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Cordel-->Entrevista com Marinês (em vida) - Fernanda Moura -- 04/06/2007 - 22:47 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



MARINÊS
Conheça a verdadeira história da Rainha do Xaxado!
“EU JÁ NASCI CANTANDO, MEU PRIMEIRO CHORO FOI UMA MÚSICA!”
Marinês

Por Fernanda Moura
A ETERNA RAINHA DO XAXADO, ASSIM CONDECORADA POR LUIZ GONZAGA, É MAIS DO QUE UMA GRANDE COMPOSITORA E INTERPRETE, É UM ÍCONE DA CULTURA DE RAIZ NORDESTINA, COM UMA VOZ CRISTALINA E INCONFUNDÍVEL, É UMA MULHER DE FIBRA, APAIXONADA PELA FAMÍLIA E PELA CIDADE QUE LHE ACOLHEU, E ONDE DEU OS PRIMEIROS PASSOS DE SUA CARREIRA: CAMPINA GRANDE. MUNDO, ESTA É MARINÊS!




CORDELCAMPINA foi até a casa da cantora Marinês e mostra pra você um pouco mais da personalidade desta que é um verdadeiro mito da cultura popular nordestina, numa conversa agradável, ela revelou porque se deve admirá-la, não apenas pela artista que é, mas também pela mulher corajosa e apaixonada pela família, sobretudo pelo pai que ela defende com fervor. Filha de um homem honrado e valente que insistem ser um ex-cangaceiro do bando de Lampião, e que na verdade era simplesmente um homem de bem, que acusaram injustamente de um crime não cometido por ele, e de uma doméstica, que lutou sempre pra defender a família, Marines faz questão de dizer:
“Meu pai não é ex-cangaceiro não, cangaceiro é aquele que mata, esfola, meu pai nunca foi nada disso, ele apenas se defendeu de uma acusação injusta, ele não tinha inimigos, respeitava todo mundo”.

Confira agora a entrevista na íntegra, onde Marinês fala de sua gente, da carreira, e da gloriosa parceria com o Velho Mestre Lua, Luiz Gonzaga


CORDELCAMPINA: MARINÊS, SUA VINDA PARA CAMPINA GRANDE NA DÉCADA DE QUARENTA FOI COMPLICADA? FALE UM POUCO SOBRE SUA FAMÍLIA, SUA VIDA, O COMEÇO DA VIDA AQUI.

MARINÊS: Quando papai foi libertado da prisão, foi quando eu nasci, nessa época os políticos influentes eram Argemiro de Figueiredo, Coronel Veneziano, e esse pessoal deu a liberdade a ele, de uma coisa que ele não tinha feito. Então eu nasci e me levaram pra cidade de São Vicente Ferrer, em Pernambuco, pra casa de um pessoal amigo deles, e a moça que não podia ter filhos era apaixonada por mim e eu chamava com ela mãe, mamãe Maria, até que papai normalizasse a vida dele, chegasse aqui, procurasse casa, as coisas que um cidadão merecia ter, e aí foi que eles me trouxeram para cá, eu tinha entre quatro e cinco anos, o que eu posso contar é o que eu sei contado por eles, que eu vim pra cá com essa idade, e cheguei aqui como criança, estudei no São Vicente de Paula, tivemos uma vida muito difícil, pela pobreza mesmo.

CC: COMO ERA SEU RELACIONAMENTO COM SEU PAI?

MARINÊS: Meu pai era mecânico de interior, ele era muito sábio, e é por isso que eu tenho grande respeito pelo pai que eu tive, a história dele é isso, muita luta, muito sacrifício, mamãe era Dona de Casa, doméstica, e teve 22 filhos, criaram-se nove, eu sou a mais velha, a primeira filha morreu, eu sou a segunda. Meu pai não era um homem agressivo, respeitava todo mundo, ele foi um homem realmente que não se entregou, era um homem valente, se tivesse necessidade de enfrentar, ele enfrentava. Meu pai não tinha inimigos, ele não era cangaceiro não, cangaceiro é aquele que mata, esfola, meu pai nunca foi nada disso, quando os amigos souberam que ele estava nessa situação difícil, ajudaram.

CC: COMO COMEÇOU SEU INTERESSE PELA MÚSICA?

MARINÊS: Eu não tive interesse, eu já nasci cantando, meu primeiro choro foi uma música. Eu não freqüentava a sociedade, eu não lia revista de rádio, eu não lia as revistas que traziam as notícias dos artistas, eu escutava Luiz Gonzaga, quando os circos eram montados ali pela Liberdade (Bairro de Campina Grande), então eu admirava a voz de Luiz Gonzaga, admirava aquele homem que cantava aquelas coisas belas, e eu comecei a ouvir, não é coisa de interesse para fazer aquilo, eu ouvia, aplaudia.

CC: QUANDO VOCÊ OUVIU LUIZ GONZAGA PELA PRIMEIRA VEZ?

