Esse negócio de nome é mesmo muito complicado. Dizem que define o perfil, o destino e até as preferências sexuais das pessoas. Os estudiosos do assunto estão ficando para sempre mais prósperos, de tanta troca de nome que sugerem.
Cada vez mais atenção é dispensada na hora de nominar o filhote, muito embora ainda exista muito grandalhão insatisfeito com o nome que recebeu outrora, que nada tem a ver com o presente, quanto mais com o futuro desejado.
Na hora de escolher o nome muitos fatores são relevantes. Em uma família do interior baiano, por exemplo, três lindas meninas receberam os nomes "Abdelcádia", "Agnodice" e "Aldigiéres" - para que os negros não conseguissem os falar. E por serem mesmo impronunciáveis por todos os filhos de Deus, as garotas cresceram como "Nonó", "Lolota" e "Nena" - uma delas até agora viva e continuando a detestar o nome.
Alguém já registrou o filho de "Barata" e uma mulher deu à filha o de "Cosmerinda". Esta última, por sinal doméstica há anos em uma casa de família, conseguiu com o patrão advogado uma ação para a mudança de nome, por considerá-lo constrangedor. Quando a sentença judicial passou a denominá-la "Vanilsa" - ninguém sabe o porquê da escolha - a patroa foi quem teve dificuldade, pois ao telefonar para casa e ela dizer: - Aqui é a Vanilsa! - passou tempos homéricos achando que a ligação estava errada. - Meu Deus! Como chamar uma pessoa de Vanilsa se há séculos a conheço como Cosmerinda?
Se por essas bandas a questão do nome contribuiu para conturbar mais e mais os eternos obstáculos da comunicação, numa rua tranquila da cidade do interior do sertão nordestino, dona Emília debatia-se diariamente com um tal senhor Purilépio (- De onde o pai desse coitado tirou tal nome?) toda vez que ia à padaria.
- Como vai passando, dona Norma?
- Vou bem, mas o meu nome é Emília. Norma morreu há seis anos e o senhor continua me trocando por ela. O seu nome eu digo certinho, senhor Purilépio. Nunca troco apesar de ser um nome difícil.
- Então não esqueça mais o meu nome, que é Emília e não Norma, que está morta. Compreendeu, senhor Pirutérgio? - insiste com veemência e segurança.
- Compreendi sim, dona Norma.
Em razão de tanta confusão, volta e meia eu insisto:
- Como é mesmo o meu nome?
- E o seu, qual o nome?