Balada (*)
De que me vale sonhar
Se, na vida, sinto a morte?
Nada tenho de pesar,
Jamais fui de reclamar
Nem maldigo nunca a sorte.
Só programo, neste mundo,
Uma cova bem sombria
Onde reflita o luar.
Uma trova, uma poesia,
Flores simples no lugar.
Se amanhã Deus me levar,
Deixo aqui o meu pedido
Pra inscrição tumular:
"Eu, que tanto quis amar,
Percorri, despercebido,
O caminho tentador,
Que, de certo e tristemente,
Transportou-me ao lupanar."
Faço, ainda, outro pedido:
"Não venha ninguém chorar!"
Bastante humilde na vida,
Em tempo algum sonhei glórias
Inalcançáveis... Na lida
Diária, me foi consumida
A esperança de vitórias.
Acompanhou-me o fracasso:
Assim, Deus me destinou.;
Asim, fui minha querida!
Das ilusões tão inglórias
Ficam: saudade e ferida.
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(*) Brasília, DF, 31/12/1963. |