu guia e protetor,

Nos versos que dedico aos meus amigos,

Leitores que se safam dos perigos,

Orando e trabalhando com fervor.



Quisera ter mais luz, nestes castigos

A que meu tema exponho ao vir compor,

Mas tudo quanto faço é com amor,

Por isso não mereço seus fustigos.



Assim é que termino cada estrofe,

Pedindo que o leitor meu filosofe,

Erguendo o pensamento para o alto.



Aí, tenho a certeza da vitória,

Que a trova já contou a minha história

E que posso sorrir sem sobressalto.







297. Natalício importante



Estranho o tal ruído que desperta

A máquina dormente que me ajuda.;

Talvez haja um problema, mas, caluda!,

Prefiro este silêncio que me alerta.



É no silêncio santo que se estuda,

Ainda que uma porta esteja aberta,

Pois quem mais se concentra mais acerta

E torce os seus defeitos e transmuda.



No entanto, o meu conselho se equivoca,

Se julgo que com ele sai da toca

Quem não deseja ouvir tanta lamúria.



Mas levo o verso bronco a dar de mim,

Para dizer ao povo por que vim,

Na data tão feliz p’ra Dona Núria.







298. Quase uma prece



Vislumbro uma abertura para a luz,

Na senda deste amor que sinto agora:

É como o despertar em linda aurora,

Nos braços tão robustos de Jesus.



Por paz para os mortais, eu clamo e chora

Meu coração, nas vascas desta cruz.;

Mas, bênçãos de esperança, eu já compus

Poemas em que a fé se revigora.



Sair das trevas densas já me atrevo,

Apenas p’ra informar que o bem se expande,

Causando-me sutil mas forte enlevo.;



E, para aqui torná-lo puro e grande,

Preciso declarar que eu sei que devo

Pedir ao Pai do céu que a dor se abrande.







299. Ouvindo Jesus



Não peço mais por mim, já não preciso,

Que o povo sofre tanto e se angustia.;

Ao menos, desabafo na poesia

E todos querem ler quem tem juízo.



Assim é que compreendo a melodia,

Recurso natural que exibe o aviso

De algum problema antigo que harmonizo

E lhes dou som, sabor, com alegria...



Mantenho em Jesus Cristo o meu elã,

Pois ouço a sua voz, dizendo: “Irmã,

Coloque em seu poema um nobre ensino.;



Demonstre confiança e fé no bem,

Pois todos que progridem logo vêm,

Repleto o coração de amor divino.”







300. Privilégio da artista



Alegre, o coração dentro do peito

Palpita ao concluir mais um ditado,

E o povo todo aqui do nosso lado

Eleva uma oração com grão respeito.



Eu sei que a muita gente eu não agrado,

Mas sua opinião eu sempre aceito,

Pois tudo quanto dizem tem um preito

De afeto e de ternura, que arrecado.



Por isso é tão constante vir rogar

Que me perdoem minha mordomia,

Que o médium que me acolhe neste lar



Deseja um bom encontro co’a poesia

E meu mentor, no etéreo, a estimular,

Indica quais os pontos de harmonia.







301. Aparente contra-senso



— Jesus, estende o manto da virtude

E põe debaixo dele toda a gente!

Não quero aqui dizer tão simplesmente,

Mas demonstrar preciso que se mude.



Na forma da poesia o povo sente

Quando o poeta é falso e mais se ilude.;

Assim se põe candente esta atitude,

Pois penso ser bem útil, caso alente.



É claro que o perfeito está bem longe,

Que não se aceita mais que um pobre monge

Fique a pensar em Deus, sem fazer nada.



Agora que declaro a minha idéia,

Jamais irei compor uma epopéia,

Deixando de exaltar o amor que brada.







302. Nem sempre tem pão quente



Preciso retratar-me, pois não trato

Com consideração a tal doutrina

Que lá na Terra eu vim, desde menina,

Tentando compreender, em senso lato.



Mas, quando o povo lê, logo domina

A tese em que palpita o espalhafato,

Que o bem que aqui disponho é só boato.;

O mais é verso só, total ruína.



Mas, como sou bondosa p’ra com todos,

Não posso estimular tão vis apodos,

Conquanto tão perversa eu venha sendo,



Em relação às trovas que componho,

Dizendo que o perfil é mui medonho,

Com medo de ir além, que hoje me rendo.







303. Hesitação denunciada



Proteja-nos, Jesus, com seu amor

E faça progredir, sereno, o povo.

Talvez seja preciso aqui, de novo,

Volver em corpo denso, por favor.



Assim como a galinha choca o ovo,

Eu ponho no regaço o meu compor,

A ver se nasce um bem de algum valor,

Para que a trova traga o seu renovo.



Deve voltar Jesus para sofrer,

Conforme sugeri no verso acima,

Porquanto, ao vir cumprir o meu dever,



Eu busco seja nova a minha rima?

Piedade, eu vou pedir, pois meu poder

Se encerra nesta linha, o que me anima...







304. Algo bucólico



Eu lavo as minhas mãos quanto à poesia

Que deixo hoje lavrada, neste posto:

Às vezes, eu componho até com gosto,

Mas, quando lhe dou forma, que agonia!



Preciso de mais tempo, como o mosto

Que tem de fermentar por mais um dia.;

Por isso, quando digo que faria

Melhor, o meu poema está composto.



Não deixo de passar, na trova, a idéia

De ser proposital a falha minha,

Porquanto à perfeição, nesta assembléia,



O mestre nos conduz, mas bem asinha

Nos fala das abelhas na colméia,

Que o mel que ali produzem se adivinha.







305. Estremecendo



Componho bem tranqüila o meu poema

E dito devagar, conforme o médium

Dispõe, para evitar que sinta tédio

Quem veio com coragem tão suprema.



Então, vou receitar santo remédio

Para enfeitar de amor o velho tema,

Pois quanto aqui se diz não faz que trema

Quem tem opinião e evita assédio:



Orar a Jesus Cristo por mais paz,

Que os homens mui se matam hoje em dia,

Pois é no coração que o gajo traz



A arma com que atira, à revelia

Do ensino do Evangelho, que nos faz

Pensar neste trabalho de poesia.







306. Meus contrastes



Injetam animais letal peçonha,

Lutando pela vida com a morte.;

Espero que esta rima se comporte,

Sem distilar veneno tão medonho.



Por isso, eu rogo a Deus que a minha sorte

Encontre um verso lúcido e risonho,

A demonstrar que o bem que aqui disponho,

Rogando a luz do Mestre, nos conforte.



Por que devo lembrar a cada instante

O contrastante tema que me atrai?

É como o professor em paz garante



Que o claro atrás do escuro sobressai:

Assim, se estou voraz e sigo adiante,

Eu sei que mais preciso orar ao Pai.







307. Rir para não chorar



Contenho a minha verve quando escrevo,

Que o tema que aqui trago sempre é sério,

Ainda que relate que, no etéreo,

Até quem brinca traz um novo enlevo.



Não creio que se pense que o mistério

Exista para dar à dor relevo,

De forma que o poeta insista: — Eu devo

Ser mui sisudo e grave: um cemitério...



Folgar, enquanto o látego levanta,

Talvez não seja a fórmula do amor,

Mas posso descrever quanto foi santa



Aquela horinha breve do compor,

Que faz lembrar de Deus, se o mal quebranta,

Que a bênção chega em paz superior.







308. Maneira de dizer



Entenda que é mui grande esta labuta,

Que não pretendo em versos transgredir

As normas desta casa, Wladimir,

Nem os sonhos de amor de quem me escuta.



Por isso é que, pensando no porvir,

Escrevo quanto sinto e, mais, desfruta

O coração em paz, após a luta,

A férrea luta que travei ao vir.



Procuro transformar meu sentimento

Em rimas de compasso arrevesado,

A demonstrar que a mente hoje eu intento



Analisar consciente do meu fado,

Em busca de lhe dar um bom aumento

Nos lucros destas bênçãos que arrecado.







309. Coisas minhas



Contenho o meu impulso mais sentido

E ponho no poema um novo encanto:

Não é que o sentimento esteja santo.;

Sou eu que já percebo e não duvido.



Então, fique o leitor, só por enquanto,

Entregue às mordomias com que lido,

Julgando das belezas pelo ouvido,

Sem pensamento algum, doce acalanto.



Um pouco de fumaça sempre existe

A enegrecer as trovas que hoje faço,

Mas já não trago o dedo tão em riste,



Fagueira como estou, em bom compasso:

Não quero que ninguém vá embora triste,

Que o belo é bom também, com meu abraço.







310. E por que não?



Reflito sobre a trova e tenho medo

De repetir os motes todo dia,

Por isso é que me assalta a nostalgia

Dos tempos lá no mundo, como aedo.



Eu colocava então, em má poesia,

Os temas do sofrer e, desde cedo,

Eu imitava os bons, triste arremedo,

Mas todos os assuntos escrevia.



Agora, estou restrita a ser sincera,

A desvendar da alma os dramas meus.

Não posso construir qualquer quimera,



Mas devo à fantasia dar adeus:

Concreta a trova minha o mestre espera.;

Concreto tem que ser o amor a Deus.







311. Viagem em torno de mim



Registro, com pesar, que tenho medo

De desviar da mente do leitor

O intento de encontrar, neste compor,

Um texto bem mais leve, rico e ledo.



Então, eu me disponho, com amor,

Para rogar ao Pai um bom enredo,

Na forma e conteúdo de folguedo,

Sem descurar a tese superior.



E, quando encontro força para a rima,

Percebo que deixei levar-me acima

Por entusiasmo tolo e sem proveito.;



Mas não lastimo o verso que apresento,

Pois sei que representa o sentimento

Que sou capaz de expor p’ra ser aceito.







312. A tremer



Importa muito pouco esta poesia

A quem não vem pedir tão-só elogio,

Mas tudo quanto escrevo desconfio

Que repercute mal, que o povo esfria.



Então é que a castigo, envolto em brio,

Que um pouco, um pouco só, de bom traria

Se aqui falasse com sabedoria

Duma virtude só, sem calafrio.



Mas analiso bem meu coração

E sinto que o melhor que tenho em mim

Demonstro, quando rogo ao meu irmão,



À vista desta trova tão ruim,

Que me compreenda e que me estenda a mão,

Que me perdoe, sabendo por que vim...







313. Identidade



“Não devo contentar-me com tão pouco”,

Há de pensar o amigo que me lê.

“Preciso conhecer quem é você

Que não deseja mais papel de mouco.”



É claro que ouvirei dizer: — Por quê?

Ocorre que no texto em sons espouco

Idéias que não dão sinais do louco

Que fui um tempo atrás, mas com mercê.



Sucede que, na Terra, o papo é mais,

É quente, quando a gente satisfaz

Aqueles que desejam distrair-se.



A seriedade é tudo por aqui

E quando o tal poeta diz: — Vivi! —,

Precisa confirmar: — Meu nome é Dirce.







314. Só um exemplo



Pretendo pôr um fim nesta conversa

Que mais parece um longo lamentar:

Então, quando volver ao seu bom lar,

A rima já não pode ser perversa.



Mas como aqui compor algo exemplar,

Se a crítica persiste n’alma imersa?

Não posso vir mentir sem vice-versa,

Ou seja, o meu mentor vai reclamar.



Por que não digo adeus e vou-me embora,

Exemplo de humildade e contenção?

Por que vir demonstrar que o gajo chora,



Na busca de encontrar um ombro irmão?

Jesus também, na prece, em paz, implora

Ao Pai, por sua bênção, seu perdão.







315. Sem catarse



Não falha a previsão e estou de volta,

Agora mais contente co’a poesia,

Quem sabe bem melhor na melodia,

Por certo, honesto o tema que se solta.



Contudo, não se espere que eu daria

Um verso só que não tivesse escolta,

Porquanto não foi tanta a viravolta

Que me livrasse todo da agonia.



Por isso, o mestre meu catou a rima

Que me obrigou ao verso e seu sentido

E disse que o fizesse com estima,



P’ra me lembrar dos tempos em que lido

Co’as falhas do vernáculo, que anima

A gente que me lê. Mas eu duvido...







316. Una as pontas



“Jesus, seja por mim neste poema!” —

Eu rogo tão aflita e tão medrosa.

Bem sei que minha rima inda não goza

Da perfeição que quero como emblema.



Mas qual palavra elejo, a mais formosa,

Aquela que trará, sem que se tema,

O sentimento justo do problema

E a solução melhor p’ra minha glosa?



Então, eu relaciono muitos termos:

Amor e paz e luz e cor e som,

E tento me afastar dos pontos ermos,



Sabendo que o egoísmo nunca é bom,

Mas os meus versos vêm assaz enfermos,

Que amor e paz e luz perdem seu dom.







317. Eis o caminho



Plangente, em triste pranto, renuncia

Minh’alma a vir trazer um verso antigo:

O mestre e o bom leitor contam comigo,

Mas cá no etéreo é outra a tal poesia.



Queria, nas palmeiras, doce abrigo,

Que o sol a tenra pele queimaria.;

Nas trevas em que vivo, todavia,

Bem sei que as rimas já não mais castigo.



No entanto, o meu leitor há de convir

Que o texto é bem cuidado em seu compasso.

Então, vai perguntar quanto ao porvir,



Estando o gajo aqui, conforme faço,

Repleto o pensamento, que o sentir

Terá forçosamente um outro espaço.







318. Num crescendo contínuo



Arrufos não resolvem meu problema

Nem dão ao meu leitor qualquer indício

De como há de vencer o triste vício

De suspeitar que o vate a dor extrema.



Porém, quanto a julgar-me um estrupício,

Não vou arreliar nem sei que trema

O coração referto deste lema:

O belo na poesia é o exercício.



Assim, quando preencho mais um verso

E sei que o dom da vida está imerso

Nas entrelinhas de um pesar medonho,



Eu ergo em prece o pensamento ao Pai

E rogo tanto que o temor se esvai

E a trova emerge para a luz, em sonho.







319. Não é por má vontade...



Até quando me encontro na pior,

Preciso confirmar, compondo versos.

Aí, se os temas vêm ruins, perversos,

Ninguém precisa ler: é roquefort.



Mais sei de corações que estão imersos

Até nessa saudade, ao derredor

Dos queijos e dos vinhos, pois, de cor,

Mantêm o paladar, em dons dispersos.



Também existem tantos distraídos

Que caem nas minhas malhas traiçoeiras,

Sentindo as emoções, como perdidos



Nas brumas que se elevam pelas beiras

Dos lagos e lagoas, sons ouvidos,

Sem mesmo eu demonstrar minhas olheiras.







