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Textos_Religiosos-->LIÇÕES E INVESTIGAÇÕES DOUTRINÁRIAS -- 28/02/2005 - 14:46 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER











LIÇÕES E INVESTIGAÇÕES DOUTRINÁRIAS




AMIGOS DAS BOAS INTENÇÕES


















Edição da CASA DO MÉDIUM

Rua Cinco de Julho, 1184
Indaiatuba — SP



ÍNDICE


Nota explicativa ......................................
Abertura ..............................................
Em tempo .........................................

PRIMEIRA PARTE — DESENVOLVIMENTOS TEÓRICOS
1. Vencendo as tentações .................................
2. Roteiros incompletos ..................................
3. Positivamente mau .....................................
4. A virtude da solidariedade ............................
5. As pessoas são como são, mas precisam melhorar ........
6. Desafogando as tensões ................................
7. Caridade acima de tudo ................................
8. Calafrios .............................................
9. Os números impressionam ...............................
10. Mentes desanuviadas ...................................
11. Mensagens anímicas ....................................
12. Das previsões .........................................
13. Olhos vendados ........................................
14. A escolha da religião .................................
15. Queda de braço ........................................
16. O principal e o acessório .............................
Comentário .......................................
17. Devoção justificada ...................................
18. De ânimo alevantado ...................................
19. Rompendo princípios ...................................
20. Dever cumprido ........................................
21. Senhor!, Jesus! .......................................
Aconselhamento final ..................................

SEGUNDA PARTE — TESTEMUNHOS
1. Malandro contumaz .....................................
2. Remedo de felicidade ..................................
3. Falência total ........................................
4. Sofrimento indesejado .................................
5. Dor inconsolável ......................................
Em tempo .........................................
6. Pequenos crimes .......................................
7. Caprichos de ricaço ...................................
8. Choro convulsivo ......................................
9. Avisos esquecidos .....................................

TERCEIRA PARTE — MISCELÂNEA
1. Ecumenismo ............................................
2. Corpo de baile ........................................
3. Convite à psicografia .................................
4. Pedido inusitado ......................................
5. Preparação para a morte ...............................
6. Dia de estudo .........................................
7. Regra áurea ...........................................
8. Da qualidade dos textos mediúnicos ....................
9. Tempo e saber .........................................
10. Compromissos de vida ..................................
11. Luz e som .............................................
12. Em nome do Pai ........................................
13. Em tudo existe amor ...................................

Hora da Despedida .....................................







NOTA EXPLICATIVA





Lições e Investigações Doutrinárias, sem dúvida, é título assaz pomposo para as breves anotações de aulas e demais trabalhos evangélicos de nível escolar que ousamos passar medianimicamente. Contudo, não sentiremos pejo em permitir a publicação deles, porque estamos convencidos de que muitos irmãos se ressentem da falta de informações, quando ingressam na Escolinha de Evangelização.
Dividido o roteiro em três partes, executamos o serviço sob rigorosa vigilância dos mestres, sem titubeios organizacionais, conforme se poderá constatar, sabendo-se que a reprodução dos textos manteve a cronologia dos ditados. Devemos, porém, consignar que a elaboração das mensagens se deu em função das aulas, em situações muito diversas, o que importará em concluir que a turma dos Amigos das Boas Intenções coroou o curso através da magnetização, da transmissão e dos debates relativos às tarefas mediúnicas.
Poupando o escrevente, informamos que a ocupação nos tomou o período de 28 de julho a 22 de setembro de 1993.

Rogamos ao Senhor que nos ampare a todos e nos dê paz, para enfrentarmos, de alma branda, as vicissitudes atinentes ao empreendimento.







ABERTURA





Não nos parece demasiado claro o modelo que recebemos para nos orientarmos nesta hora de psicografia. Não temos traquejo com o sistema de transmissões, mas julgamos oportuno deixar os pensamentos passarem incólumes da excessiva emotividade que estamos emitindo.
Como amostragem do que se pretende do grupo, pareceu-nos estar maravilhosamente impressa na tela do computador o início da mensagem, até um pouco mais do que tínhamos em mente, principalmente no que tange à perfeição datilográfica que se pode conseguir por meio das correções, conforme nos foi mostrado pelo mediador.
Temos, pois, a grata satisfação de saber que os dizeres que exprimirmos de forma muito rudimentar alcançarão tradução eficiente e nítida através do cérebro do médium. Como estivemos em diversos centros para manifestações psicofônicas, julgávamos que haveria maiores dificuldades, quando intentássemos deixar o registro das informações, já que os modelos da expressão oral se afastam do desempenho que se requer na escrita.
Mas vamos deixar de lado esta admiração inicial, para referir-nos à programação que está estabelecida para nós.
Em primeiro lugar, devemos dar a alcunha que nos atribuímos, pois, sem falsa modéstia, julgamos que deve a equipe denominar-se de Amigos das Boas Intenções, uma vez que pretendemos deixar os registros dos ensinos evangélicos que estamos lutando para aprender na Escolinha de Evangelização. Como sabemos que de bem intencionados o Inferno está cheio, não vamos prometer muita coisa, a não ser bastante boa vontade e esforço. Esta mesma comunicação deve seguir o modelo que vivenciaremos, pois a mais que isto não iremos atrever-nos, o que julgamos ser avanço importantíssimo para as pretensões do grupo.
Modéstia demais às vezes faz mal, pois pode impedir de nos fazermos conhecidos, contudo, não iremos avançar em elogios, se dissermos que temos conhecimentos de mérito em fatores importantes para os humanos. O que nos falha, evidentemente, é o procedimento evangelizado, ou não estaríamos cumprindo estas tarefas elementares.
Fiquemos de vez convencidos de que o trabalho é sacrificial e que há necessidade de superarem-se as idéias negativas, já que os humores das pessoas são extremamente instáveis e os dos espíritos submissos ao aprendi¬zado do socorrismo, por demais pacientes. Se, entretanto, fugirmos, às vezes, da regra geral, é porque gostaríamos de ver os amigos mais propensos ao bem e à felicidade espiritual.
Nosso mestre é o Professor Belarmino, novo nestas funções e, por isso, supervisionado diretamente por Maciel, nosso preclaro orientador geral, o qual está pessoalmente interessado em que os ditados deste grupo se realizem com pleno êxito, para dar ao mediador banho de ânimo e de afeição.
Tudo o que dissemos é fundamentado na verdade mais rigorosa, devendo os leitores saber ler nas palavras, deixando de lado as entrelinhas, as quais, sabemos, sugeririam conclusões bastante diferentes. Em todo caso, é cedo para qualquer elaboração conceitual a respeito do grupo e das diretrizes que nos foram fixadas, bem como do trabalho. Por ora, queremos deixar consignado que estamos muito felizes com o resultado desta manifestação.
Quanto ao fato de ser consciente ou semiconsciente ou mecânica a psicografia, não nos dá qualquer estremeção, pois faremos o melhor que pudermos, dando ao médium condições plenas de apanhar o ditado, segundo as próprias tendências mediúnicas. Não queremos treiná-lo mas mantê-lo ativo e despertado para a importância da mediunidade. Nossa tarefa, neste aspecto, nos parece de bastante fácil realização, já que pautamos a transmissão pelo padrão mais habitual, não prometendo qualquer surpresa ao mediador.
Fiquemos alegres pela vida e façamos de tudo para sermos bem sucedidos, na paz do Senhor.



Em tempo.


Não queremos deixar a falsa impressão de que estamos preocupados com o desempenho do médium. Sabemos de sua integridade moral em relação ao Espiritismo, de forma que estamos rogando muito ao Senhor para que nos ampare a todos nós, para que o trabalho frutifique e se torne bom alimento espiritual para muitos encarnados.
Não temos dúvida quanto à necessidade da publicação, ao contrário das turmas anteriores, mesmo que os textos não se apresentem literariamente dignos. A nós nos basta o esforço que faremos para transmitir as melhores idéias no campo da evangelização dos encarnados.
Também nada prometemos neste sentido, mas não seremos ingênuos de tentar passar modéstia que absolutamente não temos, pois seria injuriar a inteligência dos leitores. Caso não obtivermos sucesso, com a mesma liberdade de expressão cá voltaremos para dizê-lo francamente, desobrigando o amigo médium de carregar o peso desta pretensão.
Por outro lado, estamos estendendo-nos um pouco mais para resolver probleminhas na magnetização ou na infiltração de fluidos no campo cerebral do companheiro encarnado, uma vez que não pretendemos perder tempo mais tarde com aspectos secundários, embora, para muitos de nós, seja impossível oferecer préstimos neste campo. Mas pretendemos assumir também essa tarefa, agora sustentada por alguns amigos mais experientes.
Não é ótimo, quando se adquire segurança e descortino, de forma que tudo possa ser providenciado de maneira a mais correta possível? Façam vocês, amigos, o mesmo, e não deixem para compreenderem amanhã o que podem aprender desde já.













PRIMEIRA PARTE



DESENVOLVIMENTOS TEÓRICOS

















1

VENCENDO AS TENTAÇÕES





Quando estipulamos ao médium que deveria auxiliar-nos com os ditados, não o queríamos inerte, posto certa passividade seja conveniente. Entretanto, ao lhe solicitarmos para que descansasse antes da transmissão, negou-se, afirmando que estaria bem e que nos daria integral assistência. Se fosse forçoso ficar em repouso, por alguma razão nossa, iria, com total harmonia d alma, sem oferecer resistência.
Estamos aproveitando-nos do fato para o comentário inicial da programação, pois o trabalho dos médiuns é essencial, para que possam os espíritos notificar aos encarnados o que lhes vai no coração e na inteligência.
Se aproveitamos o ensejo para dar roteiros de permanência ativa no posto de recepção mediúnica, também vamos insistir para que o escrevente não deixe de repousar um pouco, para podermos dar-lhe íntimos conselhos, buscando influenciá-lo positivamente, no sentido do direcionamento que estamos imprimindo aos textos. Não lhe parece claro que algo deve estar subjacente ao desejo manifesto do grupo? Pois, então, não hesite mais e se dê por inteiro ao trabalho, vencendo as tentações às resistências, mesmo quando os pedidos parecerem incongruentes.
É evidente que não iremos orientá-lo no sentido de acatar todas as sugestões, pois há o risco de cair em mãos irresponsáveis, a ponto de ofender os princípios do bom relacionamento mediúnico, trazendo insegurança e, portanto, razões de afastamento da mesa evangelizada pela caridade e pela assistência espiritual.
Vamos ter de prevenir a todos em relação aos perigos que correm quando se entregam a mãos não totalmente confiáveis.
Neste ponto dos trabalhos, parece-nos ter ficado claro que as informações que vamos passando estão eivadas de cuidados e de temperança, com meticulosos avisos de prudência, para que se não descaia da atitude de otimismo e de fé nos abalizados mentores que se apresentam para o fornecimento das diretrizes, na vigilância incessante, para que todos os elementos doutrinais estejam sendo vistoriados, mais ainda, filtrados pelo conhecimento superior dos responsáveis pela configuração da honestidade, da lealdade e do amor que deve haver nestas tardes de psicografia.
Havemos, por outro lado, de advertir para o fato de que não estamos inteiramente satisfeitos com o próprio desempenho, uma vez que imaginamos executar certas construções frásicas que não vemos estar sendo consignadas pelo mediador. Não que haja qualquer problema quanto à honradez e a fidalguia das expressões com que se traduzem os pensamentos. Mas acontece que o colorido de nossos termos está recebendo tonalidades mais pálidas, dado que o amigo teme pela configuração de imagens demasiado ousadas.
Estamos a citar este aspecto apenas para deixar expresso o outro lado do que vínhamos pregando, ou seja, o excesso de zelo pode vir a desagradar o comunicador, o emitente, o transmissor, o espírito que diligenciou para que tudo pudesse dar o mais certo possível, no sentido, principalmente, de se oferecer texto que não deixaria jamais de receber o indulto dos editores, para que venha a fixar-se em letras de forma para a editoração almejada.
Ser prudente, leal e honesto, requer também um pouco de euforia, por estar mantendo-se contato com o plano da espiritualidade. Mesmo que não haja certeza quanto à qualidade moral dos espíritos, só o fato de se saber atendido por forças da espiritualidade deverá ser motivo de orgulho íntimo, pois haverá razões para se pensar entusiasticamente a respeito dos procedimentos mais de acordo com os atributos que se devem transportar para o etéreo, ao término da jornada vital.

Eis como se põem as coisas nesta fase inicial das transmissões. Pode parecer que iremos passar o tempo a dar recomendações ao médium. Mas o que pretendemos, realmente, é proceder a diversos desenvolvimentos que possam servir para o despertar para as verdades e as responsabilidades do mediunismo. Vencer as tentações, portanto, é estabelecer critérios saudáveis e seguros para a melhor postura mental, emocional, moral ou espiritual, para estes momentos de alheamento das circunstâncias materiais. É premunir-se de argumentos valiosíssimos para permitir-se que haja vínculo sutil entre os planos, de molde a favorecer a passagem das experiências dos que se iludiram na carne, mas que reformaram o seu parecer a respeito da existência, a ponto de vir trazer aos encarnados a palavra de aviso, o dom da comiseração, o reflexo do amor e as qualidades da virtude.
Não desejem, caríssimos, ficar sob o domínio das forças da malignidade, mas também não ofereçam resistência aos que estão com as melhores intenções (não fosse este o grupo dos Amigos das Boas Intenções). Como distinguir a malícia, a hipocrisia da verdade e da boa vontade? Aí há que se instruir nas sacrossantas páginas dos livros da Codificação Kardequiana, mormente n O Livro dos Médiuns, onde todos os dados são fornecidos para o reconhecimento das virtudes e dos vícios das transmissões.
Fizemos a obrigatória profissão de fé doutrinal, o que nos categoriza como integrados aos objetivos da Terceira Revelação. A partir de agora, hão os leitores de estar atentos para todas as palavras, para verem se não desdizem dos roteiros estabelecidos nas principais obras do Cristianismo Redivivo, que é, no fundo, como deveria ser reconhecido este movimento estabelecido desde as alturas pelos espíritos benfeitores da Galáxia (para utilizarmos termo mais abrangente do que Sistema Solar, e menos que Universo, uma vez que estamos preocupados em delimitar o adiantamento dos irmãos administradores ao âmbito possível de intelecção da parte dos mortais).
Como não desejamos ultrapassar certos limites, vamos conter este ímpeto de tudo informar de prima, para que os trabalhos não avancem demasiado celeremente, o que arruinaria os planos estabelecidos pelos mentores. Está o Professor Belarmino a sugerir padrões de procedimento que iremos adotar, sem dúvida, para facilitar as transmissões, uma vez que o mediador está por demais solto, dando vazão a muitas intuições paralelas que lhe vamos passando para que mantenha a mente desperta para a verdade dos dizeres. Como não está adaptado a este tipo de orientação, vai escrevendo tudo que lhe chega ao cérebro, não atentando para dados que lhe serviriam apenas para consignar a expansão mediúnica que deveria dar ao texto. Vejam, logo acima, as explicações que registrou em relação ao termo Galáxia. Não lhes parece que tais informes contrariam o roteiro textual? Ou acreditam que podem estar ali para exemplificar o elemento que vínhamos dando como dispensável?
A partir de agora, pedimos ao médium que não vá muito rápido nas batidas, aguardando um pouco mais, da mesma forma que faz ao apanhar poesia (ou prosa metrificada, como nos sugere). Estamos admirando o novo sentido possível de dar-se à composição, diante do maior poder de influenciação que a baixa velocidade permite. Avolumam-se os termos de significações parecidas, a ponto de podermos escolher dentre vários o mais adequado para exprimir sensatamente a idéia que nos dispusemos a transmitir.
Aproveitando o ensejo, vamos recomendar ao amigo que, como nós, vença a tentação de ficar a tarde toda dedilhando nas teclas, uma vez que toda mensagem atribuível aos alunos da Escolinha de Evangelização deve conter certos ingredientes mínimos e máximos, dando-lhe aquele equilíbrio próprio de quem sabe manter-se fiel ao texto preparado, não vivenciando as experiências do momento psicográfico.
Se não lhes parecerem ricas as sugestões desta manifestação, voltem aos estudos e dêem à concentração prévia maior importância, facultando aos benfeitores da espiritualidade que executem a melhor magnetização, para que o trabalho se aproxime o mais possível das intenções dos mensageiros. Não estará aí o maior problema dos que principiam a trabalhar mediunicamente? Vamos pensar seriamente nisto, pois a chave do perfeito contato com o etéreo deve situar-se no âmbito dos encarnados, para que se filtrem os sentimentos e os pensamentos dos que querem demonstrar que a existência continua após a morte, sob os auspícios de Jesus, com as bênçãos do Pai, abrindo-se a perspectiva da eternidade, em crescente progresso, rumo à perfeição.







2

ROTEIROS INCOMPLETOS





A maior parte das vezes, os encarnados que têm o dom da mediunidade recebem belos ditados, mas não atinam com a importância dos dizeres, precavendo-se contra o que chamam de más tendências das trevas, de sorte que não dão continuidade aos trabalhos, no temor de que possam vir a ser iludidos.
Uns poucos médiuns corajosos, que enfrentam inúmeras peripécias mentais, conseguem argamassar textos em seqüência, de molde a facultar às equipes terminar os projetos, quase sempre organizados no campo curricular das escolas que freqüentam.
Estamos a referir-nos a tal fato, pois, conforme tendência universal, até este escrevente tem estado bastante distante das tarefas rotineiras, por íntimo cansaço, já que grandes acontecimentos não estão ocorrendo por meio de sua pena. É reação natural, espontânea, compreensível e até previsível. Ótimo em sua estrutura mental é o desejo de não possibilitar soluções de continuidade, de modo que não tem interrompido as sessões, como seria de se esperar em quem tem estado tão pessimista, para utilizarmo-nos de termo um pouco forte, na descrição das contrariedades que lemos em seu coração.
Evidentemente, pela recordação dos textos transcritos com maior ou menor fidedignidade, julga o amigo que seria injusto julgar-se ao desamparo dos mentores da Escolinha de Evangelização. É que o excesso de comunicações de alunos tem feito com que desacredite que possam os mensageiros consignar textos úteis para os encarnados, na outra ponta da corrente caritativa formada pelos elos do socorrismo evangélico.
Crê-se em débito, tendo em vista não ter destinado mais tempo à psicografia ou ao Espiritismo, e, por isso, não deixa de apresentar-se nos horários combinados. Contudo, fá-lo por automatismo, por obrigação, por hábito e por saber que sentirá fatídico vazio, se ficar alheio aos apelos provindos da espiritualidade.
Mas os textos estão a desagradá-lo, particularmente porque tem freqüentado as obras mediúnicas de autores consagrados, considerando-se incapacitado para a transcrição de mensagens de igual valor doutrinal. Este mesmo texto, todavia, está a empolgá-lo, pois desconsiderara previamente a possibilidade de que os temas pudessem suceder-se organizadamente, como no caso do romance que lhe foi ditado e cuja demora na editoração o mantém um tanto desiludido.
Dando continuidade às observações da turma anterior (Ver Espiritismo para os Simples, pela Falange dos Imortais), cá voltamos à análise mais percuciente das reações do mediador, não tanto para infernizar-lhe as perspectivas de mais livremente exercer os dons mediúnicos, mas para favorecer o exame das mesmas atitudes por outros médiuns.
Estamos a falar de roteiros incompletos, o que não se dá nem jamais se deu com o companheiro que nos assiste. Eis que o objetivo se amplia para além destas quatro paredes, favorecendo a que mais pessoas se vejam diante de si mesmas, para a franqueza das revelações da vontade, muitas vezes não claramente conscientizada, arrumando série de incontáveis artifícios para fugirem à obrigação do compromisso assumido, não definido expressamente, porém, através do vigor, da importância e da beleza literária dos textos que produzem.
Estamos levando o amigo em perigosa meia magnetização, para que tenha noção demarcada do texto que está transcrevendo, na intenção de dar-lhe conhecimento imediato das observações que lhe desejávamos passar, para que nos forneça argumentos ou provas para mantermos o ponto de vista esposado. Por outro lado, na tentativa de opor-se a estas palavras, dará ensejo a que lhe enfileiremos os pensamentos que nos proporcionaram as conclusões acima aludidas.
Contudo, não está capacitando-se a argüir o mensageiro, tanto se esmera para que as frases se componham com exatidão, não se importando com o fato de estarmos a desnudá-lo para posteriores reflexões. É sábia atitude de quem está muitíssimo acostumado a cumprir a diretriz estabelecida, segundo a qual deve o médium trabalhar durante as sessões, reservando-se o direito às apreciações críticas no momento do estudo do texto, com vistas a torná-lo público.
Fica muito contente que tenhamos feito referência a este tipo de deliberação interior, pois julga que tudo o que lhe pudermos trazer poderá servir para aperfeiçoamento espiritual, moral ou simplesmente técnico, no âmbito das aprendizagens que tem em mira, através da diversificação das atividades mediúnicas. Não ficando horrorizado com o teor do texto, dá-nos motivo para fazer a pregação do isolamento emocional aos que, novatos na tarefa, estejam preocupados com os próprios sentimentos mais do que em oferecer préstimos aos benfeitores espirituais.
Sabemos que não podemos exceder-nos em elogios para não só não corrermos o risco de perdê-lo por vaidade, como também demonstrar, aos que conhecem as recomendações de Kardec e dos espíritos mais evoluídos, que praticamos o Cristianismo Redivivo, nas mesmas bases que fundamentaram a Codificação.
Pede-nos o irmão que encerremos a mensagem, em primeiro lugar para não torná-la muito longa, aborrecendo os leitores, e, depois, para que a suspensão corresponda ao título, fazendo este pequeno roteiro incompleto, na expectativa de que as próximas comunicações lhe dêem seqüência temática, configurando o fato de que estamos empenhados, realmente, em conduzir a escrita de modo sistemático, cumprindo rígida programação.
Não iremos aceitar a sugestão por constituir-se em desafio, mas por estarmos de acordo, segundo razões nossas, intrínsecas à preparação socorrista dos Amigos das Boas Intenções. Só queremos consignar que não deve o mediador deixar-se influenciar negativamente pelas palavras de censura, mas que pense em que tudo o que fizer neste horário deve atribuir à responsabilidade dos mentores da Escolinha. Isto facultará harmonia entre pensamento e sentimento, de maneira que prosseguirá inabalável nas intenções de prestação de serviço, na tentativa mais que justa de corresponder aos anseios cristãos, no amor pelos companheiros desencarnados necessitados de cooperação.
Deixemo-nos estar felizes e seguros nas mãos de Jesus!







3

POSITIVAMENTE MAU





Como é que a maldade pode ser positiva? Pois não é isso que o título sugere?
Vamos pensar nos momentos de desafogo que temos diante de pessoas que merecem ser censuradas por atos contrários ao bem comum. Tal é o caso, por exemplo, dos juízes, nos tribunais, obrigados a enfrentar os criminosos. Cansados da relutância na aceitação das verdades morais, magistrados se zangam e lançam verrumidades verbais de desconjunção contra as empedernidas criaturas.
Se formos analisar friamente a atitude de verberação, poderemos considerá-la profissional e evangelicamente falha, ruim, má. Entretanto, é tão grande a ascendência da grada personalidade que, mesmo não alcançando resultados em relação ao sujeito a que se endereçar, poderá, com a descompostura, influir positivamente no ânimo de outras pessoas mais dóceis à evidência das boas razões da justiça.
Enfim, para não ficarmos a verbalizar inutilmente, lembremo-nos da atitude do Cristo junto aos irmãos vendilhões do templo.
Como é que vêem os confrades estas assertivas? Julgam que estamos intentando fazê-los carneiros para o matadouro? Será que estão a vislumbrar argumentações próprias para o assédio moral, a ponto de subjugá-los para o redil do Espiritismo? Terão prevenção contra a malícia dos que almejam evidenciar as forças messiânicas necessárias para o convencimento de que Jesus é o Cristo da salvação da humanidade?
Se houver dúvidas quanto ao procedimento moral nos Amigos das Boas Intenções (que não nos percamos pelo nome!), como proceder para conhecer a verdade das afirmativas, quando o grupo joga com as palavras, levando o pensamento a descambar para os malabarismos silogísticos, como no caso da sutileza do título, necessitado de interpretação para a configuração de que não se está jogando os conceitos atrabiliariamente?
Simplesmente, acreditando que as verdades acabam sendo simples, dadas as explicações buscarem o entendimento mais comum, por meio da edificação silogística fundamentada nas razões insofismáveis que apóiam os ensinamentos cristãos. Contudo, havemos de prevenir que intelectos muito rústicos não alcançam logo o conhecimento, como expunha o Mestre aos discípulos, ao lhes explicar os verdadeiros sentidos das pregações.
Tudo deve ser absolutamente claro nas intervenções de caráter espiritual, para que não se corram riscos interpretativos, capazes de ilustrar a malícia dos exegetas, no convencimento dos simpatizantes, por natural tendência à liderança e ao carisma.
Fatos como o que estamos trazendo à baila para as reflexões dos amigos se dão constantemente junto a quem tem o hábito de levar ao pé da letra todas as informações, como no caso das citações bíblicas que se repetem, para que o povo se maravilhe e deixe de raciocinar com os dados da realidade moral do amor, da caridade, da fé, da esperança e demais virtudes.
Em suma, para concluir, fazer o bem está sempre um passo adiante de qualquer desenvolvimento textual, mas o pensamento e o sentimento de quem pratica esse bem devem encontrar subsídios na naturalidade com que os ensinos de Jesus se transformam em doces vicissitudes.
Com tal espírito de benemerência, não será impossível conceber-se que tais pessoas possam vir a tomar atitudes positivamente más.







4

A VIRTUDE DA SOLIDARIEDADE





Se tivermos a felicidade de encontrar quem nos queira bem, quer por simpatia, quer por pequenos interesses recíprocos, à vista da boa vontade do relacionamento, levantemos as mãos aos céus para agradecer o apanágio do recebimento da solidariedade como algo bastante bem definido, nos atos e nas palavras. O que ocorre com mais freqüência é termos quem nos queira sobrepujar em tudo, não nos deixando vencer querela alguma, como se perder no orbe fosse vergonhoso, indigno, próprio dos seres rastejantes da marginália social.
Pessoas bem sucedidas não levam desaforo para casa, mesmo que no âmbito das pequenas idéias, como se saber qual a melhor escalação para o time de futebol do país fosse bem de inatingível grandeza.
Perdoem-nos a ironia que chega às raias do sarcasmo, mas a nós é impossível considerar como sérias as posturas das pessoas que temem, por exemplo, não estar na última moda, para não darem que falar às comadres e vizinhança.
Baste-nos vir à presença dos amigos para dar-lhes francamente a nossa opinião, fazendo corresponder a tais sentimentos o da solidariedade, que vemos tão em falta junto aos terrestres.
Claro está que estamos exagerando demais nas observações, mas a generalização é promitente da verdade, nestas circunstâncias, uma vez que companheirismo inocente e puro é peça de museu, nos relacionamentos humanos. Exemplo utilíssimo para a configuração do que vimos dizendo é o fato de serem raríssimos, estratificadíssimos, os comerciantes que primam pela justeza dos preços, no pensamento de que a margem de lucro deva estar limitada pelo real poder de compra da freguesia.
Se formos levar adiante a dissertação, reiteraremos a exemplificação, demonstrando cabalmente a tese que esposamos. Mas cabe aos leitores multiplicar os fatos comprobatórios da assertiva inicial, tomando a iniciativa de se solidarizarem conosco nas vibrações que emitimos, em torno do ideal da confraternização evangélica universal.
Se tivermos de enfrentar casos palpáveis de expressas injustiças relativamente às nossas necessidades, perante as vicissitudes próprias do organismo carnal, ousemos relevar as atitudes de afrontamento da virtude da solidariedade, fazendo como Jesus, que indicou o caminho para a supremacia moral do mais fraco: ofereçamos a outra face, caminhemos outra légua, deixemos também a manta...
Tememos pela simplicidade deste tipo de comunicações, mas, como dissemos, quando as explicações se fazem claras e insofismáveis, tudo parece adquirir a pureza da inocência, no mais belo sorriso infantil de agrado e regozijo, pela felicidade e pela paz eternal que sentem nos afetuosos braços dos pais.
— São ignorantes!, explodirão alguns.
— São, sim! — concordaremos. — Mas não há como considerá-los, biológica, filosófica, física e mentalmente, por completo íntegros dentro das possibilidades psíquicas. Resta-nos perguntar se o adulto, só por ter outros prismas existenciais, não terá a mesma possibilidade de realização absoluta, dentro do relativismo de suas capacitações.
Iremos longe na discussão, certamente. Mas se houver quem queira desenvolver as refutações, certamente, pelo fato, irá concordar conosco em que isto também, por sua vez, é demonstrar extrema solidariedade, no esclarecimento definitivo dos pontos em debate.
Outro malabarismo silogístico se põe diante dos olhos dos leitores. Esperamos que não se cansem do raciocinar sobre bases mais instáveis, como em perigosa jornada doutrinal.
Em suma, queiram-nos bem, mesmo que desinteressados pelas mensagens e pelas argumentações que as fundamentam. No mínimo, abram os olhos para esta espécie de contato espiritual, para não pensarem que os do etéreo só tenham como ocupação tocar harpa ou lutar nas trevas contra os terríveis pendores do egoísmo. Eis que nos propomos a demonstrar que as investigações, no campo das sutilezas evangélicas, são necessárias, são fundamentais, para que o crescimento espiritual se harmonize nos aspectos racionais e sentimentais.
Que tudo o que trouxermos à consideração dos terrestres seja a viva evidência de que nos preocupamos, na justa medida, com que os companheiros encarnados não se percam nos descaminhos da prepotência intelectual, arrogantemente afirmando que tudo têm condições de aprender. Ouçam a palavra de prudência dos que estão do outro lado do mistério, para que não se vejam surpreendidos por intrincados pensamentos, que complicarão sobremodo, depois, o deslindamento das causas e efeitos dos atos praticados durante a vida.







5

AS PESSOAS SÃO COMO SÃO, MAS PRECISAM MELHORAR





Fugindo das normas de adequação dos indivíduos aos trabalhos de contato com a espiritualidade, vamos pensar um pouco nos roteiros da virtude, para que todos possamos progredir, já que, como sugere o título, ninguém deve pretender continuar sendo o que é, mas aspirar ao aperfeiçoamento de todas as qualidades, além da eliminação de todos os defeitos. E quem não os tem?
Em primeiro lugar, a humildade surge como imprescindível para a aceitação do livre exame da consciência, da personalidade ou, simplesmente, dos hábitos. Ser humilde, contudo, não é fácil, pois, se o indivíduo não contiver tal ingrediente moral na psique, é porque está flanando pelo mundo, com o distúrbio emocional contrário. Assim, há que fazer força para conceber intelectualmente o que, com toda a certeza, está sendo controlado sentimentalmente. É como se devesse tomar consciência do que se passa nos arcanos da mente, qualquer seja o nome que se atribua ao local de instalação dos comandos da personalidade não dominados pela vontade.
Fizemos rodeios para não sermos acusados de favorecimentos de determinadas teses psicanalíticas, pois o que nos interessa são os aspectos morais e espirituais dos ganhos a que procederão, através da conduta amparada pelos princípios evangélicos.
Se o bem da individualidade está na base da aquisição da humildade, haveremos de propugnar que tal bem se espalhe pelos demais membros da comunidade, quer familial, quer socialmente considerados. É assim que vamos sustentar que a humildade estendida às demais criaturas passa a denominar-se altruísmo, o qual tem a contrapartida no egoísmo. Se é de fácil ilação o que vimos afirmando, muito dificultoso será concluir pela vantagem de se estender aos semelhantes os bens que possuímos, quando agimos preponderantemente em proveito próprio. De novo o esforço deve voltar-se para a derrota das resistências íntimas.
Não será ilógico fazer decorrer das observações acima que a necessidade do conhecimento está na base de todo progresso, o que nos leva a outra atitude fundamental para as transformações que se deverão operar no caráter: o desprendimento relativo às futilidades, para a devida aplicação energética em prol da aquisição, em bases científicas, de todos os princípios que dão impulso aos movimentos cósmicos, sejam leis, sejam eventos associados, sejam atributos dos espíritos, sejam diretrizes de comportamento, como a atenta leitura desta página está a fomentar.
Não queremos esgotar o tema em simples dissertação inicial. Que nos seja permitido suspender o tópico neste ponto das investigações conceituais, para favorecer aos leitores o despertar das outras maravilhas da pregação cristã, no sentido de amparar a tese que levantamos. Para tanto, há que pensar humildemente, altruisticamente, acentuando os pontos defasados, segundo o atual parecer, para começar daí as reformas necessárias.
Se assim pensamos, é porque temos fé em que as pessoas vão conseguir atingir o ponto ideal, para se sentarem ao lado direito do Mestre. Não será essa a sutil esperança que se formou, mediante a promessa do Senhor? Se, por outro lado, a postura que adotamos se confundir com a prepotência de quem arbitrariamente se conduz pelos informes truncados, para a perturbação dos circunstantes, não admitindo os confrades que lhes peçamos justamente o que deveríamos oferecer, que se obriguem a perdoar-nos, que assim se fundamentarão na virtude essencial do Espiritismo: a caridade.
De um modo ou de outro, vamos expondo o ponto de vista de quem já palmilhou ásperas estradas no orbe e agora está determinado a facilitar o encaminhamento mental dos encarnados para a solução, em definitivo, dos problemas que, normalmente, os afligem, por não estarem confiantes na continuidade existencial individualizada após a morte do corpo.
Estamos muito longe da perfeição redacional, mas vamos buscando deixar de errar e de confundir, pois não aceitamos ser como somos; antes, pretendemos aperfeiçoar até este aspecto essencial das comunicações que se dão através da psicografia, para, inclusive, facilitar a vida do escrevente, que se está vendo atrapalhado com os descaminhos que os pensamentos vão tomando, como se houvesse atalhos intelectuais, na tentativa de fazer valer o ditado de que para bom entendedor...
A maior alegria destes Amigos das Boas Intenções será, ao término das leituras, encontrar solicitações de acompanhamento para o desenvolvimento dos raciocínios, nas reflexões filosóficas ou religiosas que se efetuarão com base no roteiro desta obra.
Graças a Deus, temos tido a oportunidade de trazer tão direta e livremente as lucubrações que efetuamos, por força das lições que temos de aprender. Que nosso esforço surta bom resultado, pelo menos no sentido da demonstração de que temos tido de vencer imensas dificuldades, pela falta de hábito do reto raciocinar a respeito da Verdade, já que sempre nos interessamos pelas vitórias a todo preço, até quando sacrificávamos a consciência, a ponto de sufocar as normas silogísticas, para a soberania da opinião.
Que esta declaração se integre no corpo dissertativo da mensagem, para a aferição de que estamos cuidando de agir o mais humildemente que podemos, na configuração do exemplo que temos de dar de como devem comportar-se os companheiros encarnados, no momento em que deliberarem aperfeiçoar as qualidades.
Há sutileza neste desenvolvimento textual? Sim, sem dúvida. Mas acreditamos que superável pela aplicação dos ensinamentos de Jesus. Ou não?







6

DESAFOGANDO AS TENSÕES





Todos temos momentos de apreensão, por força de tomarmos consciência de que nem tudo que fazemos ou que fazem em relação a nós está perfeitamente enquadrado no evangelho de Jesus. Muitos, porém, exageram nas expectativas desagradáveis, em total descompasso com as promessas do Mestre, que nos deu a certeza de que todos evoluiríamos, quando estivéssemos cônscios dos seus ensinamentos. Claro está que estamos pondo em jargão espírita o que se consignou nas Sagradas Escrituras de forma bastante velada.
De que valerá o medo de errar ou de sofrer as conseqüências dos erros alheios (a culpa adâmica até agora perturba a imaginação dos homens), se depositarmos os corações nas mãos do Pai, que cuidará para que tenhamos o melhor sucesso nos empreendimentos que realizarmos sob a chancela do bem, em prol dos semelhantes?!
Temamos, sim, o desarrazoado orgulho, a falaciosa vaidade, o terrível egoísmo, quando exigirmos de Deus que nos perdoe a cada passo errado, como se fora atribuição dele atender-nos às exigências da vontade pueril com que nos acostumamos a alcançar tudo nos relacionamentos sociais, por força de possuirmos mais que os outros.
Evitemos participar de grandes empresas de fomento materialista. Ajudemo-nos espiritualmente, favorecendo o conhecimento da verdade eterna que nos é dado entrever pelas palavras sacrossantas do Senhor e pelas exposições lúcidas do Espírito de Verdade. Resgatemos as informações mais puras dos mensageiros e benfeitores espirituais, nas diferentes manifestações, aprendendo a analisar pelo escrínio rigoroso da ciência, sem descurar de antever que os dados na esfera carnal são provisórios, dada a transitoriedade desta passagem tumultuada pelas impressões e sensações rudes de intelecto subjugado pela densidade corpórea.
Oremos com discernimento pelo auxílio jamais negado dos protetores familiares, sabendo abrir a mente para a percepção das informações segundo os padrões permitidos para quem se debate nas trevas da ignorância, dado que este mundo se conta entre os em que as expiações e as dores predominam. Se estivermos em dúvida quanto às intuições que formos capazes de captar no íntimo do ser, principalmente porque tememos pela infiltração de energias não declaradamente positivas, estimulemo-nos para a leitura das exposições de Kardec, nas notas a O Livro dos Espíritos e nos desenvolvimentos das demais obras da codificação.
Mas tudo que fizermos, façamo-lo confiantes de que o amor vencerá em toda a linha dos relacionamentos entre as criaturas, para a excelsitude da felicidade que nos é prometida no Reino do Senhor. Enquanto isso, providenciemos para que tudo se realize na linha dos desejos do Cristo—Jesus, conforme nos expôs e exemplificou.
Em último caso, espelhemo-nos nas atitudes dos homens mais importantes, conforme a santidade que sejamos capazes de observar, na interpretação de que a maior lei é a que determina o amor ao Pai sobre todas as coisas e ao próximo, como a nós mesmos.
O que temos de evitar, a todo custo, é a infelicidade gratuita de quem não tem sossego para a vida espiritual, mourejando de sol a sol apenas para o engrandecimento material, independentemente do nível social em que esteja inserido. Se a vida é penosa, se a miséria obriga a sacrifícios acima das forças, sempre haverá recurso para nos concentrarmos nos dizeres do Nazareno, elaborando mentalmente seguras diretrizes de comportamento, conforme o que vimos pregando nestas páginas.
Orgulhemo-nos de não nos importarmos com o acúmulo das riquezas materiais, mas não desprezemos a necessidade de possibilitar a todos, ainda que com ajuda meramente física, o entendimento da lei de causa e efeito e da lei da evolução, como princípios doutrinários fundamentais para o sucesso da encarnação.
Muitos outros pontos desenvolveremos, mas se o poder de percepção destes dizeres transcender as palavras que aqui registramos, partindo os encarnados para a aplicação na vida prática destas diretrizes superiores, sem considerações paralelas que induziriam à desconfiança de que o caminhar com o Cristo não é o mesmo que ir ao encontro do Pai, por certo tudo o mais que temos pela frente quedará em absoluto segundo plano.
Exigir dos comunicadores do etéreo algo além do que se encontra consignado nas obras fundamentais será menosprezar a capacidade que Deus nos deu de discernir os caminhos da verdade, conforme a pregação de Jesus, quando dizia ao povo que, se era capaz de saber o tempo do dia seguinte pelos indícios da tarde anterior, seria pura hipocrisia dizer desconhecer quais os procedimentos mais adequados para a salvação da alma.
Se estamos a lembrar as palavras do Mestre é para dar funcionalidade evangélica à dissertação, mas temos plena certeza de que os amigos leitores seriam, melhor do que nós, capazes de desenvolvimentos temáticos mais sutis e completos, em linguagem mais apropriada e perfeita. Se assim for, não se esqueçam de que serão chamados ao serviço do socorrismo ativo, assim que aportarem deste lado da realidade. Se assim não for, vão preparando-se para freqüentarem as aulas em que se capacitarão a este labor. Mas façam-no sem inúteis tensões físicas e psicológicas, para evitarem dissabores nos dois setores em que está compartimentada essa tremenda prisão carnal.







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CARIDADE ACIMA DE TUDO





Fora da caridade não há salvação. Se repetirmos milhões de vezes a sagrada fórmula-resumo da vitória sobre o mal e as tentações, ainda assim a redação carecerá de ênfase junto aos espíritos de muitos mortais, imersos nas mais constrangedoras formas carnais de mesquinho vitupério contra os irmãos em Deus. Sempre haverá quem aspire a ser melhor que os outros, e isto faz toda a diferença aos olhos dos protetores espirituais.
Queremos dar força integral às observações de Kardec relativamente à necessidade de o Espiritismo ultrapassar os limites de simples filosofia de comportamento, para constituir-se em religião, sem santos, sem dogmas e sem cultos exteriores. Que cada reunião de atendimento mediúnico se constitua em sessão de auxílio e socorro a todos quantos têm fé nos poderes da espiritualidade, não no sentido da ajuda indiscriminada, mas no do esclarecimento absoluto das verdades últimas existenciais.
Saber o que se requer da gente, para o que nos fizemos em grupo de trabalho espiritual, é o ápice da caminhada. Aí teremos as diretrizes definidas, de molde a configurar que o Pai está ao nosso lado, sempre, abençoando-nos toda vez que estivermos oferecendo aos semelhantes as pálidas luzes que possuímos, pois, está visto, quem está conosco neste ponto da leitura terá o que dar aos irmãos em desespero de trevas.
Saibamos consignar, na agenda das tarefas diárias, um pouquinho de discernimento sentimental, para que não fiquemos abandonados relativamente à benquerença dos mais pobres, dos mais incultos, dos mais ignorantes, dos mais indóceis e quejandas condições de inferioridade moral, intelectual, sentimental ou existencial, dado que os problemas são de multíplices ordens.
Queremos ressaltar a boa vontade como sendo, dentre os atributos do caráter, a que melhor irá frutificar, quando verificarmos que as atitudes repercutem de maneira muito satisfatória em prol do avanço rumo à redenção. Sendo assim, haveremos de estipular diretrizes bem definidas, para que todos os que conosco navegam, nestas túrgidas águas de dores e expiações, tenham o conforto de se saberem entregues a piloto sagaz, conhecedor dos planos da divina salvação.
Jesus será de grande ajuda, no benefício que deveremos prestar a todos, até mesmo aos que não acreditam em que tenhamos aquela boa vontade, para lhes oferecer o que possuímos de melhor no âmbito dos conhecimentos, sábios que somos das leis evangélicas, a ponto de tudo o que executarmos estar visivelmente com a marca inconfundível do amor.
Eis que caracterizamos diversos aspectos de um conceito único, formulado com grandiosidade pelo Codificador: fora da caridade não há salvação.
Se tivéssemos mais tempo, ou seja, se pudéssemos ficar ao lado de cada irmãozinho para todas as respostas, poderíamos ofertar-lhes segurança, carinho, agasalho espiritual, compreensão, ternura, amor, amparo sentimental, reconforto moral, isenção de culpa, serenidade mental, cura física, recreação opcional para desafogo dos excessos das preocupações, produções artísticas, fatores da criatividade, religiosidade participativa, misticismo superior, inspiração, em suma, para que as realizações possam considerar-se o supra-sumo da correção, na aplicação energética condicionante do aperfeiçoamento das qualidades morais e demais virtudes intelectuais e sentimentais.
Mas quem somos nós senão seres altamente necessitados da mesma assistência? Fiquemos, pois, no campo da solidariedade, prometendo deixar ressaltados os tópicos mais importantes, para que todos os irmãos venham a contentar-se em saber que o bem existe e poderá ser encontrado em todos os corações, vai dia, vem dia.







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CALAFRIOS





Aí o pavor tomará conta do pobre espírito pecador.
Eis a suspeita que todos temos, quando tomamos conhecimento dos crimes e perversidades perpetrados pelos humanos contra a inocência, contra a pureza, contra a inadvertência e até contra o patrimônio.
E os autores dos desatinos, terão sossego eternal ou haverá momento em que principiarão a ter desconfiança de que nem tudo caminhará em paz, quando se virem perante as forças desconhecidas da espiritualidade? Como se dará o despertar para as inexoráveis leis cósmicas: dramaticamente ou indiferentemente?
Para quem possui formação moral e doutrinal espírita, evangelizando todos os atos, parece que esta linha de pensamentos não padece explicação. Antes, quanto mais avançado nos estudos teóricos, melhor aparelhado estará para oferecer subsídios preciosos para as conclusões a que desejamos chegar. Aliás, se pensarmos que a pessoa se esmera na configuração da verdade maior de que fora da caridade não há salvação, mais poderemos confiar em que tem todas as diretrizes dominadas, nunca temendo passar por angustiosos momentos de temor, por haver, alguma vez, deixado de cumprir os deveres da solidariedade e da fraternidade.
Os que mais sabem, conhecem o perdão como norma superior, desde que se invistam do desejo de não caírem nas mesmas esparrelas da falácia material ou do egoísmo. São os que vislumbram o futuro como caminhada de sucesso, na direção das Terras do Pai.
Qual a diferença entre os criminosos xucros, ignorantes, sanguinários e perversos, e estes últimos, afeitos à programação da virtude, no auxílio incondicional a todos?
Essencialmente, todas as criaturas têm o mesmo leque de perspectivas de bonança, de felicidade, de paz. Mas o que começou, desde cedo, o policiamento íntimo das atitudes, tudo fazendo para corresponder aos anseios cristãos, está mais adiantado na caminhada. Além disso, vai amealhando riquezas espirituais, pois compreende a necessidade do progresso coletivo e age em prol dos irmãos imersos na obscuridade mental provocada pela ânsia de total aproveitamento das sensações carnais.
Calafrios? Nem pensar! Hão de orar com devoção e fé pelos irmãos que desejam o usufruto dos prazeres incontrolados, na sufocação de muitas vidas, que se perdem para o progresso imediato, tendo em vista os sérios prejuízos aos dispositivos necessários para que o carma se realize conforme as programações.
Para quem teve a intuição de que iríamos vergastar os maus, estamos sendo surpreendentes. Mas a verdade é que os criminosos, os viciados, os ignorantes, os malevolamente sagazes, as aves de rapina não se deixarão fascinar pela leitura de tão sofridos e desenxabidos textos.
Quem se lembrar da expressão do Cristo, para este arrazoado obter fundamentação evangélica, deverá concordar conosco que haveremos de ter ouvidos de ouvir e olhos de ver, para conhecer o resplendor das palavras do Mestre, filtradas pela inteligência insipiente dos alunos que compõem a turma dos Amigos das Boas Intenções.







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OS NÚMEROS IMPRESSIONAM





Se colocarmos à frente dos leitores algumas cifras a respeito da quantidade de seres no espaço espiritual ao derredor da Terra, haverão de ficar assombrados. É que os seres que vagueiam pelo etéreo são em quantidade infinitamente superior aos que se deixam encarnar.
Tão poderosa demonstração provocaria a sensibilidade dos amigos, a ponto de propiciar-lhes surpresas capazes de alterar significativamente a postura moral em relação à existência. Se dissermos: — Fulano é rico! —, iremos provocar certo tipo de espanto; mas se acrescentarmos: — Possui quinze quarteirões de casas, em região nobre da cidade! —, poderemos fazer os circunstantes emudecerem, sem forças para reagir a tão forte poder de riqueza.
Não queremos explorar os aspectos puramente materiais deste tipo de comportamento mental. Entretanto, cabe-nos configurar que as estruturas psíquicas perduram para além da morte, sendo muito encontradiças criaturas que se deixam influir pelo volume dos bens, impedindo-se, muitas vezes, de consignar na agenda das tarefas a necessidade da aquisição paulatina das riquezas, conforme nos recomendou o Senhor.
Tal como se impressionam com as tremendas quantidades, muitos também embasbacam perante a qualidade, como se os seres mais evoluídos não tivessem lutado para alcançar progresso evangélico.
Tudo provém do trabalho nas esferas da moralidade, de forma que todos temos como atingir os ideais da pureza dos procedimentos espirituais, a ponto de nos tornarmos santos e anjos, dependendo da melhor aplicação que fizermos das virtudes conquistadas.
Sabendo que regressaremos ao plano espiritual com os hábitos materiais arraigados na personalidade, forcejemos por alterar os ideais, de modo a fomentar o estudo das recomendações de Jesus, instando para que se integrem à personalidade de maneira natural, reagindo espontaneamente às provocações das pessoas e dos ambientes, sempre a favor do bem e do progresso de todos.
Não queríamos citar a caridade de novo, mas não há como se envolver com a doutrina do amor sem que tudo que façamos não tenha o condão de despertar a comiseração, o perdão, a boa vontade, o afeto fraternal aos que vemos necessitados de ajuda, de apoio, de consolação, de sustentação psicológica ou financeira.
Nesta altura das dissertações, a impressão que nos fica é de que todas as informações de caráter moral passaram pela nossa pena, tornando-nos repetitivos, cansativos, monótonos, insípidos e até desrespeitosos quanto à inteligência dos leitores. Contudo, se dissemos anteriormente que a repetição infinita da frase fora da caridade não há salvação não seria suficiente para o despertar dos companheiros afastados das diretrizes evangélicas, pelo menos que o número de vezes que voltamos aos mesmos temas consiga impressionar, conforme a tese demonstrada.
Que tal deixarem-se influenciar positivamente pela paciência em aturar as ranzinzices dos mensageiros, buscando numerar as vezes em que as leituras se fizeram sacrificiais, da mesma forma que o médium não se cansa de escrever os mesmos dizeres, e os professores não se enjoam de repetir as lições?
Nunca será demais repetir o que nos conduzirá ao Pai. Não é verdade que muitos defeitos nos levam a procedimentos freqüentemente condenados pelas consciências, apesar de voltarmos a delinqüir exatamente da mesma forma?
Que bom seria se tivéssemos suficiente estímulo para não julgarmos enfadonhas as atitudes de ajuda aos que sofrem, na perspectiva das críticas pejorativas das qualidades dos que não conseguem ascender moralmente. Eis revelada a origem de nossa incansável pregação. Esperamos que o exemplo se multiplique, pelo menos para boa fração dos amigos leitores, que essa é esperança que nutrimos com o contato persistente e sábio possibilitado pelos mentores da organização educacional.
Finalmente, que não nos cansemos de orar contritamente ao Pai, para pedir-lhe as bênçãos de amor com que nos fortaleceremos para prosseguimento impávido nas trilhas das benemerências. Já pensaram os bons amigos se Deus se cansasse de nos proteger e abençoar? Pensem nisso!







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MENTES DESANUVIADAS





Ao atingirmos determinado nível de conhecimentos espíritas, estando capacitados a compreender que o caminho do bem é o do Senhor, a alma se aquietará, pois tudo faremos para cumprir os ideais inscritos na doutrina, independentemente de estarmos conscientes ou não de todos os problemas afetos às vicissitudes e necessidades cármicas. É o que se pode chamar de confiança íntima na proficiência dos abnegados mentores espirituais, que saberão inspirar-nos a toda hora, dado que teremos muito mais afinidades com o plano do etéreo, facilitando enormemente o contato.
Entretanto, haveremos de sofrer bastante com a miséria intelectual e sentimental alheia, no sentido de percebermos o quão retardada está a sua marcha, em função dos deslizes que vão cometendo. Veremos rolar lágrimas pelos rostos, em dura provação de afeto, no reconhecimento de que estaremos absolutamente impotentes para a diminuição das dores dos que nos são caros, já que cabe a cada um agoniar nos tremores dos sofrimentos provocados pela irreflexão, pela imodéstia, pelo orgulho, pelo egoísmo, pelo insensato desejo de sobrepujar a todos os demais.
Importa consideremos que, quanto mais elevados os sentimentos e a compreensão da realidade, mais se ampliam os círculos da amizade e do amor, de modo que, cada vez mais, vamos acrescentando neles pessoas defasadas quanto aos ensinos do Mestre Jesus. Isto irá aumentando o sofrimento pelas falhas e dores dos semelhantes, até que, ao nível da santidade, seremos capazes de estremecer pelos seres mais vis e ignominiosos.
Hão de perguntar os amigos:
— Isto não terá mais fim? Será que deveremos aguardar o encerramento dos tempos para tranqüilizarmos a alma, na compaixão pelas derrocadas dos companheiros?
Pobres somos nós para dar resposta conclusiva fundamentada em experiências. Contudo, não nos furtaremos de apresentar a verdade que nos é revelada pelos mestres, qual seja, que o nível de compreensão se alargará, a ponto de nos sentirmos responsáveis apenas pelas obras que nos estarão afetas, tornando-nos espécie de bateria de bondade e de comiseração, a expandir em ondas de benemerências fluídicas, a levar a paz e a harmonia a quantos estiverem sendo despertados para o amor de Deus e para a caridade.
Se não fosse assim, haveríamos de supor que Jesus, em seu altíssimo posto de gerenciamento cósmico, não passaria de pilha energizada de sofrimentos, concentrando-se angustiadamente em si mesmo, diante da incapacidade de assumir os pecados humanos, para o definitivo perdão. Se não fosse assim, haveríamos de burlar a lei do livre-arbítrio, segundo a qual a cada um conforme as obras, pois haveremos de concluir com Jesus que só se pode colher o que se tiver plantado. Ora, se plantarmos bondade e amor, com que razão iremos obter dor e sofrimento?
Não é mais tranqüilo receber tais evidências, cadenciadas pela argumentação evangélica? Não ficarão as mentes desanuviadas, preocupando-nos exclusivamente em ajudar o próximo, abrindo-nos à influenciação dos que têm os mesmos desejos de benemerência em relação a nós?
Concitemos os irmãos a que se estimulem ao estudo sério das verdades oferecidas pelo Salvador e levemos-lhe as palavras do Espírito de Verdade, magistralmente registradas e comentadas por Allan Kardec nas obras da codificação espírita. O mais será muito trabalhar e sofrer, enquanto não estivermos aptos a receber o galardão da angelitude.
Que a paz do Senhor esteja com todos nós, a partir do instante maravilhoso em que lograrmos compreender (insight) que o que se espera de nós é perfeitamente realizável durante a encarnação! Organizemo-nos mental e fisicamente para isso.







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MENSAGENS ANÍMICAS





Nem sempre o que se dá como sendo de origem espiritual foi produzido diretamente por entidade desencarnada. Há médiuns que conseguem elaborações mentais de vulto, tanto em quantidade, quanto em qualidade, passando para a escrita pensamentos que, muitas vezes, não conceberam conscientemente. Mas tais casos são raríssimos. Quando existe a tendência para a manifestação íntima das intuições, é que entidade espiritual conseguiu enxertar no cérebro do pupilo as idéias que vicejaram e assomaram espontaneamente.
São essas as duas formas extremas de concepção anímica. Haverá outras, certamente, mas são de mui fácil detecção, como no caso dos indivíduos que ficam treinando a escrita, mesmo sem perceberem qualquer influxo estranho. São aqueles que escrevem vertiginosamente, na ânsia de suplantar a consciência, fazendo com que a mente profunda se manifeste diretamente. São os que não titubeiam em repetir as lições lidas ou ouvidas, utilizando-se, inclusive, da terminologia dos textos originais, quase sempre tornando bem inferior o padrão literário ou lingüístico, como se elaborassem livre adaptação para a compreensão das verdades inscritas.
Em todos estes casos, pode haver a presença de seres do plano espiritual, quer no sentido de facilitar o desenvolvimento das percepções intuitivas, quer para auxiliar no entendimento das verdades morais e espirituais, para dar aos companheiros oportunidade de refletirem a respeito dos temas importantes da doutrina.
Sempre que houver participação indireta dos protetores ou de outros entes com as mais diversificadas intenções, poderemos falar em animismo, embora sua pureza esteja comprometida, pelo direcionamento que os textos ou falas podem tomar, à revelia da vontade do falso médium.
Mas não há que se condenar quem esteja praticando este tipo de manifestação, a menos que queira fazer passar como real comunicação do etéreo, o que se consignaria como hipocrisia, mentira, vitupério ou demonstração inequívoca do desejo de se projetar nos meios místico-religiosos, para engrandecimento pessoal. De qualquer forma, tal pessoa estaria carente de atenção, esclarecimento e de conhecimentos especializados a respeito da missão do verdadeiro mediador.
Aqui estamos para a advertência, pois não acreditamos em que haja possibilidade de reformas internas na personalidade para pessoas que se sintam acuadas pela força demonstrativa da argumentação dos mais experientes. No gabinete de estudo ou no recanto apartado da oficina, será bem melhor ouvir a voz dos amigos da espiritualidade preocupados em orientar as atitudes relativas aos contatos espirituais, para que não se perca tempo com ilusões ou falácias psicossociais.
Que a advertência, contudo, não desperte para a desconfiança indiscriminada de todos os parceiros dedicados ao mediunato, pois nada mais ultrajante do que confundir o bom intérprete das intenções dos espíritos com aqueles que não se aperceberam de que estão sendo logrados pelas intenções de participação nas mesas evangélicas. Neste caso, a melhor atitude será acatar todas as mensagens, não tentando descobrir onde se encontram os indícios das burlas ou incongruências, mas efetuando profícuo exame na configuração dos ensinos que poderão iluminar as mentes, em temas de difícil intelecção.
Mesmo quando houver mentira declarada, brincadeira de mau gosto ou exposições francamente mistificadas, estando os autores a oferecer toda comprovação de que nenhum espírito esteve presente no momento das transmissões, por julgarem que todas as idéias pertenciam ao seu acervo de conhecimentos, sendo o estilo absolutamente conforme ao habitual, quando expõem oral ou graficamente, até aí se poderá vislumbrar aquela melíflua participação dos amigos da espiritualidade, que agem por caminhos insuspeitados dos humanos. Não haverá perda de tempo se os pensamentos forem sérios, nem quando se promoverem exercícios para a descoberta dos engodos argumentativos.
Se o resultado dos trabalhos conduzir o grupo para as esferas da benquerença, da harmonia, da ajuda mútua, da discussão elevada dos temas espíritas, havendo encaminhamento para soluções evangelizadas dos problemas postos, não haverá razão para temores de descontrole ou de desvio da sadia linha doutrinária estabelecida a partir de Kardec. Havendo honestidade de propósitos, as virtudes serão respeitadas como qualidades passíveis de assimilação, devendo o relacionamento entre os elementos se fortificar pelas estratégias da solidificação dos conhecimentos em tela.
Atentem para esta mesma dissertação e busquem encontrar nela algo que seja atribuível exclusivamente ao escrevente, sem que os mensageiros possam exarar tais conceitos, por estarem desvinculados da doutrina. Se julgarem assim, terão encontrado algo em que houve, deveras, interferência do instrumento humano de que lançamos mão. Se não acharem, não pensem, de pronto, que tudo tenha provindo da espiritualidade. Realmente, neste caso, o animismo que possa ter existido estará fortemente atrelado ao domínio das entidades, pois, por força de contrato, fazemos uso dos conhecimentos do amigo encarnado, para que os dizeres adquiram dimensões apropriadas para a tradução, em entrosamento controlado pelos mensageiros. Podemos dar o nome de animismo a esse aspecto das transmissões?
Tendo lido as diferentes obras da Escolinha de Evangelização, ficarão tentados a suspeitar de que a participação do médium tenha ultrapassado os limites estabelecidos? Que tal dedicarem-se um pouco ao exame deste assunto, antes de procurarem definir os aspectos anímicos da sua própria mediunidade?
Que Deus nos ajude e ampare neste encaminhar para as descobertas mais importantes no campo dos relacionamentos espirituais!







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DAS PREVISÕES





Ponto obrigatório para as discussões doutrinais espíritas é a previsão dos acontecimentos, pois, sempre que nos deparamos com anúncios prognosticados corretamente, ficamos estarrecidos.
São conhecidas as explicações de Kardec em A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo, de modo que não trilharemos o mesmo caminho, preferindo elucidar os fatos à luz das possibilidades mediúnicas.
Como têm os orientadores do orbe condições para atuar junto à matéria densa e aos espíritos encarnados, favorecem que as atitudes se encaminhem para a realização inconsciente das previsões, com a anuência dos envolvidos, quer pela configuração de programa de atividades elaborado antes do encarne, quer pela aquiescência possível durante as peregrinações sonambúlicas.
Quanto aos fatos materiais, como grandes catástrofes geológicas, o mesmo critério pode ser aplicado, pois, em havendo, por exemplo, conhecimento de que existem fendas profundas na região, não será difícil prever em que época haverá acomodações do solo para o efeito dos abalos sísmicos. Se existe instrumental fabricado pelos encarnados para a prevenção de acidentes, quão não será mais aperfeiçoado o que é utilizado pelos orientadores do planeta!
Podem-se, pois, realizar previsões muito seguras, sem que se conheça o futuro, já que nada se determina na existência, conforme os critérios filosóficos da doutrina, caso contrário burlaríamos a lei de livre-arbítrio.
Em todo caso, há ocorrências cuja fatalidade a experiência é capaz de conhecer, como no caso da morte física de todos os seres vivos ou a ascensão de todas as criaturas ao reino do Pai. São determinações definitivas das leis de destruição e de progresso, contra as quais não há argumentação.
Existe corolário moral a ser explicado ou, ao menos, contornado, de acordo com a postura que adotamos para as previsões, qual seja o de que, se houve conluio para que as previsões dessem certo, haveria também má fé, para a ilusão de que é possível dominar o futuro.
Mas haverão de entender que estamos manifestamente expondo as diretrizes espirituais para que os eventos possam vir a ocorrer segundo os vaticínios, podendo qualquer ser humano chegar às mesmas conclusões, bastando conhecer como se dão as ações evangélicas, no sentido de se tornarem as pessoas mais sábias e, portanto, cada vez mais próximas da verdade. Não terá sido assim que Jesus previu o seu calvário, caso se aceitem como verdadeiras as afirmações dos textos bíblicos?!
O que não se pode, evidentemente, é levar em consideração as palavras de muitos espíritos que se dão ao trabalho de, para demonstrar nível evolutivo superior, pretensamente revelar o futuro, aproveitando-se dos maus interesses dos consulentes. São demonstrações inequívocas de irresponsabilidade, já que conduzem as pessoas a pensarem sem base na realidade, podendo passar a agir de forma inconseqüente, tendo em vista a realização ou não dos eventos anunciados.
Somos de parecer que os esclarecimentos dão a exata noção de que os atos humanos, para serem reconhecidos como úteis para o progresso espiritual, devem inspirar-se nos ensinamentos de Jesus e na doutrina espírita, nunca se afastando do sublime aviso: instrução e trabalho caritativo, tudo com amor ao Pai e aos semelhantes.
Não será fácil prever que, assim agindo, os homens se guindarão às regiões da eternal bem-aventurança?







13

OLHOS VENDADOS





Insistimos, freqüentemente, em considerar as nossas razões perfeitas, para o repúdio das idéias alheias. A teimosia intelectual anda de mãos dadas com a obtusidade moral, de sorte que muitos dos hábitos perniciosos que carregamos vida afora não merecem o rigor da análise nem a desconfiança da virtude.
Se nos perguntarem quais os nossos principais defeitos, vamos procurar camuflar os verdadeiros, declarando pequenos senões, uma vez que não nos importamos com a opinião exercida de maneira criticamente correta. Detestamos os maldizeres da comadrice inoportuna, mas não damos o braço a torcer para as verdades contundentes que desvendam os misteriosos processos que mantêm os procedimentos prejudiciais.
Quão poucos, por exemplo, são os alcoólatras e os tabagistas que reconhecem os males físicos a que estão submetidos! Se isto se passa tão declaradamente no campo material, que se dirá dos desvios de conduta espiritual?!
Se os companheiros estiverem preocupados em atingir o ápice da perfeição humana, haverão de buscar compreender todos os sistemas de defesa para que não haja penetração consciente no âmago dos problemas.
— Quer dizer — hão de perguntar —, que deveremos submeter-nos a rigorosas sessões de psicanálise, mesmo se tivermos todos os procedimentos pautados pelo senso comum, mesmo que todos nos julguem superiormente dotados nos aspectos da moralidade e da intelectualidade?
Certamente, não iremos recomendar a procura de especialistas médicos. O que desejamos enfatizar é a necessidade da perquirição diuturna a respeito das ações e pensamentos, para a descoberta a tempo dos mecanismos de rejeição dos pareceres conformes aos ensinamentos evangélicos e demais conceitos doutrinários do Espiritismo.
Se não nos capacitarmos, finalmente, a tudo compreender sob a luz dos dizeres de Jesus, pelo menos que cheguemos a nos esclarecer devidamente diante da legislação cósmica, no sagrado dever de nos prepararmos para o ingresso na espiritualidade em condições melhores das que trouxemos para a carne.
Não repudiemos qualquer conselho de caráter espiritual. Antes, façamos por entendê-los proficientemente, aplicando tudo o que venha a nos parecer útil, oportuno e necessário para o encaminhamento às sendas do amor divino.
Novamente, hão de perguntar:
— Se os aparatos intelectual, sentimental e físico não se encontram adequados para o entendimento das diretrizes sugeridas como as mais eficazes para que a peregrinação terrena se torne a melhor possível, qual a melhor maneira de superarmos as dificuldades?
Devemos voltar à clássica recomendação do amparo dos mais experientes no seio do movimento espírita, os quais se reúnem nas casas espíritas para atendimento dos aspectos doutrinários. Conseguir companheiros para os estudos e para os trabalhos em prol dos necessitados é pôr-se na condição de humilde e interessado aluno. Até mesmo se estas leituras estiverem a trazer subsídios valiosos para a configuração dos problemas que carregamos na intimidade do ser, ainda assim a leitura atenta das obras de Kardec, na companhia de outras pessoas, poderá evidenciar pontos encobertos pela sutil malícia da psique acostumada ao disfarce e à proteção, contra o que suspeitamos ser o ataque à prezada estabilidade emocional.
Em suma, que haja equilíbrio na pesquisa espiritual, para que as atitudes subseqüentes estejam embasadas nos ensinamentos mais profundos do Cristianismo Redivivo.
Se é preciso ter cuidado? Claro! Como tudo na vida, pois os perigos rondam os que se purificam, na ânsia de se tornarem melhores, uma vez que os menos aquinhoados não desejam considerar-se inferiorizados perante a força de quem teve o denodo, a argúcia, a capacidade de suplantar os vícios e os males. Mas se formos bem fundo na percepção da sabedoria emanada do evangelho de Jesus, iremos conseguir vencer as tentações materiais, no sentido de sobrepujarmos toda a hipocrisia. Afinal de contas, na linha do pensamento do Mestre, tempo virá em que deveremos cumprir todas as normas do decálogo mosaico, restando doar tudo o que possuirmos, e não só metaforicamente, para seguir ao Senhor pelas Terras da Redenção.
De olhos vendados, estaremos na situação dos cegos, com a agravante de que as vendas fomos nós mesmos quem colocou. Vale dizer: o pior cego é o que não quer ver, e, se for conduzido por outro cego, ambos rolarão pela ribanceira. Estaremos nós nesta triste condição? Sinceramente, pedimos ao Pai que não, para que as palavras ora consignadas possam trazer um pouco de orientação aos que não se consideram totalmente perdidos, tanto que chegaram a este ponto das exposições.
Sigam conosco por mais um tempo, que algo poderão aproveitar das lições que reproduzimos.







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A ESCOLHA DA RELIGIÃO





Todas as pessoas tomam decisões fundamentais para o andamento de seu destino. Caso não deliberem direito, sofrerão percalços sérios para a complementação das obrigações cármicas.
Dentre essas escolhas, está a da religião, quando não se está com a mente obscurecida por pressões exteriores. Agir livremente na determinação de qual a melhor solução para os anseios místicos da alma é prerrogativa recente nas comunidades humanas, sendo até o mais freqüente, ainda hoje, a coação social, política ou racial, para que os procedimentos relativos ao contato com as forças transcendentais se fixem.
Como estamos dirigindo-nos a pessoas que, tudo leva a crer, já tenham escolhido seu caminho, pois não há como fugir da suposição que esta leitura só possa dar-se por alguém envolvido pelas diretrizes espíritas, pouca pregação evangélica temos para fazer. De qualquer modo, caso queiram experimentar os melhores argumentos para a decisão em pauta, podemos dizer que as orientações advindas dos planos espirituais, quando submetidas ao crivo da razão, conforme exatamente a orientação de Kardec, se mostrarão as mais eficazes para a comprovação da verdade existencial, que é, no final das contas, o objetivo último do aprendizado humano, qualquer seja a filosofia racional adotada.
Por outro lado, temos também de dizer que a lógica dos argumentos evangélicos, fundamentada nos pressupostos de que o certo é fazer aos outros como quereríamos que se fizesse conosco, desde que haja equilíbrio mental a ponderar as razões dos atos, é irrefutável, não tendo sido poucos os homens de grande saber e de grande capacidade intelectual que perseguiram os ideais cristãos, na ânsia da realização mais saudável para suas almas.
De qualquer forma, caso não tenhamos a vocação da doutrina espírita, por razões que não cabem considerar aqui, devemos saber que, independentemente das facções, das seitas, dos cultos, dos templos, dos sistemas religiosos implantados na sociedade, Deus atenderá a todos, mediante a sábia premissa de que não precisa ele de nada, na concepção monoteísta de Supremo Criador, não havendo que premiar a quem quer que seja, por simpatias, por apanágios de benquerença ou por privilégios, mediante os artifícios da malícia igrejeira das sacristias. Diante do Pai, havemos todos de ser perfeitos, na medida do possível, ou cairemos na falácia de julgá-lo permeável a influenciações.
Sendo todos irmãos perante a Excelsa Magnanimidade, não haveremos de sofrer pela escolha que fizermos para a seqüência de atividades, na justificativa do procedimento e no testemunho da fé. Ajamos com amor, com boa vontade, com carinho, relativamente a todos os semelhantes, que estaremos defendendo a obra da criação nas criaturas. Haverá algo mais que possamos fazer para demonstrar que buscamos amar a Deus sobre todas as coisas?!
Diante das decisões mais importantes da vida, ajamos com bondade, que o coração se nos encherá de ternura e comiseração, na construção dos nossos dias, segundo os trabalhos que nos serão afetos. São sementeiras que estendemos perante o Senhor, na esperança de que as bênçãos divinas venham a ajudar-nos na ceifa, na colheita e na distribuição das messes, por toda a coletividade.







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QUEDA-DE-BRAÇO





Na linha das prerrogativas de que nos julgamos apaniguados, está o viço intelectual como sinônimo da perfeição possível. Nós, quase sempre, nos consideramos aptos à melhor decisão, embora, freqüentemente, estejamos sabendo que contrariamos opiniões e teses científicas, na vã tentativa de nos situarmos acima do bem e do mal.
Posto nos esforcemos durante a infância e a juventude para assimilar os conhecimentos escolares e até consigamos fazer valer algumas leis demasiado claras para serem derrogadas pela vontade, ainda assim não suportamos ter de executar tarefas obrigatórias, esmiuçando as razões para a submissão, quando não fazemos de tudo para boicotar os que acreditamos tiranizarem-nos.
Somos muito zelosos do poder de conclusão, de modo que não tememos aventurar-nos em terrenos para os quais não estamos absolutamente preparados. É assim que estimamos vivenciar experiências perigosas, crentes de que os riscos só existem para os outros.
Não é verdade que os leitores são capazes de multiplicar os exemplos, a partir do alcoolismo e do tabagismo que anteriormente citamos? Pois aqui está excelente oportunidade para que se medite muito a respeito dos atributos espirituais que nos faltam para atender ao princípio da razão, antes e acima de tudo, como fator de preponderância sobre todos os demais artifícios da personalidade, desde a voluntariedade atrabiliária, ao arbítrio emocional, que são, em suma, uma e mesma coisa do ponto de vista da verdade.
Se tivermos o desejo de preponderar sobre todos os argumentos, quer eximindo-nos de conhecê-los, por julgarmos improcedentes para a melhoria da vida quotidiana, quer pondo-os sob o crivo dos dogmas de fé ou outros que sustentamos como irremovíveis, para não nos demovermos da posição inflexível que adotamos, façamos por estudar o mais possível as vidas das pessoas mais importantes, para avaliar até que ponto foram capazes de contrariar os pontos de vista correntes em suas civilizações. Iremos, quase com certeza, estarrecer-nos com o volume de idéias contrárias ao senso comum, pois os luminares, em todos os setores da vida humana, se tornaram grandes homens justamente por não aceitarem de pronto o que se lhes era oferecido pela sociedade.
Se quisermos chamar os inventores, os descobridores e os sábios de super-homens, poderemos fazê-lo, mas sabendo que nada tinham de excepcional relativamente à inteligência e à capacidade de observação. O que lhes dá prevalência sobre a massa é o fato de estarem atentos para outros significados dos mesmos fenômenos, sendo capazes de admitir a interferência de outras causas na armação das ocorrências físicas ou imateriais.
Se tivermos coragem de aceitar esta tese, haveremos de fazê-lo sem o desejo de sermos diferentes, maiores ou melhores. Haveremos de ser exatamente o que todos são, mas acrescentando aos atributos da maioria o livre exame de todos os tópicos, para não sermos logrados pelas falsidades das exposições, em pontos que vão passando pelas pessoas como intocáveis.
Se temos base evangélica? Claro. Não é verdade que Jesus pediu aos discípulos para que temessem a vinda de falsos profetas, que falariam em nome de Deus? Não seria o mesmo que ouvi-los dizer que estão de posse da verdade? Pois aí está: Jesus já nos prevenia contra a fixação das evidências, pois sabia que a vida haveria de evoluir, que os espíritos progrediriam, que os homens iriam desvendar outros mistérios, o que para ele era o mais corriqueiro, dada sua experiência espiritual superior.
Mas Jesus foi aquele que esteve com os publicanos e fariseus, em tertúlias e lições de superior qualidade. Não dizia que aos médicos cabia visitar os doentes? Pois coloquemo-nos como doentes, para que a alma possa fazer as investigações necessárias para a configuração do que esteja passando-nos despercebido na estruturação do procedimento, sem que tomemos consciência de tais mecanismos psíquicos.
Estamos falando em tom de teoria, sem descer à prática. Mas fazemo-lo propositalmente, para que os amigos desconfiem de todos os comportamentos e pensamentos, buscando estabelecer coerência com os ensinos de Jesus e as orientações da codificação kardeciana.
Demos umas voltas para retornar ao ponto básico das exposições. É que o tema de hoje poderia sugerir que tivéssemos novidades doutrinais. Não é esse o objetivo desta dissertação, mas o de despertar para as falácias mentais que nos subjugam a determinadas linhas de atitudes, embora, como ficou dito, neguemos a outros raciocínios que se instalem no cérebro, pois não gostamos de mudanças, qualquer seja o setor da personalidade.
Finalmente, tendo pretendido demonstrar que o mais arredio às alterações para melhoria das atividades mentais, tendo em vista a aplicação na vida diária, é o que maior valor dá aos hábitos, vamos encerrar o texto, conclamando os amigos a que orem com muito carinho ao Senhor, para que se lhes abra o espírito para as verdades, que tudo o que se puder fazer nesse sentido haverá de repercutir mui favoravelmente quando do reingresso no etéreo. Afinal de contas, devemos desconfiar, pelo menos, de que a vida após a encarnação deverá sofrer sérias transformações e, se nos apresentarmos inflexíveis psicologicamente, iremos deparar-nos com dificuldades bem mais acentuadas.

