Pelo menos no mundo mágico, o Saci há muito tempo parou de fumar cachimbo. Agora o ministério da natureza adverte: o ato de fumar, além de prejudicar o pulmão das matas, pode incendiar florestas. Se a mata constantemente vive em chamas, quero dizer, morre em chamas, a culpa não é do Saci. Mas sei de uma família tradicional e dominante que vive sempre entre nós, conhecida por sobrenome Poluição. Quero dizer... conhecida não somente pelo nome, mas também por causar confusão.
Família muito travessa; muito mais que os duendes. Sei também que possui técnicas mais eficientes que os feitiços de fadas. E é claro... além de ser bagunceira, espaçosa, folgada! O pior- incomodando toda fauna e flora. Lá está o rei do brejo, na beira do rio, de conversa com a rainha das pererecas e salamandras...
- Veja, senhora, a família Poluição! Bagunça tudo, enfeia a nossa
mata, não nos deixa respirar!
- Dona Rolinha estava falando sobre uma senhora chamada
Globapolisa, que mora em toca grande e brinca com objetos estranhos que dispersam fumaça. Seus parentes são numerosos e muitos moram numa mata chamada cidade. Lá não tem muito verde nem bichos. Tem abrigos e água que sai por um tubo mágico.
- E o que tem essa tal de Globapolisa?!
- Não sei, mas... dizem que ela gerou e abandonou a família Poluição
aqui. Lá na cidade todo mundo vive se alimentando dessas coisas que eles chamam de industrializados. E a dona Globapolisa vem despejar os descartáveis aqui, que são os integrantes mais novos da família Poluição. A nossa água está cheio deles. Os peixes reclamam, já não conseguem admirar o céu. E agora nem eu posso ver direito o fundo do rio.
Chega o pica- pau pousando no galho gigante, que imerge no rio. Chega
irritado e falando...
- Os súditos da poderosa Globapolisa invadiram a floresta! E estão
com uma arma diferente derrubando as árvores que me dão alimento.
Aproxima-se a arara ambulante...
- Fogo! Fogo! Fogo!
E a bicharada toda se desespera.
- Puseram fogo na floresta!
- Fogo! Fogo! Fogo! Diz a salamandra.
- E a família Poluição está espalhando tudo!
- Cadê os bichos grandes e os velozes para ajudarem a apagar o
incêndio? Pergunta um peixe, que consegue pôr a cabeça para fora, à arara.
- O leão, o elefante, a águia, ... Parou um caminhão aqui e levou todo
mundo! Responde a arara.
- Levou para onde?
- Sei lá!
Cinco dias depois... O quê será que aconteceu com a mata do mundo
mágico?! Bem... a história é meio complicada e exige bastante fé para que seja compreendida por quem se interessar. Mas se você não é uma dessas pessoas que acreditam em coisas sobrenaturais, sugiro que pare a leitura e esqueça esse texto. Prosseguindo aos interessados, o que aconteceu...
Aconteceu que as fadas realizaram um feitiço de urgência. Atraiu
muitas nuvens carregadas e o céu ficou zangado. As nuvens com medo choraram e a mata foi se molhando, o incêndio foi se amenizando até que depois de algumas horas o fogo cessou. E a mãe natureza com reforços foi cuidar das vítimas feridas neste holocausto; entre elas, o Saci.
A fauna e a flora, todo mundo estava assustado. Quem não sabia que
alguns amigos e parentes da soberana Globapolisa haviam quase destruído totalmente a mata Planetária? O mundo mágico estava com medo, pois havia um poder poderoso contra ele- uma magia que origina o desequilíbrio. Por isso essa soberana era a inimiga número um do mundo encantado. A Globapolisa dizia para todo mundo: vocês precisam consumir mais da natureza. E as fábricas aceitavam.
- Depois chega alguém nos trazendo só os cacos... como a família
Poluição, que é só destruição. Completou o gafanhoto. Globapolisa tinha vários negócios. E ultimamente andava com uns planos que exigiam altos investimentos e que lhe traria muito poder e glória. Por isso estava organizando um ataque à floresta do mundo mágico, que era a mais rica do planeta. Invadiria com o maior exército de descartáveis que já se ouviu falar na nossa história. E levaria como reféns os animais mais belos. Uma moça de nome Moda, jovem, esbelta e conselheira muito íntima, havia lhe dado uma nova idéia de comercialização- pele de animais, roupas de luxo... Mas Globapolisa tinha muitos outros conselheiros íntimos como os produtores de industrializados, que viviam exigindo mais matéria-prima; e a tecnologia, a ciência, o ... Resolveu então realizar um grande ataque para obter maiores lucros.
