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Poesias-->À LUZ DE VELA -- 01/03/2005 - 13:27 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER

















À LUZ DE VELA





(POESIAS MEDIÚNICAS)















ESPÍRITOS DIVERSOS























Edição da CASA DO MÉDIUM



Rua Cinco de Julho, 1184

Indaiatuba — SP









































Saiba, Irmão, que estes versos

provieram da Espiritualidade!







ÍNDICE





1. Minha proposição ....................................... 5

2. Da qualidade do texto .................................. 5

3. O poeta é um sofredor .................................. 6

4. As diretrizes mediúnicas ............................... 6

5. A predisposição do leitor .............................. 7

6. Com o dicionário na mão ................................ 7

7. As vibrações compatíveis ............................... 8

8. O ponto de encontro .................................... 8

9. Exercício de anástrofe ................................. 9

10. Das aspirações frustradas .............................. 9

11. A satisfação de compor ................................. 10

12. Da experiência mediúnica ............................... 10

13. Para o caso de se querer mais .......................... 11

14. O encorajamento ........................................ 11

15. Do valor das rimas ..................................... 12

16. Na encruzilhada do saber ............................... 12

17. Para registro .......................................... 13

18. Versos desestimulados .................................. 13

19. A inspiração transversa ................................ 14

20. O sal da vida .......................................... 14

21. O contra-senso sentimental ............................. 15

22. Fazendo água ........................................... 15

23. Para que não haja medo ................................. 16

24. Firme determinação ..................................... 16

25. A dica ................................................. 17

26. O apelo ................................................ 17

27. O repto à consciência .................................. 18

28. Reconhecendo a verdade ................................. 18

29. Limpando a barra ....................................... 19

30. Gosto não se discute ................................... 19

31. Assustando sem querer .................................. 20

32. A raiz do sossego ...................................... 20

33. Males do improviso ..................................... 21

34. Rascunhado é melhor .................................... 21

35. Com o texto preparado .................................. 22

36. Às almas irmãs ......................................... 22

37. Uti, non abuti ......................................... 23

38. Corolários ............................................. 23

39. De volta ao ramerrão ................................... 24

40. Sem saída .............................................. 24

41. Compunção .............................................. 25

42. Desanuviando a tensão .................................. 25

43. Como estou ............................................. 26

44. Vã promessa ............................................ 26

45. Necessidade de empatia ................................. 27

46. O receio de errar ...................................... 27

47. Duro aprendizado ....................................... 28

48. Struggle for life ...................................... 28

49. A viagem até aqui ...................................... 29

50. A viagem prossegue ..................................... 29

51. A terceira virtude ..................................... 30

52. O sentimento predominante .............................. 30

53. O projeto poético ...................................... 31

54. Apostrofando ........................................... 31

55. Velho e inútil ......................................... 32

56. A sedução .............................................. 32

57. A percepção ............................................ 33

58. O constrangimento ...................................... 33

59. Sou ou não sou bom? .................................... 34

60. Onde a simplicidade? ................................... 34

61. Por amizade ao mestre .................................. 35

62. A poesia é sempre grata ................................ 35

63. À luz de vela .......................................... 36

64. Na escuridão ........................................... 36

65. Existe esperança ....................................... 37

66. Uma lição do Mestre .................................... 37

67. Quando a pobreza é um mal .............................. 38

68. Nem sempre ser ingênuo é bom ........................... 38

69. Diante da Jericó dos vícios ............................ 39

70. Jogo de sensibilidades ................................. 39

71. Preocupado com o leitor ................................ 40

72. O poeta aprende ........................................ 40

73. Intimorata mente ....................................... 41

74. Enevoada mente ......................................... 41

75. Contrita mente ......................................... 42

76. Reformulação temática .................................. 42

77. A preocupação com o leitor ............................. 43

78. Versejar cansa ......................................... 43

79. A missão ............................................... 44

80. Criteriosa mente ....................................... 44

81. Da composição .......................................... 45

82. A perfeição é o limite ................................. 45

83. Inverossímil mente ..................................... 46

84. Um preconceito do poeta ................................ 46

85. O médium aniversaria ................................... 47

86. O espírito da coisa .................................... 47

87. É preciso coragem ...................................... 48

88. Recomendação fundamental ............................... 48

89. Expressão e impressão .................................. 49

90. Contraste de interesses ................................ 49

91. Impressão de felicidade ................................ 50

92. Aproveitando a deixa ................................... 50

93. O poeta não descansa ................................... 51

94. Doralice se apresenta .................................. 51

95. A turbação ............................................. 52

96. Graças a Deus! ......................................... 52

97. Homenagem .............................................. 53

98. O melhor vizinho ....................................... 53

99. Reflexão obrigatória ................................... 54

100. Necessidade estética ................................... 54

101. Spleen sem charuto ..................................... 55

102. Confissão de quem vestiu batina ........................ 57

103. Sob o efeito do remorso ................................ 57

104. Caráter da obsessão .................................... 58

105. Para cumprir obrigação ................................. 59

106. Por linhas tortas ...................................... 61

107. A uma consulta do médium ............................... 63

108. Fragmentos ............................................. 63

109. Acanhada mente ......................................... 64

110. Confiante mente ........................................ 65





1

Minha proposição



Não quero começar dando bandeira,

Ao prometer que o verso saia bom.

Também não vou propor o mesmo tom

Da trova mais enérgica a quem queira,



Pois, simplesmente, existe a cor marrom,

Embora a cor da rosa, mais maneira,

Agrada-me a visão e é tão certeira

Na descrição do ameno, quanto ao som.



Não tento experimentar o caro médium,

Porquanto aqui trabalho acompanhado

De muitos que me ensinam qual remédio



Devo aplicar no tema maltratado,

P’ra desfazer do meu leitor o tédio

E p’ra que eu diga que feliz me agrado.









2

Da qualidade do texto



Há semelhanças múltiplas nas rimas,

Ao menos neste início de trabalho,

Portanto cá não digo que hoje falho

Nem que vou conseguir suas estimas.



Somente com um duro e sério malho,

Nesta oficina em que se empregam limas

Para polir as trovas, obras-primas

De amor e de labor, o bem entalho.



Por isso, venho a público pedir

Que seja, para mim, a inspiração

O fato de conter-se o Wladimir,



Para ofertar ao povo o nosso irmão

Um’obra de proveito no porvir,

Se a mensagem vier do coração.



3

O poeta é um sofredor



Espero firmemente, neste posto,

Que o meu trabalho possa ter proveito.

Se querem me ajudar, eu sempre aceito

E sou agradecido e faço gosto.



Mas não devo afirmar que tenho jeito,

Como lhes foi anteriormente exposto:

Venho como viria para o encosto,

Conforme o tempo quando estive atreito.



O sofrimento, então, de fazer versos

Me vem p’ra resgatar os mui perversos

Atos de tão tremenda e vil maldade.



Agora corro atrás de meu destino,

Dizendo, em cada rima, que doutrino

Minh’alma pela luz da caridade.









4

As diretrizes mediúnicas



Estimo que o meu médium tenha vindo

Disposto a trabalhar sempre melhor.

É bom que logo esqueça o que de cor

Percebe como bom, perfeito, lindo.



Assim, quando ele encontra um dó maior

E pára a refletir que esteja findo

O rol das poucas rimas, é bem-vindo

Para ajudar o amigo na pior.



Contudo, quando estou cá no controle,

Precisa confiar que esteja visto

O quanto o fim do verso vai ser mole.



Ainda que haja gíria, eu não resisto

Ao termo, que em francês se diz parole,

Se o coração julgar que sou benquisto.



5

A predisposição do leitor



Exigirei muitíssimo de quem

Vier a ler a trova sem repulsa,

Ou, simplesmente, devo ir mais além,

Deixando alguma rima meio avulsa?



Ao embarcar, risonho, neste trem,

O bom leitor o coração compulsa

Para saber a que este gajo vem,

Com sua cantilena mais insulsa.



Percebe já, de cara, que não brinco,

Quando se trata de trazer o tema

Dos furos que se encontram no seu zinco.



Porém, eu não pretendo, neste esquema,

Além dos furos revelar um trinco:

Não há, no chão, estrelas, do poema.









6

Com o dicionário na mão



Repenicam os sinos na capela,

Chamando os penitentes para orar.

É como a minha gente, neste lar,

Se põe a burilar a trova dela.



Porém, como elefante num bazar,

Eu venho p’ra ditar de afogadela,

Deixando para o acaso seja bela

A rima que jamais será exemplar.



Assim, o sentimento se improvisa

De acordo co’as palavras que registro

Para tornar a métrica precisa.



Se o tema mais perverso e mais sinistro,

No som, a rejeição não concretiza,

Talvez eu faça ouvir somente um sistro.



7

As vibrações compatíveis



Não quero vir chamar de preguiçoso

O gajo que não viu o dicionário.

Se sistro não conhece o estagiário,

Perdeu, ao ler a trova, um grande gozo.



Se agora me acusar de visionário,

Espírito a vagar neste ar gasoso,

Afirmo que o poeta, ser vaidoso,

Não vai aqui exercer papel vicário.



Caminho pelas sendas do improvável

Arrojo de quem toma o livro à mão,

Deixando para trás conta insolvável,



Na angústia de quem tem por seu irmão

Aquele que, no etéreo, é inabordável,

Por força de enricar sua escansão.









8

O ponto de encontro



Eu sei que muita gente glorifica

A rima que se põe muito complexa.

Não quero ver-lhe a mente mais perplexa,

Por isso, volto atrás na rima rica.



Minh’alma se compunge, genuflexa,

Perante o bem maior que exemplifica,

No texto conveniente em que se aplica,

Dando ao tema uma forma bem conexa.