Queremos agradecer ao escrevente por ter transcrito a mensagem, embora não lhe estivéssemos oferecendo muitos subsídios de acordo com o seu roteiro mais constante. Como não ofereceu resistências, antes até promoveu boa abertura mental para que passássemos as idéias, está de parabéns, servindo-nos de exemplo vivo para o que tínhamos a transmitir.







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O PRINCIPAL E O ACESSÓRIO





Vamos deixar claro que o principal se refere à eternidade com Deus e o secundário, ao transitório com as criaturas.
Mas os homens têm necessidades enquanto matéria e enquanto espírito, de sorte que sua integral dedicação ao Pai irá desviá-los das vicissitudes carnais. Claro está que tudo podem realizar com o pensamento e o sentimento voltado para o Criador, mas a atenção não se distribui uniformemente, de modo que haverá momentos de dor, de angústia, de atendimento aos irmãos, momentos que irão absorver noventa e nove por cento dos seus atributos, ficando em segundo plano a que se endereça ao Senhor.
Exemplificar caberia aos leitores, tão fácil é a percepção do que vimos falando, como é o caso até desta escrituração, deste apanhar de ditado ou desta leitura, que tudo se passa no consciente e no inconsciente, como forma de se justificarem os dizeres, para a notícia transferir-se de um pólo a outro da mente. Para que a pessoa pudesse concentrar-se, neste preciso instante, tão-somente no amar a Deus sobre todas as coisas, haveria de renunciar a qualquer ato manifesto da vontade, no campo das realizações corpóreas, não podendo, portanto, estar a efetuar a leitura do texto.
Parece complexa a argumentação, mas não é. Simplificando o exemplo, não haverá negar que as pessoas precisam buscar os alimentos e ingeri-los. Para que estejam alheadas totalmente das circunstâncias, terão de ficar em êxtase permanente, o que não as impediria de se alimentar, mas o fariam através de ajuda, como os doentes em estado de coma, transferindo-se o ônus do desvio da atenção para o secundário aos semelhantes.
Mas há sadia atitude que todo ser humano é capaz de tomar, bastando seguir o exemplo maior, já que Jesus tudo fez conforme os mortais, sem jamais poder ser acusado de desleixo quanto ao principal. Essa predisposição para que tudo se realize em função da idéia de servir ao Pai se condensa nas preces, que podemos instalar como hábito diuturno, para evitarmos deixar a imaginação à solta, para as fantasias improdutivas das preocupações captadas do inconsciente.
Não iremos exigir dos encarnados o mesmo que dos irmãos em recuperação no etéreo, uma vez que estes ficam libertos de série imensa de obrigações próprias da vida material. Contudo, mesmo para as entidades livres da carne, há objetivos cujo cumprimento conduz obrigatoriamente a preocupações outras que não a glorificação do Senhor, já que existem aprendizados a solicitar atenção e desvelo.
Estabelecendo a tendência que notamos entre encarnados e desencarnados, ou seja, a diminuição da presença do provisório e o aumento do essencial, estendendo tal linha através do campo evolutivo, podemos perceber que, a cada nível de adiantamento na direção da perfeição, corresponde ascendente desprendimento do secundário, para a percepção das verdades que se constituirão, enfim, no único motivo existencial dos que vão situando-se na angelitude, e daí para cima.
Pode parecer que estejamos menosprezando o estágio dos que se encontram na carne, mas é que olvidamos as fases anteriores, por força das restruturações por que passam os espíritos. Desse modo, podemos concluir que há seres tão adiantados a ponto de terem esquecido as passagens pela Terra e por outros orbes de sofrimento e provas. Dessa forma, compreendemos como é que as criaturas vão alheando-se das dores dos que quedam atrasados na caminhada. Nem poderia ser diferente, já que, pela informação bíblica, a cada qual segundo as obras.




Comentário



Sabemos que vamos mui lentamente progredindo nestas dissertações, parecendo até que nos movemos em círculos. Esperamos que a sensação dos amigos lhes possibilite a compreensão de que as espirais nos estão arrastando, irresistivelmente, para os pontos da doutrina que se situam para além da possibilidade de entendimento.
Graças a Deus, os trabalhos de imantação estão obtendo pleno êxito, favorecendo que as explicações cheguem com cem por cento de eficácia. Isto não é o principal para nós, mas se configura como etapa lógica para o desenvolvimento da capacidade de evangelização, quer íntima, quer na pregação levada a efeito junto aos amigos da espiritualidade e aos leitores encarnados.
Que tudo possa conduzir o grupo ao regaço do Senhor é o que almejamos deveras.







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DEVOÇÃO JUSTIFICADA





Muitas pessoas nem chegaram a ouvir falar em Espiritismo e, apesar disso, praticam, em bom nível, o relacionamento intuitivo com as boas forças do etéreo. Estamos referindo-nos aos católicos, mais especificamente, que conseguem visualizar os santos e anjos, como se fossem entidades a quem recorrer.
Chamando de fé a convicção de que estão sendo acompanhados, não percebem que contrariam as orientações da Igreja, à medida que atenuam os poderes e a santidade dos padroeiros, dando-lhes feições de pessoas comuns, preocupadas em atender aos reclamos dos fiéis. Muitos, inclusive, tornam tais seres muito inferiores, acreditando que possam favorecê-los materialmente, em detrimento de pessoas ou da sociedade.
Vejam que nada estamos colocando em forma de acusação, pois não nos cabe julgar. Mas a verdade é que, se fossem espíritas de carteirinha, talvez não estivessem tão seguros da participação desses espíritos na atividade diária. Aos anjos da guarda, então, atribuem papel de reais guarda-costas, na tentativa da proteção de todos os atos, mesmo que flagrantemente contrários às leis.
Os que adquirem noção mais próxima da moralidade superior que se deve possuir para o engrandecimento aos olhos do Senhor, ficam estupefactos com a facilidade com que lhes parece estarem sendo atendidos, principalmente no esclarecimento das falhas e dos vícios. É a consciência que começa a falar mais alto. Muitos procuram centros espíritas kardecistas ou terreiros da Umbanda ou do Candomblé (cada qual de acordo com seu nível de percepção da necessidade das virtudes), para enfronharem-se nos conhecimentos que ali vicejam. Visam à concretização das intuições, sem, contudo, darem-se conta de que poderiam estar sendo influenciados pelos guias.
Neste mesmo quadro, podem situar-se os que sofrem perdas de pessoas ou de bens materiais, que se deixam impulsionar para os movimentos mais condizentes com suas tendências, pois não acreditam na força mediadora dos sacerdotes, que, do púlpito, negam a possibilidade do contato mediúnico e, por via de conseqüência, dos postulados kardequianos ou dos ideais umbandistas.
Vejam que estamos dando expressão de veracidade às intuições dessas pessoas mais sensíveis ao magnetismo espiritual, embora não tenham qualquer noção de como se possa estabelecer relacionamento explícito com os benfeitores. Daqui o justificar-se da devoção exatamente pelas normas doutrinárias que vimos expondo.
Se pudéssemos contatar os leitores que tenham chegado a esta leitura através das inspirações alheias aos dispositivos doutrinários espíritas, iríamos pedir-lhes que nos autorizassem a publicação dos testemunhos, pois poderíamos deixar configurado, sem sombra de dúvida, que estamos relatando a verdade mais confiável. Que nos baste, entretanto, a autoridade de espíritos constantemente confundidos com santos ou anjos e até com demônios, muito a contragosto.
Qualquer seja o caso, têm os protetores muito prazer em dar curso ao atendimento dos rogos, desde que se enquadrem no plano das virtudes evangélicas. Caso contrário, instam para que seus estremecimentos de repulsa à malícia, à hipocrisia e ao vício cheguem ao entendimento dos pupilos, da mesma forma que sentem as vibrações da harmonia e do equilíbrio moral.
Cabe resguardar a afirmativa acima, pois poder-se-á suspeitar de que a insistência nas solicitações prejudiciais irão atrair os espíritos maus, os imperfeitos, os aproveitadores e caterva de entidades não desenvolvidas para as superiores virtudes do amor, da solidariedade, da fraternidade, do altruísmo, da boa vontade e da caridade. É bem assim que devem raciocinar os desconfiados de que estejamos só interessados nos aspectos benéficos dos relacionamentos. Entretanto, o que desejamos ressaltar é a maior facilidade dos que se deixam envolver pela onda de bondade dos protetores, a ponto de os terem nos altares.
Em suma, para não atrapalhar com temas correlatos, o Espiritismo está muito mais próximo dos fiéis da Igreja Católica Romana do que gostariam os seus administradores, porque insinuado junto aos corações e às mentes dos que vão tornando-se melhores a cada dia, por força das reflexões a respeito das virtudes, sem se aterem às palavras específicas dos sermões, nos quais as pregações se dão mais por força do hábito do que por razões estabelecidas por sério raciocinar.
Nesta altura, deveríamos concentrar-nos nos pontos negros que se estabelecem nas consciências devido aos dogmas e às profissões alienantes de fé. Mas vamos deixar isto para outros mensageiros.







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DE ÂNIMO ALEVANTADO





Embora não tenhamos destinado o dia para a prestação de serviço de assistência, vemos que estamos diante de alguém prestes a oferecer o melhor de si para podermos deixar registrada comunicação de fé no poder de recuperação dos encarnados. Trata-se de sutil colocação doutrinária, pois estamos impedidos de transmitir todos os roteiros que recebemos durante os cursos no etéreo, dado, evidentemente, o baixo poder do médium de percepção das vibrações fluídicas.
Assim, dispomos perante o companheiro as limitações a que nos impusemos, impedindo-o de argamassar teorias próprias, uma vez que se sente coagido a tão-só apanhar os ditados, não fixando diretrizes metodológicas nem rol de temas adequados à satisfação que teria, se deixássemos fixado no papel os pressupostos das condições dos espíritos, como forma de atrair os leitores.
Somos obrigados à prudência, como também temos o dever de só encaminhar à discussão os temas sobre que temos discutido com os mestres, para não extravasarmos conceitos pessoais, totalmente avessos à verdade dos fatos.
Apesar das restrições, encontramos o médium bem disposto, aguardando as transmissões tais quais, sem colocar obstáculos de vulto, buscando adaptar as expressões aos assuntos em pauta, dando ênfase aos termos mais eficazes para a tradução correta das idéias, nobreza ao vocabulário e elegância à frase, para a demonstração de que os espíritos são de Deus.
Toda esta boa vontade se transforma em júbilo, quando o trabalho chega ao fim e se pode notar que houve verdadeiramente quem estivesse por detrás da comunicação, de forma que não se poderão evidenciar aspectos muito francos de improvisos, nem a sombra fatídica de desconsolado animismo.
Levanta-se, então, o ânimo do auxiliar encarnado e todo o grupo se sente à vontade para festejar mais uma tarde proveitosa, não tanto no sentido da formulação de mensagem absolutamente íntegra quanto aos valores evangélicos, mas como resultante de apresentação coerente com os temas em seqüência oferecidos para transcrição.
Não ficaríamos satisfeitos se não perguntássemos, neste ponto do discurso, do interesse dos leitores em passar pelas mesmas aperturas mediúnicas, para a alegria sempre renovada dos textos equilibrados e prontos para a exposição ao público, merecendo tão-somente os retoques sem importância à gramática e ao estilo a que acima nos referimos.
Fizemos questão de frisar o trabalho de desbastamento das gralhas, porque, acreditamos, o médium não se contenta com o que faz, temeroso sempre de estar dando ao prelo mensagens não integralmente confeccionadas pelos informantes do etéreo. Sente-se apreensivo neste aspecto, senão que diminui sensivelmente a alegria que deveria demonstrar só pelo fato de estar recebendo as comunicações de forma tão clara e perfeita, pelo menos do ponto de vista dos que se apresentam com o escopo de fornecer os indícios mais claros de que o procedimento é que conduzirá as pessoas ao plano espiritual mais adequado para o aprendizado das lições que lhes quedaram faltando.
Vejam que estamos propiciando excelente oportunidade para as reflexões típicas de quem esteja predispondo-se ao ingresso nas fileiras do socorrismo evangélico, sem, contudo, tornar totalmente maravilhosas as perspectivas de avanço nas sendas do bem. É que as conquistas das virtudes se dão de forma bastante lenta, principalmente porque, a cada nova compreensão, há que se olvidar o vício ou defeito correspondentes, geralmente incrustados na personalidade tão arraigadamente que se constituem em sérios empecilhos para novas aquisições doutrinárias.
Quanto a nós, ao término de cada sessão, reunimo-nos exultantes pela consecução da tarefa, mas sem expansões de muito contentamento, justamente porque aspiramos a eliminar todos os senões, que são muitos e que são apenas paulatinamente percebidos pelo grupo. Entretanto, ao volvermos o olhar para o início da caminhada, notamos que adiantamos muitíssimo nesta extraordinária façanha a que nos propusemos diante dos mentores, os quais, por sua vez, não nos incentivam senão de acordo com os pontos que vamos assimilando, conforme a programação que estabeleceram.
Alegria e responsabilidade compenetrada é o dístico que nos alevanta o ânimo para o prosseguimento nesta trilha. Quejanda predestinação auguramos aos bons amigos que se abalançaram até este ponto. Neste caso, é bem mais fácil de saber quando chegará o momento de a alegria coroar-se de felicidade, pois basta observar o volume que se tem pela frente, conjugando a expectativa com a vontade de continuar folheando com atenção estas páginas.
Tudo se amarra da mesma forma na vida e após ela: observação, boa vontade, espírito empreendedor, conhecimento da própria força e da própria capacidade, desejo de seguir avante, compreensão da necessidade de aperfeiçoamento de todas as virtudes, tendência ao bem e colocação de prioridades bem demarcadas de segura realização. Em outras palavras, saber qual é o objetivo final, mas delimitar as ações de forma que o progresso se faça sem atropelos, sem saltos, sem precipitações e sem alheamento da finalidade do existir na carne e fora dela.
Não é verdade que, nesta altura da dissertação, o tema que vimos desenvolvendo cai para segundo plano, na aspiração de vermos crescer a alegria do serviço, mesmo que se represente apenas pela leitura atenta e meditada destas reflexões?
Fiquem, caríssimos, com o Senhor, orando muito para que os tópicos apresentados não ofereçam nem tons obscuros nem excessivamente fáceis, na pretensão de se conhecer ainda mais que os autores. Certo, muitos terão razões para desprestigiarem estas páginas, mas que não sejam produzidas por sentimentos de menosprezo ou de soberba, mas por terem reais condições de executar trabalhos superiores no campo da moralidade, a partir dos ensinos evangélicos.
Pelo menos, que a paciência se torne o apanágio maior das personalidades, e o perdão, o ato de vontade mais espontâneo e mais verdadeiro.







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ROMPENDO PRINCÍPIOS





Existem muitas diretrizes de vida que não levam, necessariamente, à conquista dos valores evangélicos. São orientações políticas, econômicas, sociais, religiosas etc., adequadas à satisfação dos desejos hedonísticos de quem se acostumou a considerar a vida como a mais alta possibilidade de obtenção do prazer, mesmo que à custa do sacrifício da maioria.
Será, evidentemente, inócuo dizer que todos devam ter iguais benemerências materiais, à vista de tantas distinções, como se a multidão pudesse equiparar-se em qualidades e defeitos. Cada pessoa é uma única expressão de realidade psíquica, conforme o grau de adiantamento evolutivo no campo espiritual. Mas a defesa das propriedades, em troca da miséria absoluta, é inverossímil perante as leis evangélicas. Ou não?
Assim, conforme vão recebendo as informações das igualdades fundamentais perante o Criador, as pessoas deveriam ir compenetrando-se de que devem aos demais a mesma consideração que exigem para si. Contudo, o mais comum é os indivíduos adaptarem-se às realidades, quer acusando os que têm mais, quer defendendo o patrimônio, pela justificativa do maior merecimento, seja qual for o aspecto considerado: oportunidade, inteligência, sorte, presunção de que está recebendo o encargo da riqueza como prova a ser superada e demais desculpas ilógicas do ponto de vista de quem defende as virtudes e o amor como os bens que se buscam junto ao Senhor.
Não queremos aborrecer os leitores, já que presumimos que os capacitados ao acompanhamento destes textos também possuem bens materiais de maior vulto que o grosso da população, ou não estariam propensos aos temas da filosofia espírita, dado que os ademanes intelectuais são conquistas da abastança familiar, para que a sabedoria ou a ciência se instale na mente. Todavia, não há que suspeitar de inúteis favorecimentos de nossa parte pela perspectiva da manutenção da atenção dos leitores, na hipócrita atitude de quem está utilizando-se de recursos oratórios para o convencimento de que as razões apresentadas estão plenas dos princípios norteadores dos processos evolutivos.
O que desejamos, realmente, é desfazer as prioridades dadas aos princípios da organização humana que, presentemente, fundamenta as gravíssimas distorções existenciais, muito mais do que seria admissível em sociedade equilibrada para o efeito das vicissitudes cármicas. Do modo como andam as coisas, muitas encarnações se perdem no vácuo das atrofias mentais, incapacitando os espíritos de aproveitarem a oportunidade para a melhoria do procedimento moral.
Para que exemplifiquemos, bastará interrogar os leitores sobre quantas pessoas conhecem que seriam incapazes de seguir os raciocínios que estamos expressando e que nos parecem excessivamente simples, tendo em vista o hábito a que fomos levado das considerações a respeito dos atributos espirituais, dentre os quais avultam os conhecimentos filosóficos. Apesar de estarmos facilitando todos os argumentos, oferecendo comprovação de fácil percepção intelectual, ainda assim tememos que os dizeres se coloquem muito acima dos indivíduos capacitados ao entendimento dos textos.
Escrevemos, pois, para a elite mental, na ânsia de ver as mensagens transformarem-se em atos de vida capazes de absorver os sofrimentos alheios passíveis de retificação pela caridade e pela bondade dos que se vão apropriando das virtudes, por força da compreensão da verdade.
Não é certo que, neste ponto da dissertação, se confirma a necessidade do rompimento dos princípios materiais, para a definitiva aquisição dos bens inalienáveis do amor ao próximo e ao Pai?!
Saiamos do marasmo mental em que passamos os tempos e desliguemo-nos um pouquinho mais dos liames que nos prendem à densidade corpórea, estabelecendo sacrifícios úteis para o soerguimento da alma, principalmente no sentido de ver os mandamentos evangélicos se erguerem como pontos de apoio para as decisões de cada momento, no amparo que deveremos oferecer aos de¬mais.
Como a maioria dos leitores está, desde há muito, executando plano de vida bem próximo do que vimos propondo, é justo solicitar deles que nos desculpem o atrevimento, na justificativa do apelo final de ampliarem o leque das atividades caritativas, pois quem tem disponibilidade para efetuar leitura crítica desta obra, certamente alcançará separar mais um pouquinho de tempo para o atendimento de outros setores da assistência evangélica da organização a que dedica os valiosos préstimos. Ou será, verdadeiramente, pedir demais?







20

DEVER CUMPRIDO





Estivemos trabalhando, na tentativa de passar aos encarnados noções elementares que todos os socorristas devem conhecer para a prática evangélica, no sentido de se apresentarem aos protetores para missões cada vez mais elevadas, quer para o retorno à carne, quer para o adiantamento no plano evolutivo.
Tais orientações servem para nós de modo fundamental, mas não deixam de ser úteis para os encarnados, que se poderão assenhorear de conhecimentos substanciais para que o procedimento se coadune com as diretrizes de Jesus e de Kardec, no revigoramento dos anseios evolutivos que todos sentimos e que, às vezes, ficam muito apagados para a memória humana excessivamente pejada de informações materiais. Em todo caso, sempre haveremos de estimular os leitores a fazerem o melhor possível, afim de que cumpram seu dever perante o Criador, quer queiram quer não admitir que, se existem, é porque houve quem lhes deu existência.
É tradicional, nesta altura da argumentação, lembrar que há pais e mães, no sentido da vida carnal, como também que há pessoas que não chegam a aceitar a consciência como algo particular, existente por si só, acreditando que se esfumarão na morte, reintegrando-se no Universo.
Nem sempre o fato de termos pais se correlaciona muito eficazmente para determinados indivíduos desprezados, ofendidos, magoados e abandonados, de forma que a razão não lhes traz sentimentos condizentes com a vontade que temos de fazer compreender que tudo promana de ser absoluto em qualidades e virtudes, preferindo dispensar o concurso de Deus, na confecção do próprio destino. Podem até respeitar entidade superior, a quem atribuem forças sobrenaturais, tanto são capazes de admitir a existência de energias incompreensíveis, da mesma forma que não entendem o poder dos oceanos ou da eletricidade. Mas daí a respeitarem de todo o coração a presença do Criador, há enorme distância, como se se justificassem pelo mais rigoroso materialismo.
Neste ponto, caberia que lembrássemos os que se deixam conduzir por idéias religiosas, no temor materializado de que poderão perder as pessoas e os bens que amealharam, sem suspeitarem de que nada terão para apresentar por ocasião do retorno às esferas da espiritualidade, já que primaram por tudo realizar concretamente, na expectativa de que o importante para a alma é viver o melhor possível, dando curso a todas as sensações, para não perderem as oportunidades do encarne. Se pensarem na vida futura, por certo acreditarão que terão desempenhos muito parecidos com os atuais, na adaptabilidade possível às novas circunstâncias. São pessoas que não leriam estes textos jamais, mas que merecem de nós o sacratíssimo respeito da orientação ou da simples indicação de que a vida terrena existe em função da existência espiritual, e não o contrário.
Quanto aos que se deixam imantar pelas falácias do próprio poder, refutando sistematicamente a possibilidade do contato com o plano espiritual, desfavorecendo, portanto, a crença de que este texto e os demais tenham sido ditados por entidades do etéreo, não temos muito que fazer, a não ser dizer que se estimem tais pessoas, pelo que representam como seres provindos do Pai, que irão ter de lutar muito para alcançarem entender a necessidade da reflexão a respeito dos temas Cristianismo e do Espiritismo.
Se quisermos avançar daqui, iremos ultrapassar os limites que nos impusemos, para campos a que o dever não nos obriga. Apesar disso, cremos que seremos bem recebidos na estimulação a que todas as criaturas consigam o galardão do amor, qual seja o de caminhar um pouco além do que se estabeleceu, no intuito de servir e de aprender. Quem for arguto terá percebido que o dever, desse ponto de vista, jamais se poderá dar por cumprido, pois sempre haverá mais o que fazer no campo da instrução e do amor ao próximo.
Contudo, haveremos de afirmar que, com a morte, importante etapa da existência chega ao fim, não devendo as pessoas volver à espiritualidade em débito de compromissos. Façamos, pois, por compreender que temos obrigações assumidas perante os benfeitores e tornemo-nos missionários do bem, levando às últimas conseqüências a aplicação amorável das forças, em prol do engrandecimento da vida como obra de Deus.







