Usina de Letras
Usina de Letras
146 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62220 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10363)

Erótico (13569)

Frases (50616)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140801)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->PARALELOS -- 05/07/2003 - 22:54 (Maria Luiza Kuhn) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Paralelos


Quando eu tinha uns 08 anos de idade, na cidade em que eu morava, devia ter uns vinte telefones. Lembro que eram umas geringonças pretas de aspecto tenebroso. As manivelas mais pareciam peças de museu. Para se pedir uma ligação era preciso coragem (sim a gente tinha que pedir a ligação para uma telefonista central). Conheci a tal geringonça numa fábrica de bebidas na qual trabalhava minha tia e madrinha. Confesso que a primeira vez que ela quis me mostrar o tal invento, eu que morava na roça e mal tinha começado a frequentar os bancos escolares, literalmente sai correndo. Aquela voz vinda de um aparelho sem rosto foi para mim uma descoberta medonha. Hoje cá estou, passados recém trinta e alguns anos, usando internet e me comunicando com o mundo, com nomes sem rosto e trocando idéias igualmente sem olhar nos olhos de outras pessoas embora prefira sempre o contato de olho no olho, de pele, de arrepio, mas não podemos desconhecer que temos aí outras opções de relacionamento.
Hoje o que mais me intriga é perceber um grande abismo dividindo dois mundos. Sobrevivem aqueles para os quais as horas ainda passam com muito mais vagar. Que sentam ao final da tarde sem ligar a tv e vão dormir cedo. Que sabem muito pouco sobre a distante guerra no Iraque, e de bolsas, dólar e risco Brasil sabem absolutamente nada. Podem saber sobre chás, rezas e dor de barriga de neto. Sobrevivem também aqueles que sabem tudo da guerra, dos seus reais motivos, aqueles que tem opinião política, aqueles que interagem com o mundo de forma on-line, aqueles que estudam diariamente, aqueles que jogam parte da sua vida fora com perdas de tempo em mesquinhez e egoísmo. Aqueles que tem televisores de ultima geração, modernos celulares e computadores potentes. Para estes o mundo já anda em outra velocidade. Aliás, tentava me explicar uma professora no curso de pós-graduação que a física, ou seja, lá que ciência for, já explica está sensação de velocidade de tempo que sentimos ultimamente. Será? Afinal já estamos em julho de 2003 e recém foi natal!
É realmente curioso e intrigante este descompasso.
Esta convivência paralela a que me refiro apesar de tudo é até compreensível, pois tratamos de mundos urbanos e rurais, de grandes centros e menores centros e de ordens estabelecidas, ou seja, tem pessoas que mesmo com possibilidades não fazem a opção pelo mundo cibernético.
O que é muito triste é a questão de oportunidades. Os filhos das classes mais privilegiadas frequentam escolas com computador, com modernas ferramentas de ensino (o que por si só não garantem a melhor qualidade), mas é um avanço perante o antigo quadro-negro, sem dúvida. Mas a grande massa da população quando consegue frequentar a escola, conta com o professor que embora seja um herói por natureza, estará sempre menos motivado e menos qualificado, pois seus acessos também são menores, e, na maioria das vezes lhe resta tão somente o velho e bom quadro-negro como instrumento.
É este o descompasso que me assusta, pois o tamanho da população excluída é muito maior do que a outra e tem hora que o que faz diferença é a quantidade e não a qualidade. Se esta quantidade toma consciência do seu tamanho é ela que passa a ditar comportamentos. Isto é preocupante. Ninguém tenha dúvida que a quantidade de programas sociais que hoje se mostram na mídia servem apenas para a descarga de consciência ou de sentimentos altruístas de quem tem mais. Existe por trás disso tudo um temor, embora velado de que a ordem se subverta, ou seja, a classe com mais "qualidade" está se convencendo que nem só de grades nas casas, segurança particular e carros blindados serão suficientes. A quantidade dos "outros" uma hora vai pesar. Por isso é ora de diminuir um pouco pelo menos, os excluídos.
Esta é na verdade, a grande e silenciosa revolução da humanidade na qual eu acredito.
O mundo ainda vai se tornar melhor!
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui