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Contos-->Biro-Biro -- 15/11/2000 - 15:41 (Samuel Ramos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ele tinha até dificuldade em lembrar de seu nome. O grampeador estava mais uma vez sem grampos - como sempre, o hábito das pessoas que conviviam com ele de não pensar no futuro se mostrava presente. Sua vida tinha como base o "ser precavido". Sobre a churrasqueira da sacada, estava lá, pendurado, o pedaço de madeira com o lema que seguia desde os 17 anos: "Prevenir é melhor do que remediar." Quando assava um churrasco para os amigos, depois do primeiro engradado era sabido por todos que viria o discurso sobre as beneces da programação dos dias, das semanas, do andamento das coisas. O pavor que sentia pelo imponderável, pelo imprevisível era tremendo - de ter pesadelos.

Agora, não estava certo nem mesmo da idade que tinha, e a mulher, bom sua mulher um capítulo à parte. Seus amigos comentavam entre eles que ela tinha coxas grossas e boas ancas, mas ela nunca mostrou sorrisos ou intimidades para eles, os quais julgava "almofadinhas". Ao contrário, ela adorava divertir-se com a pior espécie de cafajestes que poderiam acercar-se dela, dos que faziam com que ela dedicasse a eles os melhores momentos do kama sutra e além disso, sugavam o dinheiro dela, ou melhor dizendo, dele. Evidente que isso demonstrava a falta de caráter dela, ainda mais que ele, tão parcimonioso com suas economias, sempre cauteloso na aplicação de seus dividendos em ações, bradies e commodities, não media esforços para satisfazer todos os desejos de sua esposa, a FruFru como ele chamava na intimidade de ambos. Mas, também, ele nem imaginava a galharia que crescia em sua cabeça.

Num desses churrascos, em que ele aproveitava para enaltecer sua fiel dedicação aos compromissos pré programados, nesta mesma hora o excesso de trago o impedia de saber seu nome (ou de dizê-lo) e sua idade. Estava contando em altos brados que desde o casamento, desde antes do casamento, "Desde o namoro!", tinha planejado todos os momentos da feliz vida conjugal que tinha com a FruFru (não se sabe como, mas oralmente também se lia FruFru com o segundo "éfe" maiúsculo). Foi aí que chegou no churras o Biro-Biro, que ganhou o apelido tão logo entrou na festa, pois lembrava em muito aquele ex meio-campo do Corinthians. Alguns diziam que na verdade ele tinha o cabelo preto originalmente, que mudou depois que assistiu ao Gugu, onde uns carinhas tocavam pagode com o cabelo amarelo. No dia o apelido colou. Os mais chegados diziam que "Biro" sempre fora péssimo com as mulheres, de modo que ninguém acreditou quando viu a fulana a se insinuar. Ela mais parecia um abajur com genitália, tamanha era a discrição da sua saia e o sol reluzia nas coxas saradas pela academia que Totó havia montado, mas bem se sabia que seu exercício predileto era outro.

Todo mundo tão entretido com a presença da moça, que ninguém percebeu que o Totó (era assim que a FruFru o chamava) parou o discurso. Mais: parou o discurso, sentou e apoiou a cabeça chifruda na parede. Estava louco, e no meio da surpresa geral com a companhia do Biro-Biro (estavam juntos, mas ainda não tinham se beijado, observava o Totó), o próprio Biro foi até o toca-discos e falou "Baeh, mas essa música tá muito ruim."

Os acordes que se ouviu em seguida, mais os versos "Uh, vem cá meu gato/ larga dessa vida/ vem comigo pro mato/ vem fazê o vinda-ida" foram como uma revelação para o Totó, que nunca tinha gostado muito de ter apelido de cachorro (talvez por, no fundo, notar que a cadela da história não era ele...)

Já cansado, Oduvaldo levanta-se. Não aguenta mais ouvir sempre a mesma ladainha de Totó. Há anos ele ouve pacientemente os lamentos do corno. Dizem que FruFru e Biro-Biro nunca mais foram vistos, que ela casara-se com um rapaz muito parecido com Biro-Biro, só que com o cabelo moreno. Parece que moram juntos. E nessas horas, ao olhar Totó esboçando aquele choro enquanto cantarola os já fatídicos versos "Uh, vem cá meu gato/ comigo teu tempo espicha/ cachorro mordido por cobra/ tem medo de salsicha", Oduvaldo lembra como ontem, do dia em que pintou o cabelo de loiro.


(*) Texto escrito em parceria com o grande amigo Marcos Beck Bohn.

http://www.tijolao.cjb.net
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