Este conto foi escrito por meu filho Hugo Carvalho e, pela qualidade e fluência do texto, segue para apreciação e deleite de todos.
E orgulho da mamãe, claro.
Jane
Diário,
Eu o amava. Eu sinceramente o amava com todo o coração que tinha me sobrado do meu último falso amor. Ele tinha minha essência nas mãos e podia fazer tudo o que quisesse comigo. E, pior, sabia disso. O tempo todo ele sabia que eu era dele e que nunca teria coragem pra largá-lo. Ou deixá-lo me largar.
Eu o provocava. Eu tinha a impressão de que se eu o deixasse nervoso comigo ele ia sentir algum tipo de qualquer coisa por mim. Mesmo que ódio ou desprezo… qualquer coisa valia desde que ele me percebesse. Esse era o meu jeitinho especial de ser notada naquele lugar.
Eu o enriquecia. De grana, de ego, do pó que eu roubava e das jóias que eu ganhava. Às vezes, até sem querer eu tentava e fazia as coisas que ninguém queria fazer com os caras por que eu o amava. Era de mim que ele dependia pra ser tudo o que era.
Eu me rasgava. Em pequenos pedaços até não sobrar mais nada do que eu possa me lembrar pra me fazer sentir mal. Pra me fazer sentir vivendo a vida. Essa vida que eu rejeito, escondo até a morte de qualquer um. Menos a minha. Eu era o seu ganha pão, vinho, queijo e o banquete inteiro. Nas minhas costas e partes avulsas vendidas em separado por preços diferentes era que se ganhavam as verbas para as festas de semanas inteiras.
Eu me vendia. Pra qualquer um desde que cubra o preço que eu valia. Que ele dizia que eu valia. Fazia tudo. Agüentava tudo. O nojento das outras, os tipinhos das umas, as dores, as perversões e até os chutes e socos eu fingia não doer, mas gritava por dentro. E como gritava. Gritava até meu cérebro implodir, gritava até mus próprios tímpanos se romperem de dentro para fora tentando apagar a dor de fora. Tentando maquiar com blush, batom e sombra o rosto desse sofrimento eterno. Tentava fazê-lo amigável e me lembrava que era por ele.
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