ESSE SOLO que a enxada
fere não é meu quinhão.
Minha posse é o nada.
Nada de terra, nada de chão.
Sei que um dia um naco
de espaço terei. Um buraco
cavado na gleba, bem contado.
A conta desse corpo cansado.
Valei-me, meu Senhor.
Sei que no céu tenho porção.
Mas rogo, por amor,
que inda nessa vida
eu tenha meu torrão.
Pode ser terra curtida.
Não carece de esplendor.
Acaba com a aflição,
que o chão que a enxada
fere não é meu quinhão.
|