Leonardo Teixeira - Publicada no jornal O Popular no dia 25/06/03
Como é espantoso o desenvolvimento de uma criança! O primeiro choro, a primeira
risada, o primeiro passo, e até mesmo o alívio do primeiro sono completo.
Não há responsabilidade o suficiente para derrubar o encantamento com os
bebês. E todo sacrifício é válido. Aquele pedacinho de gente carente, uma
bolinha fofa e cheirosa deitada no berço.
Tenho um ser humano em miniatura de quase quatro meses em casa - o menor
de nós - o centro das atenções; cada gargalhada é comemorada com muita alegria
pelo pai coruja. Como não há pai que ache o filho feio e como todos garantem
a beleza dos filhos, também entro no rol dos bajuladores dessa realidade.
Imagino as peraltices geniais advindas do seu ingênuo estado pueril. Preparo
histórias para colorir seu mundo e preocupo-me, é claro, com a educação
e o modus operandi de sua vida.
Ele é o menino dos ventiladores: ri sozinho para todos que vê, não importa
se as hélices estão paradas ou não. Tem o pé do tamanho do meu polegar.
Um olhar doce, na sua cor do mel da flor de girassol. Bochechas mais cheias,
macias e mais brancas do que prometem as propagandas de sabão em pó. Tem
um jeito arisco que cheira esperteza. Consegue ser irreverente para um neófito
infantil. Brinca com tudo o que a vista alcança e consegue se divertir com
pequenos movimentos. Descobri que fica mais calmo quando são massageadas
as suas sobrancelhas finas. Faz reclamações para exigir o direito ao leite
e reluta para dormir, tentando sempre vencer o sono, mas acaba dando trégua
ao desgaste do pequeno físico. "Que bichinho é este, que estende os braços
curtos, como se tivesse, já ao alcance da mão, algum dos sonhos seus? É
um filho de Deus" (José Paulo Paes)
É nas horas de admiração, dentro do sentimento paterno, que não entendo
as razões de abandono a uma criança. Lembro-me de ter lido nas páginas deste
jornal, sobre uma mãe maldosa que jogou o filho num lote baldio e outra
suposta mãe que amarrou um saco de lixo com seu filho dentro, deixando-o
ao relento. Não dá para acreditar nem mesmo nesse estado puerperal. Que
aviltante! Deixo de comentar outras atrocidades, para evitar polêmicas,
mas insisto que as mães busquem o amor ágape - fruto do espírito - que é
tão peculiar e admirável, no instinto materno.
Aos bebês que estiverem lendo esse jornal, mostrem que o mundo é cheio de
doçuras e descobertas, que tudo o que é novo, um dia será velho, que a doçura
não precisa se desfalecer na rigidez das mãos, e ainda que os diversos caminhos
são questões de escolha. Nós é que decidimos como e por onde passar. É bom
escolhermos o melhor caminho, que te deixa em paz, ainda que seja o mais
difícil e estreito."