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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 19 -- 06/03/2006 - 20:06 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 19


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19


Estava sentado na areia compenetrado, pensando no ato vergonhoso que acabara de cometer, quando um som diferente veio da floresta. Primeiro, foi uma espécie de urro; em seguida, estalos de folhas como se alguém ou alguma coisa se aproximasse. Aquilo me tirou de minhas divagações e me fez experimentar o medo e o pavor. Ainda sob o efeito do pecado, sob o temor de que a minha alma estava perdida, de que as chamas do inferno fossem o meu inevitável fim achei que aquele som era da morte, a qual vinha me buscar pelo que eu acabara de fazer.
Numa reação instintiva, levantei de supetão e me pus a correr em direção à água, aonde Luciana se encontrava. E eu corri como uma caça de seu predador. Ela me viu se aproximar com uma velocidade espantosa e resolveu perguntar:
-- O que foi? Tá fugindo da polícia? Ou sentiu a minha falta? -- indagou ela com um sorriso.
Não consegui dizer palavra. Apenas me aproximei e virei de frente para o local de onde aquele som havia partido.
-- O que foi que aconteceu? – insistiu ela, quando viu a minha cara de espanto.
Com a voz trêmula de medo consegui falar:
-- Tinha alguma coisa lá – apontei.
Luciana olhou, mas não viu nada. Aliás, nem poderia; apesar da lua cheia, estava bastante escuro.
-- Mas o que era? – quis ela saber.
-- Não sei. Num deu para ver.
Ela parecia manter-se calma, como se não acreditasse nas minhas palavras.
-- Então como você sabe que tinha?
-- Por que eu ouvi.
-- Ah. Deixa de ser bobo. Não foi você mesmo quem disse que essa ilha é deserta? – lembrou-me ela.
Concordei. De fato não encontrara nada na ilha quando a rodeamos no primeiro dia. Só que eu tinha certeza de ter ouvido alguma coisa por entre os arbustos. Tive a impressão de tratar-se de algo monstruoso ou até mesmo um grande animal. Talvez não fosse nada; tão somente produto da minha imaginação, consequência do temor de ser castigado por Deus pelos atos libidinosos que acabara de praticar. Como eu poderia saber que não estava fazendo nada demais? Como eu poderia concluir que, na minha idade, meninos fazem não só aquilo como coisas bem piores, coisas que eu não sabia? Eu agia feito idiota ao me martirizar daquela forma. Só que eu ainda era um rapazinho que não sabia quase nada da vida e nem mesmo compreendia e sabia lidar com os meus próprios impulsos. Luciana, por ser mais velha e por convier num ambiente mais liberal, tinha mais experiência; aliás, bem mais experiência do que eu. Comparado a ela eu era sim um idiota. Eu sabia das minhas limitações, uma vez que os meus colegas de classe demonstravam saber bem mais que eu, mas eu não sabia avaliar a extensão das mesmas. No entanto, isso não me impedia de ser o que eu era: um garoto que por uma razão ou outra era acometido de impulsos incontroláveis, os quais tornar-se-iam mais frequentes e mais intensos.
A longa estada naquela ilha transformar-nos-ia e nos faria todos perder a inocência, mas naquele momento havia uma barreira impedia-me de satisfazer os meus instintos: a religiosidade e consequentemente o temor do pecado. A ideia distorcida do pecado e a imaginação fértil para antever os mais terríveis castigos ao cometê-lo me causava os mais terríveis dos medos. E o medo é a força mais poderosa que nos faz recuar diante dos mais intensos impulsos.
-- Vem – chamou ela pouco depois. – Vamos voltar pra cabana antes que alguém acorde e não encontre a gente. Vão acabar pensando besteiras.
-- É mesmo – concordei.
Principiamos a sair da água. Ainda olhei na direção onde estivera momentos antes para ver se não havia nada.
-- Que negócio esquisito aquilo – disse ela quando saíamos da água. – Deixou minha mão grudenta.
-- Que negócio?
-- Ora! Não se faça de idiota! Aquilo que saiu dele – disse ela apontando para o meu falo.