MARINÊS: Meu pai tinha um serviço de engenho em Vaca Brava, perto de Areia-PB, e o dono de engenho, que era Pedro Gondim, era compadre dele, padrinho de um irmã que eu perdi ano passado, a cantora Marinalva. Ele tinha um gramofone, nós não tínhamos rádio, o som que tinha lá em casa era choro de menino, o som do vizinho, que estava alto, aí a gente ouvia também, o som do autofalante de rua, carro de propaganda, que eram os carros volantes, que passavam na rua tocando os discos que naquela época, eram de Emilinha, Dalva, Trio de Ouro, Nelson Gonçalves, Luís Gonzaga. E aí esse gramofone, que ele ganhou, trazia um disco enorme de Luís Gonzaga, e veio o disco, veio a capa, mas não tinha agulha, tinha uma agulha, mas essa agulha, já estava perdendo a resistência pra tocar o disco, mas eu tocava com o dedo, eu dava corda no som, e ficava com a capa do disco, namorando, era muita criança, uns sete anos.E foi despertando a cultura dentro de mim, não era o problema de cantar, era a cultura... Juazeiro, pé-de-serra, e fui despertando, olha, o Baião, olha, o Xaxado, olha, o Xote, que eu não sabia esses nomes.

CC: E O COMEÇO DA CARREIRA, COMO FOI?
MARINÊS: Quando foi um dia, me arrisquei, tinha um programinha de calouros, para movimentar o bairro da Liberdade (Campina Grande), de uma difusora chamada "A Voz da Democracia", quando foi um dia eu me interessei e me inscrevi. Aí eu fui sem papai e mamãe saber, fiz a inscrição durante o dia. Fui comprar as coisas, e nessa compra das coisas dei ‘uma escapulida’, fui lá e fiz a inscrição. Quando eu cheguei lá, na primeira vez que eu cantei, levei um gongo tão grande, que até hoje eu escuto o barulho, no segundo domingo eu já ganhei o primeiro prêmio, esse prêmio era um sabonete, vidro de óleo, uma escova de cabelo, que eles coletavam ali mesmo nas mercearias, eu tinha sete anos. Aí, quando foi depois, eu estava com dez anos, e me inscrevi na Rádio Cariri, que era aqui na Rua João Pessoa, fiz a inscrição, nesse dia o Genival Lacerda também fez.

CC: ENTÃO, NO COMEÇO SEUS PAIS NÃO APOIAVAM SUA PAIXÃO POR CANTAR?

MARINÊS: Não porque eles tinham medo que eu passasse algum sofrimento. Aí eu saí escondido de casa, dizendo que ia assistir a um filme com meu irmão. Como lá em casa não tinha rádio, o risco não era muito grande e o locutor, que naquela época era o Josias, chamou todos os candidatos, depois sobrou eu lá no meio do povo, no auditório. Aí ele chamou Maria Inês, eu tinha botado Maria Inês para ninguém desconfiar e contar para mamãe ou para papai, eu mostrei Maria Inês e quando ele chamou, ele juntou o nome, ficou MARINÊS, eu disse - pronto, sou eu, aí fui, cantei, ganhei o prêmio dividido com Genival Lacerda. Bom aí foi que começou tudo, eu já passei a cantar em palco, aí eu já fui contratada pela Cariri.

CC: COMO VOCÊ CONHECEU O MÚSICO ABDIAS?

MARINÊS: Quando eu fui contratada pela Borborema, conheci o Abdias e ele me conheceu lá, e naquela folia de moça e rapaz eu namorei o meu marido, parece que dois meses, e ele me pediu em casamento no dia 2 de dezembro e casamos no dia 31, porque tínhamos que viajar para Maceió, e eu não podia sair de casa sem ser casada. Aí a trajetória foi seguindo, e fomos para o rio a convite de Luiz Gonzaga e ficamos morando lá na casa dele.

CC: VOCÊ PERCORREU TODO O NORDESTE COM O SANFONEIRO ABDIAS, ANTES DE IR PARA O RIO DEIVULGANDO SUA MÚSICA, NÃO FOI?
MARINÊS: viajamos por todas as cidades do nordeste. Eu fiquei casada com Abdias dezoito anos, Luís Gonzaga nos conheceu em Propriá, Pedro Chaves era o prefeito da cidade e ia oferecer um praça para Luís Gonzaga, e Pedro nos convidou e disse que ele queria nos conhecer, ficamos hospedados no mesmo hotel que ele, Luís Gonzaga me ouviu cantar e disse: - Vocês vão paro o Rio de Janeiro, vou dar uma força para vocês. –Ficamos na casa dele, aí com um ano, nós nos desligamos, ficamos por nossa conta.
CC: VOCÊ PARTICIPOU DE ALGUNS FILMES DURANTE SUA PERMANÊNCIA NO RIO? PODERIA FALAR UM POUCO SOBRE ESSA EXPERIÊNCIA?
MARINÊS: Isso mesmo, “Chico Reator” e “Mundo da Lua”, eu fiz um quadro só, cantando né, que até o pessoal ficou bestificado, que eu saí daqui da Borborema, casada com Abdias, e o negócio tomou uma força muito forte, e foi um quadro de música.

