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Contos-->Quatro paredes -- 16/04/2004 - 19:57 (Ernane Calado de Souza Melo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A espera já era longa. Afinal de contas, havia marcado a consulta para 09:15h e às 10:00h não havia sido atendido. Depois verifiquei que ocorreu um problema com a minha ficha, daí o o atraso. A impaciência era total. A sala de espera pequena, nenhuma recepcionista, a televisão com defeito, apenas eu e mais uma pessoa que foi logo atendida e me deixou sozinho entre quatro paredes. Havia janelas, sim, mas a uma altura de mais de dois metros. Serviam apenas para iluminação, sem qualquer acesso visual ao mundo exterior. Isolamento total. Levantei, sentei, caminhei, sentei, cochilei... Angustiante! Não sabia mais o que fazer, então resolvi pensar. Primeiramente, xinguei o arquiteto que projetou aquele ambiente. Certamente nunca esteve confinado em nenhuma cela prisional e nem teve que esperar quase duas horas numa sala daquelas, para ser atendido pelo médico. Aliás, um problema que era simples, que me levou àquela consulta apenas para atender aos conselhos de amigos e parentes -- ´vai ao médico!´, tomou proporções inesperadas, face à irritação que já me tomava.
Mas... Resolvi me controlar. Imaginei que aquele ambiente era o meu único mundo e as quatro paredes, as fronteiras que o delimitavam. Quatro pontos cardeais: parede da frente, o Norte; parede de trás, o Sul; à direita o Leste; à esquerda, Oeste.
Começando pelo Sul, quadro a quadro na parede, o filme da minha vida. Tudo que fiz ou deixei de fazer nessa longa trajetória, desde a minha infância até o dia daquela consulta. Não deu para ver tudo e muito menos para guardar, o tempo foi curto para tanta coisa e o filme passou muito rápido. Mas, algumas coisas eu lembro muito bem. Lembro das árvores que plantei, dos frutos que colhi, aí incluídos a minha própria árvore genealógica descendente. Sucessos, fracassos, alegrias, tristezas, realizações, frustrações. Quase completada a tríade que, dizem, realiza qualquer ser humano: ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Este último já escrito e em vias de ser publicado.
Parede Norte, o porvir. O que há para ser feito, ao longo do caminho imaginado. Aí, já não mais um filme projetado na parede, mas imagens-sínteses do que ainda pode ser realizado. Outros livros, outras conquistas, outras árvores, outros frutos, outras sementes. Ainda há muito, ainda é tempo. Haverá tempo? Acredito que sim, mas primeiro tenho que cuidar da minha saúde e é por isto que estou aqui. Há que ter paciência, serei atendido e terei tempo, já que o tempo é o tempo que a gente tem.
Leste ou Oeste? Por onde começar, que lado escolher? Ir para um lado ou para o outro é uma escolha bastante simples, mas os caminhos totalmente diferentes e nunca saberemos o que seria se em vez da direita tivéssemos ido para a esquerda. É a grande esquina Machadiana da vida, tão bem retratada pelo nosso maior contista e um dos maiores escritores de língua portuguesa. Escolhi um lado e caminhei por linhas retas, linhas curvas, desvios, paradas, cruzamentos. Em vez de engenheiro, poderia ter sido sociólogo, biólogo, agrônomo, escritor(?), poeta(?), matemático. Nunca saberei, apenas acho. Certeza, só teria se tivesse escolhido o lado direito.
Lado direito, parede Oeste. Não guardei nenhuma imagem. Infelizmente, o lado ruim, ou felizmente, o lado bom, tive que interromper para ser atendido pelo médico.
Nada grave...
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