Mas como conciliar a formosura

Da estética emoção com a virtude

Que traz a mente humana mais segura?



Falando seriamente que a si mude

Quem tenha muito débil a cultura,

Na prática e no estudo a que se alude.



9

Exercício de anástrofe



Eternamente é tempo até demais,

P’ra que possa entender-me quem não crê

Que venha a resolver sem ter por que,

Quando o seu coração requer é paz.



A forma que poética se vê,

Nos meios literários, incapaz

De dar cada lição ou algo mais,

Se chama gongorismo — e quem no lê?!...



Montar quebra-cabeça é lá dispor

Que o bem se faz a quem mais necessita.;

Ou torna evidenciado o seu autor,



Da ânsia do solfejo atrás aflita,

Perigo para o incenso inferior

De ver no atroz a trova mais bonita?!...









10

Das aspirações frustradas



— Mentira! — há de clamar quem ore tanto

Para pegar do etéreo simples rima,

Mas não consegue se integrar no clima,

Ao repetir as frases de mau canto.



— Ao ler os versos d’outrem, mais me encanto

E o meu toda bondade desanima!

— Não queira, nessa linha, uma obra-prima,

Pois bem mais fácil é quedar em pranto.



Não é do médium o fator maior,

Para que a trova seja excelsa e boa,

Mesmo que saiba as rimas já de cor.



Cabe a quem vem ditar, fazer que doa

O sofrimento, no leitor, pior.

Quem tudo sabe não maldiz: perdoa!



11

A satisfação de compor



Um verso simples muita vez desperta

Para a verdade do processo injusto:

Quem quer o bom, sem sopesar o custo,

Para a ruindade deve estar alerta.



Por isso mesmo é que jamais me assusto,

Se a rima chega pobre, vil, incerta:

É que o seu coração de mão-aberta

Não vê, no canto, o seu vetor vetusto.



— Que mão-de-obra deve dar o verso,

Mesmo que o som cá se mantenha inverso,

Ou se repita a rima sem cessar!



— Mas dá prazer a quem chorou seu pranto,

Porque, no fim, há de sobrar o encanto

De quem orou ao Pai aos pés do altar.









12

Da experiência mediúnica



Já no começo, os versos que são bons

Vão exigir do médium mais valor,

O que se alcança em vida anterior

Que se passou nos ares destes sons.



Ou bem o encarnado vai compor,

Sem conhecer dos termos os seus tons,

Ao receber do além alguns cupons,

Inconsciente para amor ou dor.



De qualquer forma, o treinamento é duro,

Nesta exigência que se faz perene,

Pois navegar nas trovas, lhe asseguro,



Jamais há de deixar o gajo indene:

Ou ele já sofreu detrás do muro.;

Ou ele há de sofrer na mise-en-scène.



13

Para o caso de se querer mais



Não queira ultrapassar o seu limite,

Por nos julgar melhor para a tarefa:

O verso de improviso sempre blefa,

Mesmo que, na virtude, o autor transite.



Aí, há de abundar a sinalefa,

Na esp’rança que a diérese palpite,

P’ra completar a trova do convite,

Porque não se abre fácil a sanefa.



Então, a coisa fica malparada,

Sem completar co’amor o atrevimento,

E o tema, sem contexto, se degrada.



Alguém pode julgar que aqui aumento,

Que o tema da poesia é mais que nada,

Porém, o médium chora e eu lamento.









14

O encorajamento



Estamos empenhados em trazer

O que se ensina aqui nesta Escolinha,

Um pouco só que o resto se adivinha,

Pelas noções cristãs do bom dever.



Eu quase que dizia que não vinha,

Porque este verso meu não tem poder,

Nem quando a rima me produz prazer,

Porquanto o bem maior vem na entrelinha.



O desafio, contudo, é de rigor,

Se vamos caminhar sempre p’ra cima.

Por isso é que a coragem de compor



É dom que nos merece grande estima:

O verso há de sair com mais amor,

Quando o leitor nos lê e nos anima.



15

Do valor das rimas



Estava preparado com a trova

Na qual depositei só rima rica,

Mas, como o tema é simples, justifica

Que a forma não se faça sempre nova.



Provei, anteriormente, que claudica

Quem mais pretende usar a contraprova

Dos termos que fabrica ou desencova,

Para recompensar quem sua em bica.



Mas, mesmo sendo simples, há problemas

Que devem resolver-se humildemente,

Para que a luz se dê nestes poemas:



Falar do sofrimento que se sente,

Apondo a fé no Pai aos tais dilemas,

É caridade infinda a toda a gente.









16

Na encruzilhada do saber



É sempre bem possível melhorar

O texto que poético se quer,

Mas tal vai alcançar quem estiver

Disposto a sofrimento singular.



Nem tudo aqui se encontra de colher,

Nem quando a rima é simplesmente em -ar.

Também não há de ser protocolar

Na informação dos dons que dispuser.



A forma não é tudo.; é o conteúdo

Que prevalece, enfim, neste trabalho.

Eu tenho para mim que, quando estudo,



Parece que bem mais eu me atrapalho,

Porque tento dizer verso graúdo

E é justo aí que o tema se põe falho.



17

Para registro



Retorno p’ra poesia desarmado,

Querendo apenas registrar a rima,

Porque sinto que marcam muito em cima

Aqueles que se atrevem deste lado.



Quisera conseguir a tua estima,

Ó tu que sempre dizes: — Não me agrado! —,

Ao veres repetido o malfadado

Assunto em que ninguém faz obra-prima.



A vida traz as marcas do provável,

Porque, n’alma, a esperança se renova,

A cada encarnação recomendável,



À vista de que a fé não se comprova,

Senão depois de ser comensurável,

No desempenho de quem lê a trova.









18

Versos desestimulados



Desconfiado eu vejo o tal amigo,

Porque não bota fé neste trabalho:

Ao ver que o meu assunto é quebra-galho,

Se põe de prevenção para comigo.



Nem sempre o versejar é p’ra espantalho,

Especialmente se sofreu castigo.

É como a perfeição que já lobrigo

Ao longe, no horizonte em que não falho.



Agora, vou lutando contra os termos,

Muitos dos quais estão bastante enfermos,

Porque meu sentimento é mui ruim.



De tanto repetir as mesmas formas,

Acabo por burlar todas as normas

E aspiro só trazer um belo fim.



19

A inspiração transversa



Aí, eu dou razão ao bom compadre,

Porquanto o verso meu jamais progride.

No entanto, já faz tempo estou na lide,

Embora a minha trova não se enquadre.



Penduro cada rima num cabide

E paro toda vez que um cão me ladre,

Fazendo um mui gentil nome-do-padre,

Para afastar de vez quem me intimide.



Depois, venho mostrar que me preocupo

Com coisas tão à-toa e me aborreço,

No aguardo de severo e forte apupo.



Porque não me recuso a este arremesso,

Estimulado, sim, pelo meu grupo,

Os versos vou compondo... e não padeço.









20

O sal da vida



Eu quero que meu verso seja leve,

Que não carregue o peso do meu mal,

Porém, não tenho como ser normal,

Se a perfeição p’ra mim não virá breve.



Aí, vou versejar ao natural,

Com simples agasalho para a neve,

Pois, a tremer, o gajo aqui se atreve

A vir compor a trova sem igual.



Espero que o leitor não desanime,

Querendo um pensamento mais sublime,

Mas tendo de aturar tal desencanto.



Nem tudo nesta vida vem com gosto:

Precisa estar aqui neste bom posto,

Para sentir o amargo do meu pranto.



21

O contra-senso sentimental



Depois que dito o verso, até me atrevo

A suspeitar que fiz algo de bom,

Porque não limitei a trova ao som,

Porém, dei ao meu tema algum relevo.



Se no egoísmo mergulhei o tom,

Também minh’alma mergulhei no enlevo

De não julgar que a rima que transcrevo

Esteja matizada de marrom.



A cor não é vivaz nem é viçosa,

Que é pálida esta tez fantasmagórica

Como é visguenta a seiva da babosa.



Mas, quando emprego forma tão retórica,

Para dizer que o coração não goza,

Desenvolvo uma tese só teórica.









22

Fazendo água



Se tenho uns atributos melhorzinhos,

No campo da escansão deste meu metro,

Também consigo formular o espetro

Destes mostrengos faltos de carinhos.



Se me condenam, um recurso impetro,

Pois é penoso suportar espinhos,

Já que não quero aqui outros caminhos,

Mesmo que o verso dê impressão de tetro.



Caso este espírito prossiga autor,

Porque compõe os temas com vigor,

Embora traga ao mar a nau furada,



Não custa dar-lhe amor como perdão,

P’ra saber que não foi o texto em vão,

Pois não sobrou, de resto, quase nada.



23

Para que não haja medo



Não queira o bom amigo, em devaneio,

Requisitar do etéreo melhor rima.

Contente-se em buscar uma obra-prima,

Embora o meu trabalho seja feio.



Um dia, há de vir gente lá de cima,

Capaz de ditar versos sem receio

De desviar do tema bem no meio,

Porquanto o caro médium desanima.



Não veja aqui também repreensão

Nem haja com malícia e sem respeito.

Prossiga, simplesmente, esta escansão



Bem rápida, que os termos eu ajeito.

Jamais queira vencer dizendo não,

Pois não pode ser dito a algum eleito.









24

Firme determinação



Não vale suspeitar o meu leitor

Que eu tenha a pretensão de desistir:

Apenas quis dizer ao Wladimir

Que tudo o que aqui faço é com amor.



As provas, trá-las-ei, hão de convir,

Se tudo terminar em bom compor.