CC: VOCÊ TERIA UM DISCO QUE MAIS LHE MARCOU DURANTE A CARREIRA? QUAL?
MARINÊS: Eu gravei quarenta e tantos discos, é difícil. O primeiro né, que tinha “Ferra na Pimenta”, “Pisa na Fulô”, e outras músicas muito mais bonitas que essas, mas o primeiro filho sempre marca, e a música para gente é como se fosse um filho!

CC: VOCÊ CANTA O FORRÓ, O XAXADO, CANTA O BAIÃO, QUAL SUA OPINIÃO SOBRE O FORRÓ ELETRÔNICO, PRODUTO DAS NOVAS BANDAS?
MARINÊS: É o forró de plástico né, chamam de forró de plástico. Olhe, é o seguinte, não está em mim, falar mal de ninguém, é música tá entendendo? Eu admito que tá tudo certo, tem espaço para todo mundo, para eles. Agora, nosso FORRÒ é outro, eu um FORRÒ RAÌZ, é um forró que Luís Gonzaga criou, Humberto Teixeira, que são os nomes maiores da música, como Patativa do Assaré, Antônio Barros. Quer dizer, as músicas dessa época têm mensagem, era para cantar, não era para tapiar não. A gente cantava era com sentimento, não para falar besteira, porque tem música aí que é besteira, água com açúcar, é aquela história. Mas que eu respeito, porque eles têm público, e eu acho que é cada um na sua.

CC: VOCÊ ACHA QUE O JOVEM NÃO SE INTERESSA MAIS PELA VERADEIRA CULTURA NORDESTINA?
MARINÊS: Eu acho que essa falta de interesse não existe não, desde que o jovem seja informado daquilo, que precisa saber, que é o chão que ele pisa, o avô, a avó, que são as raízes dele. Agora tá faltando é que o poder forme essas raízes, tá entendendo, RESGATE.

CC: O QUE A SENHORA ACHA DE LUÍS GONZAGA SER O GRANDE HOMENAGEADO DO MAIOR SÃO JOÃO DO MUNDO?
MARINÊS: Ele tem que ser homenageado todo dia, todo ano. Eu homenageio Luís Gonzaga todos os meus shows, porque ele que despertou a música regional em Marinês, em Jorje de Altino, Três do Nordeste, ele é nosso pai maior da música regional, ninguém vai abandonar um pai, e o povo tem que ter consciência disso.

CC: E A NOVA SAFRA, QUE TENTA FAZER UM RESGATE DESSA MÚSICA, O QUE VOCÊ ACHA?
MARINÊS: É aquela história. De onde vêm os frutos? Não vêm do tronco? Primeiro vem a raiz, o tronco, lá em cima, os frutos. Você tem obrigação de tratar aquela árvore, para que os frutos venham viçosos. Se não há informação, não há cultura.

CC: “MARINÊS E SUA GENTE”, ESSA EXPRESÃO NASCEU NA GRAVAÇÃO DE UM PROGRAMA DO CHACRINHA, NÃO FOI ?
MARINÊS: Quase isso. Eu ia estrear um programa de televisão na Rede Tupi e o Chacrinha tinha um programa, e aí ele queria saber – Como é que vai colocar o nome dela, para rolar o programa?- e queria colocar Marinês e Seu Povo, não tinha jeito, aí foi quando ele disse-“ Bota Marinês e Sua Gente”. E eu gostei, e assim ficou.

CC: E SOBRE A ATUAL PROGRAMAÇÃO DO RÁDIO EM CAMPINA GRANDE, QUE NASCEU VALORIZANDO A CULTURA POPULAR, QUAL SUA OPINIÃO A RESPEITO?
MARINÊS: Eu vou lhe dizer uma coisa, eu não gosto de dizer não, mas isso é uma praga viu. Eu sinto muito isso. Santo da terra não obra Milagre? Mas na hora que precisa para fazer um show de graça, enfeitar palco, para eles, é povo da terra. Aqui em Campina tem muitos valores, na música regional, aí eles dizem assim - “vamos dar uma chance para eles”. Quando é para valorizar, é essas porcarias que vem de fora. Eu sou contra essa história. Eu acho que em primeiro lugar o meu povo.

CC: PRA ENCERRAR, QUAIS SÃO SEUS PRÓXIMOS PROJETOS?
MARINÊS: Aqui eu canto dia 4 (junho), agora eu estou com shows em todo o Brasil. Olhe, Recife dia 11, Caruaru, dia 22, 24 em Aracaju, 26 em Santa Luzia, fora as outras praças. Disco novo não, eu não tenho disco de carreira, a BMG soltou cinco discos, uma venda maravilhosa. Eu tenho um repertório imenso. Então para lançar um disco novo tem que ter qualidade, e eu estou com um CD para ser lançado em Julho, que é com a Sinfônica de João Pessoa - “Marinês canta Paraíba”, e você não pode ter vários empregos que não vai sair direito. Então estou divulgando os discos da BMG e vou divulgar este, “Marinês canta Paraíba”.

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