Em festas mais marcantes muitas vezes surge alguém, ou muitos, dispostos a brindar. Não me refiro ao brinde formal mas aos gaiatos que aproveitam a platéia cativa para o seu show particular. Não, não joguem nada neles. As vezes pode ser divertido, desde que sigam algumas orientação básicas.
Primeiro, os brindes devem ser feitos antes das três primeiras doses, seja lá do que for. Após, podem ficar comprometidos. Segundo, a formulação do brinde não pode durar mais que trinta segundos sob pena de virar discurso o que, dependendo da platéia, pode ficar perigoso. Imagine que haja algum político. Ele toma a palavra no Natal e só a devolve no fim do ano, se devolver. Afinal, políticos não tem o hábito de devolver praticamente nada. Perdão, ofensas eles devolvem na hora. Pode ser pior. Um neo político, alguém que ainda não seja e resolva aproveitar a festa para se lançar.
Se a participação do gaiato é mais comum, o brinde honesto é cada vez mais raro. Falando do brinde honesto, sério, vale comentar que o hábito de brindar vem se perdendo ao longo do tempo, com evidente prejuízo para todos. Com isso já não se vê, como se via nos filmes, a prática de brindes, seja pelos anfitriões, seja por convidados. Falo nos filmes porque não tenho tido muitas oportunidades de participar de um bom brinde. É pena.
Com a falta de oportunidade, perdeu-se um pouco da capacidade de formulá-los adequadamente. Na realidade, para muitos é difícil falar em público por simples falta de hábito. Assim ficam com vergonha e estragam o que poderia ser bem interessante, divertido e proveitoso.
O brinde é uma forma polida e simpática de dirigir os pensamentos de todos para um único objetivo, ainda que seja por um único e breve momento. Assim, um brinde honesto, bem feito, é uma oração. Se não, vejamos: um momento de silêncio, a formulação de um voto ou desejo positivo dirigido a todos ou a algum homenageado em particular, a atenção e apoio de todos para o voto formulado e, ao término, sorrisos, cumprimentos, alguma algazarra. A bebida é mero coadjuvante, serve apenas para compor o cenário.
Naturalmente, esta perspectiva não exige que o brinde seja sisudo ou empolado. Faça-o simples, divertido e, sobretudo, sincero.
Visto desta forma, proponho a todos um brinde:
Feliz Natal !
Escrito em 21.12.1999
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