Estava chegando o Natal, e aos cinco anos eu já sabia há meses o que queria ganhar. Um carrinho desses de montar dentro e andar pedalando. Sonhava, sonhava e sonhava. Aí teve o aniversário da minha irmã, que é pertinho do Natal, e na festa apareceu o papai-noel, um empregado do meu pai, fantasiado.
Esperei super comportado a minha vez de fazer o pedido, que foi só um, o carro de montar. Para facilitar expliquei até que podia ser um jipinho, caso não tivesse carro lá no céu. E fiquei ao lado dele, solícito, sonhando e fingindo que era solidário com as outras crianças, para dar uma boa impressão.
Por estar meio atrás, percebi que ele usava uma máscara. Eu já desconfiava mesmo, mas para ganhar o carro de montar valia tudo. E quando vi já havia lhe arrancado o disfarce. Bem, como era a praxe de família naquele tempo, levei uma surra da minha mãe e outra do meu pai. Minutos depois sonhava de novo, mas achando que corria risco de ser mal interpretado por Deus.
Chegou o Natal e o meu carro de montar: um carrinho pequeninho de plástico desmontado que era para ser montado... e ainda diziam enquanto eu chorava, "que gracinha, se expressou mal".
Acho que foi nesse Natal fatídico que resolvi ser jornalista para nunca mais ser acusado de tal infàmia.
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