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Cronicas-->Futebol em família -- 31/08/2000 - 12:47 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Cansei de tentar explicar para minha mulher o que é enfiar no vazio. Aliás, também desisti de estimulá-la a assistir aos jogos comigo. Acho que minha missão na Terra já foi cumprida: consegui convertê-la a torcedora do Corinthians, e meu casal de filhos não sucumbiu aos estímulos do avó, pó-de-arroz de longa data. Como consegui? Com as crianças achei melhor invocar meu espírito democrático para deixá-las escolher por conta própria o clube do coração. É lógico que, também democraticamente, dei-lhes o enxoval completo com as cores do Timão. Tudo mesmo. O macacãozinho pendurado na porta da maternidade, os lençóis, as toalhas, camisas, chaveiro e tudo aquilo que trazia o distintivo sagrado. No caso da patroa foi mais difícil. Sabe lá o que é convencer uma pessoa a mudar de time depois dos vinte anos de idade? A proeza foi alcançada a custa de horas e horas em frente à TV - nunca consegui convencê-la, no entanto, a ir ao estádio. Acho que dois fatores foram primordiais. Primeiro, o contágio natural da fé, da alegria, da sensibilidade e do amor da torcida corintiana. Segundo, acho que ela sentia dó do meu sofrimento. Quantas vezes presenciou meu semblante mudar repentinamente e meus olhos umedecerem diante da tristeza de uma derrota inesperada... Por fim, acabou se rendendo aos encantos do Timão. Contudo, não deixa de armar suas confusões.

- Gol do Corinthians, querido! - gritou da sala, enquanto eu pegava uma cerveja na geladeira.

Era do Atlético Mineiro. Ainda hoje acha que, para ser o Corinthians, basta ter o uniforme branco e preto. Mas não a culpo. Poucos são os seres humanos que desenvolvem habilidades extra-sensoriais para identificar pelo timbre de voz do locutor do rádio se o gol narrado foi ou não do seu time. Perdoei-a.

- Foi gol do outro time, Bem! - corrigi.

- Que m...! Foi tão bonito...

- Pai! O Corinthians "tá" ganhando? - perguntou minha filha, que acabara de chegar do quintal.

- Não, Doçura. Quer dizer, ainda não.

- Mas esse homem que fez o gol não joga no Timão? - insistiu.

- Jogava, filha! Agora não joga mais! Cadê suas coleguinhas? Já parou de brincar?

Se há uma coisa que me deixa irritado é ter de explicar para a família as regras do futebol ou o porquê de um jogador mudar de time. Isso quando o Corinthians está perdendo... Se estiver três a zero para o alvi-negro, sou capaz até de tentar fazê-las entender o sistema de pontuação do campeonato ou o calendário elaborados pela CBF. A sorte é que o meu fanatismo vai até o limite da sensatez. Senão estrangularia minha mulher por ter dito que o gol adversário foi bonito. Mas tem o outro lado da moeda. Perceberam que eu estava triste e fizeram silêncio, enquanto eu desfilava um festival de palavrões contra a mãe do juiz. Minha filha trouxe outra latinha sem mesmo eu ter pedido. Foi quando o Vampeta roubou uma bola no meio campo, avançou rapidamente, tabelou com o Ricardinho e...

- Vai! Vai! Vai! Vai! - incentivavam as duas.

Goooooollllll !!! Agarrei-me ao Lucas que estava assistindo quieto, enrolado à bandeira, sem piscar os olhos. Ele abriu aquele sorriso espontàneo, perfeito, cativante. Foi uma festa só! Depois de acalmados os ànimos, minha esposa cutucou-me no ombro.

- Você gosta mais de mim ou do Corinthians?

- De você, é claro! - respondi inseguro.

- Então merece um queijinho! Vou buscar já!

Esperei ela voltar com o prato. Provolone umedecido com azeite português e salpicado com orégano.

- Então sou a sua preferida? - insistiu.

- É. Mas quando chegarem as finais...
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