Quando não há caminho a perseguir
Qualquer caminho leva a lugar nenhum
E o velho, sem destino, vai a nenhures
De encontro com sua morte
Que sabendo que não há mais esperança
Ceifa-o mais rapidamente
Pois ele nada mais procura, em nada mais crê
Sem nada a procurar
A letargia o leva à sepultura
Mesmo tendo produzido durante a vida
Ao deixar que o tempo oxidasse suas juntas
Selou o seu destino fatal
Enquanto esganava-se em busca de razões
Mantinha-se vivo
Hoje, poupa apenas sofridos suspiros
Pela hora que já vêm, para nada...
Criei Deus à minha imagem
Refleti nele os meus anseios
Culpei-o pelos meus fracassos
E hoje, sem nada para produzir
Sinto-me um pária
E Nele também deposito minhas mágoas
Temo a morte
Inexorável ela vem ao meu encontro
Na religião busco enganar-me
Apoio-me num porto seguro
Iludindo-me com um final que é apenas duro...
Na era bizantina a beleza era farta, opulenta
Às portas do século vinte e um,
As esguias são as belas
Mas a beleza se esvai com o tempo
Seja ela opulenta ou vazia
Mas procuramos apagar as marcas do tempo
Que calcam nosso corpo
Como Dorian Gray, transferimos para um retrato
Os açoites que a vida nos traz
Mas mudo no sótão
O retrato se decompõe
Até que, as marcas da alma
Nos tornam um com o retrato
E a máscara da estética e do belo caem
E com eles caímos juntos
Em toda sua vida o homem
Se pauta por uma moral de
Regras e regulamentos
Valores auto impostos
Divinos ou tácitos
Profanos ou legais
E quando os quebra
Produz um talho em sua moral
Indeléveis, estas marcas são disfarçadas
Mas o desespero de ocultá-las
Leva-o fatalmente à angústia
E no fim de sua vida ele remói
Tudo o que se auto proibira no passado...