Os residentes do mundo mágico, que nada sabiam, somente que muitos bichos haviam sumido, reuniram-se numa conferência pela preservação do meio ambiente. E resolveram fazer greve.
- Estamos de greve! Ninguém mais trabalha. Vamos sumir.
Reivindicações... não à exploração da soberana... que a família Poluição se mande daqui.
Ninguém não mais suportava os maus tratos. Globapolisa ordenava que
arrancassem as árvores e o solo ficava desprotegido. Revoltado, o solo sumiu também; e no lugar dele ficou um grande buraco. Como tudo estava sob o comando da família Poluição, e ela estragava os alimentos, as aves resolveram migrar. Coitado dos peixes! Os que não conseguiram voar morreram afogados. Aquela água estava muito intoxicada! A bicharada inteira fugiu e Globapolisa ficou desesperada quando os seus negócios começaram a cair. Em quanto isso, uma Praga andava por aí sem destino; procurando um lugar adequado para se reproduzir. Encontrou aquela mata, que não era mais mata. Era bem sujinha, do jeito que gostava. Então ficou por ali. Foi bem recebida pela Família Poluição; estava entre amigos, tinham muitas coisas em comum. E ali a Praga brincou bastante, espalhou-se e ganhou forças. Forças para realizar o seu grande sonho: invadir a cidade porque lá tinha esgoto a vontade. E não é que a Praga foi!
A Praga foi com um grande exército. O objetivo era fazer a soberana
daquele imenso império se render, depois tomar posse. Globapolisa foi surpreendida. A Praga atacou em silêncio e quando os moradores da cidade perceberam, o exército inimigo sitiava a cidade- estavam cercados! Globapolisa ficou desesperada e convocou a presença de todos os seus conselheiros. Mas ninguém sabia dizer como acabar com aquele problema. Então a ciência se pronunciou...
- A senhora deve parar de produzir tanta sujeira! É preciso preparar os
descartáveis para que voltem à natureza no lado do bem. E deve parar também de tomar as coisas do meio ambiente, deixando-o em desvantagem.
- A questão é... o que fazer agora?! Já tentamos de tudo e a Praga
continua avançando. Disse a tecnologia.
- A única maneira de conter essa Praga é eliminando a Poluição,
aliada do seu crescimento. E restituir a Natureza como soberana do meio natural. Respondeu a ciência.
Então lado a lado, autorizados pela soberana Globapolisa, a Ciência e a
Tecnologia enfraqueceram a Praga com um exército comandado pela Preservação. A guerra teve início no rio que cortava a cidade, onde nas margens muitos parentes da família Poluição viviam e davam apoio moral ao exército inimigo.
- Ou se rendem ou serão eliminados!
Os descartáveis se rendiam... enquanto os soldados da Praga escapavam.
Com os descartáveis e a Poluição, a Praga era forte. Mas sozinha perdia o prestígio. Os prisioneiros de guerra passavam dias numa câmara de limpeza cerebral, que era onde perdiam os maus hábitos. Quando saiam de lá, recebiam a ficha limpa, uma nova identidade: os Reciclados.
Deram uma limpeza na mata que não era mais mata. Ensinaram o
racionamento aos moradores da cidade. Os esgotos foram tratados. Novas leis foram criadas... para cada árvore arrancada, deve-se plantar outra no lugar; fábricas que poluírem rios deveram pagar indenização... E o exército da Praga recuou, recuou geral! Procurou de novo a família Poluição, mas todos já eram Reciclados. Então ela e o que sobrou do seu exército fugiram para longe.
A bicharada reapareceu, nasceram novos peixes no rio, que foi desintoxicado. Muitas árvores também nasceram e o chão voltou a ser plano. A mata que não era mais mata se tonou mata de novo. A Praga não morreu. Ainda vive invadindo lugares que vivem em recaída, que deixam esgoto à céu aberto, que jogam lixo nos rios, etc, etc. À vezes passa por um longo tempo em silêncio só montando estratégias.
E os Reciclados tornaram-se defensores e heróis das nossas matas e cidades. Você acreditou nessa história?! Estou falando sério...