320. De poeta, de médico e de...



Arrisco-me a dizer que tenho pressa,

Porque devo chegar à perfeição.;

Assim, os companheiros deverão

Achar que o meu poema é bom à beça.



Mas, sendo fraca a rima da escansão,

Com que medida eu peço que se meça

Est’arte, que componho co’a promessa

De receber de todos seu perdão?!...



Por isso é que Jesus sempre pedia

Que houvesse muito amor entre as pessoas,

Porquanto, ao escrever sua poesia,



Sabia separar as más das boas,

Pedindo a seus discípulos que um dia

Ouvissem, com respeito, as nossas loas.







321. Até mais ver



Registro, com pesar, que vou embora,

Porquanto me convida o bom mentor

A que novos poemas vá compor,

Em área em que a dor também vigora.



Preciso trabalhar com muito ardor,

P’ra demonstrar que tenho, nesta hora,

A minha inspiração p’ro bota-fora,

A qual deve luzir em paz e amor.



Senhor, peço perdão por tanta falha

Que esparramei nos versos todo dia.

Desejo que esta rima, que se espalha,



Contenha uma lição em harmonia,

Que o bem dentro da alma é que amealha

Os dons da perfeição e da poesia.





322. Começando devagarinho



Pretendo prosseguir na mesma linha

Da turma que aqui veio versejar

E quero agradecer este lugar

Que acaba com a dor, se se avizinha.



É claro que o poeta vai mostrar

Que não possui o dom e desalinha,

Caso se veja aqui como daninha

A fórmula do etéreo além sem par.



Preciso orar a prece de Jesus

E pôr-me em condição mais elevada,

Porquanto vir falar de amor e luz



E ter no coração um quase nada,

Que em uma só palavra se reduz,

Não leva o meu leitor a boa estrada.







323. Estabelecendo parâmetros



Pertenço ao mesmo grupo que aqui veio

Trazer tantos poemas pessoais.

Queria que estes meus fossem iguais,

Mas temo que o meu tema é bem mais feio.



Sucesso não farei aqui jamais,

Pois sei da qualidade quando leio

Os versos mais soberbos, sem enleio

Nos dramas que se exprimem como tais.



Assim, minhas palavras se compõem,

A respeitar as regras do compasso,

Mas, quando eu chego ao fim, não se dispõem



Em forma tão perfeita, neste espaço,

Que cheguem a causar aos que se opõem

O dom da simpatia ao meu abraço.







324. Em cinco minutinhos



Parece que o momento se desfaz,

Relâmpago no céu a dar seu show.

A trova é tão curtinha que hoje estou

Bem certo de ditá-la em plena paz.



Mas criticá-la muito eu sei que vou,

Depois de meditar, pensando atrás,

Que os vetos se destinam muito mais

A prevenir o gajo, quando errou.



Assim, ao melhorar o meu poema,

Bem certo, irei fazê-lo com mais gosto,

E tudo quanto agora é só problema



Irá se transformar, pondo em meu rosto

Um ar bem mais feliz, soberbo emblema

De um passo para a frente, em novo posto.







325. Não tão rápido



Preciso de mais tempo p’ra escrever

Um texto de profundo sentimento.;

Assim depressa, eu sei que não sustento

Um tema que projete bem-querer.



Talvez, na minha métrica, um momento

Transforme a inspiração com tal poder

Que a luz se faça em tudo e o meu dever

Se cumpra, mesmo além do pensamento.



Jesus sempre sorri quando lhe peço

Ajuda e descortino para a trova,

Enquanto o bom compasso eu mesmo meço.



Assim, ele me diz que a rima prova

Que, ao menos na poesia, o meu sucesso

Há de ficar em paz, que o amor renova...







326. Na mesma linha



Pretendo demorar-me um pouco mais,

Até me acostumar com a poesia.

Qualquer que se apresente não traria

Um texto tão capenga aos bons mortais.



Então, para que serve, todavia,

A crítica feroz aos metros tais?

Pois tem o mesmo efeito desses sais

Que põem desperta a gente que caía.



Os que criticam têm de refletir

Que é bem melhor o texto caprichado.

Então, devem treinar porque o porvir



Não vai deixar aqui ninguém de lado,

Nem fique o nosso médium Wladimir

Querendo seja a trova só de agrado.







327. Identifico-me



Atendo pelo nome de Paulinho,

Mas não pretendo dar meu sobrenome:

No etéreo vou dizer que a sombra some,

Que o gajo se conhece com carinho.



Aqui é mui comum não sentir fome,

Por isso é que esta rima eu desalinho,

Sabendo que amanhã sigo o caminho

Mas volto p’ra pedir que o mal se dome.



Um verso, quando acerto, tem valor

Pois leva a refletir sobre a doutrina.;

Por isso é que me esmero ao vir compor.



Assim, quando o leitor me recrimina,

Eu penso que critica o exterior,

Que o sentimento o Mestre é quem assina.







328. Em continuidade



Requeiro permissão para adentrar

O espaço da consciência deste amigo

Que vem dialogar aqui comigo,

Recesso sacratíssimo do lar.



Então lhe dito a trova sem parar,

Que lhe parece até ser bom castigo.;

E, se ele se meter, eu já não brigo,

Pois sei que a sua emenda é exemplar.



No entanto, o sentimento é todo meu,

Que exprimo o meu amor de forma pura,

Que é como a rima o som me concedeu.;



E o meu leitor as lágrimas procura

Logo estancar de vez, que o Galileu

Requer que tenha fé, que o amor perdura.







329. Por curiosidade



Talvez eu possa dar certa noção

De como aqui componho os versos meus.

Primeiro, eu rezo muito e peço a Deus

Que facilite aos mestres a lição.



Aí, eu seleciono os cireneus,

Colegas que me ajudam no refrão,

E peço ao protetor me dê a mão

Para o momento alegre deste adeus.



Os termos vão surgindo a pouco e pouco,

Com base lá nas rimas que escolhi,

Segundo alguns exemplos que destouco,



Que o belo é diferente por aqui.

Então, um médium sem ouvido mouco

Registra o meu soneto para si.







330. Desvendando a intimidade



Famoso o verso meu há de ficar

Se conseguir, um dia, um belo tema.;

Enquanto a lamentar fico o poema,

As rimas constituem só seu par.



Mas treino a boa forma sem problema

E ponho o tal compasso em seu lugar,

De modo que esta trova chegue a dar

Uma alegria rica, audaz, suprema.



É por isso que eu devo agradecer

Ao Pai, que me permite recompor

As vibrações sutis em meu poder,



Na forma de linguagem comovida,

Mas clara em meu sentir de muito amor,

Em que transformo o texto, em doce lida.







331. Primeiro mergulho n’alma



Capricho mais na forma da poesia,

Pois pouco vou dizer que tenha mérito.;

Se volto o meu olhar para o pretérito,

Eu sei que muita história aqui traria.



Mas vou advertir que o meu inquérito

Resultará mui fraco, todavia,

Porquanto a rima espalha uma harmonia

Que o tema não confirma tão emérito.



Por isso, o povo apela, quando vem

Rimar uns poucos versos, a Jesus,

Mesclando uma oração aqui também,



Talvez com muita fé em pôr mais luz

Na estrofe derradeira que contém

O amor pela verdade que produz.







332. As bordas esfriam mais depressa



Bem fácil deve ser a boa rima

Para tornar o tema compatível,

Mantendo-me o interesse neste nível,

Que é como almejo ver se o povo anima.



Mas tudo quanto faço é compreensível,

Principalmente se estiver acima

Dos medos e flagelos que se estima,

Ao ver-se um resultado presumível.



Mas como demonstrar inteligência,

Se temos de partir do próprio eu,

Deixando para trás qualquer ciência



Do mundo positivo como o seu,

Ó meu caro leitor, cuja paciência

Reflete o ensino bom do Galileu?!







333. Medindo a força



Não posso mais fugir ao compromisso

De vir falar do amor com propriedade.

Assim é que a ternura que me invade

Pretendo transformar em bom serviço.



Pregou Jesus ao povo a caridade,

Mas foi pregado à cruz por causa disso.;

Assim, pedir perdão, em pleno viço,

Talvez não tenha apreço e desagrade.



Meu mestre diz que as bordas eu comi,

Que o centro já esfriou do meu mingau,

Que o fulcro do poema bem aqui



Se encontra e, com certeza, muito mau,

Porém, se tenho afeto e progredi,

Um verso mais somente e digo: “Tchau!”







334. Com mingau no prato.



Preciso limitar minha escansão

Pela medida simples de minh’alma:

Assim é que o poema logo espalma

Os sentimentos meus no coração.



Por isso é que aprendi a ter mais calma,

Ao escolher as rimas que darão

Fluência e propriedade ao meu refrão,

Que o mais é simples trova de vivalma.



Pedir perdão não peço, pois já sei

Que a reação aos versos é simpática.;

Também consciente estou, pois não errei



Nos cálculos da etérea matemática,

E meu compasso aqui bem cumpre a lei

Que o mestre me ensinou assim didática.







335. Motivação negativa



Pretendo ser mui breve nesta data,

Embora esta leitura seja a mesma,

Mas, tenha a pressa toda duma lesma,

Ainda hei de fazer a minha errata.



Ao passear nas trovas desta resma,

Encontro muito texto que aquilata

A esfera do poeta e o mais maltrata,

Que a crítica é perene e o gajo esma.



Então, hão de pensar: “Mas que mentira:

É vã retórica este assunto ameno!”

Mas quem escreve sabe que retira



Do coração a voz com que assereno

Meu entusiasmo tolo que se mira

Na produção alheia que condeno.







336. Lição de disciplina



Respeito o meu leitor na minha rima,

Mas quem é que me lê, de preferência?

Sou eu, e o mestre meu, quando a insistência

Me obriga a lhe mostrar quanto me anima.



Retrato, em minha mente, sem ciência,

A reação fugaz que o som arrima,

Mas tenho de ser claro, como acima,

Sem nada de que acuse esta consciência.



Assim é que exercito o bom dever,

Que a lógica do verso é compromisso.

Talvez me desfaleça o meu poder,



Mas bem contente eu fico no serviço:

Procuro, no leitor, por bem-querer,

Pedindo que Jesus me dê mais viço.







337. De quem é a culpa?



Calculo que o meu tempo seja pouco

P’ro tanto que preciso versejar,

Mas, quando ocupo, ilustre, este lugar,

Percebo que me faço ouvido mouco.



Ocorre que a poesia é devagar

E os sons que emito aqui, coisa de louco,

Não têm a perfeição nem têm, tampouco,

Os dons da evocação mais exemplar.



Então, para que serve o meu soneto

Que não contenta a mim, pobre coitado,

Nem deve ao meu leitor propor dueto,



Tão discordantes são a voz e o fado?!

Vazio há de ficar este coreto,

Sem música, sem luz e sem agrado.







338. Metamorfose, enfim



Um fato aqui preciso registrar,

Sem medo de tornar a rima pobre:

Bem sei que, quando o mal alguém descobre,

Pretende pôr um fim com bem sem par.



Assim, caso um soneto a quadra dobre,

Abrindo p’ro terceto devagar,

É claro que o sujeito vai mostrar

Que não perdeu a pose e a rima é nobre.



Aqui, eu simplesmente mais me encanto,

Orando, com fervor, a melhor prece,

Agradecendo ao Pai por este canto,



Sabendo que a poesia se oferece

Em sacrifícios de ouro do meu pranto,

Que iluminou minh’alma a farta messe.







339. Um dia voltarei



Iluminado estou para a poesia,

No entanto, sofro ainda neste canto:

Eu sei que a voz não soa como a um santo

Nem traz o tema meu doce harmonia.



Bem rústica esta rima do meu pranto,

Pois outra esta verdade não traria,

E, assim, por mais que trema, todavia,

Não posso argumentar com ledo encanto.



Porém, não vou mentir que não me trava

A língua, quando penso no futuro,

A ler o mesmo texto com voz cava,



Agradecendo ao Pai, bem mais seguro,

Mudando cada verso, pois na aljava

Trarei setas de amor, Cupido puro.







340. Eflúvios de emoção



Se sou feliz, não passo o sentimento,

Nem dou a demonstrar tranqüilidade.;

No entanto, a paz que minha mente invade

Seria p’ra contar qual dor agüento.



O fruto da escansão é de verdade

E nutre de esperança, um só momento,

O coração, que sofre sem tormento,

Que o verso para o bem me persuade.



Não sei se dei o tônus de minh’alma,

Que amor é lei, que a caridade espraia

Um pouco de virtude em dons de calma.



Mas nada aqui é melhor do que saber

Que a aurora de Jesus em cores raia,

Iluminando a senda do dever.







341. Sem pressa



Estimo que meu verso sejam claro

Na análise que faço dos problemas.;

Talvez outros devessem ser os temas,

Mas não seria eu a dar amparo.



Por isso estas medidas tão extremas,

Que à luz da noite eu peço e já comparo

Às trovas que recordo, em brilho raro

Do sol da vida, em teses sem algemas.



Um dia, espero aqui vir transcrever

Os versos virtuosos do dever

Cumprido em perfeição de rimas ricas.;



Mas hoje eu me contento com bem pouco,

Sabendo que o soneto é quase louco,

Mas cheio de promessas e rubricas.







342. Revelando segredos



Pretendo repousar alguns instantes

E ponho-me a pensar na minha trova.;

Então, logo me vem que se renova

O texto que aqui trouxe um pouco antes.



Ao mestre, eu lhe apresento a prima prova

E peço-lhe que anote os comprovantes

De que esta rima tenha alguns rompantes

Que possam agradar, aquém da cova.



Eu brinco, quando o mestre me permite,

E tudo faço alegre e sobranceiro,

Sabendo que ao perdão trago o convite,



Que amor e luz e paz e bem requeiro

P’ra mim, especialmente, que se evite

Deixar a pior parte ao companheiro.







343. Válida presença



O céu é bem mais puro quando visto

Com olhos mareados pelo amor:

Eu mesmo gostaria, ao vir compor,

De receber apoio por benquisto.



Mas penso lá no mundo exterior

E ponho os versos meus onde eu enquisto

As notas mais sutis, e peço ao Cristo

Que deixe o pranto triste ter valor.



Caminho pela estrada da esperança,

Lembrando-me dos tempos de criança

Em que folgava alegre lá na praia.



Queria que a consciência despertasse,

Livrando dos problemas deste impasse

Esta alma, que resplende se o Sol raia.







344. Preocupações à mostra



Aposto que o leitor já se aborrece

De tanto ouvir falar nos meus problemas.;

Então, vou revelar que são extremas

As nossas reações à sua prece.



O povo cá do etéreo quer que os temas

Não sejam só do agrado de quem tece

As urdiduras todas da benesse,

Mas que ponham mais luz em seus poemas.