21

SENHOR!, JESUS!





Convidamos os amigos a orar conosco, neste sublime instante em que vamos deixando tão firmes as marcas dos estudos, a ponto de solicitarmos que os encarnados façam o mesmo, já que sabemos que todos haverão de passar pelas tarefas do socorrismo evangélico, para se alçarem a novos mundos de luz e de esperança.
Senhor!, clamamos ao Pai, na expectativa de vermos realizadas todas as aspirações. Jesus!, rogamos ao Mestre, para que nos dê amparo e muita força, para vencermos as dificuldades.
Temos os espíritos a quem pedimos complacência e orientação, cada um de forma muito pessoal, pois não existem duas pessoas carregando o mesmo fardo, de maneira absolutamente idêntica. Essa individualidade exige preces íntimas, no sentido da descoberta das preocupações a serem sanadas, através da misteriosa força que sentimos no instante em que nos compenetramos de tudo o que nos pesa na consciência.
Se tivermos discernimento, iremos superar as vicissitudes com galhardia, que tudo o que se promove com o espírito liberto das opressões psíquicas consegue estremecimentos emotivos de total pureza, qualidade esta que atribuímos aos seres mais próximos do procedimento evangelizado.
Quiséramos, pois, poder auxiliar mais através de dissertações específicas, mas não alcançaríamos atender a todas as solicitações. Daqui estarmos a oferecer desenvolvimentos genéricos, com base nos estudos que promovemos na Escolinha de Evangelização. Seremos bem aceitos? Só Deus poderá saber neste instante das transmissões, uma vez que as dificuldades de tradução se somam às das emissões vibratórias, conduzindo as frases, períodos e parágrafos de forma nem sempre coerente com o nível de expectativa dos leitores.
Sendo assim, logramos apenas oferecer textos muito temerosos de agredir a susceptibilidade dos confrades encarnados, mormente se forem mais inteligentes, mais estudiosos, mais sábios que nós mesmos, o que caracterizará, indubitavelmente, o atrevimento a que sempre fazemos referência, nós, discípulos de primeiras letras.
Mas orar ao Senhor e a Jesus não será, por certo, desprezível, de sorte que o tema do texto estará sob o abrigo da universalidade. Não tenhamos, pois, o vão temor de perturbar a quem quer que seja, menos ainda os espíritos de luz que nos amparam de outras esferas de maior adiantamento moral e doutrinal.


Senhor, fazei com que todos sejamos capazes de rezar a melhor prece, de forma honesta e íntegra. Talvez muitos de nós não consigamos externar todos os sentimentos de modo suficientemente claro para revelar os escaninhos mais sutis de nossas almas, pobres e imperfeitas. Mas que nos valha o esforço, na tentativa de apresentar-vos o que mais nos preocupa, pois somos incapazes de vos relatar os sofrimentos, no medo de ofender-vos, já que, poeira levada ao vento, perante vós nos esfumamos, partículas insignificantes da Criação. Mas temos coração e temos parentes e temos amigos e temos companheiros e temos a confiança dos mentores, que nos propiciaram este caminhar na carne, na esperança de nos verem melhores ao retornarmos. Que seja esta a síntese de nossa solicitação, para que as bênçãos do vosso mais profundo amor nos acalentem a alma e nos sustentem o ânimo, no empenho que devemos dedicar à manutenção do espírito de serviço, por amor a vós. Assim seja.


Jesus, nós vos rogamos, humildemente, nos auxilieis nos trabalhos que nos estão afetos, porque não temos a força precisa para refutarmos as más tendências da alma. Possibilitai-nos a mais séria reflexão a respeito do carma, fazendo-nos compreender cada pequenina angústia, cada mínima dor, cada ínfimo sofrimento, sempre nos dando o sentido de que a dor é suportável, na consolação da dor maior que sofrestes para nos salvar. Dai-nos a esperança do cumprimento do dever, iluminando o caminho para nossos parentes e amigos, preservando-nos das maldades dos desafetos e abrindo-nos a mente para as causas, antes que acusemos os efeitos. Fazei-nos simpáticos à existência, que tudo se resolverá com muita alegria, na melhor das condições intelectuais e morais possíveis, já que constantemente falimos e reiteradamente prometemos melhorar. Não nos desampareis, pois, que em vossas sacratíssimas mãos estamos depositando o coração. Graças a Deus!


Aos espíritos orientadores desejamos oferecer os nossos préstimos, na tentativa de ajuda no contato necessário para os esclarecimentos que julgarem oportuno passar-nos. Para tanto, respeitosamente, pedimos-lhes que estejam conosco em todas as situações difíceis, dando-nos o melhor roteiro para efetuarmos a parte que nos cabe nos serviços socorristas, mesmo que humildes, despretensiosos e insignificantes. Sabemos que deveríamos ter muito mais para oferecer-lhes, mas reiteramos o desejo de evoluir em conhecimentos dentro das bases doutrinárias espíritas, para o que solicitamos ajuda no apaziguamento da alma, sempre ansiosa por mais poder, por mais riqueza, por mais sucesso, no orgulho que demora a cessar, já que até para os ganhos do espírito estamos freqüentemente tentando colocar-nos na frente dos demais. Sendo assim, que sejamos humilhados pela compreensão das fraquezas e deficiências, para que bem situemos as necessidades de melhoria, na compenetração de que as virtudes que não temos são justamente aquelas que nos elevarão perante os olhos do Senhor.


Eis que vencemos esta importante etapa das manifestações. Sabemos que as preces não contêm, em si mesmas, as condições ideais do sentimento mais apurado. Mas isto, esperamos, será suprido pela sensibilidade dos leitores, que estão livres para a repetição saudável e oportuna de prece mais completa, a Oração Dominical, que Jesus nos deixou como orientação superior no relacionamento com o Pai.
Há quem censure até o pai-nosso, quanto mais as orações que registramos, porém, acreditamos que iremos conseguir dar as cores da íris às emanações fluídicas da aura, quando verdadeiramente demonstrarmos que amamos o Senhor antes e acima de tudo, ofertando-lhe o nosso ser, em recolhida prece de agradecimento e regozijo pela existência, concretizando, no etéreo, em poderoso facho de luz, a sublimidade do augusto momento de conversar com Deus, quando seremos agraciados com a presença de muitíssimos seres, que conosco confraternizarão, na alegria de superior realização espiritual.







ACONSELHAMENTO FINAL





Solicita-nos o escrevente que deixemos alguns conselhos, ao término deste conjunto de mensagens. Sabe ele muito bem que esgotamos os temas que para cá nos trouxeram, mesmo porque as dificuldades dos desenvolvimentos teóricos soem afastar muitos dos humanos das leituras extremamente áridas, cheias de filosofia e de raciocínios cuja lógica se apóia muito mais nas impressões do campo fluídico em que existimos do que nos arcabouços intelectuais dos encarnados mais doutos.
Então, o primeiro conselho de que nos lembramos é o relativo à percepção da necessidade do domínio dos assuntos espíritas, cuja ênfase se deu na maior parte das redações. Tal domínio se fará, evidentemente, após atenta leitura das obras de Kardec, muito especialmente de O Livro dos Espíritos, essencial para o conhecimento das diretrizes do pensamento humano em correspondência aos atos evangelizados pelos ensinos de Jesus.
Outro conselho útil é a necessidade de se destinar mais tempo à caridade, no auxílio diuturno às pessoas carentes. Mas o atendimento deve partir dos estudos, para que os esforços não venham a ser prejudiciais a quem recebe a ajuda ou a quem a presta. Daqui a recomendação para que se unam em grupos, sob a proteção dos guias espirituais, sempre na expectativa de cumprir trabalho o mais possível preso ao campo das atividades profissionais.
Se não estamos tornando claro o pensamento, imaginem-se perante as doenças, sem conhecimentos médicos ou de enfermagem, para saber qual a importância do atendimento especializado. Até para simples doações de agasalhos ou de comida, há que se ater a princípios da benemerência esclarecida pela experiência e pelas reais necessidades dos assistidos. Nada é muito fácil neste campo da caridade, mas, se houver boa vontade, espírito de comiseração e desprendimento material, aos poucos iremos fazendo frutificar as sementes do amor e da justiça.
Outra recomendação importante é a de que não se deve temer o contato dos espíritos, mantendo as sessões mediúnicas segundo os preceitos de O Livro dos Médiuns. Fugir das evocações íntimas dos seres que nos possibilitariam, aparentemente, melhorias no campo carnal, preferindo manter-se íntegro moralmente perante o Senhor. Em casos de doenças, as preces aliviarão a sobrecarga emocional e a compreensão das leis do carma norteará o melhor procedimento em relação ao desespero que costuma instalar-se na alma, em situações de morte ou de catástrofe corpórea. De qualquer forma, dar-se à consulta das forças da espiritualidade, nos centros espíritas do kardecismo, poderá vir a ser útil para o consolo e o reavivamento existencial.
Em havendo dúvidas reais a respeito dos assuntos da moralidade, buscar as reuniões de estudos de O Evangelho Segundo o Espiritismo, mesmo que domésticas, quando a presença de Jesus poderá ser sentida, através das vibrações emitidas pelos protetores. Bastará um pouco de sensibilidade para se perceber que os pequenos se deixam envolver no mistério, atacando concretamente os temas, até mesmo com maior energia e clarividência que os mais velhos, embora sem o brilho da cultura ou a argúcia da experiência. De qualquer modo, os laços familiares se apertam e o amor se arraiga nos corações, na compreensão das dificuldades, da ignorância e dos anseios de todos. Para tanto, não há que radicalizar, mas manter a mente aberta aos desenvolvimentos teóricos, sem suspeitar de malícia ou de hipocrisia de nenhum dos membros do grupo. Aos poucos, a meditação se refletirá nas palavras e todos poderão perceber o quanto se está aprendendo com os sacratíssimos textos evangélicos. Aqui há que se dar tempo ao tempo, desenvolvendo a paciência, o espírito de sacrifício e o respeito pela humanidade.

Queremos agradecer muitíssimo a todos e rogar ao Senhor que nos abençoe os empreendimentos. Graças a Deus!













SEGUNDA PARTE



TESTEMUNHOS
















1

MALANDRO CONTUMAZ





Nem bem cheguei a estas paragens, fui tão mal recebido que pensei que iria ser devolvido para o cemitério, para continuar contemplando a degradação dos despojos cadavéricos. Mas foi impressão fugidia, embora persistisse na memória a lembrança de ter visto o corpo em putrefação, desejando ardentemente recuperá-lo, como se a perda da carcaça significasse a desintegração do ser.
Quero deixar clara a nebulosidade mental que me atingiu, para que se não suspeite de que esteja agora escondendo o jogo. Atualmente, já me compenetrei das circunstâncias negras dos atos de desprezível conduta moral. Daqui, ter-me enganado tão grosseiramente com o elevado interesse dos protetores em me fazerem ver que me deveria genuflectir perante o Pai, para pedido de perdão, na ânsia de me livrar das pesadas cargas conscienciais.
A má recepção a que acima me referi deveu-se à minha incompreensão da necessidade de os benfeitores demonstrarem as falhas, para que não pensasse que estava adentrando ilusoriamente o paraíso. Os maus não se livram da hediondez do caráter, nem mesmo quando sob assistência direta dos amigos mais chegados. É que as preocupações da alma se declaram finalmente, como se a consciência despertasse para a realidade mais verdadeira, impedindo o assistido de se iludir pela fantasia, o que, enquanto encarnado, fazia a toda hora.
Vejam que tenho muitos recursos oratórios e ainda assim fico imerso nas lembranças mais penosas, já que não me recuperei para a vida espiritual livre dos fardos da matéria, onde me espojei nos vícios mais absurdos, alienando-me totalmente das características espirituais que deveria absorver, para o progresso por via da reencarnação.
Foram tão graves os desvios do procedimento evangélico que cheguei a tentar o médium com título, onde os termos chulos dariam aos leitores a justa medida do monstro que fui. Dizer-me meramente malandro não irá configurar a seriedade dos crimes, desde que tive sob meu comando casa de prostituição, a partir do que passei a produzir toda sorte de contravenções, para manter elevados os ganhos.
Mas o pagamento pelo abuso comecei a executar ali mesmo, pois, ao envelhecer — graças a Deus! —, fui achacado por inúmeras moléstias contagiosas, a ponto de ter o corpo enegrecido pelas pústulas nauseabundas que punham asco até nas almas dos benfeitores encarnados que de mim trataram com abnegada dedicação.
E dizer que tal traste me foi dado observar após o decesso, como se a perda da matéria simbolizasse a perda do espírito, pelas duras acusações que começavam a brotar.
Se não tivesse sido pelos bondosos amigos da espiritualidade, talvez estivesse até agora arremessado nos charcos penumbrosos do Umbral, pois, se tanto mal fiz e se tanto sofrimento cumpri, também não me revoltei contra a sorte, reconhecendo, desde logo, que obtivera da vida tudo quanto almejara, nas loucas aventuras mentais, durante as quais me via o mais completo ser humano, perante as fêmeas da espécie.
Fiz referência a um dos piores aspectos de minhas atividades, embora não possa deixar de mencionar outras perversidades contra muitas crianças e adultos. Receio até que, ao enumerar os delitos, os caros leitores possam suspeitar de que a penalidade que me impus não correspondeu às dores que esparramei pela vida. Mas há que contar também que os que estavam comigo não eram absolutamente espíritos de escol, de forma que muitos dos males de que os cercava acabavam sendo o carma funesto que deveriam aprender a enfrentar. Tudo isto, porém, qual pedra de tropeço em que me constituí, não atenuou as penas para mim.
Vejo que estou caminhando em círculos, negaceio que não desejo oferecer aos leitores, dado que as instruções recebidas foram para que deixasse bem claro que, se as causas são tenebrosas, as conseqüências serão da mesma forma negras, no plano da espiritualidade, não havendo possibilidade de fuga ao pagamento dos débitos, que a consciência não se dissolve e a memória não se apaga, a não ser após muito estudo e muito trabalho em favor dos companheiros necessitados.
O grupo que me recebeu está terminando a missão de recondução de seres em grande dificuldade, pois estão praticamente prontos para reingressarem na Terra, em encarnações de resgate, conforme nos expuseram em maravilhosas sessões de abertura completa do coração, para a mais viva demonstração de que sempre existem, para a misericórdia divina, recursos para a salvação.
Os relatos que se irão ler terão justamente tal objetivo, conquanto devamos enfatizar que as atitudes para a melhoria dos procedimentos devem ter início no momento mesmo em que se der a conscientização de que os males se superarão através da compreensão do que seja a virtude e o bom serviço ao próximo. E tudo isso deverá remeter os amigos para a releitura dos textos da primeira parte, onde poderão achar, de repente, a indicação necessária para sadio encaminhamento, dentro dos parâmetros da doutrina espírita. Aliás, esta vantagem eu não tive na vida, posto tenha tido diversas oportunidades de contatar as diretrizes evangélicas, impedindo-me de fazê-lo o excessivo orgulho e a tremenda imoralidade.
Rogo a Deus me perdoe o atrevimento dos conselhos e peço, humilde, aos amigos que dêem atenção aos próximos relatos, com certeza bem mais completos e perfeitos para o esclarecimentos das dúvidas que assoberbam as mentes dos encarnados.







2

REMEDO DE FELICIDADE





Tive muito medo de julgar-me infeliz durante a vida adulta na Terra. É que ouvira dizer que o homem verdadeiramente venturoso sabe dar o devido significado a todos os acontecimentos, precisando manter os males que sofre e as dores a que assiste sob controle emocional, favorecendo que os espíritos do Senhor possam vir ter com ele em regozijo total, como se o lar pudesse ser sucursal do paraíso.
Desse modo, instava por desconsiderar os aspectos tristes da existência, acreditando que o Senhor sabe o que faz, sem desconfiar que deveria eu providenciar para que os sucessos se constituíssem em algo proveitoso para a comunidade em que me instalara. Dessa forma, cheguei até a desconsiderar moléstias extremamente penosas dos parentes e amigos, crendo que deveriam contentar-se com a sorte, sem reclamar dos espasmos dolorosos e das contrações agudas. Chorar era, no mínimo, para mim, ofensa gravíssima ao Senhor.
Já podem os amigos perceber que desleixei dos cuidados de que me deveria ter encarregado, passando a agir com exagerada despreocupação, nada fazendo em auxílio dos sofredores, nem através dos simples recursos dos remédios.
Claro que têm o direito os leitores de não aceitar totalmente as informações, pois pode parecer procedimento extraordinariamente incompatível com as ações de Jesus, que se condoeu das dores e do desespero de muitos, providenciando-lhes a própria cura ou dos parentes.
A mim também assusta tanta obtusidade, na crença de que estava assimilando corretamente os ensinamentos de Jesus, uma vez que argumentava, incoerente, que não tinha o poder do milagre e que não recebera do Pai as prerrogativas dos sinais, mesmo porque nada me fazia pensar que pudesse ser filho de Deus, porque aceitava de olhos fechados que o Messias era a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, de forma que não via, no exemplo do Mestre, algo a ser seguido, mas a prova viva de que ele era o Enviado que os homens aguardavam.
Como se pode observar, utilizava de deslavada malícia, especialmente quando, sob a pressão das dores de cabeça e outras, corria para os analgésicos, esquecido da teoria filosófica que implantara para os demais. Qual a desculpa? Simplesmente me punha alienado das circunstâncias, como se, em estado de sonambulismo, perturbado e enfraquecido pela moléstia, não tomasse consciência do que fazia, de forma que o eu que propugnava a força de vontade na aceitação das doenças não era o mesmo eu que corria para ingerir os medicamentos.
Estou estendendo-me bastante neste aspecto para sugerir aos amigos que verifiquem se suas atitudes não têm um pouco da desfaçatez das minhas, mesmo que em outro campo de aplicação dos valores evangélicos. Não é verdade que a tomada de consciência é dificultada, muitas vezes, pelos espúrios interesses de quem se sente inferiorizado mentalmente, mas que deseja dominar pela força das razões dogmatizadas?
Ainda bem, para mim e para os demais, que as minhas teses não vicejaram no ambiente doméstico, muito menos no âmbito da seita religiosa sob cujo teto me agasalhava. Caso assim fosse, por certo iria amargar passagem muito mais tremenda pelas trevas do Umbral, onde fiquei o tempo necessário para configurar que havia hipocrisia nos raciocínios que me sustentaram durante a vida.
Recomendo, pois, que os amigos estejam atentos para pequenas intuições de caráter particular, buscando, antes, compreender as razões universais que levam as pessoas a praticar o bem em nome de Deus, sem aspirar a serem perfeitas ou, pelo menos, superiores às demais.
Outras falhas espirituais me conduziram através dos desmandos que me pontilharam a vida, mas todas tendo que ver diretamente às injunções acima declaradas, uma vez que a pessoa, quando erra, em lugar de reconhecer as falácias do pensamento, busca fixar as causas tidas como verdadeiras, passando a agir em consonância com o princípio estabelecido.
Tento demonstrar pela arquitetura da redação o que expus como conclusão, agora não mais pessoal mas levada a efeito após discussão com o grupo dos alunos da Escolinha, extraindo os efeitos como em seqüência natural de corolários.
Não está evidenciado que a minha felicidade estava sendo forjada, para que pudesse vangloriar-me perante as forças do etéreo, no momento de pleitear lugar no paraíso?







3

FALÊNCIA TOTAL





Não era preciso dizer que tive muito dinheiro, para poder chegar a perder tudo. Entretanto, se souberem que acabei os meus dias na Terra podre de rico, hão de se surpreender que tenha dito tudo haver perdido. É que estou referindo-me aos aspectos espirituais, uma vez que não soube conduzir-me retamente, pelos padrões evangélicos, muito embora tivesse tido plena possibilidade de aprender todos os ensinamentos de Jesus e os de Kardec. Era espírita, sim, e dos que levavam tudo muito a sério. Mas julgava que o desafio maior que recebera de Deus fora o fato de administrar com lisura os bens que herdara e os que acrescentei, por força de muito trabalho e também da exploração civilizada dos tarefeiros que empregava.
Vejam que andei na corda bamba o tempo todo, sempre corajosamente desafiando o equilíbrio da verdade, na presunção de que os valores que aprendia pelo intelecto e sabia de cor iriam subsistir na consciência, na expectativa de acordar no etéreo com a lição na ponta da língua, pronto para responder aos inquisidores do Pai. Não atentara para o fato de que deveria conhecer a consciência pelo lado dos deveres espirituais e não materiais, porque, se dava amparo aos irmãos que cruzavam profissionalmente o meu caminho, nada mais lhes propiciava, tanto em conselhos, como em orientação. Julgava até interessante que tomassem a sua pinguinha no bar, jamais interferindo nas idéias que se absorviam da sociedade.
Não julgava procedente interceder na vida de ninguém, dado que (raciocinava pelo avesso) cada qual deveria responsabilizar-se pelos seus atos, ignorando completamente que a missão primordial de quem possui os esclarecimentos é o de divulgá-los o mais possível, à custa até de sacrifícios de tempo e de paciência, uma vez que as almas que nos circundam, apesar de não se constituírem em responsabilidade nossa, devem ser o alvo de nossas palavras e doces intenções. De que outro modo havemos de entender o que o Cristo nos pregou, ou seja, o amor aos semelhantes, incluindo aí até os próprios inimigos?!
Pois esse fui eu.
Ao chegar de regresso, caí em terrível prostração, pois só podia demonstrar auxílios no campo da materialidade, sem comprovar nenhum caso de alguém que se interessasse por seguir a doutrina espírita, por ter-me esforçado em levar-lhe os conhecimentos superiores da codificação.
Neste aspecto, pesou muito o fato de que os meus filhos não tivessem recebido qualquer informação do que ocorria no templo da caridade espírita que eu freqüentava, mercê de não querer desafiar as diretrizes impostas pela esposa, devotada à causa católica, freguesa dos padres da jurisdição paroquial a que dedicava grande parte da fortuna que lhe cabia.
Querem saber que de interessante aconteceu comigo? Pois foi ela quem se designou para o meu resgate no Umbral, quando consegui admitir como correto o fato de não tê-la encontrado em piores condições que as minhas.
Falo ex cathedra e peço aos irmãos espíritas que me respeitem a mensagem, que brota do fundo de um coração condoído e temeroso, pois nada há de mais insuspeitado do que a reação dos legítimos espíritas perante as manifestações mediúnicas que venham com a chancela do aconselhamento e da exposição livre das ocorrências da espiritualidade. Era bem assim que reagia eu diante das mensagens captadas pelos companheiros junto à mesa evangélica do socorrismo espiritual.
Mas não desejo seguir pelo caminho das desconfianças. Antes, prefiro manter-me na linha das acusações diretas dos defeitos que me conduziram para o estranho mundo da escuridão cósmica. E digo isto para não reincidir no velho erro de julgar as pessoas hipócritas, mentirosas, falsas ou ignorantes, que era como costumava ver a todos os que comigo conviviam no sacratíssimo ambiente do centro. Se lá era assim, calculem as falhas de procedimento ético que cometia em relação ao restante da comunidade!
Em suma, para não fazer ninguém perder mais tempo, acreditava-me perfeito espiritualmente, conquanto desconfiasse de que o meu discernimento não era o melhor, pois falhava constantemente na interpretação das leis e das contas da empresa, precisando da ajuda técnica de diversos especialistas, como ainda do apoio mais lúcido da cara consorte, que me impedia de cometer erros grosseiros nas decisões administrativas. Só por usar sempre gravata e paletó, passei a considerar-me superior, até porque lia com facilidade os trechos das obras de Kardec, alheado dos roteiros textuais, buscando inferir os pensamentos que servissem de base para os meus raciocínios pessoais. Quando alguma recomendação canônica feria os princípios que estabelecera intimamente, julgava que, mais tarde, encontraria outra assertiva condizente com o meu ponto de vista e passava adiante, sem remorsos.
Estou a revelar a reflexão mais íntima daquela época, pois foi o que mais profundamente me alienou da verdade assinalada através das informações espirituais. Sendo assim, penso estar dando o superior aviso de quem se viu em palpos de aranha, na condução dos procedimentos de reconstituição moral, para a ascensão definitiva das lúgubres regiões do Hades, em que permaneci durante dez largos anos. Se parecer muito aos leitores de fé e convicção kardequiana, devo dizer que, após avaliar devidamente os meus erros e todo o forte egoísmo de minha alma, eu mesmo me considerei fartamente recompensado pela misericórdia divina, dado que os poucos méritos que tive pareceram pesar vigorosamente no prato do bem, contra as volumosas atitudes de desprezo pela condição humana dos semelhantes que foram depositadas no prato do mal.
Sinto-me cansado deste testemunho, posto nem tenha começado a delinear as principais ocorrências conscienciais, no restabelecimento da capacidade de raciocinar a respeito dos valores evangélicos, com a ajuda, é claro, dos amigos desta instituição e após ter sido liberado do hospital em que precisei hibernar durante bom tempo, sob a carinhosa proteção de diversos amigos do centro. Aliás, seria muito bom pudessem eles vir trazer também os seus testemunhos, pois têm histórias das trevas muito educativas para os que mourejam nas lides da caridade espírita.
Como último apelo aos amigos, deixo a recomendação de que as revisões dos procedimentos devem ser amiudadas, para que as arestas sejam aparadas, justamente nos pontos em que os defeitos são mais sutis, dado que sempre existe temor muito grande em se expor aos companheiros, como se a turma reunida estivesse ali apenas para auxiliar os chamados sofredores ou os pobres assistidos. Eis séria impropriedade conceitual que eu trouxe para cá, inadvertidamente.
Rogando ao Senhor para que faça com que os olhos e os ouvidos se abram, despeço-me, na ânsia de conhecer as reações dos amigos leitores à mensagem de meu coração.







4

SOFRIMENTO INDESEJADO





Sinto-me privilegiado por comandar a escrita desta tarde.
Devo dizer que muito sofri no etéreo, pois não fui boa bisca na Terra. Sempre desejei ser feliz, mas não consegui muita coisa que não fosse aborrecer a paciência das pessoas, mesmo porque me sentia repudiado pela família, que elegeu meu irmão mais velho como xodozinho.
Vou acrescentar que não pretendo esmiuçar o tema da inveja, pois, verdadeiramente, todos testemunharam confirmando a maior simpatia do João.
Sinto-me, pois, à vontade para descrever as sensações de frustrações, muito naturais quando se é criança e adolescente.
Contudo, por força do destino, me vi muitas vezes envolvido em crimes diversos, desde o estupro mais ignóbil até o assassinato frio, pago a peso de ouro, para que pudesse gastar com os vícios e as mulheres.
Deixo a narrativa para voltar ao título, incompreensível nesta altura, pois, se tanto prevariquei contra as superiores determinações evangélicas, como é que poderia pretender safar-me dos sofrimentos?!
É que nem tudo transcorria na minha mente com precisão. Se tivesse sido avaliado a tempo, poderiam achar as condutas perfeitamente adequadas à ínfima capacidade que tinha de conduzir-me pelos padrões normais. Encurtando o verbo: era completamente louco. Em linguagem que ouvi no hospital judiciário: psicótico, neurótico, depressivo-agressivo, com fortes tendências esquizofrênicas.
Claro está que não há rigor científico na colocação, mas, se forem buscar as cinzas das fichas médicas, poderão reconstituir os diagnósticos das graves moléstias mentais.
Pois bem, tudo o que tenho visto nos depoimentos dos parceiros de celas é desvio e mais desvio do procedimento tido como normal, pelos padrões vigentes no plano superior da espiritualidade. Não que tivesse tido oportunidade de conhecê-los, mas as lições que nos são passadas nos demonstram cabalmente que ascender para o paraíso, mesmo aquele em que se situam os protetores mais categorizados das pessoas encarnadas, exige das criaturas que não façam o mal, em nenhuma circunstância, seja nos atos, seja nos pensamentos, seja nas intenções.
Aqui estou falando do bem, procurando atender aos princípios que expus. Não queiram, pois, atirar-me pedras pelos malfeitos, todos eles curtidos nas trevas exteriores, em longos anos de angústia.
Tudo o mais que possa acrescentar dificilmente irá dar idéia nova para os leitores acostumados aos textos psicografados, mormente de sofredores.
A minha participação se deve à necessidade que o grupo sentiu de trazer o depoimento de alguém cujas lembranças das piores condições morais esteja bem viva na memória. Quero, com isso, dizer que todas as pessoas, num tempo mais ou menos próximo, também praticaram crimes de sangue ou contra o patrimônio afetivo ou material dos semelhantes. Há, é claro, exceções, ou melhor, deverá haver, mas, na faixa de vibrações que freqüentei durante toda a existência, não poderia encontrar ninguém imaculado e puro desde o ingresso na fase consciencial.
Agradeço a ajuda do escrevente e peço aos amigos perdoarem-me a curta permanência. Se quiserem ajudar-me e aos companheiros do grupo de assistidos, orem com muita compaixão, na esperança de poderem vir a ser ajudados por espíritos benfeitores, como estamos sendo aqui.
A união entre os seres através do amor, mesmo tão informal, será bem melhor do que a amargura da vingança íntima de quem está a raciocinar que o sofrimento depura. Não queiram sentir na pele a tal demonstração de eficácia da lei do plantio e da colheita, tratando de ir semeando o mais que puderem, mesmo que o terreno não seja o mais condizente, havendo que regar-se de lágrimas. Quem sabe a ajuda virá ainda a tempo de facilitar a colheita de bons frutos!







5

DOR INCONSOLÁVEL





Desde que cheguei ao etéreo, tenho tido a impressão de que não existe ninguém mais infeliz do que eu. Sei bem, porque vi, que muitas pessoas ficam presas por muito tempo no Umbral, enquanto eu ali permaneci por pouco mais de cinco anos. Mas devem ser contados como se fossem séculos ou milênios, pois, em nenhum momento, tive qualquer refrigério d alma que se constituísse em esquecimento dos problemas.
O que me tem feito muito bem são as exposições orais e por escrito das desventuras, perante o grupo dos assistidos desta turma dos Amigos das Boas Intenções. Por força de reprisar os piores acontecimentos que protagonizei, estou preocupando-me em burilar o estilo para não enfadar os companheiros, o que me tem levado a gastar o tempo com preocupação derivativa.
De qualquer forma, o conteúdo expresso é sempre o mesmo, diferente deste de hoje em que me pediram para analisar o próprio drama, do ponto de vista atualíssimo. Tenho certeza, entretanto, de que, se for relembrar para os encarnados as piores situações da vida, irei cair em profundo torpor mental, verdadeira prostração moral, a ponto de precisar do socorro dos mentores.
Tenho visto os parceiros virem descrever as desventuras terrenas, as crises existenciais, as passagens da vergonha do péssimo procedimento, as penas cumpridas e tudo o mais que necessitaram fazer para chegarem até aqui. São impressões dolorosíssimas que me deixam admirado, uma vez que os vejo seguros, firmes, dominadores das reações, incapazes de deslizes emocionais que possam prejudicar a transmissão mediúnica.
Quanto a mim, estou tremendo de medo, pois o tema está chegando ao ponto crucial das confissões e eu, acostumado aos relatos ao grupo, vejo-me prestes a desfalecer.
Correm os amigos ao reforço da magnetização do ambiente, para que dê continuidade aos trabalhos, já que me encontro verdadeiramente hesitante.
Deveria desenvolver, nesta altura, o tema da fixação redacional a dar aos leitores a idéia da segurança, mas estão impedindo-me de desviar-me do objetivo primordial.
Por outro lado, tenho lido mensagens deste tipo em que os sofredores, de súbito, descarregam falação e, de jato, deixam todos os problemas registrados. Não tenho esse hábito e não vou fazê-lo por injunção da obrigação escolar.
Mas não serei mal agradecido, deixando os irmãos na expectativa, quando muito têm feito por mim. Reconheço que, em matéria de esticar o assunto, até que levo jeito, enquanto o médium se impacienta, pensando que estou falcatruando, por nada ter de melhor para apresentar.
Se pudesse repetir as lições da moralidade evangélica, iria estender-me por várias laudas, registrando um bom aspecto da personalidade. Contudo, vou dando bastante corda ao tema, sem adentrar de frente no maior problema de minha existência: a covardia perante os compromissos e as responsabilidades.
Eis que inventei (sem muita originalidade) um tópico diferente, buscando exemplificar pelo texto em elaboração, de forma que as impressões dos leitores acabassem por caracterizar os fundamentos da perversidade espiritual que me tem mantido preso neste doloroso vaivém.
Se os caros amigos estivessem no meu lugar, obrigando-se a esta escrituração, teriam ensejo de perceber o quanto estou deveras sofrendo, pois a maior aspiração da turma é a de orientar os encarnados, não perdendo esta sublime oportunidade de contato.
Em vida, perambulei de seca em meca para realizar algum bem a mim mesmo, buscando encontrar local em que pudesse ser feliz. Sendo assim, ingenuamente, constituí um lar após o outro, desistindo tão logo pequenas contrariedades assomavam no horizonte dos relacionamentos. Dessa forma, tornei infelizes três mulheres e meia dúzia de crianças, que se viram abandonadas pelo mais inseguro dos mortais.
Penso ter deixado bem claro o problema que trago, como ainda as peripécias da solução que vou dando formalmente a ele. Qualquer dia, surpreender-me-ei com o esquecimento das dores, tantas vezes vou repetindo o que sinto e o conjunto causa/efeito, o que me faz ficar tão desagradável.
O fato que me está apavorando é que nenhuma daquelas criaturas desencarnou, havendo alguns filhos realizando algo bastante parecido com o que lhes exemplifiquei, o que me tem desequilibrado bastante.
Vejo que fui capaz de realizar o que de mim se esperava, aos trancos e barrancos, muito embora trouxesse rascunhado o texto. Como é grande a responsabilidade de quem se atreve a este tipo de manifestação!
Quero pedir ao médium que faça a prece de encerramento por mim, pois ficarei bem mais tranqüilo, já que estou a ponto de perder o fôlego.




Em tempo.



Ficou no inconsciente do médium o comentário que ia fazer a respeito do que aprendi com meus pais, que se uniram em matrimônio por mais de quarenta anos, apesar das constantes querelas em que mamãe reclamava das fugas freqüentes que papai levava a efeito junto a outras mulheres. Mas temi pela indecência da acusação, apesar de autorizado por eles e pelos mentores. Agora, por solicitação do mediador, criei coragem. Contudo, devo pedir aos amigos que orem por eles, que estão aprendendo comigo as lições de Jesus.







6

PEQUENOS CRIMES





Posso dizer que não me destaquei em nada, nem nas benemerências, nem nos prejuízos causados à sociedade. Tinha pavor de errar contra as pessoas, temendo sempre estar a ofender por atos e palavras inadvertidos, coisa que até hoje me prende, impedindo-me de desabridas atitudes.
Por um lado, é muito bom que assim seja, pois me faz pensar bastante, antes de realizar qualquer ato. Mas, ao contrário do que possa parecer, não me dava a exata visão do bem, terminando por expressar-me mal e por fazer muitas coisas, desconhecendo completamente as orientações evangélicas, já que para tudo via as conseqüências funestas que adviriam para mim, sem saber que algum descortino deveria alcançar por correr riscos calculados, na expectativa de que os sucessos pudessem trazer desconforto momentâneo, mas alegrias permanentes. Em suma, não tinha o hábito do sacrifício nem buscava auxiliar as pessoas, no temor de ofendê-las, de melindrá-las, de provocar-lhes as susceptibilidades.
Desta forma, pratiquei inúmeros pequenos crimes, principalmente por omitir-me perante as dores alheias. Quando bem poderia estender braço amigo, dar conforto material ou palavra consoladora, deixava-me ficar à margem dos acontecimentos, vendo a turba viver intensamente os dramas de suas vidas, sem partilhar eficazmente das correções de rumo, bem dotado intelectual e financeiramente que era.
Estou bordejando o tema, ainda com medo de ofender os leitores, dado que a maioria dos encarnados age segundo o padrão que enunciei como o meu. Não menti e jamais o faria, sabendo, inclusive, que o desvio de opinião dos confrades poderá pesar vigorosamente no avançar espiritual dos mensageiros. O que tento é estabelecer o grau de responsabilidade que se deve assumir, para que não se venha a fraquejar perante os valores que se devem assimilar e divulgar, especialmente pelos exemplos, no duro labor do socorrismo diuturno.
Faço restrições a esta exposição, da mesma forma que critiquei os antigos pendores. Mas este medo de agora não tem maior significado, porque evidenciado, exposto e solucionado pela palavra que se põe de aviso, para que os males se evitem de vez. Entretanto, não tendo muita facilidade em dissertar, vou deixando de mencionar os fatores atenuantes, que me impediram de cair diretamente no vácuo da obscuridade umbrática.
Qualquer, porém, seja a reação dos expertos amigos, saibam perdoar os atrevimentos dos que vêm trazer testemunhos de inferioridade e pregam sabiamente a execução das virtudes evangélicas, como se fossem perfeitos discípulos do Mestre.
Quanto a mim, tenho buscado facilitar a vida dos antigos companheiros, principalmente quando retornam ao campo do etéreo, o que tem ocorrido com muita freqüência, pois estão adentrando a casa dos setenta, quando eu parti para cá lá pelos quarenta e cinco anos de idade.
Gostaria de permanecer mais tempo, mas este seria outro dos pequenos crimes, já que estou obrigando tanta gente a prestar atenção em mim, costume que adquiri quando encarnado, no momento em que tinha de recitar no templo. Era a segurança que me faltava, pois a leitura me desobrigava da exposição das teses pessoais, favorecendo que a responsabilidade corresse por conta dos evangelistas e demais autores bíblicos, ainda mais porque a escolha dos textos não me cabia, absolutamente. Na hora dos comentários, deixava para os intérpretes graduados, recolhendo-me modestamente às funções de acólito das cerimônias.
Sinto-me, porém, muitíssimo satisfeito por ter participado desta mesa, neste momento da retomada das transmissões, após uma semana de interrupção. Gostei de ter inspirado confiança ao médium, propiciando-lhe o apanhado regular do ditado, não tão alheado que me permitisse ser eu mesmo, perfeitamente cônscio de todos os vocábulos, mas também não tão consciente, que se facultasse o ensejo de desviar-se dos temas que lhe propus.
Como se pode notar pelo tipo de observações, estou muito fraco psiquicamente para a decisão definitiva a respeito das responsabilidades minhas e dos outros. Se ouvisse as recomendações dos instrutores e dos colegas, iria despreocupar-me das conseqüências malévolas que mentalidades menos aperfeiçoadas vão extrair do texto, imprimindo, de imediato, todas as informações a respeito do tema, ao invés de ficar borboleteando em torno da bruxuleante luzinha que acendi.
Queiram-me bem e peçam ao Senhor por mim e por todos.







7

CAPRICHOS DE RICAÇO





Tive muitas propriedades e aqui cheguei desejoso de fazer valer a riqueza, como forma mui elevada de virtudes testadas no paradigma dos feitos dos santos. Recusei certa herança e fiz doações substanciosas aos pobretões, conforme os chamava, com certeza para arreliar os poverettos franciscanos.
Mas tudo não passava de certo desforço lúdico, em desafio desabrido da sorte, como a pedir rápido empobrecimento para a comprovação de que seria possível sempre para mim subir na vida, à custa da inteligência e dos expedientes maliciosos de que lançava mão, na argúcia dos negócios escusos que realizava. Era ave de rapina, mas, diante da Divindade, diante do altar e dos sacerdotes, fazia-me passar por timida columba, no deslumbramento das máscaras e das fantasias.
Tão logo cheguei e já fui sendo empurrado para as zonas terríveis do sofrimento umbrático, sem piedade e sem consideração pelos fáceis argumentos de que me armara. Quanta imponderação, meu Deus!
O menos triste foi que comecei, desde logo, a perceber onde se concentrara o meu engano, não me rebelando contra os impositivos da sorte que me destinara, tendo em vista conhecer demasiado bem a frase bíblica do pagamento segundo as obras, que encontrara em diversos trechos e não só nos Evangelhos. Lembro-me bem de ter lido no livro dos Provérbios de Salomão e de ter ficado espantado com a possibilidade que os homens sempre tiveram de conhecer a verdade do fado terreno e de suas conseqüências no plano da espiritualidade, sem que se dessem conta de melhorar o procedimento segundo a filosofia adveniente de tais assertivas tão peremptórias, tão universais.
Transferia para mim as observações sagazes relativas à obtusidade dos companheiros de encarne e buscava capitalizar a memória como fórmula capaz de me subtrair do enrosco em que me metera. Mas minha lucidez se perturbava pelas lembranças de todos os fatos e não apenas do que selecionava, com rigor discricionário, para a obtenção fraudulenta da paz de espírito a que não fizera jus. Imitando a célebre frase shakespeariana: a consciência tem muito mais segredos a desvendar do que possa sonhar a nossa vã hipocrisia.
Se terminasse a redação obrigatória neste ponto, ninguém poderia recriminar-me por não executar qualquer comentário esclarecedor, já que tudo disse de forma condensada, pois os fatos, as circunstâncias, as atividades, os episódios e demais acontecimentos terrenos ligados à minha pessoa, no fundo, decorreram desses preceitos de comportamento.
O que posso acrescer como cortesia da casa, sempre correndo o risco das incompreensões, é o veemente pedido para que os textos sejam interpretados à luz dos ensinamentos cristãos, no sentido do desbastamento de tudo o que não seja rigorosamente evangélico, para que as lições possam aproveitar aos prezadíssimos amigos leitores. E a recomendação de prece bem definida no campo dos desejos do conhecimento das leis maiores a serem respeitadas e seguidas, para que a humanidade possa progredir mais rapidamente, na absorção das verdades eternais.
Peço que me perdoem a ousadia dos dizeres, como se atirasse pérolas aos porcos, lembrando-se de que, na Terra, fui aquele ricaço inconseqüente, cheio de si, egoísta e audacioso. Eis que sou capaz de refrear os maus impulsos, caracterizando-os exatamente como são: gravíssimos defeitos da alma. Mas não consigo circunscrever a tempo o que de pernóstico restou, transudando o texto, por todos os poros, os fétidos miasmas dos pesadíssimos vícios que cultivei.
Conforme devem ter sentido, não fui o santo que pretendi, nem efetuei qualquer sacrifício que me fosse assaz penoso. Doei o que não possuía de meu e resguardei-me exageradamente perante os parceiros de jornada, gozando a vida em delícias do intelecto e da carne, como se tudo pudesse fazer regredir, caso ameaçado por forças colossais. Agora, tenho lutado contra mim mesmo, na personificação mais incongruente das fantasias megalômanas deste Midas, que pensou transformar em riquezas no etéreo tudo o que tocasse com seus poderosos dedos.
Se me deixarem divagar a respeito da personalidade que carreguei vida afora, terminarei por julgar-me maior do que antes, pois o peso das lembranças me atiça para as realizações que desejava grandiosas, quando o mais que consigo manipular são alguns pensamentos dispersos, na ganância da elaboração de mensagem de superior qualidade.
Vali-me do repertório vocabular do escrevente e enunciei alguns conhecimentos extraídos de seu inconsciente. Sendo assim, que prevaleça a confissão final sobre todas as informações, para que os amigos possam ajuizar a respeito das próprias tendências à grandiosidade que se possam imaginar capazes de controlar, à revelia das informações mais simples contidas nos Evangelhos e, como me assopram, nas obras da Codificação Espírita de Kardec.
Que não se percam os que aspiram a crescer com Jesus ao analisarem a terrível performance deste que teve vernizes de cultura, ansiando o mecenato como forma de ajudar a Humanidade a evoluir. Vou ter de reformular cada pequeno conceito incrustado nos termos, para sopesar seus valores morais e espirituais, no contexto das verdades evangélicas, se quiser me predispor com harmonia para o enfrentamento de outras etapas, na ascensão imediata ao socorrismo fraterno.
Rezar será preciso, e é isso que tenho procurado estimular, na tentativa de suplantar todos os impulsos para o verborrágico inconseqüente e deselegante.
Que Deus tenha piedade de mim! Que Deus abençoe a todos nós!







8

CHORO CONVULSIVO





Assim que aportei no etéreo, pus-me a soluçar convulsivamente, sem entender absolutamente nada do que se passava comigo. Não firmara idéia de que havia morrido, verdadeiramente, e não lamentava, portanto, os despojos arremessados no jazigo familiar. Também não tinha certeza de ter feito nada muito errado, embora subsistisse dolorosa impressão, como se algo tivesse deixado para trás, na ânsia das realizações da vida.
A verdade é que não parava de chorar, não reconhecendo os seres que se aproximavam, com muitas palavras de consolação e soerguimento moral. Não compreendia a razão de tanta assistência, quando me lembrava de ter estado ultimamente em triste leito hospitalar, sob os cuidados de algumas freiras, irmãs de caridade, sombras brancas a perpassar fugidias e distantes de meu campo de visão, vozes longínquas e sussurradas, como temendo ferir-me a susceptibilidade auditiva.
Não atinava com o longo período transitório do coma profundo em que consumi todas as energias corpóreas. Era um sonho mau, espécie de alucinação sem retorno, sem despertar, sem consciência. Vagava dentro de mim, sem encontrar vontade que me arrebatasse daquele tremendo transe.
Dessa doença não voltei ao campo carnal, deixando a carcaça naquele fétido e horroroso monturo, apesar de todos os caprichosos desvelos das irmãzinhas.
Gostaria de descrever só as impressões daqueles instantes sem angústia aparente, mas sou obrigada a fazer desfilar uma ponta da realidade circunjacente, para que se tenha a noção do quanto estive submersa nos arcanos da psique. Mas não sofria, não vacilava, não temia e não tinha transportes de contentamento, tudo parecendo flutuar a distância, como em estado de sonolência, sem preocupações, sem culpas, sem remorsos, sem arrependimentos, sem dores. Personificava o morto-vivo em trânsito para o mistério, sem nada saber a respeito do estágio existencial em que permanecia.
Conheço agora que recebi a felicidade do transporte inconsciente e desconfio que o choro convulsivo de que me vi atacada em seguida talvez tenha sido forma de agradecimento íntimo ao Senhor, induzido pelas palavras de orientação recebidas em estado sonambúlico, sem sonhos, sem pesadelos, sem visões, sem tragédias, sem figurações de quaisquer espécies.
Quem fora eu, na realidade?
Eis a pergunta que me fiz, assim que recobrei o domínio das sensações e das emoções. A resposta que busquei veio acompanhada de inúmeros exemplos das posturas de comportamento e temperamentais mais freqüentes, as quais me caracterizavam a personalidade, em tons cambiantes de melancolia, de suave tristeza, de indefinida vontade de alheamento e de esquecimento.
A vida me deu respostas, mas a definitiva, a verdadeira, a esclarecedora fui buscá-la em outras eras, quando me dediquei com maior vigor às querelas do mundo, aplainando as individualidades pela minha, forçando a prevalência de minha augusta vontade, na configuração social em que me inseria, como proprietária, como ama e como senhora de imensas levas de escravos.
Chorei pranto convulso, mas foram restos de lágrimas derramadas em ocasiões de penúria moral e de amargor. Eram as derradeiras manifestações do agradecimento pelo perdão que recebera e pela felicidade de ter podido resgatar os males e os vícios.
Enfatizo os aspectos mais nebulosos, para fixar o princípio do esquecimento benéfico dos crimes pagos com muitos sacrifícios. Eis que se exerce a misericórdia divina até as últimas conseqüências. Mas que se assinalem os duros reveses da vontade em jornada de dor, para que se não pense que o perdão seja irrestrito e que a justiça possa ser escorraçada do âmbito da espiritualidade, como está sendo dos relacionamentos sociais entre os encarnados.
Folgo com a possibilidade destas palavras e a mais não me atrevo por não conter em mim a sabedoria dos bons, a beleza dos artistas, a comiseração dos santos. Mas, amparada pelos parceiros e pelos mestres, submeto o meu tema à apreciação dos companheiros encarnados, na presunção de que venha a ser útil para a elucidação de pontos em litígio intelectual, como sói acontecer quando a honestidade das intenções se apresenta como fundamento dos raciocínios e das exposições.
Se, algum dia, lágrimas lhes escorrerem pelas faces, sem motivação, sem finalidade, deixem que escorram, elevando os pensamentos ao Pai, para o agradecimento oportuno da felicidade de existir sem medo. São reações íntimas que serão esclarecidas a tempo, dentro do quadro das recomposições espirituais obrigatórias.
Deus sempre há de saber o quanto de amor lhe dedicamos.







