Em sete dezembro passado minha esposa fez uma ultra-sonografia. Naquele dia eu não pude acompanha-la e assim fiquei sabendo via telefone que o sexo não fora visto: "era muito cedo ainda". Além da frustração de não obter naquele dia a confirmação de que o feto seria um menino, soube que o médico flertara com a tatuagem dela. Nada de mais a não ser o fato de a tatuagem logo abaixo do ventre, próximo da vagina, num local onde somente eu tinha permissão para olhar e tecer comentários. Com bom macho jurei o médico. No próximo ultra-som eu iria à desforra.
Passaram-se sessenta dias, e o tempo associado ao excesso de trabalho, me fizeram esquecer o doutor, tanto que só dei por ele hoje ao refazer o exame.
Chegamos à s 15 horas e fomos atendidos duas horas depois. Neste tempo ensaiei várias maneiras de agarrar o pescoço do médico. Ponderei entre ser grosso de todo ( Ei! Que idéia aquela de olhar para a tatuagem de minha mulher!); cortês porém sagaz ( E então? Gostou da tatuagem?) . Se eu fosse grosso ele poderia me talhar como troglodita, inseguro e me inferiorizar ante sua burguês educação. Se eu fosso educado corria o risco de ser considerado corno, mansinho, ou próximo disso. Assim na dúvida, decidi ficar quieto, afinal ele já devia ter esquecido e médico é médico, como um padre: sagrado.
Entramos na sala e lá estava o espertinho. Mal me olhou. Eu por sua vez mal falei, olhei firme para ele, buscando qualquer resquício que denunciasse um flerte. Mas ele fugiu por entre os botões do aparelho, que não sei o nome.
Iniciou o exame e eu vidrei na telinha do ultra-som. Um amontoado de pontos negros e dentre estes uma pequena silhueta marcando o corpo. Logo veio o resultado: menino. Contive minha alegria, pois estava assim completo meu sonho de ter um casal de filhos; não demostraria jamais meu lado light ao médico.
Hoje é um dia especial, afinal ví meu menino pela primeira vez; pequeno, uma coisinha de nada, que logo estará entre nós para enfrentar seu destino.. Aguardo-o esperançoso de que ele encontre um mundo mais tranquilo, mais inteligente, sem guerras, fome e falta de educação; como não encontrei.
Bem-vindo serás. Até junho bebê!