Por isso é que rogamos a Jesus

Que traga o seu ensino, que conduz

Ao bom caminho, o que nos leva ao Pai.



E aos protetores nós solicitamos

Que os frutos pendam doces nestes ramos:

Poesia é sentimento que ressai.







345. Reconhecido e grato



Jesus, olhai por nós, os sofredores,

Que somos tão carentes de carinho.;

Sabemos nós de cor o bom caminho.;

Impedem-nos a marcha as velhas dores.



A perfeição se encontra em desalinho

Na mente perturbada dos autores,

Que rogam aos que são seus superiores

O ensino, o amparo, a luz, mas de mansinho.



Um texto tão completo não faria

Quem se preocupa tanto só consigo,

Mas como desnudar, em má poesia,



O intento de fugir deste perigo,

Que a culpa há de crescer em harmonia,

Se cresce em harmonia este castigo?!...







346. Tarde demais



Receio que o poema saia manco

E peço ajuda ao mestre que me assiste,

Mas temo que me ponha o dedo em riste,

Certeza de que é bom, severo e franco.



Pergunto-lhe se sabe quando existe

Um sentimento oculto que atravanco,

E, lúcido, me diz que, em fundo branco,

É fácil de notar a nódoa triste.



Por isso é que me atrevo a vir ditar

As trovas que componho, mesmo feias,

Porque revelo assim, nalgum lugar,



Aranhas que me espreitam lá das teias:

Se assusto o meu amigo, sem cessar,

Eu rogo a ti perdão e... que não leias.







347. Cansado de mim mesmo



Contenho minha angústia quando escrevo,

P’ra que este verso meu tenha sentido:

Estando em pranto e muito comovido,

Apenas minha dor ganha relevo.



Por mais que aqui floreie inda duvido

Que cause, em meu leitor, qualquer enlevo,

Por isso é que suspiro e sei que devo

Ousar um verso lúcido e garrido.



Um dia, eu vou vencer esta tormenta

E vou trazer as rimas preparadas

Nas forjas da bonança, que apresenta



O estado mais feliz, de que te agradas,

Ó tu que agora choras, quando inventa

Minh’alma estas poesias malfadadas.







348. O gajo sou eu



Preciso compreender minha missão,

Que os versos que hoje escrevo são mui pobres:

Se, vivo aí na Terra, poucos cobres

Iriam lá sobrar-me da escansão.



Espero despertar nas almas nobres

Um pouco de ternura e compaixão,

Que a dor que me assoberba mais verão,

Que a forma se repete em muitos dobres.



Mas não pretendo pôr tudo p’ra fora,

Que a meta é realizar um pensamento

Que possa amenizar quem estertora



Em lúgubre jornada, que o tormento

Atiça o desespero e o gajo chora,

Em lágrimas de rimas que avivento.







349. No meio do caminho



Passado é o meu presente no futuro:

Por isso é que capricho o mais que posso,

Que um dia voltarei, e agora endosso

A idéia evolutiva, que hoje apuro.



Problemas todos têm e eu sei que esboço

A solução melhor, que o texto curo

Dos males que o infestavam.; hoje eu juro

Que estou melhor que ontem, pois não troço.



As rimas são forçadas, eu bem sei.;

Mas vou deixando atrás os velhos vícios

Que o bem é meta, obrigação de lei.



Ao receber do Pai os benefícios,

Distribuir com ânimo aos da grei

É meta da poesia, em seus inícios.







350. Sem lero-lero



Contenho o meu impulso mais horrendo.;

Não deixo aqui, porém, de demonstrar

Que estou atravessando devagar

A fase da consciência, a que me rendo.



Por isso sempre peço auxiliar,

Que alguém de fora os erros, sempre vendo,

Socorre este poeta e vai dizendo

O que devo cortar ou melhorar.



O mestre que me assiste me censura

As crises que me põem um tanto triste

E pede que esta rima esteja pura



(Mas nunca há de fazê-lo dedo em riste),

Dizendo que é Jesus quem assegura

O bem-estar daquele que resiste.







351. Poeira e tempo



O grupo que me ajuda quer saber

Se cumpro o compromisso satisfeito.

Eu penso e só respondo, quando o peito

Serena o coração, que é meu dever.



Informo que o trabalho sempre aceito,

Pois sei que, se falhar o meu poder,

Acorrem todos eles p’ra me ver

Lavrando as novas rimas como eleito.



Qualquer que seja, pois, o resultado

Desta poesia amara da consciência,

Eu posso aqui dizer que mui me agrado,



Porque me faz valer toda a paciência,

Que o meu presente vira um só passado,

Que os males só se esquecem com ciência.







352. Recomendando a experiência



Voltei p’ra anunciar que vou embora,

Porquanto fui chamado p’ra estudar

Num curso de feição curricular

Que elege como tema o que melhora.



Depois — eu perguntei — posso voltar

P’ra revelar que o gajo não mais chora.

Então, devo dizer, que o bem de agora

Eu peço a Deus que dobre no seu lar.



Entrecortado o verso vai saindo

Da forma que imagino como boa.

Aos meus ouvidos soa muito lindo,



Pois sei que o meu leitor já me perdoa.;

Talvez até se lembre que bem-vindo

Será um fim feliz que amor coroa.







353. Abrem-se as cortinas



Não trago p’ra poesia um grande tema

Nem faço estremecer o meu leitor:

Na arte de escrever não sei compor

Os versos mais argutos, sem que trema.



Porém, no desafio, o meu amor

Pretendo que supere esse problema,

Que a falha não se mostra tão extrema

Que possa aqui lembrar algo inferior.



Eu deixo para trás toda vaidade

E não me importo muito co’a beleza.;

Se tanta rima tola a trova invade,



Que reste uma esperança nesta mesa:

Uma velinha apenas de saudade,

Que é como no futuro eu vejo acesa.







354. Agitando a massa encefálica



Não nego que pretendo melhorar

Mas nem por isso culpo a minha rima

De não constituir uma obra-prima,

Se dou do meu melhor neste exemplar.



Assim, a humanidade que me estima

Deve saber cumprir, junto a seu lar,

As normas da doutrina que ensinar,

Que todo bom espírita se anima.



Eu faço um paralelo entre os dois planos:

Perversidade apenas, pois bem sei

Que o mundo dos mortais tem seus enganos,



Que poucos do mistério dessa lei

Decifram os princípios, que os humanos

Nas mãos de Deus colocam, pela grei.







355. Eta coisa difícil, sô!



Balanço os pensamentos: logo vejo

Quão poucos hão de estar com novidade.;

Meu mestre vem a mim e persuade

Esta vontade tíbia em seu desejo.



Minha virtude é pouca mas me invade

A sensação feliz que o bem almejo

Dispor num verso lindo e benfazejo,

P’ra dar ao meu leitor felicidade.



Então, devo falar dessa virtude

Que faz calar no peito a fantasia,

Pedindo que o sujeito mais estude



A fórmula sutil desta poesia.;

Se for preciso, assim, outra atitude,

O amor virá primeiro à luz do dia.







356. Eu vou indo atrás...



Não noto diferença no meu verso,

Depois que comecei com estas trovas.;

Mas sei que, coração, tu não reprovas

As rimas em que n’alma fico imerso.



O mal não vou ditar em formas novas,

Que o dano deste tempo é tão perverso

Que fica o compromisso em dor disperso,

Saudade que relego às minhas covas.



Então, devo dizer que o sol se eleva,

A iluminar as vidas sedutoras

De muitos dos irmãos que, em grande leva,



Ascendem simplesmente mui felizes,

Sabendo que os leitores e as leitoras

No reino do Senhor criam raízes.







357. Sigamos todos juntos



A luz alvinitente da poesia

Provém dos corações dos mestres meus.;

Se fossem estes versos só sandeus,

Então, o meu leitor me acusaria.



No meu caminho, encontro os cireneus

Que ajudam todos nós na travessia,

Jamais dizendo um não, um todavia,

Mas sempre a declarar: — Graças a Deus!



Eu ponho nos meus versos sentimentos

Que não compreendo bem, nem dou de mim,

Porém, quando reflito nos tormentos



Que nos umbrais deixei, tempo ruim,

Eu volto ao bom Jesus os pensamentos,

Agradecendo a dor que chega ao fim.







358. Pensando muito alto



Pretendo prosseguir trazendo luz

De empréstimo que seja a toda a gente.;

Não posso, aqui, porém, dizer, contente,

Que o bem do amor sublime me conduz.



Bem sei de que virtudes se ressente

Minh’alma, ao carregar pesada cruz,

Mas peço, preocupado, ao bom Jesus

Que traga um doce alívio de presente.



Então, penso que o Pai, todo bondade,

Vai perdoar a rima que desanda:

Lamúrias de um poeta que se evade,



Pensando nesta forma formidanda,

Que faz crescer na mente a tal vontade

De colocar na pauta esta ciranda.







359. A estrada pedregosa



Não quero festejar, nesta poesia,

O meu sucesso manco e controverso.

Prefiro contemplar, neste universo,

A luz dalguma estrela, inda que fria.



Por mim há de passar a fantasia

De estar no amor sublime mui imerso.;

Por isso, em minha trova, eu desconverso,

Que é bem real a dor da egolatria.



Preciso acostumar-me a pôr na rima

Apenas sentimentos superiores,

Deixando ao bom mentor que mais me anima



O dar ao branco e preto as outras cores.

Eu sei quão franco fui na trova acima.;

Por isso, hoje agradeço aos bons leitores.







360. Com o cabresto curto



Aceito sugestões: esse é o meu lema,

Pois melhorar é sempre um compromisso.;

Não fujo do labor: peço serviço

E enfrento corajoso o meu problema.



Bem sei que esta poesia vem sem viço,

Que é pobre o conteúdo deste tema,

Porém, como já disse, o mal se extrema,

Se ponho a minha dor em rebuliço.



A prece é de rigor porque traz luz

À mente perturbada e sem aprumo,

Que o peso é muito grande desta cruz,



Mas, quando a meus amigos eu resumo

Os tópicos das leis do bom Jesus,

O amor, a paz e o bem ganham seu rumo.







361. Misérias e grandezas



Revelo nos meus versos tristes falhas

De quem não soube amar como devia,

Por isso, está tão feia esta poesia,

Que é fel, meu coração, que tu farfalhas!



Porém, meu compromisso é de alegria,

Pois ponho no passado as vis mortalhas

E no futuro eu sei que estas migalhas

Vão transformar-se em rica melodia.



Meus mestres já sorriem como em festa

Pelas conquistas feitas nesta hora:

O canto está bem menos p’ra seresta



E mais para um lamento de quem chora.;

Então, lembro Jesus, que ao bem se apresta,

Abençoando a mãe, Nossa Senhora.







362. Em plena luta



Não quero emocionar o meu leitor.;

Apenas vou dizer-lhe o quanto peno,

Que a vida é curta e o mundo tão pequeno

Para deixar alguém de ter amor.



Eu odiei outrora e hoje, sereno,

Medito que sofri nas trevas dor

A ponto de burlar este compor,

Pois tremo por sentir o mal que aceno.



Nas horas em que a crise era um tormento,

As preces me fugiam da memória,

Mas, hoje, nesta trova, eu sei que agüento



Lembrar-me das tristezas dessa história,

Pedindo a Jesus Cristo um só momento

De lucidez no verso: eis minha glória.







363. Sem comiseração



Requeiro que o leitor preste atenção

No cômico roteiro desta trova:

Esqueça por instantes que da cova

Surti p’ra luz do dia, na escansão.



A rima, que o meu verso não renova,

Desperta para as dúvidas do irmão

E muitos que me escutam já dirão:

“Esse pensou nas rimas uma ova!”



Então, sugere o mestre que acompanha

Meu desempenho lúcido e folgado:

“Vai devagar, meu caro, pois se assanha



Quem vê que tem leitores a seu lado,

E julga que a leitura é muito estranha,

Pois ninguém ri da graça, neste estado.”







364. Sem hipocrisia



A graça recebida de Jesus

Resplende nestes dons da sã doutrina.

Os homens que se dão a tal vacina

Empenham-se no amor e pedem luz.



Eu sei que o meu recado é pequenina

Informação, a quem carrega a cruz,

De que deve sustar a marcha, e induz

Que Deus já perdoou quem se abomina.



De fato, é permanente o ganho d’alma

Que atua entre os irmãos, dando-lhes calma,

Ao repetir o ensino do evangelho.



As graças superiores caem do céu,

Se rompe a estupidez o espesso véu:

Seguro, meus irmãos, morreu de velho...







365. Se lhe serve...



Permitem-me dizer o quanto dói

No coração a dor que se arrepende:

Porque, na Terra, fui um mau duende,

Eu não seria aqui nenhum herói.



Mas dentro d’alma o mal hoje contende

Com todo o bem que aprendo, como sói

Acontecer a quem o amor destrói

E fica ao léu no etéreo, a ver se aprende.



Corri de ceca em meca e fiz fortuna,

Enchendo a burra e mais a conta em banco.;

Pensava que era sempre inoportuna



A voz que me acusava e que hoje estanco

A força do trabalho que se aduna

Ao choro que me faz o verso manco.







366. Ciranda de ódio



Partiu meu coração um verso antigo

Que li quando na Terra descansava.;

Dizia que a nação da gente escrava

Sofria, pelas dores, grão perigo.



Imaginei que Deus a perdoava,

Por lhe pedir com raiva um bom castigo.

Pensei, um pouco tarde, então, comigo,

Que tinha de rezar, que o mal entrava.



Quando cheguei de volta dessa vida,

Olhei em derredor, pedi guarida,

Mas encontrei escravos e feitores:



Quem perseguiu outrora aqui sofria

E a gente escrava agora perseguia,

Sem luz, perdão ou fé.; e sem amores.







367. Quem me dera!



Notícias que me chegam lá da Terra

Dão conta de que os homens não contêm

Os ímpetos maldosos mas que o bem,

Nos corações de muitos, já se encerra.



Pudesse retornar, neste vaivém

De encarnações, fugia já da guerra,

E tudo o que fizesse terra-a-terra

Seria p’ra valer aqui também.



Então, eu salvaria o mundo inteiro,

Daria a cada irmão o meu amor?

Ao menos, isto ao Pai é o que requeiro,



P’ra amenizar da vida o grande horror,

E voltaria sempre, que o primeiro

Aqui deve ser último a compor.







368. Lugar-comum



Não nego que desejo extravasar

Os temas que me ensinam cá no etéreo,

Mas tudo quanto escrevo, embora sério,

Não sei já se merece ir ao seu lar.



