Ao ler Machado de Assis me entristeço. Ele é tão grande...
Me digam, senhoras e senhores, quão grande é a genialidade deste negro, gago e pobre, vivendo num tempo em que ser negro era motivo suficiente para o insucesso. Neste tempo respirava-se ares europeus e as produções nacionais vexavam diante das estrangeiras. Com algum esforço e patriotismo lia-se o aqui produzido, ansiando desesperadamente por um similar nacional. E vejam que surge de onde menos se esperava.
Quando se escreve que Machado de Assis elevou a literatura brasileira à níveis internacionais, soa como se não houvessem bons escritores no Brasil durante e depois dele. Muitos autores merecem respeito e considerações, mas Machado de Assis é diferenciado. Seus escritos são de tal forma elaboradas, com tamanho esmero, que tudo está em seu lugar, nenhuma virgula aparece displicente. Li e reli seus escritos, na vã tentativa de encontrar algum deslize...nada. Irretocáveis. Sua extrema vocação é o que o diferencia. Mais uma vez vocação.
Para quem anseia com o sucesso literário, ao deparar-se com a obra machadiana, da a impressão de estar-se diante de um monstro. É a sensação do peladeiro diante de Ronaldo. Treina-se, corre-se, corre-se e durante a vida alguns poucos gols, enquanto ele brilha em todas as partidas. A comparação é pobre, mas serve para expressar a distància.
No entanto nem só de Machado vive-se. É preciso seguir tentando, escrevendo, treinando. Hoje não temos os preconceitos de outrora, o quê em tese facilitaria a vida dos bons escritores. Porém temos um população inculta, que mal compreende as linhas escritas, associado ao fato de que a lei de mercado prioriza o que vende mais; e o que vende mais nem sempre é bom.
Assim sendo amanhã fecharei minha melancolia para poder sonhar com a proximidade dos trabalhos machadianos. É difícil mas não impossível, afinal sonho, sonho demais, como todos os grandes escritores sonharam um dia.
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