Eu sei que nada irá ser superior,

Mas o mistério mora no porvir.



Assim, eu recrimino a trova falsa,

Que cita o que é ruim e não realça

Algumas das virtudes que detenho.



São poucas mas são minhas e pretendo

Que sigam aumentando, num crescendo,

À vista do fervor do meu empenho.



25

A dica



Defeitos tenho muitos, ‘té na trova

Aféreses disponho sem rigor.

Repito os mesmos sons, sem dar valor

Aos méritos do gajo que os reprova.



Bem sei que é necessário pôr sabor

Nos textos em que a rima se renova.

Cansado de apanhar terrível sova,

Tenciono realizar algo melhor.



Assim, vou decifrar a minha imagem,

Poupando aos bons leitores que viagem

Descrentes que este autor tenha algum mérito.



Se digo que uso rimas novamente,

O uso que lhes faço mais freqüente

É dar-lhes a noção do trem pretérito.









26

O apelo



Espero tenha sido bem melhor

A emenda que o soneto lá de cima.

Se alguém não entendeu a minha rima,

Entenda como as vidas deste autor.



Tornei-me inteligível para a estima

De quantos suspeitavam sem amor

O degas, que se atreve a vir dispor

Do tempo do mortal que mais me arrima.



Agora ficou claro quando digo

Que rezem um pai-nosso aqui comigo

Em favor dos amigos infelizes,



Porquanto, quando fazem os seus versos

E nada mais alcançam que perversos,

Precisam refazer as diretrizes.



27

O repto à consciência



Espero tão-somente, nestas linhas,

Deixar patente o como estou agora.

Por isso, a perfeição cá não vigora,

Nem quando as rimas ricas são as minhas.



Minh’alma, casca dura, já não chora

Por ver que, pelo riso, me espezinhas,

Ó tu, que tens o siso das galinhas

E moras no meu peito, sim senhora.



Eu falo da consciência pervertida,

Que ataca esta cadência, virulenta,

E a refazer a trova me convida,



Pois tanto vitupério não agüenta.

Talvez quisesse a rima malferida,

Para dizer que o tema não sustenta.









28

Reconhecendo a verdade



Fiz-lhe a vontade ingrata mas honesta

E dei de fazer verso sem capricho,

Não tanto que jogasse logo ao lixo,

O que fará o leitor ao que não presta.



Se desconfia ela que hoje espicho

O texto, pelo pouco que me resta

De lucidez na forma, já protesta

E põe-se a urrar, feroz, urros de bicho.



Mas, se ao falar da dita, eu a realço,

Mesmo que o verso seja um tanto falso,

Aí se dá ao luxo de aprovar.



Eu desconfio sempre desse aplauso,

Porquanto tanta estima jamais causo,

Como o santo da esmola ao pé do altar.



29

Limpando a barra



Deu-me um clique na cachola e já componho

Preocupado em realizar algo supimpa.

Mudo a métrica e dou trela a quem garimpa

Outra forma que me torne mais risonho.



Decidido, vou em frente, e quero limpa

Minha rima, que se apura como em sonho.

Mas desperto p’ra verdade, pois, tardonho,

Chego sempre bem após que o mal repimpa.



Dou de ler todos os versos várias vezes,

Quando vejo como estão ruins, soezes,

Mas o tempo se antepõe à correção.



Sou forçado a vir ditar, mantendo a forma,

Porque disse que a verdade tem por norma

Revelar como me encontro na escansão.









30

Gosto não se discute



Gostei, não vou negar, dalguns poemas

Que fiz e que ditei ao bom amigo.

Espero que concordem, pois, comigo,

Embora sejam tantos os problemas.



Não quero vir dizer-lhes que me intrigo

Co’as rimas que aqui deixo como emblemas.

É bom quando decifram os sistemas,

Mostrando quando é joio e não é trigo.



Assim, eu me permito vir contar

Que muito me esforcei para tal trova

E, num soneto só complementar,



Registro qual vai ser a boa nova,

Ou seja, que já posso poetar

Sem crises, o que o mestre meu aprova.



31

Assustando sem querer



Não quero desejar a melhor morte

A quem viva contente, cá no mundo,

Pois sei que o descontente não tem sorte,

Embora sofra aí um só segundo.



O medo é natural e eu não infundo

Nenhum em qualquer alma que se importe

Em ter, na vida, um proceder fecundo,

No campo das virtudes de bom porte.



Terrível para o mau é o que acontece

Depois que aqui chegar em desespero,

Porque jamais colheu graciosa messe.



Aí, posso dizer, sem exagero,

Que vai querer refúgio em doce prece,

Mas tudo o que rezar sai sem esmero.









32

A raiz do sossego



Tentei representar, no meu soneto,

Como se dá a tal prece do infeliz

E o verso mais capenga que ali fiz

Fugiu do cinza escuro para o preto.



Terei de compreender a diretriz

Dos textos do evangelho, que, prometo,

À risca vou seguir neste meu gueto,

Embora não desande por um triz.



Os pensamentos vagam sem sentido,

Porém, não causam traumas perigosos:

Eu fico preocupado mas duvido



Que alguém possa obter melhores gozos,

Após saber que o verso, assim que lido,

Desperta amor nos seres generosos.



33

Males do improviso



Nós temos um parâmetro p’ros textos,

Qual seja, como o mestre expõe na aula,

Mas, no soneto, estamos como em jaula

E seus projetos já lotaram cestos.



Então, o verso a mente, qual amaula,

Dispõe-me sob o jugo dum cabresto:

O sentido que resta é só o sexto,

Ou quando o dicionário desenjaula.



Não vim com o soneto preparado

E dei muito trabalho ao caro médium.

É como se estivesse doutro lado



E visse quão ruim é este assédio,

Mas lhe dissesse, alegre: — Eu bem me agrado,

Porque não tenho aqui outro remédio...









34

Rascunhado é melhor



Estoutro trouxe em forma de rascunho,

Prevendo a reação que encontraria.

— Então, hão de dizer, esta poesia

Vem dar do mal apenas testemunho?



Encontro dentro d’alma esta harmonia

Que não se expressa além dum gatafunho,

Mas, como o verso sai deste meu punho,

Não posso desprezá-lo, mesmo em fria.



Aí, passo o trabalho ao meu ouvinte,

Que dá mais perfeição ao sentimento,

Embora seja trágico o que pinte.



A conclusão do mal é que lamento,

Porque longe de mim um tal acinte:

Apenas não tem graça nem talento.



35

Com o texto preparado



Fiquemos acordados nesse ponto

E desfiemos todos, um a um,

Sabendo a maioria tão comum

Imprópria, mesmo com um bom desconto.



Mas regressar do posto sem nenhum

Não é saudável nunca, estando pronto

O texto para o pródigo confronto

Filosófico: Cogito, ergo sum!



Assim, de cambulhada, ponho um fim

Ao sofrimento infrene desta trova,

Bastante mais p’ro amigo que p’ra mim,



Que, de algum modo, pus um termo à prova,

Reconhecendo o quanto está ruim,

Até quando esta rima se renova.









36

Às almas irmãs



A humana criatura destempera,

Perante os quiproquós de sua vida.

Assim, à religião vai dar guarida,

Conforme a vibração da sua esfera.



Há quem, para a matéria que convida,

Deseja do melhor e os bens espera.;

Há quem, dentro dos males, deblatera

As injustiças e se nega à lida.



Para o poeta que analisa o fato,

O sofrimento chega de mansinho.

Por isso, tento a trova em que debato,



Com muito amor, com fé e com carinho,

Qual é a melhor linha do artefato,

Para acabar do gajo o desalinho.



37

Uti, non abuti



Ao eleger o verso como assunto,

Pretendo simplesmente transmitir

Que existe este trabalho, no porvir,

Após chegar o irmão aqui defunto.



Não quer dizer que a rima, Wladimir,

Será de obrigação para o transunto

De todas as virtudes do conjunto

Dos seres, que aqui vêm p’ra progredir.



Se fazer versos fosse para todos,

Quantos seriam os sutis apodos

Que sofreriam os que, sem talento,



Fariam trovas ao correr da pena,

Quando a poesia, então, mais se apequena,

Por aumentar da turba o sofrimento?!...









38

Corolários



Vou suspeitar não existir na Terra

Madeira suficiente p’ro papel,

Porque a poesia estética a granel

Exigiria a condição da guerra.



Ó meu amigo, vá comer pastel

E tomar vinho, que o prazer se encerra

Em demonstrar que a vida a que se aferra

Nem sempre traz, na dor, sabor de fel.



O conteúdo deste verso, alheio

Às diretrizes típicas do amor,

Deve fazer pensar que intermedeio



O sentimento justo do compor

Com a vontade férrea do bloqueio

De tudo o que haja em mim de inferior.



39

De volta ao ramerrão



Queremos, cá no etéreo, que os amigos

Nos dêem permissão para estas rimas.

Sabemos que não são assim tão primas,

Porém, não oferecem grãos perigos.



Digamos que não trazem as estimas

De quantos não lhes sentem os castigos

De estilos e de metros dos antigos,

As formas que se julgam mais opimas.



Os temas miseráveis se repetem,

Em procissão intérmina também,

Embora os toscos versos se marretem,



Na ânsia inominável dos que têm

O tempo de compor sem dó, pois metem,

No bestunto do médium, que está bem.









40

Sem saída



O cara continua a sua parte,

Sem atentar p’ras teses da maldade.

É certo que bem pouco o persuade

A ver, no verso meu, capricho d’arte.



Se aqui quiser ouvir algo que agrade,

Vai ter o bom leitor, antes, enfarte,

Porquanto a pobre trova sem encarte

Não chega a oferecer felicidade.