Meu mestre quer que eu fale sem mistério

E torne muito simples e exemplar

Aquelas tais lições que quero dar,

Conquanto paire longe o refrigério.



Enquanto aqui formulo o que me atiça,

É fácil versejar, porquanto adio

As lutas mais ferrenhas desta liça.;



Se, no final, eu peço por mais luz,

Notando a minha vela sem pavio,

Eu perco a seriedade, ó meu Jesus!







369. Pensando um pouco nos demais



Preciso refazer alguns dos versos

Que podem deslustrar os mestres meus.;

Depois irei dizer: — Graças a Deus!

Eliminei ao menos os perversos.



Aí vou refletir sobre os judeus,

Saber se Jesus Cristo viu dispersos

Os males em que iam tão imersos,

Que as fórmulas do amor são sonhos seus.



Assim, vou refletir por muitos anos,

A desfazer na alma os meus enganos,

Até que possa merecer de novo



Volver ao plano material da Terra,

Iluminado ao sol de quem se aferra

Somente ao bem, na ajuda de seu povo.







370. Rompendo a carapaça



Perfumes odoríficos exalam,

Se deixo dominar-me deste amor

Que tenho pela trova, ao vir compor

Os temas superiores, que se calam.



Eu sei que deveria aqui dispor

As rimas comovidas que me falam

Bem dentro de minh’alma e que me abalam

A ponto de torná-la inferior.



Assim, vou dando trela ao coração,

Que canta para si a tal canção

Do aroma que me traz tal lenitivo.



O mesmo sentimento é que, entretanto,

Me afirma que aos irmãos é que não canto:

Queixumes que me trazem tão cativo.







371. Aceito o desafio



Não creio que o amigo que me lê

Mantenha sua fé em seu irmão:

Resulta essa atitude da escansão,

Que não retrata a mim, mas a você.



Aí irá dizer: “Não sei por quê!

Pois trago tanto amor no coração.

Você parece mais um frustradão

E agora finge até que não se vê!”



A luta, companheiro, é cá comigo,

Reflexo de um problema muito antigo,

Porque me acuso a ausência de uma luz.



Há tempos venho dando trela à dor,

Mas isso só perturba o meu compor:

Vai longe o ensinamento de Jesus.







372. Pensando nela



— Madame, esta poesia não vai bem,

Suspira este poeta encalacrado.

— Talvez por tê-la aqui junto ao meu lado

Eu fique na tristeza de um vaivém.



Pretendo esclarecer que é de bom grado

Que escrevo este poema, mas também

Aperta o coração saber que vem

A crítica feroz, pois não agrado.



O sentimento é lúcido, é perfeito,

Porém, não cabe em verso, e não aceito

Que a trova prejudique a minha musa.



Por que sofrer as dores que imagino,

Se o mundo é tão bonito, é peregrino,

Se a pedra, o fogo, o ar, ninguém me acusa?!...







373. Saber, a gente sabe...



Acusa-me a consciência, e eu sinto a dor

Crescer no coração, que me sufoca.;

Enfurno-me feroz na minha toca

E vejo que lá fora está o amor.



Então, eu me apetrecho e algo me toca,

A demonstrar que a luz vem do compor

Uma poesia simples, já que o autor

As graças de Jesus na rima invoca.



Empresta-me este verso um dom formoso,

Que a sorrir registro, em grande gozo,

Pois devo confessar que já me alegro.



Todo o meu grupo traz seu forte abraço,

Que tento traduzir neste compasso,

Porque saio da toca e já me integro.







374. Sem negar fogo...



Não quero que pareça ser forçado

O tema que lhe passo neste dia:

É certo que, ao fazer esta poesia,

É pobre o pensamento que arrecado.



Não vou perder, porém, sua alegria,

Que eu sei que vai florir, por outro lado,

Ao terminar a trova e ver de agrado

Os meus dizeres cheios de harmonia.



Não tema aqui contudo vir sem luz,

Que o bem que hoje se faz bem vale a pena,

E ao vale dos eleitos reconduz



Quem nunca se negou, com alma amena,

A vir colher os frutos de Jesus,

Que é com amor que o Mestre nos acena.







375. Gongorismo vitando



Não quero que as palavras prevaleçam

Nem quero seja bela a minha voz:

Bem sei meu sentimento tão atroz,

Que os meus desejos sinto que faleçam.



Outrora, estive aqui bem mais feroz,

Trazendo impulsos sórdidos. Esqueçam

O seu passado triste e favoreçam

O crescimento em paz de todos nós.



Se eu peço ao bom leitor que modifique

O proceder na vida, é só retórica,

Que o bem existe sempre quem aplique,



Sem mergulhar na fase mais teórica.;

Exemplo é esta poesia, simples dique

A represar a dor: forma alegórica.







376. Caminhando a esmo



Não tenho o que dizer ao meu amigo

Senão que esta poesia tem seu mérito.;

Então, vai perguntar, em rude inquérito,

Se não guardei o bem aqui comigo.



Não posso rejeitar o meu pretérito,

O que me vai forçar o modo antigo,

No entanto, quando penso que castigo

A forma do poema, eis meu demérito.



As coisas são tão tardas por aí,

Porém, não tenho troco tão miúdo,

E vou dizendo apenas que vivi,



Bastando para mim tal conteúdo.

Dirá o meu leitor: “Por certo eu vi

Do sofrimento um nada.” E isto é tudo...







377. Como um reforço psíquico



Reúnem-se os amigos cá no etéreo

E põem-se a recordar o tempo antigo,

Sabendo que estão longe do perigo

De não se verem mais: não há mistério.



As lágrimas que voltam eu bendigo,

Porquanto estou feliz, em refrigério,

Que a paz, o bem, a vida, tudo é sério,

Nesta aventura alada aqui comigo.



Jesus é nosso mestre, nosso guia,

E, quando eu mais fraquejo na poesia,

Recorro ao seu ensino mais freqüente,



E lembro-me de amar, antes de tudo,

Ao Pai que nos deu vida e conteúdo

Ao verso em que me abraço a toda a gente.







378. Só a leve esperança...



Amigo, eu convalesço da tristeza

E surjo para a vida sem maldade:

O bem do amor eterno já me invade,

A ponto de compor com mais leveza.



Eu sei que o meu leitor se persuade

De que não vim folgar junto a esta mesa,

Mas quer, no meu poema, ver beleza

Que possa comovê-lo, e sem saudade.



Explico os meus dizeres e lhe digo

Que os tempos mais felizes são agora

E que o futuro guarda um bom abrigo



Em que ninguém lamenta ou mesmo chora

Uma única lágrima, que o trigo

Não se mistura ao joio em boa hora.







379. Com saudade de mim



Preciso descartar-me desta dor

Que traz meu coração tão oprimido.

Pensei no meu leitor e já duvido

Que possa transformar o meu compor.



Alegre-se comigo que eu divido

A parte que me cabe deste amor

Que eternamente sinto no interior

Do bem que aqui pratico, comovido.



Já transformei meu verso e compareço

Mais leve e mais lampeiro para a prova,

Não tanto p’ra mostrar que está do avesso



O texto que transponho para a trova,

Mas para que se saiba que o tropeço

Também tem seu valor, se o mal desova.







380. Descongestionando a mente



Acende-me o desejo de escrever,

Embora o verso saiba tanto a fel,

Que a rima é contorcida, vã, cruel,

E o texto aqui não cumpre o seu dever.



Mas devo compensar, pondo a granel

As trovas que acumulo, sem poder

Regozijar-me tanto, que o querer

Esbarra nos caprichos do aranzel.



Aí é que, espantado, verifico

Nas entrelinhas a emoção maior,

Porquanto o sentimento, sendo rico,



Se infiltra nos dizeres que de cor

Eu vou ditando sempre, pois dedico

Amor a todo o mundo ao derredor.







381. Vã ameaça?



Pavor não sinto mais quanto à poesia:

Meu medo se concentra mesmo em mim,

Pois, se fizer do metro meio e fim,

Terei perdido tempo em fantasia.



Ao meu pedido espero ouvir um sim,

Pois sei que outra resposta não daria

O amigo que me lê sem, todavia,

Recriminar-me impulso tão ruim.



O máximo que digo, em boa hora,

Consiste em repetir o eterno tema

De que deve sorrir quem hoje chora,



Sabendo, embora, que este compromisso

De aqui compor uns versos é problema

Que enfrentam todos, neste bom serviço.







382. Assim, assim...



Não posso repetir o velho tema,

Senão vão me acusar de ser injusto,

Que o ensino que recebo, a todo custo,

É próprio p’ra evitar este problema.



Não quero aqui também dar de vetusto,

Que a rima que elegi é tão suprema

Que exige deste autor que o mal não tema

Nem faça que o leitor tome algum susto.



Emérito, o poema tem defeitos

Que a trova é popular, porém, nem tanto:

Um misto de poesia sem eleitos.;



Um pouco de miséria sem encanto,

Que é rude este mistério e contrafeitos

São todos os princípios, no meu canto.







383. Rude orientação



Atrevo-me a ditar esta poesia

Porque tenho a certeza do meu tema.;

Também estou bem certo ser suprema

A forma do compasso da harmonia.



O que não fica claro é o meu dilema,

Que é fruto da vontade que teria

De melhorar o fim, com alegria,

Iluminado ao sol do estratagema.



Não quero definir este meu ato

Como perfídia triste e compungida,

Porque fugir da lide é desacato



Ao mestre que me ensina e me convida

A revelar quem sou, pois sofro e extrato

O sumo desta dor, mas com guarida.







384. Precisando os termos



Amei, amaste, amou, e quem não ama,

Se Deus é puro amor e assim nos fez?!

Talvez tenha chegado a sua vez,

Que o verso que se lê, você declama.



Não sei quanto de luz e sensatez

Se espalha pela trova e se derrama

No coração que exalta o simples drama

De que Jesus nos deu a lucidez.



Mas, se você precisa compreender

O jogo do poder e do querer,

Amar pode ser ínclito exercício,



Que o sentimento é puro quando a gente

Nem sabe que ele está onipresente

E escreve o verso como um nobre vício.







385. Devagar se vai ao longe



Preciso de mais tempo p’ro arremate

Do texto que preparo a cada dia,

Senão irão dizer: — Falta poesia

E sobra, nesta prosa, disparate.



O tempo aqui não falta e mais daria

P’ra que o soneto um tema de quilate

Pudesse agasalhar, não fosse o vate

Tão pouco empreendedor, nesta harmonia.



Então, peço ao leitor que me compreenda

E reze uma oração mui benfazeja,

Que me ilumine a rima, sem a venda



Com que se esconde o mal, que não viceja,

Se trago para a trova a bela senda

Que iluminou Jesus.; e que assim seja.







386. Com vontade de dizer tudo



Visito o companheiro e logo escreve

Mui crente de me ouvir a lhe ditar,

Então, não quer que eu vá tão devagar,

Nem quer que meu ditado seja leve.



Eu digo que meu verso irá chegar

No dia em que luzir o vate deve,

Ou seja, a perfeição não é p’ra breve,

E o texto fica longe de exemplar.



Mas ele até se alegra com tão pouco,

Ao perceber que o gajo não é louco,

Nem desafia as leis querendo mais.



O passo que aqui dou, conforme a perna,

Conforta quem a dor do mal consterna,

Pois a Jesus eu peço amor e paz.







387. Subjetivismo em expansão



Espero firmemente que a poesia

Me torne bem mais forte o pensamento:

A gente tem do vate o sentimento

De que não pensa em nada, todavia...



Se tenho de volver à Terra, um dia,

Preciso melhorar, estando atento

Às regras superiores, que o momento

É tudo o que se tem... e nostalgia.



Ser positivo, então, é diferente

Das emoções que cabem nesta trova:

Enquanto o verso sempre segue em frente,



O que se sabe aqui já se renova.;

E posso até dizer ser excelente,

Quando o mentor nos lê e nos aprova.







388. Ajudando a crescer



Pretendo registrar meu desconforto

Ao vir falar de um tema que me agrada,

Mas sobre o qual eu sei um quase nada

E o que aprendi se deu depois de morto.



Eu acho que o leitor não arrecada

Uma lição sequer de um verso torto,

Que busque analisar, como num horto,

As intenções do Pai, que a dor degrada.



Se tenho a natureza diferente,

Pode o encarnado ver se o mesmo sente,

Ao refletir na vida que o seduz.;



Mas deve meditar que a formosura

Nest’alma de poeta se depura

Também pela tristeza desta cruz.







389. Vislumbrando o presente



O sábio que serei, por certo, um dia,

Me afirma que não posso fraquejar,

E, vindo junto à mesa, neste lar,

Preciso elaborar bela poesia.



Mais sábio é que serei, estando a par

Das leis e compromissos da harmonia.;

Tão pobre o desempenho, eu não faria

Agora uma poesia de avatar.



Cada macaco, sim, no próprio galho

É quanto aqui aprendi, mas sempre falho

A imaginar-me um ente superior.;



E, p’ra gostar de mim assim tão feio,

Precisa compreender, por ser do meio,

Que de Jesus me valho, em seu amor.







390. Poesia de fancaria



Solerte, este seu vate vem de novo

Trazer seu contributo para a rima.;

Também quer demonstrar que tem estima,

Gostando de mexer com todo o povo.



Missão de certa forma que se arrima

No estudo que aqui faço, pois removo

Os óbices da dúvida e o renovo,

Que não deixo crescer, da pantomima.



Por isso, nos tercetos, prego a paz

E deixo claro o aviso do perdão,

A quem deseja agora sempre mais,



Que assim fica feliz seu coração:

À rapariga eu peço e ao bom rapaz

Que façam como nós neste refrão.







391. Vamos cirandar



Seja por nós, Jesus, em sua glória,

E nos permita aqui doce esperança,

Que o bem do amor em nós assim avança

E faz reescrever a nossa história.



Se a dor tem seu papel, um dia cansa,

Enchendo de temor de rude escória

O coração que anseia por vitória

Mas sente ser a sorte mui criança.



Jesus, seja por nós nesta poesia,

Ao menos, para alívio deste amigo

Que atento fica a ler e que queria



Apenas um consolo, pois eu brigo

Com tantas emoções sem harmonia

Que acaba tendo um choque aqui comigo.







392. Só falta a lição



Jesus há de fazer com que meu dia

Não passe como a nuvem lá no céu,

Que o vento vai levando tão ao léu,

Num mecanismo físico, sem guia.



Também não vou querer haja escarcéu

No texto que elaboro da poesia,

Porque posso dizer que não faria

O mínimo que fosse sob um véu.



Critico o meu intento em verso branco,

Com rimas que não têm nenhum encanto,

E vejo que Jesus me ajuda ainda.



Então, levanto em prece o pensamento,

Rogando, agradecido e sem lamento,

Que ao menos minha idéia seja linda.







393. É preciso trabalhar



Vagando pela esfera a que pertenço,

Eu fico a imaginar um mundo puro,

Mas não tenho vontade, assim o juro,

De para lá partir: estou sem lenço.



Dizer adeus não vou, eu lhe asseguro,

Que o débito que tenho é tão imenso

Que, estando neste verso, me convenço

Que me bloqueia aqui bem alto muro.



A liberdade então é de fachada,

Que ver em derredor não vale nada,

Se o gajo não faz força e não melhora.



Eu peço a Jesus Cristo que me atenda

Nas preces que lhe mando sem a venda,

Sem me ofuscar a luz, naquela hora.







394. Dizendo a verdade



Jesus, seja por nós, rogando a Deus

Que os homens encarnados vão, em guerra,

De encontro a tudo e a todos cá na Terra,

E muitos agem como vis ateus.



Não sei pedir por mim que o mal se encerra

Também nest’alma vil, que os fariseus

Escrevem seus poemas como os meus,

Enquanto o amor se esvai e o mal se aferra.



Mas me emociono, sim, ao ver que a dor

Transtorna os corações, dando vazão

Aos ódios peçonhentos que o fervor



Assanha nestas lutas sem razão:

Se todos refletissem ao compor,

Mais puro ficará seu coração.







395. Um abraço, amigo!



Estendo a minha mão ao companheiro

Que comparece sempre ao bom estudo,

Que a forma da poesia e o conteúdo

Lhe mostram o poeta por inteiro.



No entanto, é bem preciso, sobretudo,

Muita paciência e zelo, pois requeiro

Que amor e que perdão venham primeiro

E só depois me chamem cabeçudo.



Eu gostaria aqui de emocionar,

Gerando um verso alegre para o lar,

Que contivesse uma lição e tanto.



Por mais que pense, então, eu só me lembro

De que da minha equipe eu sou o membro

De todos apagado e sem encanto.







396. Pensando bem...



“Louvado seja Deus em sua glória!”,

Agradecido, o povo se aventura

A lhe rogar que a vida seja pura,

Porquanto hoje se atreve como escória.



Mas como conseguir, quem lhe assegura

Os méritos que o guindem à vitória,

Se, quando vê que há vínculos na história,

Os crimes sobressaem por sua usura?



Então, seu compromisso mais se aperta

E torna a idéia muito mais esperta,

Pois tudo quanto almeja é deste mundo.;



E vem para a doutrina de Kardec,

Onde a visão se amplia como em leque,

Além de remetê-lo d’alma ao fundo.







397. Até breve!



Eu vim para dizer que vou partir,

Que fui chamado, enfim, a um bom trabalho.

Bem sei que, neste verso, eu me atrapalho

E faço aqui bailar o Wladimir.



Porém, os que me derem agasalho,

Guardando estes poemas p’ro porvir,

Talvez sejam capazes de cumprir

Melhor que eu a etapa que esfrangalho.



Eu peço a Deus, portanto, que me ajude,

Abençoando o verso que vai ler

O meu leitor querido, na inquietude



De quem vislumbra o pouco de poder

Para compor a trova, em rima rude,

Pois, no futuro, é certo este dever.







398. Outro choramingas



Não quero antecipar a conclusão,

Mas tudo quanto escrevo nesta casa

Parece acrescentar penas à asa

Que faz que me levante já do chão.



É claro que o tormento ainda vaza

Destas feridas fundas da escansão.;

Nem tolo aqui seria o meu irmão

De me aceitar assim, tão clara a vasa.



Portanto, pesquisei para a harmonia

E desejei compor a tal poesia

Ao menos com a forma já perfeita.



Depois, vou estudar a melhor rima,

Aquela que seduz e que se estima,

De modo a incentivar quem já me aceita.







399. Mexendo e remexendo



Pretendo interromper o meu ditado,

Fazendo com que o médium já descanse,

Porém, não sei medir da rima o alcance,

De sorte que bem pouco aqui me agrado.



O médium quer que o verso meu avance:

Um dia só não vai ficar parado.;

Então, ele sugere forma e estado

Em que deve atuar quem se abalance.



Eu venho p’ra dizer que estou feliz,

Mas digo, nesta trova, o quanto sinto

Não ter a inspiração que sempre quis.;



E vou levando o texto e coisa e tal,

Só não fazendo mais porque não minto,

Que o verso tem de ser mui natural.







400. Filosófica mente



Eu malho a mesma tecla e o mesmo som

Se faz ouvir no verso novamente.

Bem sei que, sendo assim tão insistente,

Só posso demonstrar meu pobre dom.



Também, quem haverá que o gajo agüente,

Sentindo tão ruim o que quer bom,

No encontro miserando, sem o tom

Desta virtude apenas sempre ausente?



Dizer toda a verdade aqui carece

Quem vem disciplinar seu egoísmo:

Quem sabe quem subia agora desce,



Mas para se firmar no fundo abismo,

Que a luta só começa numa prece

Que vem do coração: e eu não sofismo...







401. Arriscando a pele



Retorno ao velho tema da poesia

Que me mantém atento nesta rima,

Não tanto quanto ao fundo, que me anima

Apenas o compor em harmonia.



Se desgostar do resultado acima,

Terei de comprovar, sem todavia,

Que é tudo de melhor que aqui faria,

Lutando p’ra alcançar a tua estima.



Então, peço a Jesus inspiração,

Porque não quero aqui vir dizer não

Ao estro dos poetas anteriores.



Se peno em sofrimento a cada verso,

Talvez seja porque sou tão perverso

Que penso descontar nos meus leitores.







402. Falando grosso



Estendo a minha mão e agarro a tua,

Puxando-te ao meu peito como irmão,

Rogando ao Pai do céu o seu perdão,

Se é pouco o que aqui chega e continua.



Então, o meu amigo da escansão

O sentimento n’alma perpetua

E faz com que no céu o Sol e a Lua,

Unidos, sigam juntos na amplidão.



Por isso, é que meu verso faço a medo,

Que é grande o meu esforço p’ra tão pouco,

E até reclamo ao mestre ser mui cedo



Esta função de vate meio louco,

Que aponta ao coração em riste o dedo,

Fazendo para o mais ouvido mouco.







403. Quem se habilita?



Meu bom amigo, eu venho aqui de novo,

Trazendo meu abraço companheiro:

Dos sentimentos seus hoje me inteiro

E vejo que são tais os deste povo.



A gente cá do etéreo vê primeiro

Se existe mais galinha e pouco ovo,

Que o galho não se quebra com renovo

A lhe nascer viçoso e mui faceiro.



Depois elejo um tema não tratado,

Ao menos co’as palavras que hoje emprego,

P’ra não causar-lhe engulhos deste enfado,



Que caem no abismo o cego e mais o cego,

Que a conduzir ao outro estoutro é dado:

Ao abraçar o irmão, aí sossego.







404. Com estilo e sem graça



Agradeço comovido a toda a gente

Que tem vindo a fim de ler o que hoje escrevo.

Não pretendo amolecer, nem sei se devo

Uma lágrima mostrar inutilmente.



Como é bom reconhecer-me em alto enlevo,

Distraído destas dores do presente,

Que o passado me pergunta como sente

Tanto medo quem não veio sem relevo.



É que as coisas por aqui são positivas,

A exigir de cada qual mais atenção.

Sejam versos, seja a prosa, tu cativas



Pelo menos do leitor seu coração,

Quando buscas, ó poeta, as narrativas

Que se fazem bem à noite, no serão.







405. Nem tudo é festa



Não faço mais questão de um verso belo.

A mim, me basta apenas uma rima.;

Já desisti de vez duma obra-prima,

Mas quero realizar meu forte anelo.



Por isso é que aqui trago quem me anima,

A voz do mestre meu que hoje desvelo:

— Querido, busque pôr no seu flagelo

As cores mais propícias para a estima.



Então, tento brincar, falando sério,

Apenas para dar um refrigério

A quem vive a sofrer em desencanto.



Se a trova não vem boa e degenera,

De que me vale aqui rugir de fera,

Se causo só temor com tanto espanto?!







406. Reflita comigo



Não passo uma só tarde sem compor,

Que o verso me distrai tremendamente:

Eu fico a imaginar como é que a gente

Ilude, quando sofre, o mal da dor.



Depois de vir ditar, quero que aumente

O meu prazer por algo superior,

Mas tudo se resume em ser senhor

Um pouco mais de mim: eu que me agüente!...



Por isso é que o relato é realista,

Que a pílula eu não doiro aqui jamais.;

Também não deixo traço nem dou pista



De quanto o sofrimento me atormenta,

Se penso realizar um pouco mais

E vejo como a trova se apresenta.







407. Integração



O espaço que se abre à minha frente

Não tem limite algum: é o infinito,

Mas isto só me deixa mais aflito,

Que o tempo é a eternidade indiferente.



É todo um universo o humilde grito

Que lanço nestas trovas sutilmente,

Mas digo ao coração que a dor agüente,

Que o tempo-espaço um dia ao ser adito.



Não vim filosofar mas como digo

Que existo aqui, em fórmula mais pura,

Que eu devo a Deus estar hoje comigo



A gente mais querida, que assegura

Que se afastou de mim todo o perigo,

Que Deus é pai de amor e ao mal dá cura?!...







408. Vamos devagar



No espaço, o pensamento se acelera

E as emoções se dão com mais vigor.;

Por isso é que sentimos mais amor,

Ainda que estejamos noutra esfera.



E quando aumenta muito a nossa dor,

A prece que dizemos refrigera

O coração, que fica nesta espera

De um dia o bem da vida recompor.



Ninguém está feliz aí na Terra,

Sabendo que os parentes sofrem tanto.

Então, rogam ao Pai que acabe a guerra,



Que é triste contemplar do irmão o pranto,

E pedem p’ra voltar, mas tudo emperra

Se o protetor previne um forte espanto.







409. É bom pensar nos outros



Dedico este poema ao bom leitor

Que, com paciência, encara cada verso:

Há tanto que aprender neste universo

Mas ele vem tratar-me com amor.



Preciso compreender que estou imerso

Em dúvidas atrozes, ao compor,

Porquanto contatar com o exterior

Exige que eu recolha o mal disperso.



É com vigor, contudo, que lhe escrevo,

Sabendo o compromisso que hoje assumo,

Ao despertar-lhe n’alma um tal enlevo:



Toda doutrina aqui, em bom resumo,

Contida e apaixonada, eu sei que devo

Apresentar de um modo supra-sumo.







410. Se valer a intenção...



Eu pego na caneta e escrevo a rima,

Igual quando na Terra ali compunha,

Mas não enfrento agora o touro a unha,

Que o meu traquejo aqui não mais me anima.



Por isto, esta linguagem me acabrunha:

É simples.; não se presta à obra-prima

Que formo no bestunto e se sublima,

Sem que o poema seja testemunha.



Mas vamos pensar juntos, um momento,

Na utilidade disto que ensaiamos,

Que é tudo quanto peço e que acalento,



Pois sei que pendem frutos destes ramos,

Exemplo de uma paz de sentimento

Que quero transmitir, pois nós amamos.







411. Deixe a preocupação de lado



Não queira, meu amigo, disfarçar

Que teme vir bater na mesma porta

Em que me obrigam hoje seja torta

A comunicação nada exemplar.



Bem sei que o pensamento que o exorta

A procurar um verso salutar

Lhe oprime o coração e o faz calar

A crítica que a trova mais comporta.



Mas tal bondade surte em prejuízo

Do sentimento honesto que procuro

Vir colocar na rima, como aviso



De que não deve o gajo ser perjuro,

Se prometeu a si ter melhor siso,

Porquanto em paz o espírito é mais puro.







412. Aos poucos



A bênção do Senhor transforma em luz

Os nossos sentimentos mais comuns,

Porém, quando são poucos, só alguns,

O peso aumenta muito a dor da cruz.



— Por que, pergunta o gajo, tais zunzuns

Na mente desvairada que traduz

Tão mal o ensinamento de Jesus,

Embora até padeça com jejuns?



Porque preciso aqui transpor a glosa

Da vida que perdi louco por glória:

Queria a rima pura e em simples prosa



Compus o sofrimento dessa vida.;

Mas vou ficar devendo a minha história,

Que um tema bem melhor já me convida.







413. Aproveitando a deixa



Eu gosto de brincar com meu amigo,

Mas o meu mestre diz que a hora é séria,

Que o pobre que rasteja na miséria

Promove o crescimento do perigo.



Antigamente achava que era léria

A minha intuição.; hoje não digo

Que façam como fiz tão mal comigo,

Que deverei voltar para a matéria.



E qual o tema adulto mais profundo,

Aquele que produz a melhor messe,

Em bênçãos do Senhor? Eu não confundo



E peço ao meu leitor que se oferece

A aliviar-me a carga neste mundo

Que diga de Jesus a linda prece.







414. Dos males, o menor



Pretendo prestigiar o meu trabalho,

Por isso tudo faço com cuidado,

Porém, quando analiso o resultado,

Reparo quanto o texto é falso e falho.



O mesmo é o que sugiro do seu lado,

Ó meu leitor querido, pois entalho

Na perfeição formal este espantalho:

O medo de obrigar à rima o fado.



Mas, ao chegar aqui, você vai ver

Que este compor de versos dá prazer,

Que existe a consciência desta hora.



Da escuridão das trevas é que o gajo

Deve ter medo, sim, que ali tal trajo

Jamais há de alcançar total melhora.







415. Só alguns minutos



Revogo o meu decreto contra o gasto

Das rimas mais difíceis e disponho

Os termos que parecem mais um sonho,

Merengue recheado do repasto.



Assim, eu me deslumbro e, mais risonho,

Tristezas e queixumes logo afasto,

Que, embora o repertório seja vasto,

Ainda mais me abraso e mais me enfronho.



Caso pareça fácil quando lido,

Não queira, meu amigo, descobrir

O quanto o meu trabalho foi sofrido.



Mas, quando chego ao ponto superior

De revelar-lhe a forma do porvir,

Só sinta no soneto o meu amor.







416. Quase uma prece



Enredo-me na trova e saio ileso,

Pois, no final, o bem co’amor se ajusta.;

E, se o leitor não sabe o quanto custa,

Eu fico mais feliz, e a rima enteso.



Então, posso provar que é bem robusta

A estrofe que se segue, e o tema obeso,

Ao praticar comigo o que mais prezo,

Enxuga-se na luz da forma justa.



Aí, rogo a Jesus que me abençoe,

P’ra que eu chame de irmão ao bom leitor,

E peço que a razão o céu revoe,



Ao lado da emoção, com que compor

Pretendo o bom soneto, que ressoe

No coração da gente e deste autor.







417. É o de que sou capaz



Entrego o coração ao meu poema,

No intuito de compor um belo verso.;

O som, aqui, porém, vem tão perverso

Que sinto uma agonia que me algema.



No fundo de minh’alma, em dor imerso,

Situa-se o memento que me extrema

Os males praticados, dor suprema

Que sói causar-me um trauma incontroverso.



Então, o sentimento há de servir

P’ra demonstrar que sinto a frustração

De aqui depositar, mas sem porvir,



A trova a que entreguei meu coração,

Um pranto de saudade, que há de vir,

Se o tema recomenda outro refrão.







418. Vestindo a carapuça



Eu vim para rogar ao Criador

Que tenha a criatura o que merece,

Que tenha o que comer quem mais carece,

Que tenha um teto certo o sofredor.;



Que abra o coração quem pede em prece

Por seu irmão que jaz em grande dor,

E sintam ambos todo o seu amor,

Nas bênçãos com que o Pai os favorece.



E para quem se faz recalcitrante

Na exploração do ingênuo e do inocente,

Que a chama consciencial a alma encante,



Mantendo o sofrimento em tom crescente,

Até que se arrependa e o bem implante

No âmago do ser.; e siga em frente.







419. Se eu pudesse esquecer...



Alegra-me o sucesso da poesia

Que tão modesta eu ponho no papel.;

O sentimento é bom mas vem no fel

Que envolve o coração sem fantasia.



Eu brinco assim e passo o meu anel

Às mãos de um felizardo que escondia

As tais virtudes lúcidas que, um dia,

Ainda aqui trarei mais a granel.



É ele o bom amigo que me entende,

Pois lê interpretando o meu desejo,

Sabendo que às proezas de duende



Componho o meu amor neste compasso

Que imita a melodia, em realejo,

Mas deixa um pranto morno no regaço.







420. Mudança de perspectiva



Precisa que a vontade seja forte

Para enfrentar o medo de morrer.;

O povo que aqui chega tem poder

E já não mais receia qualquer morte.



Porém, muitos compreendem o dever

De retornar a vida que os conforte

Das crises de consciência, pois a sorte

Lhes destinou as trevas que vencer.



Antigamente, eu vinha tão sofrida

E não compunha o verso desta lida,

Que o pensamento se turvava todo.;



Agora que possuo mais talento,

Apenas alinhavo o pensamento,

Para compor a rima com denodo.







421. Antes tarde do que nunca



Duvido que haja fogo sob a brasa

Do coração que ardeu por toda a vida,

Pois, ao chegar aqui mui comovida,

Topei com a mentira já sem asa.



Pensava em meu amor e na acolhida

Que me daria em prantos, como em casa.

Diria: “O meu afeto se extravasa

E nunca mais teremos outra lida.”



Porém, ó irrisão, que coisa feia

O meu desejo espúrio me aprontou!

Era egoísmo puro: o mal permeia



Toda ilusão que vem p’ra dar seu show,

Se a gente quer forçar a idéia alheia

Apenas co’a expressão: “Aqui estou!”







422. Sacudindo o pó



Não posso permitir que o meu amigo

Não tenha, nesta tarde, o meu poema.;

Se o tempo é pouco e simples o meu tema,

A crítica, se houver, casa comigo.



Sem ser a liberdade um bem que extrema

A notação do verso que castigo,

Ainda vou mostrar haver perigo

Em tudo desejar com arte amena.



Os riscos que se correm por aqui

Eu posso vir dizer que já corri

Na Terra, quando estive ali em vida.



Mas reformar o todo, sem o véu,

Começa por manter longe o escarcéu

Das lides da maldade que revida.







423. Ao meu leitor



Reluz, em minha vida, uma lembrança

Que trago cá no peito ternamente,

E posso descrevê-la, já que sente

O meu leitor amigo uma esperança.



Talvez eu lhe repita exatamente

O mesmo sentimento que me alcança,

O qual, por mais que eu tenha, não me cansa

Nem há de saturar quem se apresente.



É do perdão que falo, com amor,

Que o mal que pratiquei foi esquecido,

E que eu não quero aqui vir recompor,



Que as preces que me fazem, não duvido,

Atingem, cá no etéreo, um tal valor,

A transformar em trova o bom olvido.







424. Revendo a tese



Capricho o mais que posso nesta rima,

Porém, o meu embalo é limitado,

Então, fico pensando e até me agrado

De o verso ser tão pobre quanto acima.



Ocorre que o leitor está cansado

De tanto pensamento que se arrima

Em fúlgidas noções que o belo anima,

Mas põem seu coração mais agitado.



Um pasto bem verdinho atrai quem quer

Bucólica virtude, em plena paz,

Bem longe do bulício, se puder,



Que o bem desta verdade se compraz,

Se a trova muito amor e luz tiver,

Em termos simplesinhos, de colher...







425. Abaixo da inspiração



Releio sempre os versos que componho,

Após haver ditado para o médium.

Bem sei ser muito tarde p’ra remédio,

Mas os defeitos noto até risonho.



É que me quebra o vezo deste tédio,

Pois o imperfeito aqui, sem ser medonho,

Transforma o sentimento do enfadonho

Em lucro p’ra quem gosta deste assédio.



Então, fico a polir a nova rima,

Sem dar-lhe o compromisso do perfeito.;

Mas quero melhorar e o som me anima



A rascunhar a trova a ver se o feito

Vai comprovar que estou um ponto acima,

Que a evolução é luz que não rejeito.







426. Obrigatoriedade do exame



Quisera descansar, mas cá no etéreo

As coisas que hoje faço são tão fáceis

Que tenho tempo para as rimas gráceis,

Enquanto aqui revelo o grão mistério.



Mas, vós, Senhor, quisera que mostrásseis

Aos corações que pedem refrigério,

Que tudo quanto escrevo é muito sério,

Que nunca aqui estarei sem que aprovásseis.



Tudinho quanto trago ao bom leitor

Mais devo caprichar ao vir dispor,

Portando este alvará para o serviço.



E, mesmo assim, estando neste lar,

Preciso dar de mim, sendo exemplar,

Sem nunca me afastar do compromisso.







427. Contemplação e obrigação



Eu sei que Deus é pai de muito amor,

E sei que Jesus Cristo é meu amigo,

Seu coração fraterno é meu abrigo,

E o mestre que me assiste é meu mentor.



Mas cabe a esta escritora o tal castigo

Do estilo da poesia, ao vir compor,

Que pode ser até muito inferior,

Mas tem de ressaltar que há bem comigo.



Quando o leitor devassa o sentimento

Que ponho nestas rimas e sustento,

Enchendo de emoção um verso apenas,



Há de escolher a trova por acaso,

Que em todas eu reflito o meu desazo,

Que a recompensa espero após as penas.







428. A ilusão da forma



Resisto e não me atrevo à rima forte

Que me propõe o mestre, amigo ilustre,

Mas, ao subir no bonde, o balaústre

Me serve como apoio e de suporte.



Assim, não vou deixar que o bem se frustre,

Propondo que este tema se recorte

Na proporção correta que, com sorte,

Ainda vou compor, sem que deslustre.



Não quero que o exercício seja em vão,

Demonstração fugaz de simples mérito

Lingüístico e formal, sem coração,



Talvez recordação de um mau pretérito,

Coisinhas de um poeta sem sanção,

Que sofre neste instante sério inquérito.







429. Aparente displicência



Parece ser difícil versejar,

Quando se tem o tema controlado,

Mas, se o leitor invade o outro lado,

Vai ver que tudo ocorrer devagar.



Sucede que ao meu mestre sempre agrado,

Sem pôr na trova minha algo exemplar,

Mas dando à forma nova um tom, um ar

De estar completamente acomodado.



No fim, é costumeiro, em belo gesto,

Dizer que a turma toda está em prece,

Orando p’ra que a rima que hoje empresto



Conduza o sentimento que parece

Estremecer agora, embora lesto,

Colhendo este poeta farta messe.







430. Para que não haja preocupação



Cativo o meu leitor e tenho medo

De não corresponder como devia:

Se espera aqui encontrar bela poesia,

Irá desiludir-se muito cedo.



O mestre, estimulando, me dizia

Que em riste eu não veria nenhum dedo,

Pois o final do verso e deste enredo

Bem pode comportar sabedoria.



Pensei em Jesus Cristo, em seu amor,

Também me veio à mente Allan Kardec,

Mas como eu poderia recompor,



Neste soneto simples, a doutrina

Que junto aos corações, aberta em leque,

A amar a Deus e ao povo nos ensina?!...







431. Festival de idéias



Perfaço a minha quota e vou-me embora,

Que a rima é de sobejo conhecida.;

Preciso dar um trato em minha vida,

Que a lei do amor em tudo aqui vigora.



Por isso é que ajudar o gajo envida,

Em tudo quanto possa, a cada hora,

Seja na trova simples, que ele adora,

Seja nas trevas longe da guarida.



Mas o meu mestre impõe que não se diga,

A demonstrar cuidado co’a lição,

Qual o destino agora desta amiga,



Que pode até voltar à encarnação.;

Por isso me despeço à moda antiga,

Pedindo a Jesus Cristo proteção.







432. Ensaio geral



Meu caro Wladimir, eu me apresento

Para o trabalho duro da poesia,

Não tanto pela forma e harmonia,

Porque revela fundo o sentimento.



Não quero resolver com todavia

Nem quero demonstrar qualquer tormento:

A dor é muito forte mas agüento,

Que agora tendo a rir sem nostalgia.



Contorço o verso e trago o resultado,

Lembranças de outro tempo aí na Terra.

O som fica no ar, como parado,



A suspeitar do mal que a voz emperra,

Se, em lágrimas, o bem fica embargado,

Pois tudo de uma vez a trova encerra.







433. Confiar desconfiando



Requeiro que meu médium fique sério

E salve a toda hora o meu ditado:

Não quero que o trabalho deste lado

Se perca por problemas de critério.



Insisto em que a poesia é doce enfado,

A revelar a dor sem refrigério

Dos que querem somente, em vil mistério,

Enovelar as almas, sem cuidado.



Eu voltarei ao tema com mais força

E vou pedir ao médium que não torça

Nenhuma das idéias que lhe entrego.



Eu sei que é muito pouco, um quase nada

Mas isto é tudo quanto aqui me agrada,

Embora ao Cristo peça por meu ego.







434. Alma dura



Persisto nesta linha de poesia

Porque declaro aqui que estou carente:

Por mais que a minha rima me contente,

O sentimento é pobre e a trova fria.



Mas não posso querer mui simplesmente

Que todo o mal repouse na harmonia

De um bem dotado verso, que daria

Apenas a ilusão que o vate sente.



Por isso, torço a dor e espremo a luz,

Que jatos de clarões não vêm comigo,

Pois, no máximo, a prece de Jesus



Confesso ser capaz de orar, e digo,

Sem entender de todo a que conduz.;

Só sei que constitui suave abrigo.







435. Concentrado e bem disposto



Evito usar metáforas terrenas,

Porém, as cá do etéreo são estranhas.

Aflito, o médium meu dá por patranhas,

Porque não vê que as rimas são amenas.



Ó coração teimoso, quanto apanhas

Ao escolher tão mal tuas avenas!

Contém as tuas ânsias, pois serenas

Os corações de todos, sem façanhas.



É pouco, há de convir o mestre amigo

Que me acompanha sempre na escansão.

Mas peço que não brigue mais comigo,



Porque jamais pretendo dar um não

À forma judiciosa a que me obrigo,

Espécie de conforto e de oração.







436. Criando firmeza



Reflito e me perturbo nesta rima,

Por parecer-me um tempo tão perdido:

Requeiro ao meu leitor me dê ouvido

E peço que me tenha em grande estima.



Em troca, o que lhe dou não faz sentido,

Bem longe de formar uma obra-prima,

Mas sei que o bom amigo já se anima,

Se a quadra lhe comprova que duvido.



Ocorre que a feitura deste verso,

Levando-me a pensar que sou perverso,

Também me traz um grande lenitivo:



É que, ao chegar ao fim da minha trova,

Esqueço que sofri na triste cova

E volto a ser feliz como ser vivo.







437. Eis a ânsia qual é



Não quero intimidade co’o leitor,

Pois contamino o verso com meu mal.;

Então, que seja o bem dom natural

Que traga o bom momento de compor.



As rimas que disponho é meu fanal

P’ra iluminar a rota desta dor,

E a prece que hoje elevo ao Criador

Irá tranqüilizar-me no final.



Por isso, hoje suspendo a confissão

Dos males que causei durante a vida.;

Que fique aquele bálsamo na mão



De quem abriu no tronco a tal ferida,

Machado contra a alma sã do irmão

Que perdoou os males e se olvida.







438. Devagar, devagar...



Resolvo prosseguir neste caminho

De breves confissões, pois tenho medo

De que meu bom leitor me aponte o dedo,

Dizendo que falseio o meu carinho.



Ocorre que é tão grande o desalinho

Da minha rude mente, que é mui cedo

P’ra me deixar levar pelo arremedo

Dos sentimentos puros que adivinho.



Por isso, este meu verso tão fugaz,

Na triste confusão em que me vejo:

Quisera dar amor e dar a paz,



Mas, ao falar no assunto, eu sinto pejo,

Que o ser, sendo imperfeito, é só capaz

De pôr do bem na trova um vil bosquejo.







439. Meio incompreensível



Preciso melhorar meu desempenho,

No bom sentido de uma rima pura,

Porém, o sentimento aqui não dura,

Porquanto a evoluir agora eu venho.



Se não é firme, o coração perjura,

Mesmo que tente sê-lo com empenho:

Eu sei que o mal é tudo a que me atenho,

Mas cá me ensinam a trazer-lhe a cura.



Então, quando improviso, o verso muda,

Minha emoção da hora se transforma

E logo penso em ser melhor: Caluda!



O raciocínio pende para a norma

De ser fiel ao prisma que me ajuda,

A refletir no transe da reforma.







440. Variando o estilo



Mantenho a minha calma nesta hora

Em que venho ditar a tal poesia.

Eu sei que bem melhor aqui faria

Qualquer que apresentasse uma melhora.



Porém, não vou mostrar sabedoria,

Ao repetir as rimas que decora

O povo que rascunha, como outrora

Aí na Terra eu punha o verso em dia.



O treinamento é bom e dele eu gosto,

Contudo o resultado não me agrada,

Que o bem da trova agora é quase um nada.



Então, peço a Jesus, em quem me encosto,

Que me perdoe o gesto desabrido,

Abençoando a gente que intimido.







441. Que sirva de exemplo



Eu vejo em plena luz a companheira

De quem eu me servi durante a vida.;

Bem sei que, por amor, já me convida

A estar com ela ali, sem tremedeira.



Peço perdão ao Pai, pois sei que a lida

Irá levar-me um dia nessa esteira.;

Agora é que não posso, embora queira,

Pois tenho de vencer minha descida.



É duro de saber que existe a paz

E como chegar lá, sem ser capaz

De laborar no bem aos semelhantes.;



Mas, quando penso que venci o mal,

Que um dia suspeitei ser natural,

Percebo que hoje estou melhor que antes.







442. O outro é o alvo



Perfeita hoje seria esta poesia,

Se contivesse amor de forma pura.;

Idéia tão-somente, ou mesmo jura,

Não serve p’ra emoção da melodia.



Também já não espero pela cura,

Que a vibração da dor hoje se alia

Ao sentimento alheio, que eu faria

Compartilhar comigo a criatura.



De tudo quanto exponho, o principal

É não dar importância ao próprio mal,

Mas pôr o bem acima da inquietude.



Se não consigo, eu peço por mais luz,

Pois sei que me perdoa o bom Jesus,

Se algum conforto dou a quem se ilude.







443. Fugindo à regra



Assumo o compromisso e sigo em frente,

Realizando em verso o que pensei.;

Opero em desafogo: eu sei que a grei

Conduz a quem trabalha, calmamente.



Se anoto aqui o artigo dessa lei

E peço ao bom leitor que mais me agüente,

É que precisa ter sempre presente

Que um dia há de saber o que eu já sei.



Então, ouvir é bom, que o ensino é justo

E não requer do ouvinte mais que o custo

De alguns momentos simples de atenção.



Se peco nesta rima controversa,

Ao menos há de estar no amor imersa,

Pois vem envolta sempre em oração.







444. No embalo da inspiração



Previno o meu amigo quanto à norma

Que rege esta poesia cá no etéreo:

Precisa que seu tema seja sério,

E respeitar os cânones da forma.



Também há de prever um refrigério,

Que o sofrimento sempre se transforma.;

E não deve conter o bem pro forma,

Que a prece que se diz tem seu critério.



Assim, se o meu leitor pedir por luz,

Na trova que componho tão contente,

O ensino superior do bom Jesus



Irá referendar como se sente

Aquele que hoje escreve e aqui traduz

Que amar a Deus e ao próximo é premente.







445. Treinando a despedida



Eu me despeço em verso, agradecendo

Ao meu amigo humano esta acolhida.

Bem sei que dedicar parte da vida

É mérito que honra ao instruendo.



Ao mestre, aqui no espaço, a cuja lida

Se prende meu trabalho despiciendo,

Pois quase nunca a seu conselho atendo,

Sou grato pelo bem que consolida.



Ao meu bom grupo estendo a minha mão,

E à linha dos espíritos de luz

Elevo o pensamento como irmão,



Pois todos vamos ter, junto a Jesus,

Momentos de ventura e de emoção,

Nas graças do bom Deus que amor produz.







446. Ensaiando o amanhã



Na véspera da noite natalina,

Obriga-me o dever a ser poeta,

Lembrando que a doutrina está repleta

Das mais puras lições que o Mestre ensina.



Na manjedoura, a idéia se completa

De que Jesus nos trouxe, peregrina,

A paz que o espiritismo dissemina,

Pela união das greis que o amor decreta.



Jesus-criança, em leito tão modesto,

Me traz à mente o orgulho de um porvir

Que sinto realizar neste meu gesto,



Ao descrever o mundo que há de vir:

Um pensamento dócil que hoje atesto,

Fugaz recordação do meu sentir...







447. Cheguei devagar



Hei de levar meu fardo alegremente,

Que bem mais leve está com a poesia.

Por certo, bem melhor outro faria,

Mas o soneto é próprio de quem sente.



Eu cumprimento o mestre em alegria,

Que o coração me bate mui fremente,

E falo de Jesus a toda a gente,

Que ensina a perdoar minha ousadia.



Aos meus colegas digo, com freqüência,

Que estou muito à vontade nestas rimas,

Que exigem muito pouco da ciência,



Porém, quando se trata de obras-primas,

Aí, todo meu povo, é com paciência

Que falo ao coração: Vê se te animas...







448. De enfiada



Apraz-me assinalar, neste poema,

Que agora estou melhor e mais disposto:

O verso é sempre belo, quando o gosto

Se resume em romper a dura algema.



Mas sempre o melhor vinho tem seu mosto:

É rança a minha rima, que se extrema

Em sugerir apenas meu problema,

Elevando o interesse pelo encosto.



A disciplina exige compostura.;

O mestre sempre quer que a gente atenda

Às normas desta escola, sem mistura,



Que as coisas que deixei no fim da senda

Um bom trabalho em paz e amor depura,

Servindo esta poesia só de agenda.







449. Vá por mim...



Não posso interromper minha poesia,

Dever que o mestre exalta e me concede.;

Então, fico a cismar se o bem me pede

Um simples e bom verso, e... nostalgia.



No fundo, o coração é sempre a sede

De todo sentimento que daria

O termo mais exato p’ra alegria

Daquele que hoje escreve e o texto mede.



São circunstâncias estas que, não nego,

Vêm sobrecarregar a minha trova,

Porque à deriva fica em fundo pego,



Poesia inoportuna que reprova

O esforço que hoje faço e que pespego

Ao meu leitor do fundo desta cova.







450. Apenas um gesto



Aviso-lhe que a trova hoje está pobre,

Bem mais que habitualmente, pois me vejo

Perdido em labirinto e tenho pejo

De revelar um sentimento nobre.



Preciso vir girar o realejo,

Porque não sei mentir, mas não me cobre

A perfeição, amigo, inda que eu dobre

Os sinos da esperança e do desejo.



Bem sei que meus quartetos vêm medidos:

Ao menos os compassos têm o dom

De restaurar a essência de algo bom.



Não quero traspassar, com meus pedidos,

Seu coração, que o bem enche de amor,

Pois sei que a prece sua acha o Senhor.







451. Só umas rimas



Preciso esclarecer meu companheiro

Que a luta que mantenho está findando.;

Por mais que o verso esteja mau, nefando,

Ainda há de sobrar um bom inteiro.



A história vou contar, mas — até quando? —

Pergunto a meu bom mestre e lhe requeiro

Que explique onde é que encerrarei primeiro

O meu papel tristonho, em verso brando.



Ele sorri, pedindo p’ra esperar,

Que o bem do amor acode devagar,

Ao passo que a consciência aperfeiçoa.;



Por isso é que se expande tanta luz,

Enquanto um simples verso meu traduz

Que eternamente o Pai nos abençoa.







452. In extremis



Lancei-me na poesia sem enfado,

Sabendo que terei mais alegria.

A rima que elegi também daria

Aquela precisão de que me agrado.



Notei, então, que o tema alcançaria

Apenas informar do meu estado,

Alguma coisa chocha, em limitado

Estímulo ao leitor, sem harmonia.



Fiquei um tanto triste e pus de lado

A trova resultante, que seria

Monótona, infantil, sem luz nem fado,

E repeti tais sons na melodia,



Rogando ao bom Jesus que me inspirasse

Um verso que impusesse um doce enlace.







453. Que sirva como exemplo



Então, pergunta o mestre, interessado,

Se estou sempre disposto a prosseguir,

Sabendo o quanto vale ao meu porvir

Este equilíbrio todo em prol do fado.



Requeiro permissão ao Wladimir,

Que o médium que me ajuda eu desagrado,

E volto este meu verso para um lado

Que não toca a ninguém: o meu sentir.



Mas como eu tenho a doce obrigação

De recordar os feitos lá da Terra,

Talvez para forjar, como verão,

A decisão final que o bem encerra,



Entrego-me ao trabalho decidido,

A ver se os meus defeitos invalido.







454. Em busca do caminho



Não venho inutilmente dar a prova

Dos sentimentos todos que vivi.

Alguns se valorizam por aqui,

Outros, porém, se vão, que o bem renova.



Antigamente o povo não sabia

Que a gente cá no etéreo tinha sonhos,

Alguns de desprezar, outros risonhos,

Conforme a evolução no dia-a-dia.



Mas poucos acreditam nestes versos,

Que contam contra si serem perversos

Pela pobreza d’alma do poeta.



Que reste, ao menos, o valor do custo,

Que obriga o mestre a ser o vate justo

Na trova que compõe tão incompleta.







455. Firme nas bases



Entrego-me ao trabalho e me dou bem,

Ao menos no que importa à tal poesia.;

E nela ponho fé, sem nostalgia,

Que às dores que curti eu digo amém.



E venho traduzir minha alegria

Nas rimas inefáveis cá do além:

Idéias e emoções que hoje provêm

Da compreensão e do saber de um dia.



Eu peço ao meu irmão que esteja atento,

Pois ponho nesta trova o meu alento,

Em forma de escansão e de equilíbrio.



É pouco para tanto atrevimento,

Mas faça como eu neste momento,

Causando ao mal de outrora um tal ludíbrio.







456. Trégua oportuna



Agora eu me disponho a versejar

Com muito mais talento e poesia,

Não tanto p’ra mostrar sabedoria:

Para repor as coisas no lugar.



Afirmo que qualquer melhor faria

Em trova para mais do que exemplar,

No entanto, o meu sistema vai provar

Que estou dentro de mim em harmonia.



O simples é melhor quando sobeja

A paz interior que o povo almeja

Que caia cá do céu em suas mãos.;



Mas o sofrer de outrora faz que a vida

Se ajeite em perfeições, pois, quem duvida

De que Jesus protege os seus irmãos?!...







457. Não sem esforço



Mantenho a mesma forma de poesia

E os sentimentos mudo um pouco só.

Há tempos o meu corpo virou pó,

As dores, entretanto, aqui sentia.



O tempo então passei com muito dó

Do sofrimento meu, dessa agonia,

Por ter levado a vida em fantasia,

Olhando só por mim, grande bocó.



Por isso é que as idéias são tão pobres,

Que os sons desta poesia são de dobres,

Pois não me importa agora ser perfeito.



É de interesse meu vir informar,

Tornando o verso simples, exemplar,

Que aspiro dar de mim de todo jeito.







458. Auto-retrato.



Falece-lhe o desejo de aprender?

O Espiritismo é tese complicada?

Mas nem por isso o bem lhe desagrada

E o culto da virtude dá prazer?!...



O mal está em não fazer-se nada,

Quando se tem na vida algum poder.;

O apelo da matéria há de vencer

E o gajo, aqui chegando, é só pancada!...



— Não seja terrorista, meu amigo,

Senão há de correr o grão perigo

De me afastar do Cristo e sua cruz...



— O ensinamento dele é uniforme

E à noite, aqui no etéreo, quem não dorme

É que debalde busca a sua luz.







459. Nem tudo é fácil



Reflito sobre a vida que vivi

E vejo quanto foi de bom proveito.

As críticas que faço eu sempre aceito

E busco dar sentido por aqui.



É tudo quanto pode quem, perfeito

Se sente por cumprir, sem rififi,

Obrigações de fato, que elegi

No etéreo ao partir, e hoje endireito.



A perfeição se encontra a cada passo

Na correção dos vícios e dos males,

Que o povo gosta mesmo é do cansaço



Que alegremente enfrenta nesses vales

De lágrimas, que viram, cá do espaço,

Planícies amoráveis, com seus xales.







460. Promessas que valem ouro



Quando chegar a hora, eu vou partir

De volta para um corpo perecível.

Espero que ofereça o mesmo nível

Da aspiração que levo ao meu porvir.



Se o meu caráter for reconhecível,

Que eu possa conviver sem me trair,

Há de ficar seguro evoluir,

Que o bem hei de fazer inesquecível.



Eu sei que o cabedal que tenho agora

Há de volver depois à minha mente,

Pois aprender de novo aí demora,



No entanto, um dia, irei, tão simplesmente,

Abrir meu coração a quem implora

Por meu perdão, que a vida segue em frente.







461. Reflita comigo



Larguei meus companheiros lá na Terra,

Forçando esta viagem para o etéreo.

Fiquei na cova lá do cemitério,

Curtindo a sem-razão que o mal encerra.



Eu sei que o compromisso está mui sério,

Porquanto declarei à vida guerra.;

Agora o pensamento meu emperra,

Mas, nestes versos, tenho um refrigério.



Pedir perdão não vou, pois perdoar

Já perdoaram todos e o perigo

De novas dores já não é comigo.



Muitos já se encontram neste lar,

Que me abrigou após eu compreender

Que resgatar o mal é meu dever.







462. Um bom motivo



Não quero fraquejar no meu poema

Que é bom ser otimista nesta vida.

É claro que hoje pago, em dura lida,

Mas busco ser feliz, que a dor algema.



Não quero demonstrar a quem duvida

Que o gajo aqui melhora e o bem se extrema:

A luta é natural, voraz, suprema,

Mas a vitória é certa, conhecida.



Assim, é caminhando que se aprende

Que a estrada é longa, é áspera, sem fim.;

Quem pára por momentos se arrepende,



Querendo desfazer o que é ruim:

Por isso, a lei de Deus de pronto atende

E vem fazer poesia, como eu vim.







463. Com muita dificuldade



Só vou colher as flores que plantei,

Se com cuidado o fiz, em bom terreno.

Assim este meu verso é mais ameno,

Pois sigo da escansão a nobre lei.



No entanto, o coração não assereno,

Pensando que não olho pela grei,

Que o meu sentir é pobre, como sei,

E o meu leitor é rico, ó Nazareno!



Assim, vou repetir tão simplesmente

Aquilo que bem sabe toda a gente:

Que amor é dom divino e a paz, celeste,



Que quem é bom p’ros outros é feliz,

Que é como o verso meu eu sempre quis,

Que o bem neste momento é que ele preste.







464. Bem pensando...



Aguardo o belo dia em que terei

Notícia do meu próximo endereço.;

Por isso é que analiso se mereço

Um corpo bem sadio, em boa grei.



Se tudo quanto espero sai do avesso,

Conforme muitas vezes é de lei,

Previno-me dos males, porque sei

Que progredir importa, a justo preço.



Preciso agradecer o meu destino

Que o protetor almeja para mim.

Assim o coração bem disciplino,



Que os meios já se arranjam quanto ao fim

De superar os vícios, que elimino

Tão-só por compreender o que é ruim.







465. Alinhavando o futuro



Proponho ao meu leitor que me acompanhe

Um pouco nesta festa a que me entrego.;

Voltar para viver na Terra eu nego

Que seja alguma coisa que se estranhe.



Mas é preciso, sim, curtir meu ego

E levantar um brinde com champanhe,

Embora o mestre peça que se amanhe,

Com muito amor, a terra deste cego.



