NO FUNDO DO APOSENTADO
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Entra governo, sai governo
Passa boi, passa boiada
Quem espera, sempre alcança
Diz, assim, o velho ditado
A inflação logo aparece
Devagarzinho ela cresce
No fundo do aposentado
Na praça, jogando baralho
Assim vive o pobre coitado
Jogando com a própria sorte
Para arrumar um trocado
Pra melhorar sua conta
Já no vermelho desponta
No fundo do aposentado
Com o título, apostou
Que tudo seria mudado
Acreditou na promessa
De quem já foi do seu lado
Pois ganhando a oposição
Reajuste e correção
No fundo do aposentado
E pela primeira vez
Ele foi bem premiado
Viu eleito o presidente
Em que havia votado
E ficou muito contente
Esperando algo na frente
No fundo do aposentado
Água mole em pedra dura
Também dá seu resultado
Persistindo na esperança
Espera o velho sentado
Que se faça a correção
Por conta da inflação
No fundo do aposentado
Até que chegou o dia
Depois do tempo esperado
Nove anos sem aumento
Esse foi o resultado
Um por cento o reajuste
O tamanho do embuste
No fundo do aposentado
Nem a desculpa colou
Foi o máximo encontrado
Não havia mais dinheiro
Para aumento melhorado
Assim disse o presidente
Que colocou pano quente
No fundo do aposentado
Mas o pior não foi isso
Falta ainda um bocado
De coisas que vão mudar
Pra piorar nosso lado
Querem de novo cobrar
A mão boba enfiar
No fundo do aposentado
Que já deu tudo que tinha
Nada pode ser tirado
Pagou pelo seu descanso
Mas não vive sossegado
Quando o assunto é Previdência
Vem de pronto a insistência
No fundo do aposentado
Assim não dá, presidente
O senhor está enganado
É direito adquirido
É assunto encerrado
Cobrar pelo que foi pago
Vai custar muito estrago
No fundo do aposentado
Que espera no Fome Zero
Ter o seu nome listado
Caso tiver que pagar
E de novo ser garfado
Vai, com certeza, chorar
Vendo de novo cobrar
No fundo do aposentado
E a coisa já está preta
O buraco é apertado
Mas se o governo ganhar
O negócio fica irritado
Muita gente vai tirar
E outros tantos vão botar
No fundo do aposentado
Peço um favor, presidente
Deixe agente de lado
Não diga que o servidor
É um privilegiado
Que eu chamo a polícia
Privilégio é a vitalícia
Benefício acumulado
Que atinge governadores
Sem nada ter colocado
Nos cofres da Previdência
Mas o dinheiro é levado
Basta cumprir um mandato
E acaba pagando o pato
O fundo do aposentado