Desliga a imantação e põe-se longe,

Mas volta para a reza, como um monge,

Porque não vê saída diferente.



Se a rima é uma só, tem de aceitar,

Da mesma forma que respira o ar

Para viver — e assim eu sigo em frente...



41

Compunção



Desiludi o amigo e me arrependo,

Porquanto bem melhor seria a trova,

Se desse a perfeição de contraprova,

Em versos com sentido não horrendo.



Mas tudo o que consigo não renova

A espécie desta métrica a que rendo

Total conformação, neste crescendo

Dos males que guardei em funda cova.



Peço perdão ao nobre e bom colega,

Que tem vontade mas jamais renega

A condição cristã que o torna aflito.



Se cá viesse descrevendo belo

O sofrimento agudo deste anelo,

Eu não traria um verso e sim um grito.









42

Desanuviando a tensão



Eu venho para o verso muito a medo

De me sentir maldoso pela rima,

Mas, como hei de rogar por tua estima,

Se não desenvolver um só enredo?



Estás a compreender que neste clima

Nem sempre o meu pedido há de ser cedo?

Mas, como produz queijo o leite azedo,

A trova há de alcançar uma alma opima.



Perdão hei de clamar-te, se perdeste

Precioso tempo, sem qualquer proveito.

Ao menos sei que irás, a partir deste,



Principiar a ler, depois da prece

Com que me salvarás deste defeito,

Porquanto saberei que o mal se esquece.



43

Como estou



Não nego que caí em fundo abismo,

Nem quero confessar meu grande crime:

A dor que me sufoca o mal redime

E, sobre tal justiça, agora eu cismo.



Mas devo melhorar p’ra que sublime

Se torne o desempenho no batismo

Da luta que empreender, no Espiritismo,

P’ra que jamais repita: — Destruí-me!



Eu venho apostrofar o bom leitor,

Contando quanto estou dele afastado,

Porque é próprio do gajo inferior



Que se viu à tribuna aqui guindado,

Sem nada de melhor para compor,

Mas se sente um pouquinho respeitado.









44

Vã promessa



Voltarei, noutro dia, com mais fé

Em deixar um soneto bem cristão.

Não que agora lhes diga um forte não:

É que a trova carece de dar pé.



Aí, fico pensando se estarão

Dispostos a enfrentar o cré-com-cré,

Que exige que o parceiro, em marcha à ré,

Me alcance já na próxima estação.



O mestre puxa a orelha: — Desastrado!

Por que não diz mui simplesmente: “Falho,

Quando pretendo dar sentido ao fado”?!…



Eu reconheço que o padrão do atalho

Me obriga a refletir que não me agrado,

Mesmo sorrindo, tonto, do espantalho.



45

Necessidade de empatia



Ao menos, o meu médium cá persiste,

No aguardo dum poema superior,

Que traga muita paz, com mais amor,

Deixando para trás a trova triste.



Mas, mesmo quando cito o destemor

De alguém que me acompanha, dedo em riste,

Eu sei que, na consciência, não existe

A pretensão de me livrar da dor.



O verso se contorce, em fraca rima,

E deixa p’ra depois correr o pranto,

P’ra quando conhecer que tenho a estima



De quantos já comungam deste canto,

Fadados ao ajuste que reanima

O pobre do poeta que hoje banco.









46

O receio de errar



Na busca de destino condizente

A tantos atributos que me faltam,

Existem uns temores que me assaltam,

Na hora de compor e ir em frente.



As rimas muito simples já não pautam

Pelo rigor da forma, que se sente

Bastante amesquinhada e diferente

Das regras que os humanos mais exaltam.



Assim, eu temo muito desdizer

As teses dos espíritos mais puros,

Que conduzem, com tanto bem-querer,



Aqueles que se estimam mal seguros,

Porque se afligem ante o seu dever,

Conscientes, pelo menos, intramuros.



47

Duro aprendizado



Depois que a trova é dada como pronta,

Assim que foi passada ao campo humano,

O gajo fica alegre — eu não me engano —,

E põe-se, cá no etéreo, a fazer conta.



Controla o tempo todo e já remonta

Aos dias duma vida, quando, insano,

Apenas esboçou um leve plano

Que agora, com vergonha, a mente afronta.



Então, fica contente com a rima

E faz ao coração muita promessa,

Em desprezando o medo lá de cima.;



E traz outro soneto, já com pressa,

Pensando ser capaz duma obra-prima,

Porém, podia vir dormir sem essa…









48

Struggle for life



Bem sei que muita gente não atina

Por que tanto poeta se despreza,

Se, pelas normas literárias, reza.;

Se tanta trova traz e já termina.



Eu devo dispensar o que me lesa,

Na augusta consciência que germina,

Após ter feito o verso que origina

A dor de ter mantido a forma obesa.



Preciso da dieta que dispus

Para os leitores que não têm mais medo

De carregar da vil leitura a cruz,



Compondo os versos, mesmo no arremedo

Dos ensinos de amor do meu Jesus,

Que estão no coração, como em segredo.



49

A viagem até aqui



Preciso decifrar esta passagem

Pelos caminhos duros do sofrer,

Mas, para conseguir esse poder,

Primeiro hei de entender minha mensagem.



É que não tenho posse do dever,

Pois, trôpega e misérrima, a viagem

Deixou-me aqui sem fôlego e coragem,

Para alcançar um simples bem-querer.



Os meus leitores vão desconfiar

De que lhes furto ainda o bom ensino,

Que apenas ao Senhor, aos pés do altar,



Pretendo demonstrar, pois não atino

Quais são exatamente os que vão dar

Um pouco de atenção ao pobre hino.









50

A viagem prossegue



Pede-me o mestre amigo que bendiga

O fato de rimar junto a esta mesa,

Mantendo a melhor fé que haja presteza

Em acender da vida a vela antiga.



De fato, quando vivo o povo liga

P’ra forma da poesia, se, coesa,

Dispõe que haja esperança sempre acesa,

Para vencer os desafios da briga.



Vou renovando, então, os bons preceitos

Que, quando jovenzinho, me ensinaram:

Um deles que os bons sempre são eleitos,



Nas esferas de amor em que atracaram.

É útil conhecer-nos imperfeitos,

Mas chega sempre a luz aos que não param.



51

A terceira virtude



Tentei deixar impressas as lições

Que agora sou capaz de me lembrar.

Quisera um fato só, mui exemplar,

Mas minha vida foi de imperfeições.



Não há como a maldade vir rimar,

Se me ferem tremendos aguilhões,

Pois não se cobram versos aos milhões,

Para um simples soneto, neste azar.



Aí, eu me entristeço, já sem calma

Para compor a trova de minh’alma,

Em triste diapasão, sem harmonia.



Renego o que já fiz e imploro paz

Da caridade alheia, sem mendaz

Retórica temática vazia.









52

O sentimento predominante



Pretendo conduzir-me alegremente,

Nas rimas que registro satisfeito.

Quando soube que fora bem aceito,

Dei um hurra! de amor, de tão contente.



Sim, escolhido fui, mas não eleito,

Que é como o coração já se ressente,

Porque, com minha trova, aqui presente

Não sei se o bom leitor eu mais respeito.



Mas, como a pretensão é de melhora,

Não posso conceber-me superior

E faço aquilo que mais sei agora.



Por isso, o teu perdão é de rigor,

O que, já de per si, meu verso implora:

Alegre é que termino este compor.



53

O projeto poético



P’ra ser feliz, na rima, inda preciso

Desenvolver a trama do mistério,

Pois busco me livrar do cemitério,

Onde deixei intato o meu juízo.



Eu faço tal poesia, cá no etéreo,

Porém, é justo em ovos que mais piso.

E como as omeletes com que guiso

A métrica insolente, sem som sério.



Sob a suspeita estou de ser perverso,

Sem ser, no verso, apenas um qualquer,

Pois, se quiser rimar, já estou imerso



Nas águas poluídas, de colher

Para firmar na mente, incontroverso,

Que é bem diverso o tema que se quer.









54

Apostrofando



Não vou dar a impressão de estar falhando,

Porquanto ponho a rir a turma inteira,

Que já se acostumou com ser faceira

A rima das perguntas: — Onde?… — Quando?…



Então, vou responder, sem brincadeira,

Que o verso, cá no etéreo, mais nefando

Sempre há de ser de quem está blefando,

Ainda que o bom gajo já não queira.



— Percebes, bom amigo, o contra-senso

Daquele que poeta ao desabrigo

Das normas de Jesus, conforme penso



Que seja o teu critério de perigo,

Por insuflar nas mentes, por extenso,

Idéias de querer orar comigo?…



55

Velho e inútil



Prefiro produzir a minha rima

Segundo o bom critério do Evangelho.

Se querem vir chamar-me aqui de velho,

Receio que não possa ser opima.



Estou oferecendo um bom espelho,

P’ra que possa mirar-se quem me anima.

No entanto, só o condão de forte estima

Há de suprir os talhos do meu relho.



Se trago já comigo o verso pronto

E dou de graça ao mundo dos mortais,

Hão sempre de fazer algum desconto,



Porquanto a perfeição exige mais

Do que um velho senil exibe, tonto,

Na idade em que se põem em versos ais.









56

A sedução



Exibo, agora, o triste desempenho

De quem fareja o verso mais perfeito

Mas não detém, na mente, simples jeito

De carregar, nos ombros, este lenho.



Aí, recorro aos préstimos que venho

Recusando-me a ter, pois não aceito

Que o médium tenha de julgar-se atreito

Aos pressupostos cármicos que empenho.



E vou levando a trova desta forma,

Seguindo tão-somente a velha norma

Da métrica que ao belo mais conduz.



