Usina de Letras
Usina de Letras
23 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62275 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10382)

Erótico (13574)

Frases (50664)

Humor (20039)

Infantil (5454)

Infanto Juvenil (4778)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140817)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6206)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->TV por Assinatura -- 28/08/2000 - 13:44 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Antes mesmo de o meu primeiro filho vir ao mundo - no longínquo ano de 1992, quando ainda me atrevia a trabalhar de calça jeans - tomei uma drástica decisão.

- Nada de Chaves! Xuxa então... nem pensar! - comuniquei, imperativo, à minha mulher. Quando nosso pirralho crescer só vai assistir os programas da Cultura.

Sandra mexeu os ombros. Meio concordando, meio não dando ouvidos.

Fui educado para ser um intelectualóide. Comia livros. Privava-me das brincadeiras de rua. Bolinha de gude, soltar pipa, rodar peão foram brincadeiras distantes da minha realidade. Enquanto a molecada se divertia nas ruas estreitas do Parque São Luiz, eu lia enciclopédias. As vezes me arriscava a dar uma olhadela no caderno de política do jornal que meu pai comprava aos domingos, invariavelmente. Ficava horas ouvindo atento os sábios ensinamentos do velho, que sonhava em me ver, no futuro, sentado numa das cadeiras da ABL. Não pude realizar metade do que ele desejava, mas fiz uma assinatura de TV.

- Vem ver, meu bem! Aqui tem a CNN! - disse empolgado para minha mulher.

- Mas você não entende Inglês, querido!

Ela não precisava ter dito isso. Larguei o curso de língua estrangeira quando meu pai perdeu o emprego e montou uma oficina na garagem de casa. Fiquei frustrado. Ele também. Mas era o meu curso de Inglês ou a mistura da semana garantida. Acabamos entrando num acordo. O velho Matias não tolerava que um filho trabalhasse antes dos dezoito anos. Tem que estudar! - afirmava. Mas como não tinha mais como sustentar meus estudos, cedeu e me deixou ir à luta, na esperança de me ver na faculdade, com um bom emprego e falando três línguas. O problema foi a turma endiabrada que eu conheci no colegial. Minha vida foi mudando de rumo e o estudo deixou de fazer parte das minhas prioridades. Hoje, ao menos tenho casa própria, carro com dois anos de uso, telefone celular e uma kit na Praia Grande. Agora também TV a cabo!

- Foi a CNN que transmitiu ao vivo a Guerra do Golfo - retruquei.
- Ah, legal! - disse Sandra, pouco entusiasmada, enquanto lavava a louça do almoço.

Tive a opção de adquirir o pacote económico - aquele que nos dá de bandeja os jogos descartáveis do Brasileiro, um canal de desenhos para entreter a molecada e os filmes americanos de categoria duvidável. Era pouco tentador. Por uns trinta mangos a mais por mês preferi o pacote completo. Tem até um canal italiano! E, óbvio, a CNN. Chamei as crianças. Venham ver a qualidade da imagem, meninos! Continuaram brincando no quintal. Concluí que aquela não era a melhor hora de eu exibir o resultado do investimento cultural que acabara de fazer. A propósito, só fiz a assinatura por achar que as redes convencionais não proporcionam atrações interessantes nos finais de semana. Então nada mais justo do que recorrer ao cabo. Aliás, metade da minha rua já tinha. Algumas clandestinas, é verdade. Mas eu não podia ficar de fora da farra da TV por assinatura.

Minha esperança era cativar minha mulher lhe mostrando um canal de culinária mexicana.

- Não terminei de lavar a louça! - gritou da cozinha.

Deixei a família de lado. Teria de me divertir sozinho. Sintonizei no Discovery. O programa parecia interessante. Falava sobre uma fêmea Panda que se perdera do seu habitat natural e aparecera numa aldeia da China. Parecia ir tudo bem. Contudo, um close de mais de três minutos na cara imensa da ursa não é o que se pode chamar de divertimento numa tarde de sábado. Fiquei aflito e comecei a trocar de canal. Shows, filmes de ninjas, seriados americanos, melhores momentos da tv do Senado... Não conseguia fixar num maldito canal! Minha filha mais nova se sentou ao meu lado.

- Olá, doçura! Veio assistir televisão com o papai?

Respondeu-me com aquele sorriso brilhante e recostou a cabeça no meu peito. Mudei rapidinho para o canal de cartoons. Fiquei investigando sua reação. No mínimo não vai mais querer que eu mude de canal. Nada. Apenas olhava fixamente para o aparelho. Fiquei aguardando o agradecimento.

- Papai?!...

- Sim, meu anjo!

- Coloca no Chaves!...
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui