PARRUDA
“é desprezado aquele... que mais mau é pelo que finge ser
do que por aquilo que realmente é”. Ramalho Ortigão,
Primeiras Prosas, p. 148.
É triste esta velha pequena, parruda,
que pelo retrato, se vê, foi bonita,
e lá no passado que o tempo saúda
fez coisa que agora nem ela acredita.
Agreste, caturra, por cima abelhuda,
viveu no casulo a figura esquisita,
num corpo encolhido, de mente miúda
fez poucos amigos e a própria desdita.
Não tendo passado, nem tendo presente,
frustrada se perde num ser deprimente
que gasta e desgasta o melhor, no viés,
da angústia que causa no angu do fuxico,
da intriga que agita em seu próprio penico
e faz sua estultice aferir nota dez.
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