CANÇÃO PARA A CIDADE
Tereza da Praia
Brasília, minha ilha,
Cidade das minhas fantasias,
Bem cortada.; ruas largas, muitas magias.
Sem becos, sem vielas, sem trilhas.
Como um bem feito vestido
Vestes-me sob medida.
Não são as pessoas que te escolhem
Tu escolhes teus habitantes,
Aqueles que não tem medo, emigrantes,
Que se arriscam e seguem adiante,
Na busca do conhecimento.
Olhando teu livre horizonte
De um azul calmo e sereno
Vejo-te bem talhada e justa,
Nem grande e nem pequena
Sem quinas e sem esquinas
Roupa que a mim se ajusta.
Vi-te nascer da savana, da campina.;
Do planalto iluminado, coisa quase divina.
Acalentando o sonho encantado
De um povo que tinha ideal
De que esta terra era algo de celestial.
Vi tantos homens encanzinados
Virem fazer de ti seu el dourado,
Habitarem-te sem vontade
Esperando outra realidade.
A magia do poder, que em ti se descortina,
Atrai homens vazios, aves de rapina.
Que em ti só buscam interesses obscuros.
Encontram em ti sequidão.
Reclamam da solidão.
Aqui não planejam futuro.
Vão-se embora sem saudades.
Tu não fostes cortada para homem qualquer
Só para o homem de visão grandiosa
Que não cheira a brilho e a cobre, cidade-mulher.
Fostes cortada para quem te abraça, carinhosa.
Como fosse roupa cortada em malha
Que o corpo modela, ajusta e agasalha,
Tu me vestes feito pele que adere,
Com os meus gestos não interfere.
Pareces tão profundamente natural
Perdeste todo o trejeito artificial
Banhei-me no teu lago
De água morna, um afago
Com mais intimidade
Do que quem anda pelo quarto,
Que por todo resto da casa.
Com a intimidade do sutiã e da calcinha
Mas que outras vestes que descarto.
Brasília, para mim tu és viva e és vida.;
Onde eu encontro guarida
E tenho a minha vida sob a medida
Do seu próprio corpo,
Do meu próprio traçado,
Do meu seguro porto.
Tereza da Praia
Série: Cenas Insanas.
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