9

AVISOS ESQUECIDOS





Não levei muito tempo na espiritualidade para descobrir que havia tido o privilégio do conhecimento subjetivo das verdades cósmicas, na forma de avisos que intuía no inconsciente, mas que não traduzia condizentemente na hora de transformá-los em ação, incorporando-os aos atos de todo dia. Transferia as notações para a esfera do consciente, mas buscava ver nos acontecimentos tão-só o que teria sido colocado na forma de predição.
Tinha o sentido mágico como preponderante e não oferecia a mim mesma qualquer atrevimento de interpretação mais adequada aos conceitos que aprendia junto à doutrina espírita, adotada pela família desde há muito tempo, quase no seu nascedouro.
Mas tais águas são passadas e não pretendo lamentar o ocorrido. O que me traz aqui é a necessidade da prevenção dos encarnados que estejam recebendo o mesmo tipo de informações, o que seria uma pena perder, em prejuízo, evidentemente, de todos.
Vou tentar caracterizar esse tipo de observação íntima que os abnegados instrutores espirituais sopram na alma dos viventes.
Tentemos ilustrar com o caso de uma menina que tenha recebido o aviso de que os pais irão sofrer acidente de automóvel. Situação insólita, porque não comum. Mesmo assim, vamos empenhar-nos por compreender o que se passará na mente da jovem criatura.
Sua primeira idéia é a de sair correndo para avisar os mais velhos. Mas, por que o faria, se nada de concreto estiver fundamentando a sua iniciativa? Teriam os pais a devida paciência, o devido respeito pelas suas palavras, ou só ficariam curiosos com as observações, desafiando, ainda mais, o destino colocado explicitamente diante dos olhos?
Tais dúvidas não se ergueriam da maneira por que o fizemos, pois a pobre criança não teria os recursos lingüísticos ou lógicos para tal espécie de desenvolvimento racional. Contudo, no fundo da consciência, seria exatamente assim que reagiria.
Em suma, dadas as desconfianças de que os temores seriam tidos na conta de fantasias, talvez até no intuito de algum ganho providencial, como o fato de não ter de realizar lição na última hora, para poder acompanhar os pais na viagem, por exemplo, calar-se-á, buscando esquecer os avisos recebidos, colocando-os no rol dos maus pensamentos, como aqueles que lhe foram seguidamente censurados, já que, muitas vezes, ao receber péssimas influenciações, passava os tópicos irrefletidamente para os pais ou outras pessoas do convívio.
E, nesse caso, se a presciência se positivar, como irá reagir o intelecto da menininha? Evidentemente, irá desestimular-se para o relato das intuições, especialmente porque irá parecer aos demais que esteja inventando, uma vez que previamente nada disse.
Todas essas terríveis conjunturas eu vivi na realidade, de forma que não estou conjeturando situações mas expondo o fiel retrato do que se passou comigo. Daí por diante, embora meus pais tivessem saído ilesos do acidente automobilístico, não pensava nos arroubos de adivinhação como algo passível de acontecer, mas rezava, surda voz, para que as previsões não se concretizassem.
Resta indicar que a grande profecia do desastre foi única nessa espécie, correndo o mais como simples informações atmosféricas, números desprezados da loteria, observações sobre possíveis reações das pessoas, nada que envolvesse vida e morte.
Entretanto, como fiquei sabendo mais tarde, se tivesse desenvolvido o dom, escrevendo, por exemplo, minuciosamente, cada idéia de prenúncio, orando para que o bom sucedesse e o mau abortasse, iria fazer frutificar esse contato com o etéreo, recebendo dos benfeitores espirituais inúmeros conhecimentos de fatos ignorados pelo consciente, podendo auxiliar as pessoas no reconhecimento de suas possibilidades de execução dos planos, na área dos investimentos morais e evangélicos.
Ao contrário, crente de que havia algo de especial na maneira de me assenhorear da realidade, passei a fazer previsões absurdas para o futuro, como se fosse possível saber como é que os fatos irão desenrolar-se.
Sei agora que a informação do acidente com os meus pais foi espécie de iniciação, pois nada indicava que iriam sofrer sérias contrariedades. Quando busquei conhecer todas as circunstâncias que envolveram os acontecimentos, constatei que houvera concordância de ambos e do grupo de socorristas encarregados do suporte vital, caso as coisas se passassem de modo mais agudo. É que cuidavam de meu desenvolvimento, embora eu mesma permanecesse alheada de tudo, por força de estar enleada nos desmembramentos da personalidade, quando a mente não se firmara completamente no campo da materialidade, estando o espírito embrumado pelo esquecimento infantil.
Sei que estou expondo de forma muito pouco esclarecedora muitos dos fatos próprios das ligações entre espírito e corpo, no dealbar da fase de tomada de consciência intelectual, mas peço que me relevem as falhas informativas, uma vez que o mais importante para mim é revelar que existem acompanhamentos no campo das premonições, sendo pouquíssimos os casos que dão resultados positivos.
Eis o bom aviso que pretendo passar aos pais, pois, no meu caso, apesar de a família se filiar ao Espiritismo, não obtive sucesso. Aliás, perdi-me em conjecturas muito distantes da realidade e passei a vida sem atinar com os grandes benefícios que estava desperdiçando.
Faço restrições a este tipo de mensagem, pois pode parecer que tenha estado em desequilíbrio emocional e que não me tenha restabelecido completamente. Se assim parecer-lhes, em algo poderão estar certos, mas não totalmente, pois tenho tido muitas melhoras, tanto que me foi dada a presente missão, sendo permitido dissertar livremente a respeito do que me pareceu o pior no encarne.
Rogo aos benfeitores da casa que me dêem luz no momento da prece final, para pedir ao Pai que ampare a interpretação dos leitores, porque não fui capaz de fazer-me compreendida pela força da exposição. De maneira nenhuma, todavia, gostaria que se esquecessem destas recomendações para dar ouvidos às palavras das crianças. Pode ser que, através delas, os espíritos protetores estejam trazendo informações importantíssimas, posto de difícil interpretação, dado que muitas são metafóricas, simbólicas, figuradas.
Vou recolher-me ao seio da turma, augurando feliz continuidade de trabalhos a todos. Graças a Deus!













TERCEIRA PARTE



MISCELÂNEA

















1

ECUMENISMO





Se você for convidado
A rezar em outra seita,
Ponha os temores de lado:
Diga de pronto que aceita.

Pode haver certa estranheza
Nos dizeres dessas preces,
Mas, se ditas com nobreza,
Hão de colher boas messes.

Alguns gestos descabidos,
De acordo com seus conceitos,
Podem ser compreendidos,
Se entendidos os preceitos.

Falar ao Pai com amor
Eleva a pessoa aos Céus;
Por isso, não há que pôr
Sobre a vista espessos véus.

Se você for bom cristão,
Há de tudo perdoar,
Propondo, de coração,
O que for mau aclarar.

Se lhe faltar competência,
Se sofrer certa indigência
No setor intelectual,
Não se amofine por isso,
Mas evite compromisso
Onde esteja certo o mal.

Vá rezando aos benfeitores,
Para sustarem as dores
Que afligem os desalmados.
Até mesmo ódio perverso
Pode sofrer um reverso,
Se os atos são explicados.

É bem raro acontecer
Que se requeira um dever
De maldade para o Pai.
Ao se rezar para os santos,
Serão outros os encantos
Que o que sofre sobressai.

Se se tem forte a vontade,
É ato de caridade
Amparar os que fraquejam.
Mas, se o medo assume a alma,
Há que se ter muita calma:
Bem poucos assim mourejam.

Se, porém, tudo for bom,
Se do amor houver o dom
A espalhar contentamento,
Vamos orar ao Senhor
Que elimine toda dor,
Ao menos por um momento.







2

CORPO DE BAILE





Não tive a honra de conhecer o autor da conhecida obra (João Guimarães Rosa), mas roubo-lhe o título para minha modesta mensagem, pois pertenci ao corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, por mais de doze anos de profícuo trabalho. Apresentei-me em divinais peças coreográficas e destaquei-me como primeiro bailarino, após alguns anos de batalha consagrada a suplantar os defeitos de postura e a tendência à aquisição de peso.
Não vou esmiuçar os conhecimentos a meu respeito, pois estamos impedidos de identificar-nos perante os encarnados, por acordo. Mas devo dizer que estive muito vinculado a todos os integrantes da companhia, jamais exercendo papel que não fosse o da liderança positiva e alegre. Contudo, as recordações das façanhas de palco não podem influenciar-me neste augusto momento, em que devo deixar o registro das dores e das felicidades, de vida cheia de conquistas profissionais e amorosas.
Estive muito próximo de me fazer vítima de séria doença sangüínea, mas me safei a tempo, esclarecido que fui por indicação beatífica dos protetores espirituais, já que, antes de proceder a novos encontros na área da afeição sexual, ia a centro de Umbanda, para a devida inquirição dos benfeitores da casa.
O que me disseram foi que evitasse o contato com a pessoa que estava assediando-me, se possível que a encaminhasse a hospital para exames preliminares, como se estivesse em vias de casar-se, o chamado pré-nupcial.
Corri em auxílio da desafortunada criatura e muito me espantei com a veracidade das informações. A partir dessa época, interessaram-me os procedimentos cármicos da espiritualidade e passei aos estudos das obras espiritistas, no intuito principal de conhecer as razões de não ter sido jamais admoestado pelo orientador, por manter relações homossexuais.
Aos poucos, fui moralizando o procedimento, tendo chegado ao ponto de constituir verdadeira família, sob a proteção dos orixás, de quem recebia inúmeras obrigações de alto teor apostólico, as quais me empenhava por executar o mais sadiamente possível.
Não irei muito longe nas conseqüências desta exposição. O que pretendo demonstrar é que realmente Deus escreve certo por vias tortas, havendo sempre misericórdia nas ações daqueles que trabalham em seu nome. Não fora o oportuno esclarecimento e, por certo, a minha caminhada na Terra teria concluído de forma desastrosa.
Claro está que nem tudo o que fiz foi proveitoso no âmbito da espiritualidade, uma vez que nem todos os nós consegui desfazer na torcida corda de minha vida. Mas a ajuda que recebi da companheira e dos filhos foi fundamental, para que não precisasse espojar-me nos lodaçais das trevas.
A bem da verdade, fui recolhido por irmãos e protetores em estado semiconsciente, precisando passar alguns tempos internado para revigoramento das energias desgastadas por anos a fio de desperdícios espirituais. Mas, nesse tempo, pude agradecer ao Senhor por ter-me agraciado com tantas bênçãos de felicidade.
Volto para o relato incompleto e imperfeito, na tentativa de registrar a necessidade de se admitir a salvação a qualquer momento da vida, mesmo quando se está a pique de cometer suicídio, ainda que inconsciente. Que as minhas palavras tenham o dom de despertar uma única pessoa instável doutrinariamente e terei alcançado ingressar, por via indireta, nas sendas do socorrismo evangélico!







3

CONVITE À PSICOGRAFIA





Vamos convidar o amigo
A partilhar desta mesa:
Fique à vontade comigo,
Ponha p ra fora a incerteza.

Escreva o que lhe vier,
De súbito, na cabeça,
Tenha a forma que tiver:
Só não deixe que se esqueça.

No começo, algum sentido
Há de ser bem parecido
Com suas próprias idéias.
Mas o que for diferente
Não deve estranhar a gente:
Talvez sejam panacéias.

Pouco a pouco, vão firmando
Que existe um outro comando
A ditar-lhe os pensamentos.
Com a bondade dos mestres,
Vai ver que não são terrestres
Tão augustos sentimentos.

Ao se criar confiança,
Mediunidade não cansa,
Só traz imensa alegria.
Se forem simples mensagens,
São feijões dentro das vagens,
São dons de sabedoria.

Se forem de Deus os entes,
Vão fazer mais excelentes
Esses momentos de amor;
Mas, se forem sofredores,
Hão de ter tristes pendores
A testar nosso valor.

Mas sempre temos que dar,
De modo assaz exemplar,
Um voto de confiança,
Solicitando aos mentores
Que atenuem suas dores,
Ou a missão não avança.

Contudo, cabe ao etéreo
O trabalho bem mais sério
De conduzir a conversa.
Em caso de desespero,
Que se evite o exagero,
Co a mente no bem imersa.

Em todo caso, porém,
Que não se perca ninguém
Por titubeios na fé.
O local é protegido,
Quando se tem conseguido
Demonstrar que bom se é.

Dessa maneira, o escrevente
Deixa de ser insciente,
Firmando seus dons na escrita.
Entretanto, eu recomendo
Que não vá sair dizendo
Que a imperfeição o irrita.

Se quiser textos perfeitos,
Vai aguardar os eleitos,
Trabalhando com afinco.
Quem sabe, num belo dia,
Sem perceber — quem diria?! —
O texto estará um brinco.

Podem ocorrer uns versos,
Não como estes perversos
Que ditamos de improviso,
Mas, talvez, uma obra-prima,
Com melodia e com rima
Próximas do paraíso.

Você vai poder dizer
Que está cumprindo o dever
Que aceitou inda no etéreo,
Pois quem cumpre sua missão
Para a evangelização
Sabe que não há mistério.

E, ao final dessa jornada,
Já não faltando mais nada,
Vai agradecer a Deus,
Mesmo que haja sofrido
Por não ser compreendido
Até por parentes seus.

Tudo havemos de esperar
De quem vai mais devagar
Na aquisição das virtudes,
Aumentando a paciência,
Demonstrando persistência
Perante as vicissitudes.

Eis alguns conselhos meus,
Que dou em nome de Deus
A quem tem boa vontade.
Se julgar atrevimento,
Espere mais um momento
No fervor da caridade.

E reze um pouco por mim,
Pondo fora o que é ruim
Nestes versos que deixei.
Solicite a um bom irmão
Que refaça esta canção,
Seguindo os itens da Lei.

Se julgar minha modéstia
Muito falsa, triste réstia
De vaidade e despudor,
Esqueça já esta rima,
Demonstre que tem estima
Por quem seja inferior.

Mas não despreze a verdade
Que é responsabilidade
De quem vem pregar o bem;
Estude o seu Evangelho
Que o que é novo vira velho,
No amor que Jesus nos tem.







4

PEDIDO INUSITADO





Agradei-me sobremaneira quando recebi a informação de que deveria colocar-me à disposição dos mentores. Decididamente, incomodava-me por não ter sido solicitado, apesar dos três cursos junto ao mediador, como observador, como auxiliar, como aluno de primeiras letras. Que seja, então, na qualidade de informante, para as pesquisas psíquicas levadas a cabo pelos colegas mais adiantados.
O que mais me deixou alegre foi terem-me possibilitado descrever o meu estágio evolutivo atual, para o que me pediram que demonstrasse os contornos das alegrias e tristezas, principiando pelo fato de estar a transmitir a mensagem.
Antes de mais nada, busquei nos arquivos textos de igual teor, mas surpreendi-me por encontrar tão-só vestígios desta espécie de comunicação, nada que pudesse oferecer-me roteiro integral. Tenho para comigo que esteja sendo pioneiro, pelo menos no que concerne aos trabalhos junto a esta mesa.
Eis o que verdadeiramente teve importância para mim nas derradeiras horas. Não fiquei preocupado, pois sabia que poderia desempenhar a contento o papel de redator, embora pequeno frio me percorresse a espinha, à maneira dos sofrimentos corpóreos dos encarnados na iminência de apresentação pública.
Sinto-me um pouco exagerado nas minudências descritivas, mas me esforço para não executar texto excessivamente técnico, dando curso às idéias de forma comum, como eu mesmo gostaria de receber dos instrutores, sem ademanes de elegância, nem esquisitices vocabulares. Contudo, por menos que faça, termos irão passar como pernósticos, porque não tenho a facilidade da composição isenta de certa compostura cultural, para não dar a impressão de que o que é rude é que deve ser cultivado pelos irmãos na carne.
Eis a lição mais atual de que possa lembrar-me para passar neste instante, qual seja a de que todos devem aperfeiçoar-se em todos os campos, não se deixando iludir pela falsa simplicidade apregoada a partir do Sermão da Montanha, em que Jesus enalteceu a figura do humilde, do sofredor, do pobre. Entretanto, quero ressaltar que o Mestre não colocou em pedestal quem fosse malicioso, preguiçoso, miserável, avaro. Não vamos confundir os termos ou os conceitos, por favor.
Coube mais especificamente ao Espiritismo ressaltar a necessidade dos estudos em todas as áreas, o que se condensou na expectativa de que iria desenvolver-se paralelamente aos avanços científicos da humanidade, não podendo, portanto, ficar à margem das descobertas e das invenções, como ainda da filosofia, da religião, da política e demais fatores de desenvolvimento da sociedade. De fato, a idéia da evolução domina a doutrina espírita, a partir da sábia colocação de que tem a criatura o dom do crescimento espiritual ininterrupto, dada a constante assimilação das virtudes, da moralidade, dos dons mediúnicos e da absorção da verdade, como resultantes da aplicação da caridade, da fé e da esperança.
Eis em que ponto me situo presentemente perante os conhecimentos, instando por facultar à psique a integração definitiva dos conceitos, de forma que todos os pensamentos e procedimentos se irradiem dessa posição doutrinária evangélica.
Por isso, não temo vir defrontar-me com os encarnados, mesmo que não tenha o brilho constelar das grandes inteligências, ainda porque o pessoal daqui se esmera por corresponder à iniciativa da vigilância contra a vaidade, o orgulho e o egoísmo, tudo fazendo para que tais péssimos hábitos, que soem incrustar-se na personalidade, fiquem esquecidos, como lembrança terrível das épocas em que lutávamos por destacar-nos perante os companheiros no mundo.
Faço por recordar tais desvios da pregação cristã para desfazer as desconfianças de que cá estou somente para apregoar as qualidades em fase de aquisição. É que, a par da descrição da atualíssima forma de encarar a existência, também não posso olvidar o dever de orientar os bons amigos leitores, sem ofender a tantos que estão passando ao largo destas recomendações, por caminharem bem à frente, na senda das terras do Senhor.
Quem dera poder ministrar conhecimentos mais adiantados! Contudo, se estivesse preparado para isso, não é certo que não estaria recebendo a incumbência? Pensem nisso, para que possam perdoar-me as ousadias e para que possam colocar-se em meu lugar, imaginando-se em situação de ter de manter contato com os irmãos de outra esfera, tendo algo bastante importante para transmitir.
Se a mais não me atreverei, saibam compreender que é chegada a hora das preces de agradecimento ao Pai, estendendo afetuosos braços para carinhoso afago aos protetores e benfeitores da espiritualidade.
Como estou bastante à vontade, vou deixar o meu estímulo ao médium, para que prossiga oferecendo-se à psicografia, missão de superior quilate, quando adequadamente realizada com os mentores das instituições do tipo da Escolinha de Evangelização.
Maciel se congratula comigo e me abraça comovido, como faz com todos os que vão encerrando as participações, dizendo-me que registre que gostaria de fazê-lo a todos os amigos leitores, para o que deverão colocar-se à disposição do plano espiritual, na ânsia saudável de frutuoso contato evangélico.
Fiquemos todos nas mãos de Deus!







5

PREPARAÇÃO PARA A MORTE





Na hora da despedida,
Vamos manter nossa calma:
Quanto mais a gente lida,
Mais presa fica noss alma.

Na hora do desespero,
Evitemos as loucuras:
Quanto mais haja exagero,
Mais surgem almas impuras.

Na hora do reingresso,
Contenhamos nosso medo:
Quanto maior o progresso,
Mais se decifra o segredo.

Se tivermos mais paciência,
Mais amor, mais sapiência,
No momento de partir,
Mais fácil fica o desarme
Das tricas do nosso alarme:
Chega mais cedo o porvir.

Se, por tudo o que fizermos,
Menos força ali tivermos,
Ao enfrentarmos a morte,
Então, noss alma carece
De se concentrar em prece,
P ra alcançarmos melhor sorte.

Confiemos em Jesus,
Que os filhos todos conduz
Para destino de glória.
Em qualquer impedimento,
Evitemos o tormento
De pensarmos em vitória.

Vamos conter nossas ânsias,
Pois são fortes as ganâncias
De quem se vê justiçado.
Somos todos réus primários,
Mui simples protozoários,
Se Jesus ficou de lado.

Mas se vivermos na fé,
Sabendo quem Jesus é,
Nas esferas superiores,
Vamos ser bem recebidos,
Protozoários sabidos,
Sem ânsias, lutos ou dores.

Sigamos, pois o Evangelho,
Novo Testamento velho,
Aqui posto há dois mil anos,
Tempo mais que suficiente
Para tornar experiente
Quem conheceu desenganos.

Louvemos a Jesus Cristo,
Que foi, um dia, malquisto
Pelos homens cá na Terra.
Carreguemos nossa cruz,
Na esperança de mais luz
Que o amor ao próximo encerra.

Vamos pedir ao Senhor
Que reconheça o valor
De quem luta pelo bem,
Que nos dê felicidade,
Por amor, por caridade,
Nesta jornada e no além.

Saibamos reconhecer
Que é profundo o bem-querer
Que nos dedica o Senhor;
Mas também compreendamos
Que pendem frutos nos ramos
Que cuidamos com amor.

Tudo depende de nós,
Da forma que damos nós
Na corda da nossa vida:
Trabalhemos com afinco
Que são duas vezes cinco
Os mandamentos da lida.

Respeitemos estes versos,
Mesmo sabendo perversos
Os intentos que trazemos;
É o mínimo que pede
Este que sempre intercede
Por quem perdeu um dos remos.

Sejamos sentimentais,
Mas não deixemos jamais
Que o emotivo assuma a alma:
As sensações superiores
Vêm isentas de clamores,
São gozadas com mais calma.

Abaixemos a cerviz,
Não metamos o nariz
Onde não somos chamados:
Quem quiser subir na vida
Há que mantê-la instruída,
Com prestimosos cuidados.

Dessa forma, a nossa morte
Vai ser mais que um simples corte
Do cordão perispirítico:
Haverá uma grande festa,
Uma vez que nada resta
Daquele momento crítico.

Amigos e companheiros
Demonstrarão, mui faceiros,
Que progredimos bastante;
Lágrimas derramaremos,
Ao depositar os remos,
Com brilhos de diamante.

Sairemos vitoriosos
E faremos jus aos gozos,
Aos pés de Nosso Senhor;
Sentiremos o poder
De todo o seu bem-querer,
Na concretude do amor.

Por enquanto, vamos indo,
Buscando tornar mais lindo
O sentimento da hora,
Que os versos que agora lemos
São apenas os bons remos
Que nos vão levando embora.