Esqueço-me do prisma do Evangelho,

Ao aceitar em paz que eu seja um velho

Determinado a amar, como Jesus.



57

A percepção



Eis o que me neguei a conhecer:

Que o Mestre Nazareno fosse novo,

Quando sentiu que a vida do seu povo

Devia ser melhor, por seu poder.



Então disse, alienado: — Eu não me movo,

Por força de cumprir qualquer dever.

Se tivesse a alegria de viver,

Queria a perfeição dum simples ovo.



Foi assim que cheguei ao cemitério,

Descrente da verdade de outro mundo:

Julgava o proceder bem pouco sério



E o pensamento humano não profundo.

Agora, quero tanto um refrigério,

Mas, nas trovas que faço, me confundo.









58

O constrangimento



Insisto nesta linha de poesia

E torno para novo empreendimento.

Se tudo for correto, não lamento,

Embora reconheça a fantasia.



Não quero que me vejam muito lento

E faço tanta força que daria

P’ra preencher a pauta de harmonia,

Não fora preocupar-me tal tormento.



Assim, eu contradigo-me em seguida

E faço o que não quero, mas com gosto,

Porquanto esta doutrina me convida,



Enquanto me ocupar junto a este posto,

A dar de mim, no empenho de tal lida,

Embora mais pareça um vil encosto.



59

Sou ou não sou bom?



Confunde-me a expressão mais comovida

De quem não tem valor e ocupa o posto.

A idéia é não causar qualquer desgosto

Ao gajo que, em amor, me dá guarida.



Pudesse retratar tão-só meu rosto,

Espelho mais fiel de quem duvida,

Iria demonstrar que tem mais vida

Qualquer que cá viesse para o encosto.



Mas, como desempenho com prazer,

Conforme acima disse, com malícia,

Estou fadado apenas a manter



A dúvida do amigo, sem blandícia,

Que é tudo o que consigo co’o poder

Que exerço sobre a rima de polícia.









60

Onde a simplicidade?



Pretendo pôr mais simples melodia

Nas trovas da verdade que componho,

Mas sempre vou tornando mais medonho

O espelho da pior fisionomia.



Do jeito que hoje trago o rude sonho

De me tornar poeta sem poesia,

Assusto o meu leitor, que se esvazia

Daquele entusiasmo tão risonho,



De sorte que a metade do que digo

Não tem nenhum sentido p’ro encarnado,

A quem o tema só traz o perigo



De ter, noutra metade, o resultado

Da luta que aqui brigo, sim, comigo,

Inteiramente falso desse lado.



61

Por amizade ao mestre



Não posso contrariar o bom mentor,

Que impôs sua vontade sobre a minha,

Porquanto a minha mente se avizinha

De transformar o verso em pura dor.



Não temo transgredir, em qualquer linha,

A hipótese feliz de vir compor,

Com entusiasmo, a prova deste amor,

Porque não tenho n’alma a voz mesquinha.



Quisera aqui, porém, pôr minha estima,

De forma a apresentar um verso bom.

Contudo, ao repetir a mesma rima,



Não vou impressionar, com belo som,

O conteúdo que a canção sublima,

Deixando a desejar, sem ter bom-tom.









62

A poesia é sempre grata



Carrego no improviso, me arrependo

E volto a rascunhar meu verso espesso.

Por isso é que a contagem nunca esqueço

Nem nada faço aqui muito estupendo.



Bem sei quão importante é ser travesso,

Contudo é sempre ao simples que me rendo,

Embora o amor também prossiga tendo

Quem renda as homenagens pelo avesso.



No fim, o compromisso se perfaz

E dou por encerrada esta poesia,

Porém, minh’alma emperra, sem ter paz.



Se caprichasse, bem melhor faria,

Conquanto não me achasse tão sagaz.

Mas onde encontro o gozo da alegria?…



63

À luz de vela



Entendo muito bem o meu fracasso,

Pois é tão nebulosa a minha trova:

Embora a rima eu queira sempre nova,

Repito, sem pudor, o tal compasso.



Tal como me perdi em funda cova,

Que a vida que levei fechou o laço

E constrangeu o gajo em curto espaço,

Assim o verso meu ninguém aprova.



Por isso é que pergunto ao meu mentor

Se devo prosseguir junto a esta mesa,

Fazendo só de conta, sem compor



Nada que tenha um pouco de beleza.

Aí me dá um tapa, com amor,

Dizendo p’ra manter a vela acesa.









64

Na escuridão



Jesus que me perdoe esta ousadia

De colocar seu nome em minha trova,

Mas é minha consciência quem reprova

A ausência de tal luz, nesta poesia.



Porém, se o ensinamento não renova

As cismas com que faço a melodia,

Qualquer, melhor do que eu, aqui faria

O enredo do meu susto, desde a cova.



Eu venho p’ra dizer que estou contente

Co’o resultado deste sacrifício,

Que é como o pessoal da esfera sente



Que o bom leitor supera o triste vício

De apenas registrar como excelente

O texto que no mundo faz bulício.



65

Existe esperança



Precisa que a modéstia se apresente

De forma consistente, em rude rima.

Esqueça o meu leitor tudo que acima

Eu disse sem beleza em que se atente.



O escopo de esculpir uma obra-prima

Talvez com a vaidade já se enfrente,

Porquanto este meu verso diferente

Não fala de Jesus nem se sublima.



Anoto o que transformo em meu bestunto,

De forma a registrar que não hesito

Em declarar mui nobre o meu defunto,



Porque, mui simplesmente no infinito,

O traço paralelo chega junto

E é lá onde estarei jamais aflito.









66

Uma lição do Mestre



Quisera compreender toda a ciência,

Estando mui de acordo co’o trabalho,

Mas como chegar lá se agora espalho

Que trago aqui comigo esta impaciência?!…



Quisera me abrigar neste agasalho,

Sem risco de causar qualquer falência

Naqueles que me dão sua audiência,

Isentos de sermão, de riso ou ralho.



Mas ouço de Jesus que alguns judeus,

Recriminando o povo que falhava,

Pediam mais respeito às leis de Deus,



Ao ver o cisco noutros não a trava

Que lhes cegava quanto aos erros seus:

Assim, os grãos defeitos apontava.



67

Quando a pobreza é um mal



Quisera que o meu verso conseguisse

Ser lido e interpretado cá na Terra,

Mas sempre em paz, jamais em rude guerra,

Porque fazer o mal é só sandice.



Mas como conseguir, se o tema emperra

E impede a rejeição da maluquice

De quem aqui reflete o diz-que-disse

Das formas a que a trova mais se aferra?!…



Preciso cá trazer a minha quota

E devo transmiti-la prontamente,

Sem medo de falhar, porque a derrota



Não consta do programa desta gente:

Se tenho tão-somente um ás e a sota,

Às vezes, pode ser mais que excelente.









68

Nem sempre ser ingênuo é bom



Podia transtornar o bom leitor,

Dizendo-lhe que a vida está perdida,

À vista dos defeitos sem saída

Que geram mais malícia e mais rancor.



Também podia demonstrar que a lida

Não tem proveito quando em desamor,

Mas sentiria eu, nesse compor,

A sensação do bem que o verso envida?!…



Lembrar Jesus é norma nestas plagas,

Principalmente quando o tema aperta

A mente humana que persegue as sagas



De quem do coração mantém aberta

A porta, sem temer as vis adagas

Dos entes que não dão sinal de alerta.



69

Diante da Jericó dos vícios



Jesus predisse, um dia, que as muralhas

Iriam desfazer-se em vil poeira.

Falava da maldade — não se queira

Ver, na figura, o bem envolto em malhas.



O nosso coração, estando à beira

De apenas colocar o fogo em palhas,

Deve lembrar as chamas das limalhas,

Que espocam, simplesmente, de primeira.



Quero manter acesa a minha vela,

Deixando claro o prisma da virtude,

Mesmo que a rima dê uma escapadela.



O bom é quando o verso não ilude

E mostra o quanto a idéia surge bela:

Muralhas se desfazem p’ra que eu mude…









70

Jogo de sensibilidades



Não posso permitir que o meu amigo

Se ponha a meditar neste roteiro,

Julgando que é poesia o que eu requeiro

Que faça, quando está no seu abrigo.



O sentimento d’alma que, primeiro,

Traduz o que, em palavras, não consigo

É o desafogo de gerar perigo,

Por meio destas trovas, pois maneiro.



Assim, eu vou levando a pobre rima,

De forma a repetir o pensamento

De que é muito melhor ter sua estima,



Invés de admirar-se co’o talento

De quem consegue orar em obra-prima,

Num resultado opimo… que lamento.



71

Preocupado com o leitor



Jesus, se cá viesse novamente,

Devia registrar a Boa Nova

Assinalando em versos, numa trova,

Como é que deve o homem ter a mente.



Aí, vão perguntar se se renova

A forma como norma e continente,

Porque nosso encarnado não consente

Que deva o tal poema ser a prova.



Por isso, vou fazendo o meu trabalho,

Enfatizando a rima que conheço,

Na qual, às vezes, o meu barco encalho.



É que a tendência segue pelo avesso,

No medo de me pôr como espantalho,

E o monstro desta rima moldo em gesso.









72

O poeta aprende



Eu pus muita emoção em cada linha

E o resultado mais me perturbou:

Não quis, conscientemente, dar um show,

Mas vejo que o meu tema não se aninha.



O que me dá conforto é que hoje estou

Ditando os meus sonetos depressinha,

Que o tempo de encerrar já se avizinha

E o ovo que eu botei não mais gorou.



Trocadilhando, eu sigo no bom rumo

De te alegrar, amigo meu converso,

Que as asas bato e vôo bem a prumo.;



Mas, ao cair, mergulho e fico imerso

Nas águas que me lembram que consumo

O meu soneto, quando está perverso…



73

Intimorata mente



Procede quem não deve sem temor

E amplia seus limites de virtude.

Pretendo que a poesia mais me mude,

Porquanto entusiasmado vou compor.



A calma do meu médium que me ajude

A superar as crises de inferior,

Que a vida me negou um grande amor,

Porque não quis mudar minha atitude.



A compreensão do bem vem devagar.

Bem mais depressa chega a pobre rima,

De forma que me ponho a divagar,



No embalo de fazer a trova opima,

Mas, quando quebro as louças do bazar,

Bem vejo o quanto tenho a tua estima.









74

Enevoada mente



O sono que me causa o versejar

Provoca o meu distúrbio exterior:

Queria discursar co’algum valor.;

Só venho aborrecer-te dentro ao lar.



O médium que se põe ao meu dispor

Não gosta das surpresas do rimar

Nem crê que eu tenha créditos p’ra dar

Um simples poemeto com amor.



Mas vai dando u’a mão, se já me esqueço

E ponho a idéia sempre pelo avesso

Do que se espera deste atrevimento.



Capricho a mais poder e dou ao verso

Sentido p’ra abranger todo o Universo,

Mas fico na emoção dum só momento.



75

Contrita mente



Solícito, o mentor não desanima

E deixa-me à vontade, junto à mesa,

Sabendo ser possível a proeza

De um dia aqui mostrar uma obra-prima.



Mas deverei sonhar com tal grandeza

Ou devo tão-somente ter-te a estima,

Após sofrer desditas com a rima,

Voltando para os versos sem beleza?…



Os dias vão passando e o treinamento

Prolonga-se, misérrimo, no etéreo,

Sutil quanto ao valor do que lamento



Não ter deixado já no cemitério,

Pois vim desabafar, mas, desatento,

Pretendo cá brincar, falando sério.









76

Reformulação temática



Na esteira dos sonetos anteriores,

Prossigo imaginando o melhor tema,

Aquele que revela quão suprema

É a lição que vem dos meus mentores.



Mas manca, por sutil, o estratagema

De não falar jamais de minhas dores,

Pintando, com palavras de mil cores,

A dúvida que gera o tal problema.



Anódina se torna a terna trova

Que não instaura n’alma o meu conflito,

O que o melhor leitor sempre reprova.



Não quero mais pensar que é no infinito

Que as virtudes se põem p’ra quem renova

A fé de aqui compor com nobre fito.



77

A preocupação com o leitor



Preciso descrever que tenho gana

De superar as falhas deste escrito?!…

A trova mais acima traz o grito

Que toma uma feição de mente humana.



Mas cá onde existimos exercito

A contenção geral do que engalana

O texto literário e, em forma plana,

Registro simplesmente e logo dito.



Mas o coitado que não tem cultura

Me chama tão-somente mentiroso,

Porque minha modéstia não atura.



Incentivado p’ra conter o gozo

Deste poema eivado de procura,

Destaca só o que sente mais formoso.









78

Versejar cansa



Precipitei-me, um pouco, no argumento

De que tenho um problema a resolver

E vim p’ra demonstrar quanto poder

Extraio das palavras, no momento.



O muito aqui é pouco, podem crer,

Porque se espera mais do sentimento:

É como declarar que eu não agüento

Ficar eternamente sem sofrer.



As coisas que acontecem dentro d’alma

Precisam deste auxílio valoroso,

Pois, no final, a dor sempre se acalma.



Não se suspeite, pois, que sinta gozo,

Por ter do verso, enfim, a simples palma:

É que mereço agora bom repouso.



79

A missão



Segredos já não guardo dentro d’alma,

Por isso é que não mudo o meu refrão:

Ser puro é ter honesto o coração,

P’ra receber o bem que o etéreo espalma.



É bem desta virtude a tal lição

Que devo demonstrar, com muita calma,

Voltada para o alto cada palma,

Mostrando bem aberta cada mão.



Aí, vou revelar que o bom Kardec

Abriu do Espiritismo as leis em leque,

Dispondo para os homens os ensinos.



No mundo, desprezei essa verdade.;

No etéreo, percebi a realidade,

Que ponho nestes versos como em hinos.









80

Criteriosa mente



Descrevo a minha história emocionado,

Contudo, devo ser bastante sério,

P’ra não deixar suspeitas de mistério

A quem for ler a trova desse lado.



Nem tudo a gente conta cá no etéreo,

Porquanto é mui sutil o aprendizado,

Porém, quando é possível, bem me agrado

De revelar as leis do refrigério.



No entanto, reconheço quanto falho

É o tanto que hoje sei após o estudo,

Porque me acostumei co’o rebotalho



Da forma que não tem bom conteúdo.

Arrependi-me e agora me agasalho,

Na transmissão serena disto tudo.



81

Da composição



O verso fácil põe meu escrevente

Afável com o tema da poesia.

Discute ainda um pouco a melodia,

Porém, a minha verve não desmente.



— A rima é muito frágil! — me diria,

Se provocasse as forças dessa mente.

Mas me restrinjo a dar-lhe aqui somente

Os rumos com que a trova desafia.



Permito-lhe, contudo, que corrija

Os textos muito broncos que lhe passo,

Que a rima se apresenta às vezes rija



E o verso não se ajusta ao bom compasso.

Aí, ele requer que o assunto exija

O termo exato para cada espaço.









82

A perfeição é o limite



Pedi que alcançareis excelsa graça,

Mas devereis fazê-lo com mais fé!

Aí, o bom irmão se põe de pé,

Dizendo ter virtude não escassa.



— Por que desejam mais e mais? Não é,

Na perfeição, que o bem jamais fracassa,

Porquanto os encarnados trazem jaça,

Que é condição humana o cré-com-cré?!...



A evolução, contudo, se aprimora:

As criaturas têm de se amoldar

À lei que, cá no etéreo e além, vigora.



Se decidirdes vir mais devagar,

Vai parecer a vós que a mesma hora

O nascer e o morrer vai demarcar.



83

Inverossímil mente



Presumo que meu verso seja lido,

Ao menos, por alguém que me respeite.

Não quero que o leitor somente aceite:

Precisa que haja vínculo subido.



Às vezes, o mortal quer o deleite,

Mas o trabalho fica transferido.

É que pensar no tema preferido

É como pôr, na pizza, um bom azeite.



Esforço-me, contudo, e mais me empenho,

Para tornar a trova muito bela.

Para doirar a pílula, mantenho



Um certo ar brincalhão, à luz da vela

Que esconde que carrego triste lenho,

A cruz que ao riso dá cor amarela.









84

Um preconceito do poeta



Perturbo quem me lê de supetão,

Desprevenido para o tom da rima,

Pensando que esta turma cá de cima

Não tenha em que pensar... e vaga em vão.



Mas, no meu verso, a glosa não se estima,

Porque vim repreender o meu irmão,

Não tanto por falhar: porque diz não

À trova que, afobado, o gajo ultima.



O tempo há de passar de qualquer jeito:

Precisa que haja pressa em ser perfeito,

Porque, caso contrário, a vida escorre.



Aqui, no etéreo, tudo é diferente:

Só não progride aquele que não sente

O quanto deve ao Pai porque não morre.



85

O médium aniversaria



Queremos, nesta data tão festiva,

Deixar o nosso agrado ao escrevente,

Dizendo o quanto alegre a turma sente

O coração, porquanto a mente ativa.



O tempo há de passar mui de repente,

Mas, no momento, existe, criativa,

A suspensão da rota, p’ra que viva

Se dê ao nosso irmão a voz da gente.



Não queira progredir aí sozinho.;

Disponha-se ao trabalho com carinho

E faça a trova como os versos vão.



Registre n’alma a condição do amor,

Pois tudo o que viermos p’ra compor

Terá da prece amiga a vibração.









86

O espírito da coisa



Pertence ao meu roteiro a boa norma

De ser gentil com quem nos dá seu teto.

Se for p’ra bater forte, eu nunca veto,

Porque ninguém se isenta de reforma.



Do mesmo jeito, quando aqui poeto,

Não venho perdoar quem se conforma

Em aceitar que o tema tenha a forma

De simples sonetinho bem discreto.



Pretendo dar de mim a toda a hora,

Porquanto aqui trabalho com um fim,

Ou seja, demonstrar que o bem vigora,



Para fazer valer quem trata assim

O tema do roteiro que não gora,

Porque jamais o verso vem ruim...



87

É preciso coragem



Respeito o tempo que me dá o médium,

Para aqui registrar mais um soneto.

Se o tempo se apresenta agora preto,

Correr jamais será feliz remédio.



Eu sei que o termo próprio é obsoleto,

Mas como vou livrar-me do meu tédio,

Se tudo o que hoje faço é vil assédio

E a turma não progride neste gueto?!...



O caso mais agudo que conheço

É vir ditar a trova pelo avesso,

Porquanto o gajo vive na incerteza



De que tem propriedades de poeta,

E faz sua poesia tão discreta

Que foge ao ver-se junto desta mesa...









88

Recomendação fundamental



Não ralhes mais comigo, bom confrade,

E busca de Kardec as diretrizes:

Os males lançam fundo as vis raízes,

P’ra suportar o empenho da verdade.



Não gosto de te ouvir, quando tu dizes

Que um sentimento hostil a rima invade.

Culpado eu sei que sou, que a caridade

Devia era salvar os infelizes.



Espantas-te se movo as minhas peças,

No tabuleiro desta fantasia?

Imploro-te que os versos não impeças



De penetrar mais fundo na harmonia

Das leis que, muitas vezes às avessas,

Se deixam descrever nesta poesia.