Não lhe respondi. Até porque não sabia mesmo o que lhe dizer. Voltar a esse assunto me constrangia. Talvez por isso eu tenha me calado.
-- Foi esquisito quando ele saiu – afirmou ela com naturalidade, deixando bem claro que não se sentia constrangida em insistir no assunto. Aliás, estava bastante interessada em saber mais. Eu por minha vez me sentia o oposto: gostaria de esquecê-lo, de fazer de conta que nada tinha acontecido. Só que não queria dar o braço a torcer. Não queria que ela soubesse como aquele assunto me era constrangedor. Pois se ela percebesse, eu me sentiria ainda mais inferior e certamente ela usaria isso para tirar algum tipo de vantagem.
-- Esquisito como?
-- Você começou a se contorcer todo. E ele também. Ficou maior e começou a se mexer sozinho. Foi até engraçado. Eu já tinha visto o Carlinhos, um garoto da minha classe, se contorcer todo e ficar gemendo também quando aquilo saiu do troço dele.
-- Ah... -- foi o que fiz. Naquele momento porém, tal revelação não me levou a indagá-la do que havia ocorrido entre ela e esse garoto, embora qualquer outra pessoa no meu lugar teria procurado saber mais. Por quê? Porque eu me sentia profundamente desconfortável em discutir tal questão.
-- Isso sempre acontece?
-- Ah, num sei. Nunca prestei atenção. Acho que sim... -- falei querendo encerrar aquele assunto.
-- Na hora você deu um gemido e aquilo começou a esguichar. O que você sentiu? – Estávamos chegando à cabana. O fogo ainda permanecia como havia deixado e aparentemente as meninas continuavam a dormir.
-- Ah, num sei explicar – tentei mais uma vez pôr fim àquela conversa. De fato eu não sabia como explicar o que sentira. Era como se algo se apoderasse de mim por alguns instantes e, ao me libertar, deixasse-me sem forças, sonolento, quase desmaiado. Como eu poderia dizer se nem eu mesmo entendia o que acontecia?
-- É bom ou é ruim? – insistiu ela.
-- Por que você quer saber?
Nisso entramos na cabana. Ana Paula e Marcela dormiam um sono profundo, como se estivessem em casa, nas suas próprias camas.
-- Só por curiosidade. Vai! Diz! – insistiu ela.
-- É bom – respondi com certa rispidez, para que ela não me fizesse mais perguntas.
-- Eu imaginei – disse ela, sentando-se onde estava sentada pouco antes.
-- Será que as mulheres sentem a mesma coisa?
-- Num sei – respondi irritadiço, deixando-lhe bem claro que não queria mais falar sobre isso.
Ela calou-se.
Houve um novo silêncio. Não durou por muito tempo, mas foi um silêncio terrível.
Nesse ínterim, pensei no som que ouvira. Eu não poderia ter me enganado. Havia alguma coisa se aproximando. E não era algo pequeno. Talvez já estivesse ali me observando a espera do melhor momento para me atacar. “Meu deus! Eu poderia ter sido arrastado para o meio do mato e depois devorado. Ela não ia poder fazer nada. Ia sair correndo, isso sim!”, pensei. E ao fazer tais suposições, um frio correu-me pelas costas de cima a baixo e meu corpo tremeu por inteiro. “E se tiver algum monstro nessa ilha? E se ele atacar a gente de noite, quando a gente estiver dormindo? Ele pode estar só esperando a gente dormir. Tenho que falar com elas. A gente precisa ter cuidado. Precisamos conversar sobre isso amanhã”, continuei.
-- O que foi? – perguntou Luciana pouco depois.
-- Tô preocupado – respondi.
-- Com o quê?
-- Com aquele barulho que ouvi lá onde a gente tava – expliquei.
-- Você deve ter se enganado.
-- Num sei não – discordei. -- tenho certeza de que era alguma coisa.
-- Amanhã a gente dá uma olhada – sugeriu ela, encostando-se em mim e apoiando a face nos meu ombro direito.
Houve mais um silêncio.
Não tardou para que ela adormecesse novamente.
Fiquei ali, aguardando mais um pouco até chegar o momento de despertar a Marcela e Ana Paula para vigiarem a fogueira. Nesse ínterim, tentei pensar no dia de amanhã; entretanto, a lembrança daquele som estranho não me saia da cabeça. Era como se minha vida tivesse corrido um grande risco. Eu não queria admitir, mas estava apavorado. Essa era a verdade.



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