6

DIA DE ESTUDO





Havemos de reservar, pelo menos, um dia na semana para o estudo regular de obra espiritista, especialmente as do pentateuco kardequiano, conforme as necessidades levantadas pelos componentes do grupo.
Sabemos da existência de inúmeras equipes interessadas em tais estudos, constituindo-se, em muitos centros espíritas, obrigação inarredável de todos. Eis que se transforma a palavra de Kardec em orientação segura, pois a instrução deve correr a par dos feitos carititivos, na assistência diuturna a encarnados e a espíritos sofredores.
Nesses dias, os procedimentos de preparação moral e física devem ser exatamente os mesmos que se realizam para as sessões de recepção mediúnica, uma vez que os instrutores e protetores da casa permanecem atentos para as manifestações dos pupilos, buscando influenciá-los para as assertivas mais valiosas na compreensão dos temas em debate. Mesmo nessas horas, os que se deixam magnetizar falam pelos preceptores e benfeitores.
No atendimento, portanto, de tais solicitações, deve-se estar limpo das impurezas dos maus pensamentos, do uso de entorpecentes ou de estimulantes, seja o fumo, seja o álcool, sejam as drogas farmacêuticas, inclusive as que se receitam para tratamentos do sistema nervoso. Havemos de cuidar para liberar as informações do etéreo, cuja importância transcende nossa compreensão, dado que inúmeras entidades estão recebendo os ensinos diretamente dos preceptores.
Haverão os amigos de perguntar por que tanta preocupação com os humanos, se os elementos da aprendizagem podem ser passados sem seu concurso. É que a participação dos encarnados faz o pensamento dos mestres como que concretizar-se, para a eficácia dos silogismos apropriados para a mentalidade dos que se prendem muito fortemente aos pendores terrenos, acostumados mais ao raciocinar que aprenderam na carne que aos vôos através dos conhecimentos profundos dos evangelizadores. Ainda aqui se trata de questão de freqüência vibratória, em aproximação ideal das ondas entre as criaturas afins.
Eis revelada importância complementar ao aprendizado das diretrizes doutrinais em pauta, de sorte que se deve manter em alta consideração a responsabilidade que se assume, apesar de serem simples leituras e debates de temas espíritas.
Em suma, muito amor em tudo o que se faz no sagrado recinto das reuniões, para que o Mestre possa cumprir a promessa de estar onde duas pessoas se juntem em seu santo nome. Basta imaginar que haja prepostos de Jesus a amparar fluidicamente os trabalhos, para que se acentue o respeito por esses momentos de meditação e absorção evangélicas.
Sendo assim, havemos de conter os ímpetos da opinião, na ânsia de ver os pontos de vista prevalecerem, amainando o quanto possível o entusiasmo que possa prejudicar o andamento da sessão, mas mantendo alto padrão vibratório, no augusto interesse da assimilação da verdade, para que os conhecimentos sedimentem a nobre sabedoria para quem deseja ultrapassar os limites da ignorância. Afinal de contas, já diziam os antigos, o saber não ocupa lugar e um dos tópicos essenciais para que as reuniões produzam resultados positivos é o procedimento polido e educado.
Por outro lado, ainda na linha do comportamento derivado dos ensinamentos de Jesus, perante as assertivas evidenciadas pela razão, segundo o consenso universal das obras principais, que seja o nosso sim, sim, e o nosso não, não, perante os desvios enunciados com claras manifestações de perturbação. Para isso, porém, a firmeza do caráter deve unir-se à lhanura do trato, para que saibamos perdoar os que nos ofenderem, vencendo as tentações com a ajuda dos padrinhos espirituais.
Tal propositura nos leva, inexoravelmente, a propor que tudo se dê sob os auspícios da Divindade, para o que as preces devem ser ditas com emoção, na expectativa de se receber o auxílio dos companheiros orientadores. São aspectos religiosos a envolver com halo de proteção fluídica os integrantes do grupo, para que os estudos se desenvolvam em ambiente de paz e fraternidade, além de possibilitar que haja a camaradagem própria dos que comungam dos mesmos ideais.
Muito mais falaríamos a respeito deste tema, pois sabemos que estamos tocando em ponto susceptível de controvérsias, uma vez que os pré-requisitos que se exigem para estas atividades, tendo em vista as dificuldades inerentes aos assuntos específicos da doutrina, pairam em nível muito elevado para os que não se dedicaram (a maioria), por razões as mais diversificadas, à aprendizagem das matérias dos currículos, mesmo porque muitos sequer tiveram oportunidade de lustrar os bancos das escolas oficiais.
Saibamos agradecer ao Senhor, de qualquer forma, estes momentos tardios, lutando com todas as forças para o entendimento dos textos e das explicações dos mais experientes, impedindo-nos de julgamentos preconceituosos, tendo em vista que para tudo possuímos fórmulas pessoais. Humildade, dedicação, boa vontade, amor ao que se faz são pontos sagrados que se devem instalar na personalidade, para que se aproveitem ao máximo os estudos.







7

REGRA ÁUREA





Caso perdido esteja o bom amigo
Nos devaneios tristes dessa vida,
Não pense nunca ter a alma ferida:
Reze um pai-nosso a evitar perigo.

Contenha os ímpetos na forte lida,
P ra conseguir das dores doce abrigo,
Que o bom, na Terra, é conservar consigo
O amor que a caridade convalida.

O mais é respeitar os semelhantes,
Não desejando a eles nada além
Que a nós oferecemos, delirantes.

Que tudo o que façamos seja o bem,
Buscando sempre ser melhor que antes,
A semear um grão, colhendo cem.







8

DA QUALIDADE DOS TEXTOS MEDIÚNICOS





É conhecida a posição espírita segundo a qual a lisura estilística reflete a maior ou menor autonomia do comunicador. Quanto mais adiantado em moralidade e em conhecimentos, parece claro que deve o mensageiro fazer refletir seu estágio evolutivo no conteúdo e na forma das composições. Não há discutir tal postura ideológica, tendo em vista, principalmente, que os elementos do raciocínio encontram fundamento mesmo entre os desencarnados, nas variadíssimas transmissões que realizam.
Contudo, a extensão e a profundidade dos textos têm caminhado no sentido do oferecimento de subsídios doutrinais compreensíveis até mesmo pelas pessoas incapazes de decifrar os signos do alfabeto, abeberando-se nas leituras que lhes facultam os companheiros, condoídos, muitas vezes, das dificuldades dessas mentes assaz rudes até para se capacitarem ao mais simples. É que, se tudo se deixar para os mais inteligentes, os mais sensíveis e os melhor educados nas academias dos ensinos superiores, muito da pregação cristã se baldará, no sentido de não se estimularem os humildes ao crescimento intelectual.
Este mesmo texto não se compõe tecnicamente para a publicação indiscriminada dos periódicos, mas poderá ser lido, com algum agrado, por aqueles que se estimam cultos, doutos ou eruditos, mediante os estudos que empreendem nos diversos ramos do humano saber. Mas passará pelo rigor canônico dos próceres do movimento espírita, para a divulgação evangélica que todas as comunicações do etéreo, por definição, requerem?
Dispusemo-nos a enfrentar o tema difícil do arbítrio responsável dos que administram a editoração das obras mediúnicas, para refletir, com carinho, a respeito dos temores que assaltam os corações, quando as manifestações se situam em campos não inteiramente devassados pela percuciência kardequiana.
Por outro lado, quando os autores não assinalam nomes de repercussão junto aos encarnados, ficam ainda mais temerosos de se colocarem, inadvertidamente, sob os auspícios da maldade e da hipocrisia, rejeitando, de pronto, tudo que não lhes pareça seguramente fruto de trabalhos medidos ou sopesados pelos parâmetros conhecidos. Dessa forma, muitos textos correm o risco de se perderem, quando os médiuns não se dispõem ao trabalho do sutil esclarecimento da importância das produções dos benfeitores espirituais.
Infelizmente, devemos apontar a existência de inúmeras publicações não inteiramente confirmadas como obras mediúnicas nem tão fundamentadas nos ensinos de Jesus, no interesse que se tem de arrecadação de fundos para as obras assistenciais da benemerência afeta aos editores ou aos autores mais ou menos anímicos de tais produções, quase sempre destinadas a público feminino, sob a linha do romance piegas e mal acabado. Caso tais mensagens contenham elementos propícios ao convencimento dos neófitos de que devam persistir no aprendizado da doutrina espírita, terão inequívocos méritos e merecerão o respeito dos que labutam no mesmo campo da divulgação e da fixação das diretrizes espíritas. Entretanto, como temos tido oportunidade de observar, muitos textos não buscam mais do que as emoções e sentimentos banais das criaturas que se deixam envolver pelos halos da fantasia, no ajustamento psíquico necessário para a descarga das frustrações.
Estamos desejando que os critérios para a editoração das obras sejam revistos e melhor adequados aos padrões modernos da literatura engajada à filosofia e à moralidade da espiritualidade atuante, sempre sob a orientação da palavra de Jesus, mormente no incentivo da aquisição das virtudes e da teoria.
Situado o conteúdo, a forma não poderá afastar-se da metodologia própria dos gêneros literários, não podendo o texto poético seguir as normas do conto, o romanesco, as do discurso moralizador, e assim por diante. Mas esta avaliação é artística e não cabe ao editor questioná-la, a menos que flagrantemente desrespeitosa dos valores aceitos como os mais adequados para a educação moral dos leitores.
Como se pode perceber, mesmo nos aspectos literários extrínsecos, colocamos restrições para a total liberdade dos autores espirituais, embora o façamos segundo orientação discutida, aprovada e determinada no âmbito da Escolinha de Evangelização, já que não podemos falar em caráter universal.
Delimitado o nosso ângulo de visão, reiteramos o aviso sobre a necessidade de melhor ponderação quanto ao que publicar nos periódicos espíritas e nas edições em livros, instando para que se possa oferecer maior amplitude para as produções mediúnicas, hoje muito inferiorizadas relativamente ao espaço ocupado pelos autores encarnados.
Se os bons amigos estiverem conhecendo esta mensagem em livro, podem acreditar que nossos argumentos mereceram a atenção de editor corajoso o suficiente para desafiar a sorte, no encapelado oceano das desconfianças do mundo.







9

TEMPO E SABER





Não temos tempo p ra perder na vida,
Cuja importância está mal informada,
Que esta leitura virou pó de estrada,
Pois o seu tema é beco sem saída.

Contudo, a pressa, que se tem azada
Para trazer a alma embevecida,
Só nos aumenta a dor, na humana lida,
Que as emoções nos dão um quase nada.

Assim, pensar é próprio dos viventes
Que dão, ao tempo seu, sentido puro,
Tornando-lhe os minutos excelentes.

É que o saber recebe muito apuro,
Ao transformar em atos conseqüentes
O raciocínio sóbrio e mais seguro.







10

COMPROMISSOS DE VIDA





Um dos pontos mais polêmicos das teses espiritistas é a eventualidade dos dramas que vão surgindo durante a vida, segundo o ponto de vista dos encarnados. Não teríamos muito a comentar, não fossem as freqüentes dúvidas levantadas pelos consulentes de todos os centros espíritas e por todos os leitores das obras mediúnicas.
A principal queixa é a de que os mortais não trazem clara lembrança dos deveres e obrigações, correndo todas as ações como o produto do arbítrio, perante as diversas possibilidades de respostas às instigações do destino.
Claro está que ninguém é tão obtuso que não perceba que existe linha de predominância de comportamento, de forma que cada pessoa pode apaniguar-se de possuir caráter e reações distintas, a lhe demarcar os limites da atuação. Mas gostariam, muitas vezes, de não agir impulsionados pela voluntariedade da primeira hora, tendo oportunidades de refletir a respeito das melhores atitudes, ou seja, aquelas que se exerceriam se todos os regulamentos e normas evangélicos fossem respeitados. Geralmente, pensam assim os que tiveram ensejo de perceber falhas de procedimento a gerarem sentimento de culpa e arrependimento.
Estamos vendo que os pedidos de esclarecimentos partem de quem está às voltas com problemas conscienciais, tendo refletido sobre os acontecimentos como necessidade imperiosa de aprendizado cármico, chegando a exigirem conhecimento seqüencial dos fatos, para que não venham a esbarrar, de novo, nas imponderações, nos desvios de conduta, nos vícios e nos crimes.
Mas a vida, devemos concordar, inicia-se de forma imatura para os indivíduos, que necessitam aprender todos os comportamentos que não sejam puros atos reflexos. Toda argúcia intelectual decorre dos diferentes fatores ambientais e sociais, de forma que a responsabilidade do crescimento, no âmbito das aquisições espirituais, no começo, fica por conta das pessoas que cuidam dos jovens a partir da primeira infância. Sendo assim, nada mais justo do que aprender com os acontecimentos, na expectativa de que os conhecimentos se fixem indelevelmente no cérebro, onde devem sofrer o tratamento vigoroso da reflexão.
O ato desta leitura está a evidenciar que os amigos estão tentando desenvolver esse aspecto das induções filosóficas e morais, dado que julgam que a experiência aqui depositada possa evitar outras quedas ou, ao menos, facilitar o encaminhamento para a percepção da realidade existencial.
Se formos desenvolver a tese, iremos demonstrar que os compromissos residem no campo da aprendizagem e, portanto, todos os acontecimentos nada mais são do que os estímulos necessários para que haja aprimoramento das qualidades espirituais subjacentes na alma, desde que seja considerado válido o princípio de que a luz somente se fará quando a pessoa estiver interessando-se por compreender a criação.
Se nos fosse pedido conselho e não apenas o conhecimento subjetivo das próprias tendências, como é costumeiro nas consultas, iríamos sugerir que as pessoas não se preocupassem em cumprir os compromissos de vida pelo que possam representar como antigos problemas a serem solucionados, mas como passagem obrigatória, uma vez que as antigas condições tenderão a se manifestar em todos os atos. É o aperfeiçoamento, afinal, o objetivo último de todos os encarnes e só pode ser conseguido sob a luz do evangelho, conforme exaustivamente descrito em O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec.
Se estamos gastando tanto vocabulário para dizer coisa tão simples, como a recomendação da obra mais lida e consultada dentro da doutrina, é porque o movimento espírita se tem norteado pelos padrões evangélicos superiores, não precisando ir muito longe para a declaração de que o Senhor nos ama e nos oferece seus ensinamentos para a mais sábia orientação existencial possível.
Portanto, não despreguemos os olhos do horizonte de luz que o Nazareno nos trouxe, se quisermos agir com honestidade, com ponderação, dentro dos limites que temos estabelecidos pela natureza de nossa personalidade. Seguir os caminhos do mundo, alheados da pregação cristã, não será, com certeza, a maneira mais fácil de absorver as virtudes e de eliminar os vícios; não será, com certeza, a maneira mais exeqüível de atingir o máximo de capacitação no encarne; não será, com certeza, a maneira mais rápida de se aperceber do que nos falta, para as providências imediatas de correção do rumo, para a ascensão ao Paraíso Celeste.
Quanto a nós, que temos melhor definidas as diretrizes de atuação, dado que, no etéreo, a partir de certa faixa vibratória, recebemos o auxílio direto e lúcido dos benfeitores, cujas áreas de influenciação se estendem por campos insuspeitados dos humanos, vamos exercendo o direito dos estudos e das manifestações deste teor, no pressuposto de que poderemos amenizar as suspeições dos terrenos, lutando por fazê-los artificialmente mais sábios, uma vez que nem tudo irão poder concluir das tremendas lutas em que se empenham para a subsistência e para a consecução de todos os ideais.
Esperamos encontrá-los nesta mesma zona de aprimoramento espiritual. Se assim não for, dignem-se os melhores a trazer-nos notícia dos planos mais elevados, para que nos esclareçam, de forma definitiva, a respeito das falhas e dos caminhos que deveremos trilhar para seguir-lhes os passos. Entretanto, se o irmãozinho acabar caindo em regiões de maior sofrimento, digne-se lembrar-se de nós, para que possamos realizar o aspecto mais belo de tudo o que estamos em vias de aprender: o socorrismo fraterno, aquele que nos estimula a persistir na linha evolutiva, como forma de agradecer os bons desempenhos dos benfeitores, quando vieram trazer-nos o conforto de sua pregação.
Que Jesus nos auxilie sempre, por força de nossa aplicação aos estudos e aos trabalhos evangelizados, para que possamos ascender em paz aos páramos da eterna felicidade!







11

LUZ E SOM





O senso da visão que permanece
Depois da morte é muito diferente:
Se percebermos luz alvinitente,
Vai ser boa a colheita dessa messe.

Mas, se diante de nós tudo escurece,
Pois o mal que se fez derruba a gente,
Vamos rogar ao Pai, humildemente,
Que nobre protetor ouça essa prece.

O nosso corpo astral emite luz,
Caso tenhamos feito só o bem,
Seguindo os passos dados por Jesus;

E os nossos sons vão ressoar no além,
Em doce melodia que seduz
Quem tenha o mesmo amor por nós também.







12

EM NOME DO PAI





Teria Jesus feito repetidas referências ao Ser Supremo do Universo, quando se manifestava como intérprete da vontade paterna, dizendo tratar-se daquele que estava no Céu? Ou estaria citando espírito de superior categoria, sem jamais estabelecer elo com o Criador?
Já se perguntaram os caros irmãos a respeito dessa possibilidade, ou julgariam excessivo atrevimento suspeitar sequer que o Mestre Nazareno estivesse referindo-se a alguém que, sendo superior, ainda assim seria mera criatura?
Os mais espertos irão permanecer solidamente na defensiva de que Jesus, permanentemente, estaria enaltecendo a presença do Criador. Mas os que estão investigando a respeito da veracidade das assertivas dos evangelistas, desconfiando mesmo de muitos artifícios posteriores, para a configuração de que houve muita farsa na atribuição das supremas virtudes do Enviado, terão a susceptibilidade atingida por colocação pelo menos inusitada, a partir de texto mediúnico?
Eis exemplo assaz categórico de mensagem dubitativa, no interesse da agitação moral e testemunhal do vigor da crença cega, ao contrário das constantes pregações kardequianas, que recomendava aos companheiros encarnados que a fé se solidificasse pelos argumentos fortes dos raciocínios, no estabelecimento de diretrizes mais científicas, para a correta avaliação que se deve executar de todos os aspectos existenciais.
Estamos fortemente abalando as estruturas de fé dos leitores, para que possam constatar até que ponto se deixaram impregnar das informações fundamentadas no temor de cair em tentação, segundo a visão mais aterrorizante dos caldeirões e tridentes infernais.
Há superstição subjacente na maneira de observar os fatos relatados nos quatro Evangelhos, ou os amigos se destacam do vulgo temeroso, aventurando hipóteses não muito convencionais, para definitivo esclarecimento das suspeitas de que não houve milagre, nem ressurreição, nem promessa de Consolador, que, matreiramente, os espíritos passaram a considerar como se fora o próprio Espiritismo, para fazer valer a predição como norma superior dos planos espirituais?
Eis graves questões que podem restar sub-reptícias na consciência dos mais extremados, na configuração da possibilidade de entendimento das verdades pelos humanos, já que a serpente nos ofertou, desde há muito, o fruto da árvore da ciência, esquecendo-se de nos dar o da própria vida.
Estes são estremeções de luz, caso venhamos a considerar a postura superior de quem não tem dúvidas a respeito da infinita misericórdia de Deus, como Pai, como Criador, como Ser Supremo ou Inteligência Suprema, conforme a definição fornecida aos homens pelo Espírito de Verdade.
Desconfiar das palavras do Mestre não é pecado ou estaríamos na iminência de supor que Kardec estivesse sendo iludido por espíritos de inferior categoria, já que o codificador espírita põe muitas dúvidas nos textos evangélicos, haja vista a ampla análise que nos proporcionou nas páginas translúcidas de A Gênese, as Profecias e os Milagres Segundo o Espiritismo, obra que se há de ler para o perfeito entendimento das proposições que levantamos para surdo debate íntimo ou acalorada discussão nos sagrados recintos dos centros espíritas.
Se tudo estivesse definitivamente determinado para a mentalidade dos seres encarnados, não viriam os espíritos trazer a teoria da reencarnação como necessidade evolutiva. Bastaria que os homens se estimulassem para o conhecimento das verdades, conforme fossem avançando em idade cronológica, chegando ao ápice do aperfeiçoamento no momento sublime do trespasse, instante em que seriam recebidos na glória eternal de Deus, conforme a pregação de muitas religiões convencidas da importância da fixação de diretrizes indiscutíveis, infalíveis e irrevogáveis.
Como muitos dos amigos espíritas estão chegando a nós após estágios mais ou menos longos junto aos sacerdotes dogmáticos do cristianismo mundano, tememos que muitos tragam consigo os fatores das perturbações oriundas das tentações, transformando o que antes denominavam diabos, satãs e demais nomenclaturas da rica lexicologia demonológica, que sói, em todas as línguas, disfarçar o temor da palavra como fonte de evocação dos seres das trevas, em simples espíritos imperfeitos, não evoluídos, malévolos, mas perfeitamente aptos a continuarem exercendo os mesmos atributos da maldade, do engodo, da hipocrisia, da terrível apologia dos vícios e dos crimes.
Então, reavivando a inquirição inicial, será que Jesus, realmente, designava Deus, quando se referia ao Pai que o enviara para trazer a boa nova aos mortais?
Que sensações se despertam na alma dos leitores? Gostaríamos de receber as informações, para podermos direcionar outras mensagens neste mesmo campo, para mais firmemente esclarecer os que não se sintam seguros, sem ofender, evidentemente, os sentimentos dos mais tímidos, dos ingênuos ou dos imaturos. Eis a fortaleza de alma que se faz necessária diante da verdade, pois, afinal de contas, estando a hipótese correta ou não, o destino de cada um de nós será trilhar os caminhos da Luz, na direção do Supremo Bem.
Irmanemo-nos, pois, na investigação da verdade, sem os empecilhos das debilidades naturais de nossas almas, ainda muito afeitas às crendices materializadas dos sofrimentos corpóreos, no temor de virem a descair no báratro, por força de não terem vigiado a contento as periclitantes nuanças dos sentimentos de amor e fidelidade àquele que tudo sofreu pela nossa salvação, ou de reverência e respeito ao Criador.
Na dúvida deste questionar, a prece ao Pai será de rigor, para o reequilíbrio emotivo, na tentativa do enveredamento pelas sutilezas das argumentações obrigatórias para quem principia a exegese dos textos sagrados. Confiemos em que o Deus estará sempre a receber os filhos perfeitos, como nos asseverou Jesus, em diversas passagens relatadas pelos evangelistas. Desejar obter outras informações de caráter superior é plausível, mas deverá resguardar a evidência de que estamos longe de sermos os seres mais inteligentes do Universo, havendo, no reino do Pai, outras muitíssimas moradas...







13

EM TUDO EXISTE AMOR





Vamos rezar com fé, que logo passa
A dor que nesta vida é verdadeira,
Fiel, terrível, triste companheira
De quem pressente em tudo só desgraça.

Se a fizermos passar pela peneira
Das aflições que atingem a carcaça,
Não vai restar no mundo qualquer graça,
Pois alma aqui se sente prisioneira.

Contudo, a vida segue o seu destino,
Que a criatura serve ao Criador
Na ingenuidade doce de menino.

Assim Jesus, o nosso Salvador,
Nas normas superiores desse ensino,
Nos demonstrou que em tudo existe amor.







HORA DA DESPEDIDA





Pesa-nos abandonar o posto das transmissões, especialmente quando os atrevimentos do grupo já fornecem claros indícios de progresso, quanto ao discernimento das responsabilidades de quem investiga a verdade e as coloca debaixo dos olhos dos encarnados.
Mas aí está a marca indelével de que outros deverão ser os trabalhos e estudos daqui para frente, pois o que havíamos planejado para estas tardes psicográficas está terminado. Se a mais nos dedicássemos, iríamos trazer só conjecturas, sem as reflexões que até aqui nos foram possibilitadas por rígido currículo.
Assim, não devemos ser superficiais, quando o desejo dos que nos têm conduzido se baseou na premissa de que os temas deveriam ser os mais importantes para a aquisição dos dons da virtude evangélica, pelo menos na pregação realizada com vistas ao aprimoramento das faculdades inerentes ao sistema do socorrismo intelectual e moral, conforme os preceitos desta Escolinha de Evangelização.
Antes de agradecermos ao amigo Belarmino, temos de lembrar que esteve quotidianamente conosco o esplêndido Maciel, que nos orientou quanto pôde, na infindável paciência dos que portam a sabedoria, a ponto de compreender integralmente as imperfeições dos pupilos, na parcimônia das doses de conhecimentos, sempre perfeitamente adaptadas à nossa pobre capacidade.
Só tivemos permissão para lembrar as qualidades do grave administrador, na condição de estabelecer lições adicionais, na ajuda dos instrutores dos centros espíritas, que deverão copiar os reflexos da personalidade de nosso mentor, conforme os atributos que lhe ressaltamos. Eis que, a tantos outros, se acrescem os méritos da humildade e da constante preocupação com o serviço.
Ao companheiro Belarmino, o querido monitor de todas as horas, o mais comovido agradecimento e as preces, para que rapidamente se livre da tutela dos mentores, recebendo incumbências mais sérias e complexas, dado que seu desenvolvimento no campo das influenciações sagradas para o trabalho e para o estudo vai de vento em popa.
Ao médium, que deseja obstar as palavras de elogio, o carinhoso abraço daqueles que muito dependeram de seu discernimento de escrevente habilitado a redigir as mensagens com mais propriedade que os mensageiros. Deixe passar a informação e veja se preserva a atitude da modéstia no apanhado dos ditados, facilitando que os emitentes alcancem transmitir exatamente os textos preparados, dando-lhes ensejo tão-somente de que possam amparar-se em léxico mais adequado para os pensamentos e as emoções que se congraçam para o efeito da escrita. Ao contrário dos alunos desta turma dos Amigos das Boas Intenções, outros desejarão fixar os textos de acordo com vocabulário mais contido, de forma que a atenção deverá redobrar-se na percepção das nuanças vibratórias.
A Jesus, a lembrança mais afetuosa, dado que tudo fizemos derivar de seus ensinos, na tentativa de interpretar os elementos filosófico-doutrinários hauridos pelo Espiritismo e disseminados pelo Codificador. Se algo nos ficou obscuro nos textos, pode-se crer em que isso só refletiu as inseguranças e imperfeições do difícil aprendizado da matéria, como forma de atuação psíquica integral, que tudo o que passamos aos encarnados não só devemos ter na ponta da língua, mas no coração, no pensamento, nos hábitos e nas atitudes.
Faríamos prece de aceitação incondicional da vontade do Pai, não nos tivera o Nazareno deixado a Oração Dominical. Aceitem, pois, os amigos a sugestão e, ao término da leitura, ergam os pensamentos a Deus, para que recebam a graça das bênçãos de amor e de luz, na intenção de prosseguirem sob o amparo da verdade, na caminhada ascensional rumo às Terras da Bem-aventurança.

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