89

Expressão e impressão



O lucro que consigo ao versejar

É pouco comparado co’o desejo

Que tenho de mostrar como é que vejo

A trova que compreendo assim, sem par.



No entanto, quanto mais aqui pelejo,

Instando para o médium me ajudar,

O verso ganha forma elementar

E o tema fica pronto p’ro despejo.



Por isso é que a vontade é soberana

Na produção da rima que componho,

Enquanto o meu leitor jamais se engana,



Julgando-me desperto desse sonho.

Aí é que comigo ele se irmana,

Embora o fim se ponha tão bisonho.









90

Contraste de interesses



Precisa que haja um pouco de carinho

No trato do poema que fabrico:

A rima há de conter um termo rico,

Porquanto da poesia eu me avizinho.



Aí diz o leitor: — Como é que fico,

Se o canto que aqui leio é pobrezinho?!...

Melhor se ajusta o canto lá no ninho:

Ao menos, pena o som, em simples bico.



Modéstia é tratamento obrigatório,

No banho de pureza que se dá

Ao tema da virtude. O purgatório



A gente vai deixando para lá,

Até que um coração menos simplório

Exige a perfeição da trova já.



91

Impressão de felicidade



Estamos mui contentes co’a notícia

De que temos um texto já aprovado,

Mas vamos prosseguir, pois deste lado

Não passa a ociosidade de malícia.



É claro que o escrevente, preocupado,

Mantém o seu trabalho de polícia,

Mas há de receber nossa carícia,

Com o prazer mui grande desse agrado.



Infortunado o grupo aqui seria,

Se nada hoje deixasse na poesia

Que registrasse o seu feliz sucesso.



É data memorável de emoção,

A transbordar de amor o coração,

Ao ter nas mãos o livro quase impresso.









92

Aproveitando a deixa



Os louros da vitória trazem fama

E põem o nosso espírito contente,

Contudo, a frágil alma se ressente,

Temendo repousar em dúbia cama.



O modo de sorrir mais seriamente

Define, com certeza, quem reclama,

Dizendo que já estava no programa

O livro a ser composto.; o que é prudente.



Não vamos conturbar este processo

Que tem por fim mostrar ao bom leitor

Que existe, na virtude, só progresso.



Assim, se o grupo não vier compor,

Nada haverá, então, p’ra ser impresso,

Nem mesmo este soneto orientador...



93

O poeta não descansa



Vão perdoar, se brinco em disparate

Co’a seriedade que pretendo impor.

É que preciso dar ao meu leitor

O quanto está contente este seu vate.



Por certo, outro soneto sem valor

Se espera de quem luta ou se debate,

Contrariando as teses, xeque-mate

Sobre o princípio ativo superior.



As coisas que se ajustam para o efeito

Patrocinadas são pelos mentores,

Desde que o mau poeta diga: — Aceito



Demonstrar, nos poemas, minhas dores,

Depois que se amainarem, cá no peito,

Os frêmitos fugazes dos furores.









94

Doralice se apresenta



Estimo que haja versos p’ra fazer,

Na estrada que me leva aos pés de Deus.

Contrário aos pensamentos dos ateus,

Tal sacrifício apenas dá poder.



Assim, ao apontar os erros meus,

Nas trovas tão mesquinhas do dever,

Pretendo demonstrar só bem-querer

Àqueles que me vêem por estes céus.



É que a impressão do bom se realiza

No continente estranho da poesia,

Que a rima inteiramente canaliza



Para o equilíbrio fértil da harmonia,

Da qual eu me aproveito, poetisa,

Para explicar as leis e a melodia.



95

A turbação



São poucas as poetas que se atrevem

A vir ditar seus versos para o médium.

Mais fácil registrar, em prosa, o tédio,

Que os sentimentos cá não se descrevem.



P’ra tudo que se sofre o bom remédio

Se encontra só na mente... Me relevem

Se venho assinalar como é que devem

Interromper do medo o vil assédio.



É que, na Terra, o homem se enternece

Com a fragilidade da mulher,

Que, nesse aspecto, vence mas não cresce.



Aqui no etéreo, uma emoção qualquer

Exige a proteção de luz da prece,

Que nos fará melhor, se Deus quiser.









96

Graças a Deus!



Eu peço que compreendam quando hesito

Na fórmula gentil da disciplina

A que me obriga a rima peregrina,

P’ra sufocar, no coração, meu grito.



É regra permanente, na oficina,

Que a métrica se imponha no quesito,

Ainda que o parceiro fique aflito

Perante esta poesia feminina.



Aí, vão suspeitar que os versos meus,

Como o Cantar de Amigo medieval,

Esconde um trovador. — Graças a Deus! —,



Porquanto o meu rimar, se lá não val,

Agora que me livro desses véus,

Começa a parecer mais natural.



97

Homenagem



De amiga para amiga, ó Dona Núria,

No natalício, aceita os parabéns

De quem já se cansou destes vaivéns,

Por força de se dar a tanta incúria.



A vida tão intensa que manténs,

Que inspira à poetisa a sua fúria,

Há de causar, na rima, só lamúria,

Porquanto a inveja faz os seus reféns.



Quisera ser maneira nesta trova,

Para doirar a pílula da dor,

Porque me manifesto desde a cova



De forma a desprezar o meu leitor,

Mas devo enaltecer quem se renova

Dispondo-se p’ra Deus, em puro amor.









98

O melhor vizinho



— Por que Jesus não mora no meu prédio

E assume, como síndico, o edifício? —,

Estava a perguntar-me, no bulício

Das teses doutrinárias deste assédio.



Conservo, dentro d’alma, ainda o vício

De transferir p’ro etéreo o bom remédio,

Porquanto não me livro cá do tédio,

Que amarga o coração grande suplício.



Jesus não é o vizinho que me atende

Nem é do condomínio vigilante:

Jesus é amor somente, o que me rende



A rima superior, que já garante

O fecho do soneto, que resplende

Da luz do bem-querer ao semelhante.



99

Reflexão obrigatória



Suspeito que a poesia seja pobre,

Porque meu coração não tem primor.

Insiste o caro mestre e o seu mentor

Que eu devo vir mostrar algo de nobre.



Procuro, então, roteiros p’ra compor

E elejo o cantochão tocado em dobre:

Talvez do desespero a dor que sobre

Transforme-se na rima superior.



Mas, quando o meu rascunho tenho pronto

E exibo p’ros colegas, sem piedade,

Espero, pelo menos, um bom ponto,



No rumo de quem faz a caridade

De ler todo o poema, com desconto

Do ponto que talvez me desagrade.









100

Necessidade estética



Fala mais alto, então, minha consciência

E diz que melhorar será preciso,

Se quiser me livrar do prejuízo

Do tempo que se perde sem paciência.



É bem verdade a pressa em que te aviso

Do quanto é defasada esta vivência,

Que foge de firmar-se na experiência

E põe-se a recriar o paraíso.



Tremenda concorrência sofro, ainda,

Daqueles que me querem mais catita,

Pois deve uma poeta fazer linda



A estrofe em que a verdade mais palpita,

Embora a imperfeição se mostre infinda,

Nas duras expressões... e o mal saltita.



101

Spleen sem charuto



Consigo realizar este trabalho,

Embora tenha o médium resolvido

Que deve rejeitar o quebra-galho,

Quando meu verso anota um mau sentido.



Mantenho a sua mente atarefada

E deixo p’ra depois a rima ausente:

Um erro nesta rima não é nada

Que possa perturbá-lo. Vá em frente!



Preciso que haja um certo desperdício,

Porque nem tudo faço à perfeição:

Não é gostoso ou fácil dar ao vício

Guinada que lhe mude a direção.



No entanto, vou mantendo o compromisso

De despejar na tela um bom poema,

Não tanto por prestar qualquer serviço:

Por apontar do gajo o tal problema.



O tempo que dispõe o meu amigo

É mais que suficiente p’ro meu verso,

Mas devo prevenir-me do perigo

De mergulhar e me manter imerso.



Cheguei hoje de tarde a compreender

O quanto deveria dedicar-me

A procurar na mente o seu poder

De descobrir o mal, p’ra seu desarme.



O máximo, na trova, que alcancei

Foi revelar o quanto estou falido:

Um dia eu li, num livro, qual a lei

Que me daria à vida algum sentido.



Mas temo não lembrar à minha gente

Qual foi do amor o prisma a ser cantado.

Assim, se alguém orar, peça somente

Que um verso meu lhe possa ser de agrado.









Eu mesmo já não primo pela ausência,

Pois me atrevi no texto que apresento.

Tentei vir decretar minha falência.;

Mostrei-me só mesquinho e sem talento.



É que podia ter feito melhor,

Com os recursos todos deste médium,

Pois tudo o que repito aqui de cor

Reflete o triste efeito do meu tédio.



Disciplinei-me um pouco em cada rima

E dei ao meu compasso a sua norma,

Mas devo conquistar a sua estima,

Porquanto ao verso meu já se conforma.



No fim, meu sentimento se reflete

Na trova que queimei antes de vir.

Agora este sorvete se derrete

E deixa derreado o Wladimir.



Perdão devo pedir ao povo todo

Que ouvido aqui me deu, por educado.

Se o charco está coberto só de lodo,

Cuidado com seus vícios, neste lado...













































102

Confissão de quem vestiu batina



Se brilham as estrelas lá no céu,

Será por que o Senhor as acendeu.

O esforço de entender é todo meu,

No entanto, sobre a vista, tenho um véu.



Terrível sacrifício do Judeu

Perdeu pelo caminho o povaréu,

Que levantou celeuma de escarcéu,

Sem dar ao conteúdo um traço seu.