Você que está feliz com sua vida,

Embora enfrente a dor de dura lida,

Compreende bem por que me sinto assim.



Então, eleve em prece o pensamento

E peça a Jesus Cristo um tal tormento

Que represente um dom de amor por mim.







466. A medida do poema



Refaço cada verso algumas vezes

Mas não por desejar a perfeição:

É bom que meu leitor tenha a impressão

De que feitos não são por mãos soezes.



Elevo o pensamento em oração

Para um soneto só todos os meses

E o tempo vai mostrando os mais corteses,

Que o povo vai bordando de emoção.



É pobre a minha rima mas é feita

Segundo a minha mente tão estreita,

Pois vir falar de amor só quem o sente.



No entanto, perdoar é dom divino

E é tudo o que o que lhe peço e me previno

Oferecendo o verso alegremente.







467. Considerações necessárias



Preciso restaurar minha memória,

Porque falta me faz o meu passado:

Se quero reforçar o aprendizado,

Eu tenho de enquadrá-lo nessa história.



É claro que com erros mais me enfado,

Mas longe estou ainda dessa glória

De tudo na existência ser vitória,

Cumprindo sem percalço cada fado.



Errando é que se aprende, diz o povo.;

Por isso é que ao planeta vem de novo

Revigorar o espírito na luta.



Se me lembrar, porém, de como foi

Que consegui vencer meu bumba-boi

Então eu vou saber que o Pai me escuta.







468. Preparando a arena



Pespego no bestunto um tapa forte

Ao me lembrar das dívidas que tenho.;

O mestre me olha sério e fecha o cenho,

Querendo que eu respeite o quanto importe.



É sempre muito triste ver o lenho

Que serve p’ra prender a velha sorte.

Assim, quando relembro a minha morte,

O mal que pratiquei é o que resenho.



E, quando volto a vista p’ro futuro,

O débito de antanho eu me asseguro

De que deve tecer a rude liça,



Para o resgate sábio que promete

Tranqüilizar o gajo que hoje vete

A lei da paz, do amor e da justiça.







469. Saindo das trevas



Estranha o meu leitor o meu poema?

Preciso vir falar só de virtudes?

E se me movem tantas inquietudes,

Se à escuridão o mal inda me algema?



Ó tu que ao gênio alheio com que iludes

A própria realidade que se extrema,

Falseias a moral, nódoa suprema,

Que nutres como boa, sem que mudes,



Parece-te a censura muito grave?

Constitui o meu verso sério entrave

A que leves adiante esta leitura?



Então, medita muito sobre a vida,

Que a luta é séria e grave e te convida

A imaginar qual rima seja pura.







470. O meu cálice.



Eu reino no meu mundo imaginário,

Enquanto aguardo o dia de voltar:

Eu vou nascer num belo e doce lar

E vou crescer bem forte e milionário.



Então terei dinheiro p’ra gastar

Saúde e inteligência, do contrário

Não vale a pena ser humanitário,

Sem dar de meu valor particular.



O mestre me convida a ser sincero.;

Por isso estou dizendo o quanto quero

Vencer sem muito esforço a minha luta.



Mas sei perfeitamente a obrigação

De nunca mais dizer um simples não

À dor que o coração hoje refuta.







471. Começa a perturbação



Prevejo o meu futuro aí na Terra,

Sabendo ser feliz quem tem consciência

De que ser superior é ter paciência,

Porquanto a perfeição lá não se encerra.



Não há que decretar, pois, a falência

Da encarnação aquele que ali erra:

Precisa corrigir, entrando em guerra

Contra os males do vício, e sem clemência.



Artigos estes da sagrada lei

Que devo conhecer e que hoje sei

Que rege o Cosmos a partir do espaço,



Conjunto imenso da existência, enfim,

Que devo resumir dentro de mim

E expor na rima simples do compasso.







472. A perturbação avança



Relembro as minhas aulas de doutrina

E penso em Jesus Cristo como irmão.;

Bem sei que os companheiros hoje vão

Pensar que o vate os outros discrimina.



A todos peço agora o seu perdão,

Pois o meu coração não imagina

O quanto esta escansão é pequenina,

Perante este universo de emoção.



Lastimo simplesmente a pobre rima,

Repetição dos sons das que eu ouvi

Nas trovas que se encontram mais acima.



Então, já vou parando por aqui,

Rogando ao Pai, que a dor sempre sublima,

P’ra abençoar os versos que escrevi.







473. Meio sem jeito



Parece que não tenho já firmeza

E que o soneto sai melodramático.

Não pense que padeço sorumbático,

Que o verso se perfaz junto a esta mesa.



Não quero que ele seja só simpático,

Porém, que expresse o bem com tal grandeza

Que leve ao meu leitor a benfazeja

Disposição p’ra prece, em sendo prático.



Contudo, a minha mente se atrapalha

No afeto que pretendo transmitir,

E a enunciação do amor é sempre falha,



Porque fico pensando no porvir:

A rima só por si não mais se espalha.;

Ajuda-me o meu médium, Wladimir.







474. Voltando à carne



Informo ao meu leitor que me despeço

Mas logo há de chegar outro poeta,

Por certo com a rima mais completa,

Propenso a redigir com mais sucesso.



O coração, a vida não inquieta,

Se o bem se realiza.; e hoje confesso

Que tudo o que a Jesus eu sempre peço

É pôr no verso a luz que amor decreta.



Quisera ser feliz na trova pura

Que sinto reflorir na tua mente,

Ó doce e bom amigo, criatura



De Deus iluminada ternamente.;

Ora por mim também e te assegura

De que a bondade existe.; e segue em frente.







475. Manuel está de volta



Renovo o compromisso da poesia

E volto bem mais lépido e fagueiro.

Então, ao bom leitor hoje requeiro

Que venha ouvir os sons da melodia.



Também eu vou pedir ao companheiro

Que junto à mesa o texto compendia

Que faça como sempre aqui faria,

Se visse algum defeito passageiro.



Prometo ser feliz em cada trova,

Sorrir para os amigos cá da Terra.

Faz tempo que deixei a minha cova



E o pensamento já não mais emperra.

Por isso, este soneto amor comprova,

Efeito desta luz que o bem descerra.







476. Orar é de rigor



Entrego-lhe o poema neste posto

E rogo ao Pai por luz e compreensão.;

E, se lhe peço simples oração,

Assiste-lhe o direito de seu gosto.



Eu sei que não dirá o amigo não

Por mais possa sentir-se a contragosto:

É que hoje irá saber se seu encosto

É gente de primeira ou obsessão.



Se de primeira eu sou, não vou pedir

Que reze já por mim o Wladimir,

Por um irmão, porém, necessitado.



Se tenho compromissos negativos,

Aí, irei pedir aos seres vivos

Que rezem já por mim, porquanto enfado.







477. Meu esforço é compartido



Recolho o pensamento doutrinário

E teço uma poesia grandiosa,

Não tanto por compor a minha glosa,

Mas pelo amor que surge extraordinário.



O mestre é quem me instrui e o texto dosa,

Buscando um bom aviso, um comentário,

Que leve a compreender nosso calvário,

Enquanto a dor desfaz, se perigosa.



O tema se dilui em meio aos versos

E as partes se compõem visando ao fim,

Por isso os sentimentos são diversos:



Nem todos são voltados para mim,

Que os males desta vida estão dispersos

E o bom é que se esquecem mesmo assim.







478. Conselho do Acácio



Não perco muito tempo co’a poesia,

Pois tenho muitos outros compromissos.

É bom poder prestar alguns serviços,

Ainda que estejamos numa fria.



As coisas se complicam, caso, omissos,

Fiquemos bem diante da agonia

Daqueles que um conselho bom daria

Os rumos p’ra sanar males cediços.



Assim se dá no verso, quando o gajo

Que escreve a rima se distrai um pouco

E diz, sem refletir, que seu andrajo



Não serve, pois amor de ouvido mouco

É falha de escansão. Eu só reajo

Para evitar que alguém acabe louco.







479. De pouco alcance



Pretendo prosseguir pegando leve

Na acusação que faço aos teus defeitos.;

Os meus são bem maiores e os trejeitos

Do verso os mostrarão já dentro em breve.



Estimo quando vejo os teus respeitos

A derreter o gelo e a branca neve,

Mas penso que a lisonja aqui não deve

Causar tantos transtornos como efeitos.



Não vou jogar confetes neste amigo

Que vem folgar às vezes cá comigo,

Na falta de lição mais encorpada.



Mas triste ficarei comigo mesmo,

Se tudo o que eu fizer quedar a esmo,

Que a rima sem amor serve p’ra nada.







480. Em forma de desafio



Encaro o meu trabalho com respeito

E trago ao companheiro os versos meus.

Bem sei que agradecer preciso a Deus,

Por ter, de certa forma, sido eleito.



Reservo uma palavra aos bons ateus

Que não têm medo de dizer: “Aceito

Acreditar na fórmula do preito,

Embora, após o verso, eu diga adeus.”



Um dia, estando aqui, eles vão ver

Que quem hoje lhes fala tem poder

De despertar o ciso no futuro.



Mas é preciso agora, humildemente,

Reconhecer que é pobre a sua mente,

Que em tudo que se sabe existe um furo.







481. Adiantando o expediente



Não peço ao companheiro que me entenda,

Que a vida cá no etéreo é diferente.;

Eu peço que me escute, simplesmente,

E espere que a lição um dia renda.



São tantos os pedidos desta gente,

Para tirar o gajo a sua venda,

Que — eu acho — não demora ele me atenda,

Sabendo que o meu verso o faz contente.



Por isso é que me alegro co’a poesia,

Pois a certeza tenho do sucesso,

Não tanto pelo belo da harmonia,



Mas pela força deste dom confesso,

Pois sinto a mesma vibração que um dia

Me fez acreditar no amor que expresso.







482. O mestre ensina



Costumo fabricar os versos meus

Bem longe desta mesa tão simpática.;

Aqui devo cuidar só da gramática

E do compasso antigo dos troqueus.



Às vezes, nossa rima é só didática,

Refúgio para quem mais pede a Deus

Que saiba traduzir o seu adeus,

Em fórmula precisa e matemática.



Não quer dizer a trova muito mais

Além de recordar que ser da paz

É ter amor profundo e verdadeiro.



O bem que o povo faz ao semelhante,

A rima se apresenta e nos garante:

“Ó gente, o coração é meu luzeiro!”







483. Quem avisa...



Amigo que me lês, por que te iludes

Co’a forma da poesia tão matreira?!...

Não posso melhorar, mesmo que queira,

Pois tudo hoje depende das virtudes.



Então, eu vou ficar na pasmaceira

Das poucas harmonias e atitudes,

Querendo que por elas tu te mudes,

Falência da doutrina verdadeira?!...



Não quero aqui brincar com meu amigo,

Mas sim dizer que corre algum perigo

À vista de julgar pobre o meu tema.



Às vezes, quem falseia nestes versos,

Apresentando serem mui perversos,

Provoca simplesmente o amor que extrema.







484. A partir de Antero de Quental.



“Entrego o coração nas mãos de Deus”,

Diria o bom poeta que me assiste,

Porém, ao lembrar disso, eu fico triste,

Pois deu um mau exemplo em seu adeus.



Matou-se esse infeliz, com dedo em riste,

À criação do mundo e aos fariseus,

Que, em nome do Senhor, diziam seus

Os benefícios todos do que existe.



Se assim pensassem os que têm poder

E enfrentam, muito cônscios, seu dever

Perante a humanidade suspicaz,



Bem pouco adiantaria a minha rima,

Que, embora esteja longe de obra-prima,

Almeja aqui expressar amor e paz.







485. Por que não?!...



Razões eu não teria para a trova,

Se não houvesse em mim algum talento,

Ao menos o meu mestre diz que tento

Expor com mais modéstia que a da cova.



De fato, ao vir tomar conhecimento

De que a minh’alma agora se renova,

Eu posso versejar, pois não reprova

Meu bom leitor que o faça, sem lamento.



Cheguei a desfazer muitas poesias,

Dizendo ao coração: Tu não farias

Algo melhor que a prece que repetes.



Mas respondeu a pobre da consciência

Que a história que vivi sem consistência

Seria aqui bem vista, sem confetes.







486. Siga comigo



Levanto esta bandeira de modéstia,

Sabendo que o poema é muito fraco.;

Um dia, talvez monte o meu barraco,

Trazendo para a rima a melhor réstia.



Agora um sentimento só destaco,

Para esconder o resto da moléstia,

Porquanto o vate é pobre, é zé-da-véstia,

E o tanto que escreveu é mui opaco.



Só resta terminar agradecido

Pela atenção do amigo que me lê,

Deixando o meu apelo comovido,



Em forma de soneto sem glacê:

O doce destes versos eu duvido

Que não seja atributo de você...







487. Em busca de paz



Capricho o mais que posso na poesia,

No entanto, o resultado é muito pobre.

Ninguém mais do que eu não há que cobre

Estudo e bom trabalho a cada dia.



Não faço restrição a que redobre

O esforço do compasso e da harmonia,

Mas quem tem mais talento aqui faria

De modo bem mais fácil, bem mais nobre.



O meu desejo, então, já se reduz

A vir ditar um texto mais ou menos,

Que traga um pouco só daquela luz



Que torna os companheiros mais serenos,

Lembrando as tais palavras de Jesus,

As curas, seu amor, doces acenos.







488. Meio incoerente



Ah! Se a modéstia fosse ao menos falsa,

Se o verso desmentisse o pensamento,

Iria dar de mim, a ver se agüento

A luz que ofusca a vista e amor realça.



Mas devo concluir que sempre aumento

O dom desta poesia, que se calça

Em rima pueril, que não exalsa

O sentimento nobre que sustento.



Então, eu peço a Deus que sempre ajude

Quem vem para exercer o verso amigo,

Que o bem do amor na trova desilude.



Não brigue o companheiro mais comigo,

Ao ver, no verso tolo e sem saúde,

O pouco de poesia que consigo.







489. Compartilhando a felicidade



Alegro-me que a turma chegue ao fim

De mais um texto longo e bem profundo.

Quem sabe há de ajudar a todo o mundo,

Do mesmo jeito que ajudou a mim.



Por isso, nesta briga eu não confundo

Quem olha e quem peleja, pois assim

Já posso proclamar seja ruim

Deixar de fazer força um só segundo.



A luta permanente que abracei

Há de passar pelo temor da grei

Que agita o pensamento enquanto lê.



Porém, não há mistério para a gente

Que pede que o poeta aqui sustente

Que um pouco desta rima tem glacê.













Indaiatuba de 05.02.98 a 02.03.2000



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