Existe uma coincidência entre Jaboatão dos Guararapes e São Paulo: duas ruas. Aliás, duas ruelas pequenas. Uma no Bairro da Liberdade, São Paulo, e outra no Curado II, Jaboatão. Uma homenagiea Adoniram Barbosa (São Paulo), e a outra João Cabral de Mello Neto (Jaboatão).
O que estas duas ruas tem de comum é o seu tamanho: minúsculas. Vão dentre ruas maiores, mal cuidadas e pouco transitadas, em total abandono. São as justas homenagens concedidas pelas populações locais a dois do maiores vultos da arte contemporànea. Enquanto os políticos recebem avenidas majestosas, com placas douradas e cuidados, nossos poetas são relegados à s esquinas de placas apagadas.
Temos em Recife um cubículo localizado próximo a Avenida Caxanga chamada Rua dos Poetas. Seguindo pelos bairros recifenses encontra-se a rua Capiba, Avenida Joaquim Nabuco, Dolores Duram, Chico Science, e a pior de todas em frente de minha casa no Curado IV: uma trilha chamada Avenida Ariton Sena. Prestando mais atenção encontrar-se-ia outras aberrações.
Vendo tamanho apresso, me passou pela cabeça uma idéia absurda: criar a rua do gari. Será que em alguma cidade do mundo existe uma rua em homenagem ao gari? Sim, aquele sujeito que acorda de madrugada e junto a porcariada que jogamos pelas ruas. Parece absurdo? Levando-se em conta o que nossos mestres artistas recebem, imaginemos o que se daria a um gari. Em muitos bairros ainda existem ruas sem nome como Rua 10, 11, 14, etc. Odiendos nomes estes. Que tal rua do gari, rua do encanador, rua do pedreiro, rua da empregada doméstica, rua do professor, rua do caminhoneiro... Ficaria interessante.
E por que homenagear o gari? Existe um série de motivos, porém só o fato de não ter que levar aqueles sacos cheios de lixo, de toda a espécie, sem separação alguma; não ter que acordar cedo e ficar pendurado o dia todo naqueles caminhões fedorentos pra ganhar uma ninharia; é motivo pra caramba. Se analisarmos com cuidado encontraremos motivos suficientes para erguermos muitos monumentos aos garis.
Com certeza se não existissem os garis, políticos, médicos, advogados, artistas, padres..., não teriam tanto tempo para o seu trabalho, pois estariam juntando lixo e curando-se das doenças causadas por este, haja visto que as prefeituras raramente oferecem condições adequadas para o trabalho dos garis.
Olhando por este lado vemos que o fato de dar ruelas para Adoniram e João Cabral não soa mais tão trágico, afinal entre um poeta e um gari qual a diferença? Um limpa nossa mente da porcaria e o outro as ruas de nossa porcaria. É um descaso com ambos.
Então viva o gari!
Em tempo: descobri a alguns dias um monumento no Complexo Salgadinho, cidade de Olinda, levantado em homenagem aos garis. Parabéns Olinda!
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