Juntei-me à turbamulta da arruaça

E fiz pendant co’a troça e co’o mistério,

Vestindo o negro manto que rechaça



O estudo que se segue ao cemitério.

Levei-me nos enredos da chalaça.;

Agora, a acusação me faz mais sério.









103

Sob o efeito do remorso



Ainda tripudio sobre o destino

E dou, nos versos broncos, de sabido,

Tentando só manter o que é sofrido,

No cérebro do amigo, em desatino.



Repito a mesma rima, que destino

P’ra demonstrar horror jamais sabido,

Nas ânsias em que trago o meu ouvido,

Ó caro sofredor, pobre cretino.



Retorço o verso, em crises de poesia,

Pretenso diapasão da melodia,

P’ra dar ao dito cujo o tom da dor.



Espanto o bom leitor com fera trova,

Que apenas lentidão no bem comprova,

Distante, mui distante do Senhor.



104

Caráter da obsessão



Mas devo agradecer, de qualquer jeito,

A generosa oferta deste lar,

Crepúsculo dos vates que vêm dar

Seu último suspiro, sem respeito.



Depois, o tempo todo é trabalhar

Em prol do benefício do preceito

De que deve o poema ser perfeito

De todas as virtudes exemplar.



Postigo para a excelsa formosura,

Abrindo-se, aos pouquinhos, desde agora,

Pretendo uma palavra só mais pura,



P’ra demonstrar que o bem aqui vigora,

Quando o meu bom leitor a trova atura

E, em nome de Jesus, por mim implora.





















































105

Para cumprir obrigação



O plano em que me vejo, cá no etéreo,

Permite imaginar coisa melhor.

Eu sei os mandamentos já de cor

E sou capaz até de estudo sério.



Porém, ao progredir, mantenho a dor

De ver o quanto devo a tanta gente

E venho, no poema, simplesmente,

Deixar o amigo aí sem meu amor.



Foi quando aqui desfiz a minha trouxa

Que reparei no medo de perder

A condição de possuir poder,

Se mantivesse a rédea muito frouxa.



O povo que empregava em minha empresa

Trazia sob o jugo permanente

Do bem que se propõe, para que agüente,

Sem grande aspiração e sem grandeza.



No entanto, eu me mantinha generoso

Nos gastos pessoais e na partilha

Das rendas que usurpava, nessa trilha,

Que me impelia p’ra do vício o gozo.



A casa em que morava... tenho nojo

De descrever aqui, pois superei

A crise do infortúnio, que é de lei

Que ponha escancarado o tal estojo.



Resisto o quanto posso ao triste pranto,

Que insiste em bordejar nos olhos meus...

Esqueço que preciso dar a Deus

O que roubei de César... Desencanto!...



Falece-me a esperança, nesta rima,

De convencer alguém sobre a miséria

Que representa a posse, já que é léria

Que se respeita a trova cá de cima.









Como se vê, não tenho confiança

Nem boto muita fé no meu leitor.

Aí, vão perguntar se vim compor

Pensando que algum bem assim se alcança.



Preciso infernizar a mente alheia

P’ra conseguir a prova da escansão.

No fundo, espero que me dêem perdão,

Porque meu coração o bem bloqueia.



Feliz serei, ainda que não queira,

Por terminar a trova bem na hora.

Quisera registrar que aqui vigora

O trato de compor a turma inteira.



E, como a norma dita a melhor rima,

Preciso agradecer a boa ajuda,

Pedindo ao Benfeitor que hoje me acuda,

Para mostrar que a trova já me anima.



Perdão vos peço, ó Deus, pai generoso,

Por não estimular, no verso tosco,

Que venha para orar aqui conosco

O irmão que rejeitou da trova o gozo.













































106

Por linhas tortas



É forte esta emoção que me apoquenta,

Na ânsia de deixar os versos meus.

Desejo chegue logo a hora do adeus

E troco os tais dizeres, desatenta



Enquanto vou ditando a pobre rima,

A cada linha dou melhor sorriso,

Porquanto, no rascunho, é que preciso

Mostrar como se fez o que me anima



O resultado que se der, no fim,

Às vezes, desilude o bom leitor,

Porque já desconfia que, ao compor,

Estou sempre voltada mais p’ra mim.



A trova deveria, pois, expor

A solução final para o problema

Que faz com que o leitor aqui se esprema,

Esperançoso d’algo superior.



Não se iluda assim, meu caro amigo,

E veja se consegue pressupor

Qual há de ser a norma do mentor,

Para aprovar a trova que consigo.



Eu deverei dizer que é responsável

Aquele que executa o seu destino.

Também posso indicar, em forma de hino,

O meio de aprender a ser saudável.



No entanto, a solução não vem no verso,

Que salta e pula e cai, neste improviso:

Embora o meu rascunho tenha siso,

O resultado aqui é bem perverso.



O pobre do meu médium se aborrece

Por, tolo, acreditar que esteja mal,

Conquanto este ditado seja tal

Que apenas minha mente transparece.









É claro que suporta bem a crise

E põe-se a suspeitar que a tal poeta

Não queira esta poesia, porque veta

Os temas que dariam mor deslize.



Falar somente do trabalho agora

É cansativo, triste, fútil, tolo,

Porém o tempo aqui não sei dispô-lo

E o coração do mestre meu deplora



As horas vão passando sem poesia,

Embora esta escansão se faça ainda.

Quisera aqui que a trova fosse linda,

Que produzisse apenas alegria.



A hora já chegou e estou contente,

Porque venci da prova o conteúdo,

Fazendo muitos versos, que não mudo,

Porquanto não encontro quem me agüente.



Vou indo embora já, mas vou deixar

Uma palavra amiga ao meu leitor:

Estime da família o seu amor

E reze ao bom Jesus, ao pé do altar.



Não faça do seu tempo como eu fiz,

Levando o compromisso aqui na flauta:

Quem pela diretriz do amor se pauta,

Melhor há de ficar, p’ra ser feliz.



































107

A uma consulta do médium



Não devo aconselhar o meu amigo,

No que concerne à dúvida que traz.

Se o caso se passasse aqui comigo,

Preservaria n’alma a minha paz.



Tudo o que faz a vida progredir

Situa-se no âmbito do amor.

Assim, o que está certo, Wladimir,

É sempre para o bem se predispor.



Juntar-se co’as pessoas que trabalham

Em prol do crescimento de su’alma

Exige que se sinta a luz que espalham.



Por isso, com cautela, eu lhe previno

Que é dentro de si mesmo que se espalma

A solução p’ro tema do destino.









108

Fragmentos



Não sei se resolvi o seu problema

Nem quero resolver, qualquer que seja:

As luzes que disponho no poema

Terminam num bom copo de cerveja.



Esteja satisfeito com a rima

E pense finalmente um pouco em mim.

Eu peço que me tenha alguma estima,

Embora neste verso tão ruim.



.............................................................



Interrompida a trova, continuo

A imaginar sereno um belo fim.

Por que teria de sentir amuo,

Se o bem que faço volta-se p’ra mim?!



Eu vou deixar o resto p’ra depois,

Embora nada seja tão precioso.

Mas isso há de ser bom para nós dois,

Que a vibração do amigo traz o gozo.



109

Acanhada mente



Consagro-me à poesia com amor

E deixo-me empolgar, em cada rima.

No entanto, longe estou duma obra-prima,

Inserto numa classe inferior.



A forma que registro mais me anima,

Para dar sentido ao meu compor.

Assim, mesmo um pouquinho desta dor

Irei atenuar, se alguém me estima.



Mas, ao pedir por mim, sinto vergonha,

Pois sei que o meu leitor já desconfia

De quem vem demonstrar a carantonha,



No jeito arrevesado da poesia,

Talvez para esconder que só se enfronha

Na excelsitude desta melodia.





















































110

Confiante mente



Quisera revelar, em versos brancos,

O quanto tenho estado pensativo,

Mas, quando chego aqui, vejo que crivo

A trova de dizeres muito francos.



Aí me comprometo com a rima

E ponho-me a sofrer com seus horrores,

Mas sempre é tarde para os tais clamores,

Como se viu nos versos lá de cima.



Mais um quarteto faço e não me arrisco

A pô-lo num soneto miserando.

Por isso, estoutra rima fui formando,

Para vencer a tentação do aprisco.



Transtorno a ordem de meu mestre amigo

E peço ao escrevente que me faça,

Como se alheio disto por cachaça,

O grão favor de aqui correr perigo.



Os dois, no entanto, riem desse intento,

Porque, no fundo, sabem que destôo,

Querendo me apressar em alto vôo,

Fazendo, simplesmente, algo mui lento.



Estive por aqui, p’ra examinar

Como é que a turma passa a sua trova.

Verifiquei, então, não ser mui nova

A técnica empregada neste lar.



Por isso me entreguei de corpo e alma,

Para fazer uns versos de proveito.

Somente consegui, meio sem jeito,

Perceber que o poeta sofre e acalma.



Entrei no ramerrão do mesmo tema

E pus, nos versos meus, o drama antigo.

Eu peço, pois: “Não briguem mais comigo,

Porque já não resolvo esse problema”.









Foi muito facilmente que deixei

As pobres referências sobre mim.

Por isso, vou pedir-lhes, mesmo assim,

Que rezem uma prece, que é da lei.



Perdão ao bom Jesus, eu peço ainda,

Por ousar vir dispor do tempo alheio,

Com rimas deste naipe em que semeio

Só caridade e fé, numa alma linda.



Adeus, meu caro amigo, fique em paz,

Que eu vou botar de molho a barba minha!

Seu coração, eu sei que me acarinha,

Pois tal é o resultado que o bem traz.



Indaiatuba de 13.03 a 09.05.96.



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